Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca dos resultados das eleições, que retrataram a tendência pluralista do povo brasileiro, demonstrada a partir da necessidade do segundo turno para o pleito presidencial.

Autor
José Bezerra (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Bezerra de Araujo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Considerações acerca dos resultados das eleições, que retrataram a tendência pluralista do povo brasileiro, demonstrada a partir da necessidade do segundo turno para o pleito presidencial.
Aparteantes
João Faustino, Níura Demarchi.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2010 - Página 46626
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, PLURALIDADE, ELEIÇÕES, DECISÃO, POPULAÇÃO, REALIZAÇÃO, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CAMPANHA ELEITORAL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, OFENSA, POLITICO, OPOSIÇÃO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, IMPEDIMENTO, VOTO, JOSE AGRIPINO, CANDIDATO, REELEIÇÃO, SENADO, DESRESPEITO, DEMOCRACIA.
  • SAUDAÇÃO, ELEIÇÃO, PRIMEIRO TURNO, ROSALBA CIARLINI, SENADOR, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ELOGIO, CAMPANHA ELEITORAL, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EXPECTATIVA, VITORIA, SEGUNDO TURNO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, mais do que em anos anteriores, o povo brasileiro demonstrou para o mundo, no último domingo, o seu amadurecimento como cidadão e lançou, no mapa da geopolítica internacional, sinais límpidos da consolidação da democracia no nosso País.

            O Brasil que saiu das urnas mostrou-se reforçado em suas raízes republicanas, refletindo, no resultado da escolha livre e soberana do voto popular, a nossa definitiva tendência pluralista, fruto da salutar e exemplar mistura de raças, convergência de múltiplos credos e irmandade cultural entre as distintas regiões.

            A sabedoria popular, ao decretar que a eleição presidencial fosse decidida somente num segundo turno entre duas propostas, consagrando no primeiro turno a plataforma ambiental de Marina Silva - que não pode mais ser ignorada pelas partes que seguem na disputa -, foi um poderoso “não” àqueles que pensavam poder impor ao Brasil o absolutismo de um partido único, a divinização de um governo com arroubos de totalitarismo.

            Os brasileiros apontaram um caminho bem diferente do que queriam os aventureiros das experiências canhestras, há muito repelidas pelos povos da modernizada Europa desde as décadas de 70 e 80. Os eleitores avisaram que, no jogo democrático, não há espaço para dribles nas instituições nem faltas graves na constituição do País.

            Não foram os institutos de pesquisa nem os analistas políticos que se enganaram com a decisão das urnas, mas, sim, todos os que imaginaram já ter dominado os destinos da Nação ou iludido a mente do povo com discursos fáceis de liberdade fantasiosa a partir do assistencialismo como cabresto dos humildes.

            Nossos irmãos brasileiros perceberam o perigo que é comportar-se como ovelhas diante de lobos sedentos e, no silêncio de suas escolhas, na inviolabilidade das urnas eletrônicas, mandaram um recado aos que ousam rascunhar um Brasil sem as conquistas democráticas que, desde a campanha das Diretas e a vitória de Tancredo Neves, recolocaram nossa Pátria no caminho sem volta da paz e do desenvolvimento.

            Foi uma eleição histórica a do último dia 3 de outubro, Sr. Presidente, Srs. Senadores. Mais do que nunca, a Nação se mostrou em visível equilíbrio social e político, como a ensinar para fóruns qualificados de todos os Poderes a serenidade e o bom senso que devem sustentar nossa estrutura republicana e o sagrado Estado de Direito. O que todos nós vimos a partir da urnas foi que, por mais que a política partidária se enverede por radicalismos pueris, como querem alguns, o civilismo da sociedade consegue desviá-los pela força do sufrágio, como se o conjunto das escolhas pessoais tivesse a função de um gigantesco e caudaloso rio a expulsar para as margens o lixo que as correntes externas inserem em seu curso.

            Não foi um domingo glorioso para o todo-poderoso Governo, que transformou o seu palácio de despachos em base de lançamentos de artefatos eleitorais. A confirmação do segundo turno revelou nas ruas a antítese da supremacia partidária e do messianismo que eram apontados nos índices de popularidade do Presidente da República.

            Com sabedoria e espírito cidadão, os brasileiros disseram “não” ao novo caudilhismo, criado nas artimanhas das estatísticas e forjado nas ameaças constantes contra a liberdade de pensamento e de expressão. O povo disse, de maneira singular, que quer o caminho da pluralidade nas coisas da política, sem maniqueísmo, sem autoritarismo, sem disfarces, sem mentiras travestidas de verdade. O Brasil é a maior nação democrática da América Latina e assim deseja ser para todo o sempre.

            Ao transformar o Planalto no quartel de uma batalha partidária, o Presidente trocou a missão de representar um grande país, para representar um partido envolto em grandes deslizes e em enormes desvios. O mau exemplo contaminou os Estados, e o que se viu foi uma disputa eleitoral ganhar contornos de invasões bárbaras, onde o espaço a ser ocupado não eram terras, mas a privacidade e a honra dos adversários.

            No Rio Grande do Norte, onde o governo que está terminando parece seguir à risca o expediente do Planalto, a campanha tomou o rumo do radicalismo, com ataques covardes aos adversários que tentavam apenas jogar o jogo da democracia, como os Senadores Garibaldi Alves, do PMDB, e José Agripino, do DEM. Ambos foram vítimas de comentários chulos e palavrórios de desqualificados.

            Vejam a que ponto chegou a maledicência partidária do meu Estado durante a eleição. Mesmo com o Senador apoiando publicamente, em seu programa de TV, a candidata e ex-Ministra Dilma Rousseff, a sanha inquisitorial dos petistas potiguares não o poupou. Foi atacado até por candidato a Senador do PT, chamado na imprensa de cara-de-pau e oportunista.

            Qual a moral de um militante tresloucado para atingir a honradez de um Senador consagrado nas urnas por mais de um milhão de votos dos seus conterrâneos? Um Parlamentar respeitado em todo o Brasil, por sua postura discreta em favor do País e do seu Estado e em cujo currículo consta a mais nobre função de toda carreira de Senador, que é a Presidência desta Casa.

            Como deve ter sido frustrante, Srªs e Srs. Senadores, para os plantadores do ódio político, a vitória maiúscula do Senador José Agripino, eleito para mais um honroso mandato, por sinal o quarto mandato de Senador, mandato que, com orgulho, represento interinamente agora. Tentaram de tudo...

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - O Senador me permite um aparte?

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Pois não, Senador João Faustino.

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - Eu queria, primeiramente, parabenizar V. Exª pelo tema que traz a debate nesta Casa. É um retrato do sentimento brasileiro, do sentimento de civilidade, de patriotismo do nosso povo o discurso que V. Exª profere nesta tarde. Eu diria a V. Exª que o povo brasileiro amadureceu no seu sentimento cívico. Agora, não amadureceram aqueles que usam de expedientes espúrios para a conquista, de qualquer forma, de qualquer maneira, com qualquer método, do voto livre do eleitor. As urnas deram uma resposta consistente quando conduziram o nosso eleitorado e o nosso País a uma nova discussão sobre o processo político, sobre o que queremos para o nosso futuro. Armaram dossiês, entraram na privacidade dos candidatos e dos seus familiares, procuraram usar todos os instrumentos para que a persuasão pudesse prevalecer até de forma ilegal junto ao eleitor. Mas a verdade está aí e V. Exª está colocando muito bem o que é o retrato das urnas nessa eleição. Por outro lado, o que aconteceu, o resultado que V. Exª transmite aí, do Rio Grande do Norte, nosso Estado, de um processo eleitoral do qual nós participamos intensamente, foi uma resposta e também o reconhecimento do trabalho de dois líderes que trabalham e lutam pelo Estado, que têm uma postura ética, limpa, que lutaram, quando governaram o Rio Grande do Norte, para que o Estado alçasse o voo do desenvolvimento, do progresso e da justiça social. Por tudo isso, tiveram a grande vitória nas urnas do dia 3 de outubro. E a consagração também da Senadora Rosalba Ciarlini, que ganhou a eleição no primeiro turno,t mesmo sendo vítima de uma propaganda maciça... Imagine V. Exª o Presidente da República entrando em um telemarketing. Imagine...

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Virou telefonista de telemarketing, não pedindo votos para o seu candidato, Senador...

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - Imagine uma pessoa humilde receber um telefonema e alguém do outro lado da linha, usando uma gravação, uma tecnologia chula qualquer, “aqui é o Presidente da República que lhe pede o voto para fulano, fulano e fulano”. Que Presidente é este? Que País é este? Aonde nós chegamos?

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Pior Senador, além de pedir...

            O Sr. João Faustino (PSDB - RN) - Só para concluir o aparte, o que é verdade é que nós precisamos devolver o Estado brasileiro à Nação. Nós precisamos devolver o Estado ao cidadão. Nós não podemos permitir que o Estado continue sendo propriedade de grupos políticos ou de partidos políticos. Nós temos que fazer do Estado um instrumento forte de cidadania, de respeito às liberdades individuais, aquilo que é essencial à vida: educação, segurança, saúde. Mas eu não poderia terminar o meu aparte sem fazer a minha saudação especial a esse grande amigo que é o Senador Mão Santa, que preside esta sessão. Mão Santa é um exemplo de nordestino bravo, de homem autêntico, de líder político firme, forte, consistente. Eu me sinto orgulhoso de estar sendo presidido por V. Exª nesta sessão. E digo mais: certa vez, o Piauí me homenageou, uma homenagem nascida das suas mãos quando Governador. Fui homenageado com a maior comenda do Estado do Piauí, o que me honra muito e aumenta mais ainda a minha admiração por S. Exª e pelo trabalho que realiza nesta Casa, sobretudo em favor do seu Piauí. Eu agradeço o aparte que V. Exª me concedeu e parabenizo-o pelo brilhante discurso que profere nesta tarde, Senador José Bezerra Júnior.

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Obrigado, Senador.

            Só complementando o que V. Exª falou, o Presidente fazia telemarketing não só para pedir votos para seus candidatos, mas pedindo para não se votar no Senador José Agripino. Era telemarketing constante, todos os dias, ligando para todos os cidadãos do Rio Grande do Norte, pedindo para não votarem no Senador José Agripino. Isso não é papel de Presidente da República. Eu não tenho nada contra a profissão de telefonista, uma profissão muito digna, muito bem exercida. Minha secretária faz telefonemas para mim, vira telefonista a qualquer momento. É uma profissão digna. Agora, o Presidente da República, no momento em que estamos numa eleição democrática, virar telefonista para pedir para não votarem em um candidato?! Isto é desmoralizante para o País.

            Eu também me orgulho de estar sob a presidência deste nordestino, deste nordestino que lutou bravamente, num Estado como o Piauí, que sofre demais, como o meu Estado também sofre, com as ingerências do Governo Federal. Deve ter sido também uma campanha muito sórdida contra V. Exª só pelo simples fato de o senhor exercer aqui a democracia, ou seja, fazer o contraponto da democracia, que é ser oposição ao Governo, que tentava ser um governo totalitário, mas que agora vai ter de dividir direitinho as funções neste Governo para podermos governar melhor este País.

            Tentaram de tudo para derrotar o Senador José Agripino, assim como fizeram contra outros líderes da oposição, que, infelizmente, não tiveram a mesma força e sorte do Líder do DEM, como V. Exª.

            O que não perceberam, Sr. Presidente, é que, enquanto vomitavam impropérios contra Agripino nas ruas do Rio Grande do Norte, esqueciam-se de apresentar ao povo as providências corretas para resolver os graves problemas que estão destruindo a saúde, a educação e a segurança pública do meu Estado.

            O pior é que lá, assim como cá, na famigerada Casa Civil de Lula, os chefes também temo hábito, feio hábito, de dizer que nada sabem, nada viram e nada entenderam. As semelhanças são muitas entre o Governo da União e o do meu Estado, o Rio Grande do Norte. Se aqui o Presidente diz nada saber sobre os deslizes dos Correios, que ele sugere ser coisa do PMDB, lá na esquina do Nordeste, os problemas nas diversas repartições são invisíveis aos olhos da mandatária que acaba de ser derrotada fragorosamente nas ruas. O povo consagrou José Agripino e condenou um governo que não deixará saudade.

            E se no plano nacional há motivos mais do que cívicos para a Oposição acender as esperanças, no meu Estado, o futuro se desenha otimista com a estupenda vitória da Senadora Rosalba Ciarlini, que derrotou, no primeiro turno, os dois candidatos representantes do radicalismo petista.

            Será uma Governadora com olhos atentos às questões mais prementes do povo, como já fez na sua cidade de Mossoró, recentemente galgada à condição de grande cidade do futuro em reportagem especial da revista Veja

sobre as perspectivas urbanas do Brasil de amanhã.

            Diferente de quem tem diploma de magistério e deixa a educação em estado de sucateamento, a médica pediatra Rosalba Ciarlini irá manter seu olhar clínico sempre aberto para as ansiedades do povo potiguar, reativando no Estado os passos em direção ao desenvolvimento.

            Concluo minhas palavras, Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores,...

            A Srª Níura Demarchi (PSDB - SC) - Senador, um aparte, por favor.

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Pois não, Senadora Níura.

            A Srª Níura Demarchi (PSDB - SC) - Senador José Bezerra, quero cumprimentar V. Exª pelo seu posicionamento hoje aqui. O senhor deixou muito claro o que realmente o povo brasileiro e o povo do Rio Grande do Norte deixaram crivado nas urnas. Entendeu-se, no País todo, que o segundo turno é exatamente o que o povo brasileiro quer. Ele quer a livre escolha. Ele não quer a onipotência do dirigente da Nação dizendo o que se deve fazer, porque o dirigente da Nação tem que ter o compromisso e a legitimidade que a própria Nação lhe deu e o direito que lhe deu no voto nas últimas eleições. Mas isso não credencia o dirigente da Nação a envolver-se de tal forma na campanha política da sua candidata, a interferir maciçamente no voto do eleitor. E saudável foi a sabedoria do nosso povo brasileiro, do nosso eleitor, Senador. Ele foi para as urnas dizer, verdadeiramente, o que queria. No Estado de Santa Catarina foi dessa forma; no seu Estado foi dessa forma e vários outros Estados importantes da Nação, da nossa Federação, mostraram exatamente isso. Então, tenho certeza de que o recado que veio das urnas foi o recado da liberdade, da livre escolha. Nós não precisamos disso, porque o povo brasileiro não é um mero boneco. As pessoas têm que ser respeitadas nas suas próprias convicções e liberdades individuais. E o voto é um direito, como um dever, um dever individual, mas que abrange um dever coletivo e deve ser amplamente respeitado. E cabe exatamente ao dirigente da nação o maior respeito por esse voto. E o povo disse: “Não somos bonecos”. Aqui não cabe a teoria do faça o que eu digo; aqui cabe a teoria do que eu penso e daquilo que é melhor para cada cidadão. Parabéns, Senador, pela evolução da eleição no seu Estado. Parabéns à Senadora Rosalba Ciarlini, essa grande mulher brasileira que eleva o nível dos debates aqui no Senado Federal e que elevou, sem sombra de dúvida, o nível do debate no Rio Grande do Norte e que vem a ser a futura governadora eleita pelo seu Estado, do qual o senhor certamente participará com o seu brilhantismo, com as suas ideias e com a mente evoluída, que aqui já demonstrou no breve momento que aqui esteve e que ficará até os próximos dias. Parabéns e obrigada, Senador.

            O SR. JOSÉ BEZERRA (DEM - RN) - Eu agradeço, Senadora Níura. Ao mesmo tempo, em nome de V. Exª, gostaria de parabenizar também o povo catarinense pela resistência. Foi lá, no Estado de Santa Catarina, em uma das vezes de infelizes palavras do Presidente da República, que ele declarou que queria extirpar do País o Democratas, pelo simples fato de fazer oposição, demonstrando, assim, toda a sua vontade do totalitarismo que deseja implantar neste Brasil.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, parabenizo esses três grandes conterrâneos que lograram nas urnas uma das maiores vitórias eleitorais da história política do Rio Grande do Norte. Rosalba, Agripino e Garibaldi honram o nome do meu Estado nesta Casa e já fizeram, juntos, pelo seu povo o que muitos só imaginam ter feito nas fantasias dos discursos e na propaganda enganosa que torra milhões do Erário.

            Também parabenizo daqui da tribuna, através dos companheiros da Bancada do PSDB, a quem saúdo, a grande campanha do Governador José Serra, que, se Deus quiser e o povo brasileiro decidir, será o próximo Presidente da República.

            Muito obrigado a todos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2010 - Página 46626