Discurso durante a 169ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre o incidente envolvendo o candidato José Serra durante uma caminhada no Rio de Janeiro. Análise das campanhas para o segundo turno das eleições presidenciais.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Comentários sobre o incidente envolvendo o candidato José Serra durante uma caminhada no Rio de Janeiro. Análise das campanhas para o segundo turno das eleições presidenciais.
Aparteantes
Roberto Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2010 - Página 48128
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, OCORRENCIA, AGRESSÃO, VITIMA, JOSE SERRA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUSPENSÃO, DIVERSIDADE, COMPROMISSO, CAMPANHA ELEITORAL, ELOGIO, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPUDIO, VIOLENCIA.
  • ANALISE, SEGUNDO TURNO, ELEIÇÕES, IMPORTANCIA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, CRITICA, CONCENTRAÇÃO, DISCUSSÃO, CRENÇA RELIGIOSA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, foi triste o episódio de ontem no Rio de Janeiro envolvendo o candidato Serra. Tenho absoluta certeza de que nem os candidatos, nem a candidata Dilma nem o PT aceitam este tipo de ação, mas compromete a nós todos.

            Como a imprensa, principalmente a imprensa mundial, faz questão de destacar, pegar um assunto e mostrar ao mundo quando ele é chocante, quando ele é negativo, o Brasil durante muito tempo só aparecia no noticiário mundial no futebol e nas morenas da escola de samba do Rio de Janeiro, ou quando acontecia algo muito negativo. Graças a Deus, hoje o Brasil - justiça se faça ao Governo Lula inclusive nos últimos tempos - tem sido manchete, muitas e muitas vezes, por fatos positivos que honram nós todos. Mas o que a gente leu no noticiário internacional de ontem foi que o Brasil foi notícia no mundo inteiro, com direito a manchete e a fotografia: candidato é agredido, foi parar no hospital. Inclusive exagerando. Quem viu algumas das manchetes, algumas das notícias na imprensa internacional: foi agredido com uma pancada, foi parar no hospital, suspendeu a sua campanha; e não suspendeu, apenas interrompeu no dia de ontem. Mas foi ruim. E esses assuntos eu sei, eu entendo. Ou tu acabas logo, ou vem atrás um outro.

            Eu lembro uma discussão que eu tinha com um político famoso, que dizia que o problema não são os companheiros, o problema está em que, muitas vezes, no meio dos companheiros, há algumas pessoas ou que têm alguns parafusos a menos no cérebro ou que se deixam inflamar sem entender o porquê.

            O Brizola, quando governador, fazia umas palestras na sexta-feira, em Porto Alegre, na Rádio Farroupilha, e às vezes ele falava três, quatro horas. Ele me contava que, no sábado de manhã, de madrugada, era uma fila... Fãs. Mas, na verdade, alguns fãs com algum parafuso diferente, que estavam ali tentando fazer qualquer coisa, e ele tinha que evitar, tinha que dizer “calma!”, tinha que tranquilizar.

            O Rio de Janeiro já teve fases em que havia região, inclusive, a que os adversários de um determinado grupo partidário não podiam chegar, porque, se chegassem lá, apanhavam. Graças a Deus, isso passou. Mas o incidente de ontem tinha tudo que se parecia com uma coisa desse estilo. Estava passando um candidato com as faixas e a propaganda da sua candidatura. Estava ali um outro grupo com o outro candidato... Não o outro candidato, mas com propaganda do outro candidato. Tudo bem. Um passa e o outro fica. Até pode virar de costas, pode fazer um ato assim de inconformidade. Mas partir para a briga? Partir para a agressão? Atirar objeto na cabeça do candidato? Não tem lógica.

            Eu gostei porque a direção do PT imediatamente repudiou e deixou muito claro - e a candidata do PT, a mesma coisa - que não aceita e não admite isso. Mas é bom que a gente esteja preparada para que isso não se repita.

            Eu disse desta tribuna e repito: na minha opinião pessoal, quem sai mal nesta eleição é o Supremo Tribunal Federal. Parece mentira, mas a história vai marcar. O Supremo não cumpriu a sua missão. Não fez o que devia ter feito. Uma hora joga para esta Casa, que teria votado uma emenda que não era de redação, que modificava a lei, logo ela devia voltar para a Câmara, o que não é verdade. Com todo o respeito, o Presidente do Supremo se equivocou redondamente. Outra hora, diz que é o Presidente da República que tem que mandar o nome do novo Ministro. Afora o equívoco do Supremo, estamo-nos saindo muito bem desta campanha.

            Eu sou fã do segundo turno, porque aqui o segundo turno não parece o primeiro. O primeiro é uma anarquia: 40 partidos, 30 candidatos; ninguém entende nada, ninguém sabe nada; alianças as mais estapafúrdias aqui e lá. A gente, quando andava, tinha que tomar muito cuidado, porque aqui a gente estava de um lado; ali, no outro lado, a gente estava do outro lado. Aqui, o partido era o grande companheiro; ali o outro partido era o grande inimigo. Já o segundo turno é que nem em todos os países civilizados: dois candidatos, dez minutos cada um; eles falam, e a gente assiste e tira as conclusões.

            Desta vez, o aspecto negativo que vejo, de um lado, é essa questão de, de repente, parecer que estamos em um país mulçumano, em que a religião é o que há de mais importante. De repente, tem candidato até que faz um santinho: “Viva Jesus Cristo!” Eu nunca tinha visto isso. Há outros que passaram a vida e, de repente, confessam-se e comungam... Eu nunca tinha visto isso.

            Lembro-me de Fernando Henrique, candidato a Prefeito de São Paulo, mas deu as respostas no debate. “Você já experimentou maconha?”, perguntou o jornalista. E ele respondeu: “Já e não gostei”. O azar dele era que o candidato adversário era Jânio Quadros, malucão, malucão - mas que nem ele, brilhante na televisão, houve pouca gente. No dia seguinte, Jânio Quadros falou: “Não gostou?! O Fernando Henrique, se se eleger prefeito, vai botar maconha na merenda escolar”. É tão ridículo! Mas aconteceu. Depois, fizeram uma pergunta: “Você crê em Deus?”.

E Fernando Henrique teria respondido: “Você prometeu que não me faria essa pergunta”. E foi só.

            Mas nessa campanha, tem um lado em que eu me magoei até com a minha igreja, a Igreja Católica. Aquele manifesto lá de São Paulo, eu não entendi por quê. Sinceramente, eu não entendi e não gostei. Eu tenho direito de dizer o que eu penso. As outras igrejas, então, nem quero conversar. Mas que é bacana, é bacana!

            O segundo turno, falando um, e o outro respondendo, é muito positivo. E que nós estamos mostrando ao mundo como é bom a democracia, estamos. Pode haver exagero do Lula. O Lula, eu repito aqui o que eu dizia, há um ano atrás, nesta tribuna, eu venho dizendo: o Lula tem que se cuidar com uma questão, que é a soberba. O Lula, na medida em que está crescendo e o seu prestígio está avançando, a sua credibilidade está indo adiante, cada vez está ficando mais dono da verdade. E se a sua equipe de televisão transformou o Lula autêntico de antes no “Lulinha paz e amor”, o “Lulinha paz e amor” - e não é culpa de nenhum Duda da vida - por conta própria tem um tom de dono da verdade que exagera um pouquinho. Mas, mesmo assim, eu acho que a democracia está se garantindo neste País. Uma prova de garantia: alguém tem dúvida de que, se ganhar a Dilma, ela assume? Ninguém tem dúvida. Alguém tem dúvida de que, se o Serra ganhar, ele assume? Ninguém tem dúvida. Em primeiro lugar, porque o Lula também diz isso. Em segundo lugar, porque, com toda a soberba dele, ele quer, mas, se não quisesse, também não conseguiria nada, porque o povo quer, a sociedade quer, as entidades querem, civis e militares querem.

            A democracia, neste Brasil, está caminhando por uma linha irreversível, pelo menos até onde a visão, no espaço e no futuro, nosso olhar consegue alcançar.

            Pois não.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Agradeço a oportunidade e a honra de aparteá-lo. V. Exª sabe do nosso cotidiano: todos os dias, vou em direção a V. Exª para cumprimentá-lo. V. Exª é um líder neste Senado Federal, é um líder nacional. V. Exª merece os maiores respeitos da nossa Casa, Parlamentar por Parlamentar. Parabenizo-o pelo pronunciamento de hoje à tarde. Eu diria que, além desse exemplo que V. Exª é, V. Exª toca num assunto muito importante, que é exatamente a consolidação da nossa democracia. A consolidação da nossa democracia mostra a maturidade não só econômica, mas política do Brasil. Na verdade, eu gostaria de me acostar a V. Exª no tocante ao repúdio à violência, no repúdio ao impedimento do pleno exercício da democracia, ao reconhecimento do que foi destacado por V. Exª, de que em todos os agrupamentos existem companheiros que se excedem, e nós, por consciência, por precaução, temos que, na verdade, dar um freio a essas exceções, mesmo sabedores de que as exceções, as efetivas violências acontecem em tudo: em torcidas organizadas de jogos, acontecem em torcidas organizadas de campanhas políticas. Agora, eu gostaria de fazer uma observação, acostando-me ao pronunciamento de V. Exª, que, na verdade, é a exploração do fato que não houve. Na verdade, eu acho que houve uma grande encenação, porque o lamentável incidente - concordo com V. Exª no tocante ao lamentável - trouxe uma aura de um grau de violência que não houve. O candidato agredido passava a mão na cabeça, buscando encontrar o que não encontrou, sangue. Seria ótimo, eleitoralmente, se encontrasse sangue. Não apareceu sangue. De repente, o candidato, por questões única e exclusivamente políticas - porque se ele fosse um empresário que estivesse visitando uma obra e tivesse acontecido aquilo, ele teria continuado a visitar as obras - por questões de encenação política, o candidato simulou abandonar a campanha, suspender a campanha, resgatado de helicóptero como se tivesse sofrido um atentado a bala, e nada houve, Senador Pedro Simon, nem um galo. No Nordeste, chamamos de galo; não sei como se chama no Sul, mas aquelas pancadas na cabeça, quando se dá uma pancada numa estaca, quando se leva uma pancada, é um galo. No Nordeste, chamamos de galo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - No Rio Grande, chama-se galo.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Pronto! Pois é a mesma coisa. Nem um galo se conseguiu perceber na careca do Senador candidato. Então, acho que esta campanha deveria ter um comportamento muito mais ético, muito mais construtivo, com discussões de propostas efetivas para o desenvolvimento do País, e não com o que está acontecendo: guerra religiosa. Muitas vezes se pensa que os candidatos a Presidente da República estão sendo candidatos a pastor de uma grande igreja, porque foram mal direcionados. Na verdade, esses debates deveriam ser sobre temas que V. Exª aqui defende, como ética, reforma tributária, reformas conjunturais de que o País necessita, comportamento econômico do País. Mas, lamentavelmente, a campanha passa uma falsa imagem para o eleitor. V. Exª pode atentar para um detalhe. Eu sou economista, e diversos candidatos até têm uma base de formação econômica muito forte. Foi plantada na Revista Exame uma matéria dizendo que crescimento do candidato “X” faz com que as ações da Petrobras subam. Isso é uma mentira para a população brasileira. A Petrobras é de todos nós. A Petrobras está acima de tudo isso, está acima de uma campanha política. A Petrobras é um patrimônio nacional. A Petrobras não aumenta nem abaixa sua cotação na Bolsa de Valores em razão de pesquisa de mercado, haja vista que as últimas pesquisas de mercado no tocante às eleições, as pesquisas eleitorais mostram que a candidata Dilma tem em torno de 11%, 12%, de vantagem sobre o Senador, ex-Governador Serra. E nem por isso as ações da Petrobras foram alteradas. Os marqueteiros, na verdade, precisam ter consciência de que a população brasileira amadureceu, a população brasileira não se deixa enganar por cenas como aquelas a que assistimos ontem, degradantes, más conselheiras, de violência na campanha. Parabenizo V. Exª por abordar esse tema. Porém, a encenação do que não houve, acho muito mais prejudicial do que o excesso cometido por um partidário. A falsidade da encenação, para mim, é muito mais danosa, em se tratando de uma pessoa íntegra como é o candidato. Atribuo aos marqueteiros de querer gerar fato novo numa campanha que, a dez dias do seu final, tende a um momento de consagração nacional, a consagração da democracia. V. Exª disse muito bem: quem ganhar, assumirá a Presidência da República. Que País bacana é o que estamos vivendo! Agradeço a V. Exª o aparte. Foi para mim extremamente honroso aparteá-lo. Muito obrigado.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu é que agradeço a gentileza do aparte de V. Exª.

            Mas eu gostaria de fazer uma análise serena e tranquila dessa matéria de ontem. Primeiro, era um acontecimento normal, nada demais e nada de menos. O candidato Serra, acompanhado do candidato a governador pelo Partido Verde e a sua comitiva, estavam cumprindo um roteiro previsto e que havia sido anunciado em determinado bairro. Um grupo se reuniu, fez uma manifestação enorme, muita gente, e não precisava acontecer nada demais. Mas esse grupo agrediu, avançou. Eu concordo que, quando V. Exª diz que se procurou, realmente, se tivesse aparecido sangue, mudava. Graças a Deus, não apareceu sangue. Isso é verdade. Agora, eu quero apenas dizer a V. Exª: eu acho que o Serra agiu bem. Ele não suspendeu a campanha, ele não suspendeu o roteiro, ele não suspendeu nada! Ele apenas deu como encerrada aquela movimentação. Eles iam continuar caminhando, iam não sei mais quantas quadras, e ele disse: “Não, vamos parar aqui e vamos embora!”. Eu acho que, com todo o respeito,...

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - O Jornal Nacional dizia, não é?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Como?

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - O Jornal Nacional disse.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não. Toda a informação que eu tenho é que ele deu por suspensa a atividade daquele momento.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - O Jornal Nacional tentou dar a imagem de que o nobre candidato à Presidência, em decorrência de ter sido levado a um hospital para fazer exames, teria suspendido momentaneamente a campanha - lógico que não seria por todos os dias, mas, momentaneamente. Esse fato é que eu acho que não dependeu do candidato à Presidência, não dependeu do José Serra. Isso foi maus conselheiros, marqueteiros que tentaram gerar, de um fato singelo, um fato novo na campanha. Me desculpe!

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com todo respeito, eu penso diferente. O que eu vi no Jornal Nacional, eu também assisti, foi o Serra dizer: “Não, eu vou suspender essa caminhada”. E acho que ele fez bem. Estava prevista mais uma hora de caminhada, e àquela hora, mais uma hora de caminhada, se ele decidisse “vamos continuar”, ele continuava, e era muito provável que o outro grupo também continuaria atrás. No momento em que ele foi embora, terminou tudo, acabou. Eu acho que ele agiu certo. Eu acho, com toda sinceridade, que o Serra agiu certo, quer dizer, ele parou. Mas V. Exª disse que ele botou banca. Bom, mas também, no Rio Grande do Sul, se “tu leva” um troço na cabeça e tem um galo, “tu bota” a mão. Então eu acho que aí não foi encenação. Ele bota a mão; eu teria posto a mão também. Graças a Deus, não apareceu sangue nenhum.

            O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco PRB - PB) - Nem galo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mas sangue não apareceu. Então, o que eu quero dizer é que eu acho que o ato do Serra foi positivo no sentido de encerrar a caminhada. Mas o que nós temos que fazer dos dois lados... não vai agora o pessoal de São Paulo querer dar o troco e daqui a pouco, em Brasília, quererem dar o troco.

            Eu achei positivas as manifestações do PT, da Dilma e do Presidente e achei positivas as declarações do PSDB, dizendo: “não vai ter”. Mas é bom que não tenha.

         O segundo aspecto são esses dez minutos que cada candidato tem, esses debates espetaculares. Fala um, responde outro, fala um, responde outro, igual aos dos Estados Unidos. Mas para que só mostrar sujeira de cá e sujeira de lá, você não tem isso, não tem não sei o que lá, e já dizendo pela milésima vez. Que não falassem coisas construtivas, mas os problemas, as dúvidas, as interrogações que nós temos. Começa até pelas perguntas dos jornalistas.

            No último debate, nenhum dos dois candidatos queria falar sobre aborto. E houve as perguntas dos jornalistas que foram lá e cobraram, no sentido de que eles queriam uma resposta.

            Mas acho, com toda sinceridade, que a campanha vai bem. É claro que eu gostaria que tivesse outro fim, mas devo respeitá-la.

            Eu dizia aqui, há dois meses, que achava a Dilma a melhor candidata que o Governo tinha para apresentar. Não via ninguém melhor do que ela. E achava o Serra um grande candidato. Para mim, melhor que o Fernando Henrique. Sempre achei. Nós já temos 16 anos de paulistas: 8 de Fernando Henrique e 8 de Lula. Dezesseis. Se o Serra ganhar, são mais 8, e dá 24.

            O medo que tenho é que, daqui a pouco, o Rio Grande e Minas tenham que fazer uma nova Revolução de 30, que agora não é mais café com leite, é só café. Não sei, mas não acho isso ideal. E olha que o Lula, cá entre nós - agora, não, ele está no Palácio do Planalto -, quando ele estava despachando lá, no Banco do Brasil, eu não fui, mas quem foi disse que o escritório que ele montou do Presidente da República em São Paulo é quase que um palácio, é luxo, são três andares, pelo menos muito melhor do que o daqui, no Banco do Brasil.

            Há quanto tempo vocês ouviram falar de um empresário paulista vir a Brasília? Ele vai lá, em São Paulo. Há quanto tempo que vocês ouviram falar de um político, de um prefeito... Aqui tem prefeito do Brasil inteiro. Os coitados saem lá, do Mato Grosso, do Rio Grande do Sul, da Paraíba, do Amazonas, para entrar na fila aqui para falar com o Governo. Em São Paulo, eles vão à capital e têm ali uma estrutura toda do Governo à disposição. Isso me parece sério, mas, com todo o respeito, graças a Deus, estamos chegando ao final desta campanha. Graças a Deus que a democracia persiste.

            Eu estou batendo o meu recorde: sexta-feira passada, segunda, terça, quarta e quinta eu vim a esta tribuna me dirigindo ao querido Supremo Tribunal. E a resposta foi o silêncio total. E a imprensa, em respeito ao Supremo, silêncio total. E hoje terminou. Não tem reunião hoje e não tem mais reunião. O processo Ficha Limpa, para esta eleição, terminou.

         Eu creio, Sr. Presidente, que nós vamos viver momentos muito importantes no ano que vem. Virá um outro Congresso, teremos faltas imensas, Senadores que vão fazer falta. Outros, que nem eu, acho que deviam ir embora porque, afinal, acho que já fiquei tempo demais aqui e acho que foi muito tempo para muito poucas coisas positivas que eu possa ter feito. Mas há uma expectativa com relação ao novo Congresso e há uma expectativa com relação ao novo Presidente.

            Não será um lord que nem o Fernando Henrique, filho de General, intelectual, e que durante os seus 8 anos de Governo nunca pôde esquecer essa posição. O melhor lugar que ele teve foi quando nomeado, por Itamar, para Ministro das Relações Exteriores, chanceler - o maior acerto de Itamar. Ali ele estava bem. Ali ele se sentia bem. Eu ia visitá-lo no Palácio do Itamaraty - que, aliás, é o prédio mais bonito de Brasília, aquela vastidão enorme - e disse a ele uma vez, e ele riu: - Concorda, Fernando Henrique, que este prédio agora está à tua altura? Tem alguém à altura dele? O outro, o Lula, o simples, o líder sindical, o homem de uma biografia extraordinária e que fez grandes obras. Como Fernando Henrique fez grandes obras. Não há dúvida alguma. Mas a soberba do nosso amigo Lula complicou muito o final do seu Governo. Complicou no sentido de que, apesar de humilde líder operário que passou fome, que sofreu, que lutou, que enfrentou a ditadura, em muitas e muitas questões, eu diria que o Lula tem mais soberba que o Fernando Henrique. O Fernando Henrique era aquilo. Ele nasceu filho de General. Aquela aristocracia era a convivência dele. O Lula nasceu lá, no Nordeste, esteve na luta sindical, mas, de repente, diante da humildade dele, a soberba o levou ao exagero, o que eu lamento.

            Espero com ansiedade esse domingo próximo - não esse, mas o domingo que vem - e acredito que, apesar da lastimável decisão de omissão do Supremo, o Brasil vai mudar e este Congresso, se Deus quiser, também vai mudar. Muitas coisas boas, embora muitas coisas ruins, como a falta de V. Exª.

            Muito obrigado.


Modelo1 5/19/2412:22



Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2010 - Página 48128