Discurso durante a 169ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da posse do Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti na Academia Brasileira de Letras, com destaque para sua biografia.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro da posse do Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti na Academia Brasileira de Letras, com destaque para sua biografia.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2010 - Página 48121
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, POSSE, EMBAIXADOR, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), DETALHAMENTO, BIOGRAFIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LEITURA, TRECHO, DISCURSO, ESCRITOR, HOMENAGEM, MEMBROS, ACADEMIA, OPORTUNIDADE, SUCESSÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Para uma comunicação inadiável. Com revisão do orador.) - Srª Presidente, nobre Senadora Serys Slhessarenko, Srs. Senador Jefferson Praia, Senador Aldemir Santana, Senador Geraldo Mesquita Júnior e demais Srs. Senadores, venho à tribuna nesta tarde para registrar um evento ocorrido na segunda-feira passada, às 21 horas, na Academia Brasileira de Letras.

           Eu me reporto a uma reunião presidida pelo escritor e homem público Marcos Vilaça, para dar posse ao novo membro da Academia Brasileira de Letras, em vaga decorrente do falecimento do acadêmico José Mindlin.

           Sexto ocupante da Cadeira nº 29, o pernambucano Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti nasceu em 6 de fevereiro de 1929 no Recife, onde fez o curso secundário no Colégio Nóbrega, escola em que também estudei; em 1951, diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, instituição a que igualmente pertenci, após estágio realizado na Academia de Direito Internacional da Haia, no ano anterior.

           Concluído o curso de Direito, Geraldo Holanda Cavalcanti mudou-se para o Rio de Janeiro, assumindo a função de Chefe de Redação do Boletim das Classes Dirigentes do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. Em 1952, convidado a trabalhar na então Delegação do Brasil na capital holandesa, colaborou com o Ministro Plenipotenciário Joaquim de Souza Leão na realização da primeira retrospectiva das obras de Frans Post, famoso pintor holandês que acompanhou a vinda de Nassau ao Brasil. Frans Post deixou peças valiosíssimas e, hoje, parte do seu acervo se encontra na Mauristhuis - Casa de Maurício na Haia. 

           Geraldo Holanda Cavalcanti entrou para o serviço diplomático por concurso direto, em 1954, e foi servir na Divisão Cultural e no Departamento Econômico Consular, ocupando-se dos aspectos políticos das relações internacionais em ambas as funções. Em 1976, o novo membro da Academia foi promovido a Embaixador e designado para o recém-criado cargo de Secretário Especial de Assuntos Políticos e Econômicos, na área internacional bilateral.

           Em 1978, ele é designado Embaixador junto à Unesco. Suas seguintes chefias de missão diplomática serão junto ao governo do México, em 1982, junto à Comissão das Comunidades Europeias, posteriormente União Europeia, em 1986.

           Em 1990, ao tomar posse o Presidente Fernando Collor, requereu sua aposentadoria no serviço diplomático. Após o afastamento do serviço diplomático, presidiu durante dois anos uma empresa na área de telecomunicações com sede em São Paulo.

           Em 1996, é eleito Secretário-Geral da União Latina, organismo internacional que trata da proteção e difusão dos idiomas e das culturas de expressão latina, sediado em Paris. Regressa definitivamente Geraldo Holanda Cavalcanti ao Brasil em 2001, passando a dedicar-se exclusivamente à atividade literária.

           Em 2004, foi eleito Presidente do PEN Clube do Brasil. É Vice-Presidente da Fundação Miguel de Cervantes de Apoio à Pesquisa e à Leitura, membro do Conselho Editorial da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, e do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, Indústria, Comércio e Turismo (CNC).

           Dentre muitas, não poderia deixar de citar haver o Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti recebido as seguintes comendas: Nacionais: - Grã-Cruz na Ordem do Rio Branco; Grande Oficial nas Ordens do Mérito Naval, do Mérito Militar, do Mérito Aeronáutico e do Mérito das Forças Armadas; como reconhecimento do papel desempenhado pela Delegação do Brasil na Unesco em favor da inclusão de Olinda na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade, recebeu, da Municipalidade de Olinda, Pernambuco, em 1978, a Comenda da Ordem do Mérito dos Caetés. Estrangeiras: Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Alemanha; da Ordem da Águia Asteca do México; da Ordem Acadêmica do Direito, da Cultura e da Paz, do México; da Ordem Francisco de Miranda da Venezuela e da Ordem ao Mérito por Serviços Distinguidos, do Peru. Grande Oficial da Ordem de São Miguel e São Jorge, do Reino Unido; da Ordem do Mérito da Itália; da Ordem do Tesouro do Japão; das Ordens do Cristo e do Infante Dom Henrique, de Portugal.

           Para não me demorar em considerações, vou mencionar um fato que me parece extremamente importante. O Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti, ao iniciar seu discurso de posse, salientou que a Academia Brasileira de Letras - e são palavras suas:

           “é um continuum no qual nós, os acadêmicos, constituímos o estofo de que se compõe a sua perenidade. Daí a tradição de se esperar que o acadêmico que toma posse faça, no seu discurso, a genealogia da sua cadeira. Ainda são pouco numerosos os que fizeram a história da Cadeira 29, embora muitos, se de cada um quisesse fazer o seu perfil. Mas, ao deles herdar o privilégio de ocupar o assento que agora me cabe, sinto-me compelido a evocá-los, pois com eles componho a linhagem na trama que constitui a história da Academia. Falarei deles, portanto, mas serei breve e, destarte, necessariamente omisso no que alguns pudessem esperar que de um ou outro modo recordasse.

           A Cadeira 29 da qual me honra assumir a sucessão, teve como fundador Artur de Azevedo, que para ela escolheu Martins Pena como Patrono”.

           Srª Presidente, na Academia Brasileira de Letras seguimos uma tradição que é observada de maneira muito criteriosa.

           “O fundador da Cadeira 29, Artur de Azevedo - lembrou o Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti -, foi uma das personalidades mais ativas da história literária brasileira. Poeta, contista, crítico, cronista e teatrólogo, deixou uma vasta obra e respeitável em todos os campos em que atuou.

           Desejo também, Srª Presidente, fazer uma menção aos outros que contribuíram para que a Cadeira 29 continuasse sua trajetória, de forma a honrar os que a integraram - Vicente de Carvalho, Claudio de Sousa, Josué Montello e José Mindlin.

           Foi significativa a posse de Geraldo Holanda Cavalcanti na Academia Brasileira de Letras, e certamente ele contribuirá para o constante aggiornamento da Casa de Machado de Assis, para o seu constante enriquecimento, não somente no campo literário, mas também no campo cívico.

           Devo, por oportuno, dizer quanto considero importante que continuemos a reconhecer o papel das instituições culturais para o enriquecimento do nosso País. E ressaltar que a Academia Brasileira de Letras, criada há mais de 100 anos, presidida por Machado de Assis, conserva uma longa tradição que destaca a notável contribuição de diferentes pensadores, escritores, poetas, literatos que ocuparam ou ocupam cadeiras na instituição, constituída de 440 membros.

           Não gostaria de encerrar minhas palavras sem fazer uma menção a José Mindlin, cujo falecimento levou à escolha de Geraldo Holanda Cavalcanti para ocupar a Cadeira 29.

           Sabemos que o casal Guita e José Mindlin - lembrou com propriedade Geraldo Holanda Cavalcanti em seu discurso -, com graça e humildade, deu uma notável contribuição à Academia Brasileira de Letras e tornou possível que documentos fundamentais para conhecer algumas das descrições episódicas de momentos grandiosos de sua vida de colecionador, inclusive, o trabalho que ele realizou no Museu Lasar Segall, em São Paulo, em 1999.

           Como Mindlin era um bibliógrafo, entre outras coisas, desejo destacar um trecho do discurso de Geraldo Holanda Cavalcanti, quando diz que

           “Alberto Manguel faz uma distinção entre bibliotecas com livros entronizados e bibliotecas com livros lidos. A de José Mindlin não tinha livros entronizados. Mesmo as jóias da Coroa estavam expostas ao leitor interessado, ele, próprio, em primeiro lugar, que as visitava regularmente e a quem quer que se beneficiasse de sua generosa acolhida para realizar trabalhos de pesquisa. Sua enorme biblioteca surgiu, aliás, de um produto quase diria secundário do seu amor pela leitura. Ele próprio diz ao evocar o nascimento de sua coleção a partir da leitura de obras específicas que o levavam a procurar em outras obras do mesmo autor e, depois, obras sobre aquele autor e assim por diante.

           Gostava de ler em alta voz - salienta o Embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti. Guita era sua ouvinte predileta, porque, constante e sempre atenta. Fazia-o com evidente satisfação e orgulhava-se de sua voz. Sua impostação solene e cadenciada pareceu-me, primeira vista ou devo dizer primeira audiência datada, mas vim a descobrir, depois, que devia estar impregnado em seu gene russo, pois era a mesma entonação que encontrei nas gravações de Anna Akhmatova, ao ler os seus próprios poemas.

           Do amor e do carinho que tinha pelos livros dizem muito as palavras com que procura justificar-se perante os que não foram selecionados para figurar na exposição do Museu Lasar Segall, ou dentre os Destaques da edição da Biblioteca Nacional, seleções que teve que fazer enfrentando muitas ciumeiras e muitas queixas dos livros que delas foram excluídos.

           A imagem do José Mindlin está associada ao livro, à biblioteca’ - continua Geraldo Holanda Cavalcanti. Mas Mindlin foi muito mais do que um bibliógrafo. Foi um empresário sempre disposto a por a sua empresa a serviço das artes, o editor, o incentivador da esposa no árduo e exigente trabalho de restauro de livros e obras de arte, o administrador vigilante da proteção do patrimônio cultural, quando em cargo executivo no Estado de São Paulo, o zelador dos manuscritos de grandes escritores brasileiros e um mecenas para a divulgação desse patrimônio”.

           E aqui não posso deixar de evocar a figura fidalga de Aloysio Magalhães, seu grande animador, muito prematuramente desaparecido, morto em Venesa, como Aschenbach enquanto defendia, em reunião da Unesco, a inclusão de Olinda na Lista do Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade”.

           Então, Srª Presidente, Senadora Serys Slhessarenko, gostaria de concluir as minhas palavras dizendo o quanto nos orgulhamos em ter presente na Academia Brasileira de Letras a figura exemplar, o escritor, o humanista, o latinista que tanto contribuiu para o esclarecimento de nossos problemas internacionais, assim como também para que a atividade literária venha a ser prestigiada no País como um pré-requisito para que possamos construir uma Nação cada vez mais atenta à busca de valorizar os seus escritores, não somente aos interessados, mas a toda a sociedade, a contribuição de pensadores, escritores, literatos, poetas, críticos literários, uma vida cultural que certamente tende a se adensar a cada instante para que o Brasil venha a ter no século XXI, neste terceiro milênio da Era Cristã, instituições, entre outras, como a Academia Brasileira de Letras, para o enriquecimento cultural do nosso povo nos mais diferentes estamentos sociais.

           Muito obrigado a V. Exª, Srª Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2010 - Página 48121