Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o alastramento do crack e com o crescimento do número de pacientes com sífilis no País.

Autor
Augusto Botelho (S/PARTIDO - Sem Partido/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA. SAUDE.:
  • Preocupação com o alastramento do crack e com o crescimento do número de pacientes com sífilis no País.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2010 - Página 46632
Assunto
Outros > DROGA. SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, AMPLIAÇÃO, CONSUMO, DROGA, INTERIOR, ESTADO DE RORAIMA (RR), APRESENTAÇÃO, DADOS, NUMERO, USUARIO, BRASIL, INDICE, MORTE, ELOGIO, INICIATIVA, GOVERNO, IMPLEMENTAÇÃO, PROGRAMA, COMBATE, PROBLEMA.
  • ADVERTENCIA, CRESCIMENTO, SIFILIS, BRASIL, POSSIBILIDADE, OCORRENCIA, EPIDEMIA, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), FALTA, UTILIZAÇÃO, PRESERVATIVO, APRESENTAÇÃO, DADOS, MINISTERIO DA SAUDE (MS), APREENSÃO, INFERIORIDADE, INDICE, PREVENÇÃO, REGIÃO NORTE, ESCLARECIMENTOS, EFEITO, DETALHAMENTO, TRATAMENTO, DOENÇA.
  • DEFESA, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, EDUCAÇÃO, SEXO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, REALIZAÇÃO, CAMPANHA, PREVENÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. AUGUSTO BOTELHO (S/Partido - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. V. Exª honra-me com essas palavras. Mas minha honra foi maior em conviver com V. Exª, ao aprender muitas coisas com V. Exª, que é um dos sábios que habitam esta Casa. Tenho certeza de que o Brasil perderá muito com a sua ausência aqui, mas o Piauí ganhará, porque estará mais perto dos piauienses, transmitindo o seu conhecimento e exercendo o seu trabalho lá, mais próximo das pessoas.

            Como somos médicos, hoje, o que me traz aqui é um assunto médico. Refiro-me a uma doença que parecia estar extinta, que não mais existia, mas que agora está causando preocupação; por isso, temos que tomar providências e alertar as pessoas.

            Lembro também que, há seis ou oito meses, fiz um requerimento para trazer o crack para dentro desta Casa. Porto Alegre é nome de um Município lá no meu Estado, uma cidade pequenininha, onde tenho fazenda. Andando por lá, vi alguns jovens e, ao conversar com pessoas de lá, disseram-me que havia pessoas usando crack, e isso me assombrou. Porto Alegre é um lugar pequenininho, onde não se via o uso do crack - lá em Roraima, as drogas não eram tão evidentes e tão pesadas, mas agora está se tornando assim. Então, comecei a analisar e a estudar o uso do crack e constatei que, no Brasil, o número de viciados está em torno de 1,2 milhão de pessoas; aprendemos também que um quinto dessas pessoas que usam crack morrem em cinco anos - de cada 100, 20 morrem; um quinto, portanto -, por causa do uso da substância, e o Brasil não está dando a devida atenção a esses dependentes químicos. Graças a Deus, o Governo já implantou um programa de combate ao crack.

            Sr. Presidente, trago agora outro problema, que é um problema importantíssimo de saúde e que deve ser objeto de alerta para toda a população brasileira: triplicou, nos consultórios médicos, o número de pacientes com sífilis em todo o Brasil.

            A maioria dos infectados é composta por jovens que, por acaso, se descobrem com a doença. Oficialmente, há um milhão de doentes no País. Porém, Srªs e Srs. Senadores, esse número pode ser muito maior.

            Segundo levantamento divulgado em matéria publicada na revista Veja, especialistas de três Estados - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais - afirmam que a quantidade de pacientes com sífilis no Brasil triplicou no último ano.

            A Sociedade Brasileira de Dermatologia disse à revista Veja que, em duas décadas, nunca se viu tantos casos de sífilis.

            Srªs e Srs. Senadores, a principal origem do crescimento do número de pacientes com sífilis está no descaso com o uso da camisinha, fator que aumenta também a transmissão de hepatites e Aids.

            De acordo com pesquisa do Ministério da Saúde, apenas 21% dos brasileiros usam preservativos - 31% menos do que a média de países desenvolvidos.

            Na Região Norte, Sr. Presidente Mão Santa, a minha Região, temos um drama ainda muito maior: muitos ribeirinhos, indígenas e agricultores familiares, que vivem isolados na floresta, na beira dos rios, vão à cidade comprar alimentos e equipamentos necessários à sua manutenção e sobrevivência, entram em contato com a doença na cidade e a transmitem às suas companheiras em suas aldeias e comunidades.

            Como o acesso ao atendimento médico nesses locais é bastante precário - apesar da indicação de médicos, como os da Marinha, que levam navios de esperança a esses locais; como o Programa Aciso, do Exército, que leva também os médicos; e equipes médicas do Estado, que vão ao baixo Rio Branco -, a maioria dos infectados por doenças venéreas que moram em região isolada na Região Norte demoram muito para diagnosticar a doença.

            A sífilis é uma doença que chama a atenção dos médicos por ser a única doença venérea a reunir duas características temerosas: sintomas que podem passar despercebidos e alta capacidade de transmissão. Estamos correndo o risco de ver a sífilis virar no Brasil uma epidemia grave, Srªs e Srs. Senadores.

            A sífilis é causada pelo Treponema pallidum, uma bactéria que se liga às células da pele e das mucosas, tanto na pele do pênis como na mucosa vaginal, onde ocorre mais frequentemente a introdução da doença. Portanto, é aí que a gente detecta a lesão primária da doença, o início da doença. Ela é transmitida pela relação sexual.

            O processo infeccioso pode durar até dez anos, e é interrompido com apenas uma dose de antibiótico. O cenário muda na etapa avançada, quando a bactéria começa a matar os neurônios e a atacar o sistema nervoso dos pacientes. Em tal fase, o tratamento nem sempre é eficaz. Cerca de 10% dos pacientes morrem em decorrência da doença.

            Até o surgimento da penicilina, em 1928, os doentes eram submetidos a tratamento inócuos ou tão nocivos quanto a própria doença, como banhos quentes e ingestão de mercúrio. Uma das primeiras notícias de infecção em massa causada pela doença foi em 1494, ano em que o exército do rei da França, Carlos VIII, invadiu a Itália para conquistar Nápoles. O episódio ficou conhecido como A Guerra da Fornicação. Metade dos 12 mil soldados foi vitimada pela doença, que recebeu até o apelido de mal francês. O nome sífilis surgiu em 1530, quando o médico e poeta italiano Girolamo Fracastoro (1478-1553), ao descrever a enfermidade, fez referência ao mito grego do pastor Syphilus, que amaldiçoou Apolo e foi punido com o que seria uma doença venérea. Isso o Mão Santa já deve saber. Eu não sabia, fui saber agora nesse estudo.

            O diagnóstico da sífilis é simples e feito através de um exame de sangue. Se a doença não for tratada, pode levar o paciente à morte ou até à loucura. As fases graves e tardias da doença enlouquecem os pacientes.

            Felizmente, Sr. Presidente, Senador Mão Santa, ela é facilmente curável nos primeiros estágios. Como V. Exª sabe, uma única injeção intramuscular de penicilina curará a pessoa que está infectada há menos de um ano. Outras doses são necessárias em pessoas que já têm a doença há mais de um ano. Para pessoas que têm alergia à penicilina, existem outras opções, outros antibióticos que podem também fazer o tratamento que mata a bactéria e previne os danos futuros. Porém, o que já foi lesado, a lesão que o Treponema causou, esta não pode ser revertida.

            Como não há perspectiva de desenvolvimento de uma vacina a curto prazo, a prevenção recai sobre a educação em saúde: uso regular de preservativos, educação em saúde nas escolas, diagnóstico precoce em mulheres em idade reprodutiva e nos seus parceiros, e realização do teste de sangue em mulheres que pretendem engravidar.

            Precisamos estar atentos a esse problema, Senador Mão Santa, porque ele pode se tornar uma epidemia. O que mais ajudará a diminuir o número de casos de sífilis é a prevenção. Oferecer disciplina de educação sexual nas escolas, fazer campanhas de prevenção através do rádio e da televisão podem ser maneiras de conseguirmos diminuir essa catástrofe que pode tomar conta do Brasil.

            Era isso o que eu tinha a dizer, chamando a atenção para o fato de essa doença ter aumentado assustadoramente no último ano.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2010 - Página 46632