Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões a respeito dos recentes escândalos políticos e das denúncias de corrupção envolvendo os governos federal, estadual e municipal. Exortação à população para que vote em candidatos honestos e sérios.

Autor
Marisa Serrano (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MS)
Nome completo: Marisa Joaquina Monteiro Serrano
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Reflexões a respeito dos recentes escândalos políticos e das denúncias de corrupção envolvendo os governos federal, estadual e municipal. Exortação à população para que vote em candidatos honestos e sérios.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2010 - Página 45646
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • ANALISE, POLEMICA, DENUNCIA, QUEBRA DE SIGILO, NATUREZA FISCAL, DIRIGENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), FILHA, PARENTE, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSTERIORIDADE, ACUSAÇÃO, TRAFICO DE INFLUENCIA, FAMILIA, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, CASA CIVIL, QUESTIONAMENTO, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, CORRUPÇÃO, DESRESPEITO, MORAL, DIREITOS, PRIVACIDADE, CIDADÃO, UTILIZAÇÃO, FUNDOS PUBLICOS, BENEFICIO PESSOAL, PERDA, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA, PROMOÇÃO, IMPUNIDADE, ENTENDIMENTO, OPINIÃO PUBLICA, RECOMPENSA, FALTA, ETICA.
  • ENUMERAÇÃO, DIVERSIDADE, CORRUPÇÃO, BRASIL, VINCULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ESPECIFICAÇÃO, PRISÃO, AUTORIDADE MUNICIPAL, MUNICIPIO, DOURADOS (MS), ITAQUIRAI (MS), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), GOVERNADOR, EX GOVERNADOR, CANDIDATO, SENADO, ESTADO DO AMAPA (AP).
  • COBRANÇA, CONSCIENTIZAÇÃO, ELEITOR, IMPORTANCIA, VOTO, ESCOLHA, FUTURO, MELHORIA, BRASIL, NECESSIDADE, ANALISE, VIDA, CANDIDATO, AVALIAÇÃO, COMPROMISSO, MORAL, ETICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª MARISA SERRANO (PSDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nas últimas semanas, nós todos fomos sacudidos pelas denúncias e escândalos acontecidos neste País. A imprensa toda noticiando, as pessoas se mobilizando, todo o aparato que temos de mídia eletrônica focados na questão das denúncias dos escândalos. Começou com a quebra de sigilo fiscal dos dirigentes do meu partido, o PSDB, e depois da filha e do genro do candidato José Serra.

            Disse há pouco, quando o Senador Alvaro Dias ocupava a tribuna, que é difícil para as pessoas entenderem o que é sigilo fiscal, mas é tão simples poder traduzir em uma coisa que as pessoas entendam. É justamente invadir a sua privacidade, pegar o salário que você ganha, o seu holerite e esmiuçar, esquadrinhar como você ganhou, quanto você gastou e em que você gastou. Você tem que ter a liberdade de poder usar o seu dinheiro da forma que lhe aprouver e não passar pela desfaçatez de ver as pessoas se meterem na sua vida, ou seja, ter a sua vida privada tornada pública, principalmente ainda porque isso está protegido por lei.

            Cabe ao Governo proteger a vida privada do cidadão, proteger o direito do cidadão. Na hora em que o Governo não consegue fazer isso, em que o Governo deixa que entrem na sua vida privada, isso pode se tornar um escândalo - e vai se tornar um escândalo nacional -, mas muito mais do que isso, pois deixa as pessoas inseguras, já que as pessoas passam a não ter a segurança e a tranquilidade de que terão as suas vidas preservadas pelo Governo, ou seja, de que o Governo, com a sua conduta, vai garantir o sigilo da vida das pessoas.

            Eu quero dizer também que as denúncias que vimos aí - o tráfico de influência da família da Ministra Erenice Guerra - é aquilo que chamamos de frouxidão moral do Governo, quando as coisas começam a se deteriorar no Governo.

            Não se trata de um escândalo só, mas de um sentimento nacional de impunidade. São escândalos que estão em todos os lugares e afetam todas as pessoas. Às vezes, dizem, Senador Roberto Cavalcanti, que Preside esta Casa neste momento, que aqui no Congresso Nacional e que Brasília é a cidade dos escândalos, dos corruptos. Eu já ouvi isso, V. Exª deve ter ouvido isso. Dizem que todos os políticos são corruptos, todos eles, sem separar o joio do trigo, ou seja, aqueles que são corruptos daqueles que não o são, que trabalham com seriedade, que trabalham pensando no bem público.

            Então, quando sentimos isso no País e vemos as pessoas misturando o dinheiro público com o dinheiro particular, pegando o dinheiro público e enfiando no seu próprio bolso, fazendo com que o dinheiro para os postos de saúde, para as escolas, para melhorar a vida do cidadão vá para o bolso de alguns, essa é frouxidão moral que nós não queremos para o Brasil.

            E eu quero falar aqui de dois casos que aconteceram no meu Estado, Mato Grosso do Sul.

            É bom que se diga que as pessoas, mesmo que não tenham ouvido falar em Dourados, no meu Estado, Mato Grosso do Sul, devem ter acompanhado o que aconteceu lá nesses últimos dias. Toda a cúpula da prefeitura foi presa: Prefeito, Vice-Prefeito, Primeira-Dama, Secretários; toda a Câmara de Vereadores foi presa, dois indiciados e só uma vereadora que não teve seu nome envolvido nas falcatruas. Dinheiro grosso, dinheiro de licitação, dinheiro que era para ir para o bem do cidadão passou a fazer parte da vida particular de alguns. Aí você diz: “É só isso que aconteceu em Dourados? Só aconteceu lá, em Dourados?”. Na mesma semana, em outra cidade do meu Estado - e olha que o meu Estado é um Estado dito correto no País, é um Estado de economia sólida, é um Estado moderno -, mas em Itaquiraí, outra cidade do meu Estado, o que nós vimos? Pessoas ligadas ao Incra, funcionários do órgão, usando terra, a parte que era para os sem-terra, de aglomerados do Incra, para chácaras de lazer de determinadas pessoas, e não era uma pessoa só, não; muitas pessoas. Quer dizer, até a terra dos sem-terra foi desviada. Aí você pergunta:: “Mas só em Itaquiraí e em Dourados que aconteceu isso?” De jeito nenhum. Não estou falando do passado, de tudo o que tem acontecido neste País, estou dizendo agora, deste último mês.

            Aí você liga a televisão e vê o escândalo do Amapá: Governador preso, ex-Governador e candidato ao Senado preso, todo mundo preso. E aí ficamos imaginando como em um governo como o do Amapá as licitações - pasme, Senador Heráclito Fortes - têm mais de 2.000% de superfaturamento. E fico mais indignada ainda - apesar que a indignação tem que ser em todos os casos -, mas mais ainda porque o grosso da falcatrua e da corrupção foi na Secretaria de Educação, até a merenda escolar dos nossos alunos foi enredada nessa trama que envergonha o País. É o Governo Federal dando o mal exemplo.

            Falamos muito que a família tem que dar o exemplo, que os pais têm que dar o exemplo. Nós temos aqui hoje vários visitantes nos ouvindo, tenho certeza de que o povo brasileiro também está nos vendo e ouvindo. O exemplo vem de cima, diz o ditado, mas se nós não temos o exemplo vindo de cima, se o Governo Federal não dá o exemplo, se os governos estaduais não dão exemplo; se os governos municipais não dão exemplo, o que é que a população tem? Qual é a imagem que fica para a população? Qual é o recado que estamos dando a ela? Estamos dando a ela o recado da impunidade, de que neste País tudo é permitido; que a corrupção vale a pena.

            Eu dei exemplo dos Municípios de meu Estado, dei exemplo do Governo do Amapá e dei exemplo do Governo Federal. Todo mundo metido em falcatruas! Todo mundo metido em corrupção! É isso que nós não queremos para o País. É isso que não queremos para nossos filhos nem para nossos netos. É isso que nós não podemos deixar como legado de nossa vida, principalmente mostrando ao mundo que este é o País do jeitinho, que este é um País em que se pode furar fila sem nada acontecer; um País em que você suborna o guarda de trânsito quando não porta a carteira de habilitação ou está com a carteira vencida, ou se parou em lugar indevido; um País em que todo mundo dá um jeito: até funcionário público pode levar para casa as canetas da repartição. Coisas que denigrem a força moral do povo brasileiro. É isso que nos deixa indignado! É isso o que o brasileiro não pode admitir!

            Eu disse, hoje, fazendo um aparte ao Senador Alvaro Dias, que o povo brasileiro parece estar anestesiado. Não sei o que aconteceu com o povo brasileiro que está achando que tudo está ótimo neste País; que tudo está uma maravilha e que. graças a Deus, tem de continuar como está. Isso não é verdade, Senador Roberto Cavalcanti! A economia do País não pode ser superior à qualidade moral do povo que habita este País. O povo brasileiro, a seriedade do povo brasileiro, a conduta - a boa conduta: conduta moral e ética do povo - tem que ser muito superior à economia do País.

            Eu quero um País de economia sólida. Fernando Henrique alavancou todas as áreas para garantir que o Governo Lula tivesse condições de fazer o que fez na economia, para que tivesse a base de sustentação, de seriedade, de comprometimento com tudo aquilo que era importante de ser feito na economia para que hoje nós pudéssemos surfar em uma onda boa, não só nacional como mundial.

            Agora, isso não é o mais importante. O mais importante, como eu disse, é a garantia de termos um povo sério, um povo honesto, um povo que saiba seus limites e um Governo que respeite o seu povo.

            A gente fala muito aqui em Estado democrático de direito. Às vezes, as pessoas não aquilatam bem o que é isso. Isso significa que o cidadão tem direitos que estão inscritos na Constituição e que têm de ser respeitados por todos, principalmente pelos governantes. Os governantes têm uma procuração nossa para respeitarem nosso voto, para respeitarem nossa escolha.

            Quero aqui dizer, Sr. Presidente, que estamos a menos de três semanas das eleições. Espero que, nessas eleições, o povo brasileiro saiba escolher, vá às urnas não como vaquinha de presépio, não porque a manada toda está indo e ele vai junto; não como estou ouvindo alguns dizerem: “Não, eu não quero perder meu voto: vai ganhar, eu voto”. Não! Eu quero que o povo brasileiro analise criteriosamente seus candidatos, para não dizer que os políticos são corruptos, para não dizer que os políticos são ladrões.

            O seu voto vai garantir um assento aqui nesta Casa. O seu voto vai garantir quem vai estar na Casa ao lado, na Câmara dos Deputados. O seu voto é que vai colocar aqui o exemplo que nós queremos no Governo Federal. É o seu voto que vai nos dar a tranquilidade da lisura, do uso do dinheiro público nos governos estaduais e, principalmente, nas Assembleias Legislativas.

            Portanto, Sr. Presidente, este é o momento de o povo brasileiro, de cabeça erguida, ir às urnas no dia 3, feliz por estar numa democracia, feliz por poder escolher os seus representantes, porque, se tivesse numa ditadura, isso seria impossível. Mas, criteriosamente, escolha os seus representantes. Veja a vida pregressa de cada um. Veja o que realmente já fizeram pelo bem do povo. Veja se têm condições morais e éticas de trabalharem por um País mais justo, por um País mais digno.

            E, aí, Sr. Presidente, eu acredito que nós vamos ter sucesso e vamos legar às futuras gerações aquilo que gostaríamos que elas tivessem: o orgulho de ser brasileiro, o orgulho de ter uma pátria, o orgulho de ter nascido no Brasil e um sentimento ainda muito maior de nacionalismo, de nacionalidade, de cidadania, a garantia que nós queremos dar a todos os brasileiros, crianças ainda, que um dia serão os dirigentes deste País, a garantia de que nós estamos trabalhado com seriedade para legar-lhes um País mais altaneiro, mais sério e, principalmente, mais comprometido com a causa pública.

            Quero terminar minha fala, Senador Roberto, Senadores e Senadoras, dizendo que eu tenho andado muito por este País, tenho ouvido muitas pessoas. E, às vezes, entristece-me ver que as pessoas estão descrentes da política pela corrupção desenfreada, pela falta de ética e moral dos nossos governantes, como eu havia dito, desde o Governo Federal, que não dá o exemplo, até os governos municipais.

            Eu quero pedir ao povo brasileiro que não esmoreça, que vá às urnas no dia 3 pensando que pode mudar, que está na sua mão, na sua vontade melhorar este País e que coloque na urna nome de pessoas comprometidas com a seriedade, comprometidas com a verdade. Eu tenho certeza de que vocês não vão se arrepender dos políticos que escolherem.

            Sr. Presidente, muito obrigada pelo tempo. Espero que realmente dia 3 seja a festa da democracia, a festa do povo brasileiro.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2010 - Página 45646