Discurso durante a 167ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a situação do setor de saúde pública no Estado de Rondônia.

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE.:
  • Preocupação com a situação do setor de saúde pública no Estado de Rondônia.
Publicação
Publicação no DSF de 20/10/2010 - Página 47960
Assunto
Outros > SAUDE.
Indexação
  • APREENSÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, SAUDE PUBLICA, ESTADO DE RONDONIA (RO), REITERAÇÃO, IMPORTANCIA, DESCENTRALIZAÇÃO, SISTEMA, CONSTRUÇÃO, HOSPITAL REGIONAL, CRITICA, PRECARIEDADE, INFRAESTRUTURA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, INSUFICIENCIA, MEDICO, FALTA, EQUIPAMENTOS, MATERIAL HOSPITALAR, DESRESPEITO, VIDA HUMANA, ADVERTENCIA, NECESSIDADE, URGENCIA, PROVIDENCIA, MELHORIA, GESTÃO, SETOR.
  • COMENTARIO, DENUNCIA, MEDICO, INSUFICIENCIA, LEITO HOSPITALAR, UNIDADE, TRATAMENTO, MATERNIDADE, HOSPITAL, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE RONDONIA (RO), EXCESSO, TRABALHO, DEPOIMENTO, DEMORA, ATENDIMENTO, DIFICULDADE, REALIZAÇÃO, CIRURGIA, PACIENTE, VITIMA, ACIDENTE DE TRANSITO, NECESSIDADE, INTERVENÇÃO, IMPRENSA.
  • REGISTRO, COMPROMISSO, ORADOR, OBTENÇÃO, RECURSOS, DESTINAÇÃO, SAUDE PUBLICA, ESTADO DE RONDONIA (RO).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ACIR GURGACZ (PDT - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já me pronunciei aqui nesse plenário, este ano, sobre os problemas que Rondônia vinha atravessando no setor de saúde, e declarei que a melhor saída para reduzir a pressão que recai sobre o nosso povo seria a descentralização do nosso sistema estadual de saúde, com a construção e operacionalização de hospitais regionais. Esta, meus amigos e minhas amigas de Rondônia, seria uma forma já atrasada, que Rondônia merece há tempos, de corrigir esse problema do atendimento ambulatorial em nosso Estado.

            Mas hoje, Sr. Presidente, não dá para simplesmente afirmar que precisamos de novos hospitais. Não dá para dizer isso porque leva-se muito tempo para construir um hospital. Imagine construir um hospital em cada grande região do Estado, nos moldes do hospital regional de Cacoal, que ficou parcialmente concluído este ano e que ainda não está funcionando em sua totalidade. O hospital de Cacoal está em obras desde 1989 e até agora ele pouco contribui para desafogar a demanda que os hospitais de Porto Velho são obrigados a atender.

            Dessa forma, meus amigos, eu somente tenho que acreditar que o povo de Rondônia não tem tempo de esperar que novas obras sejam projetadas, licitadas, postas em andamento, para que possamos contar com um atendimento humano, decente. Não temos tempo mesmo.

            O último final de semana gerou provas cabais de que não temos tempo para isso. Gerou provas de que Rondônia está numa sinuca de bico no setor de saúde e que o novo governo terá um trabalho gigantesco para colocar a casa em ordem.

            Este final de semana que passou foi marcado, por exemplo, com o registro de um boletim de ocorrência em uma delegacia de Porto Velho, de uma denúncia feita por uma médica na UTI Neonatal do Hospital de Base. A denúncia, Srªs e Srs. Senadores, foi gravíssima. A médica, acuada, assombrada com a situação em que se encontrava, foi obrigada a procurar a polícia para denunciar o terrível descaso de ter 63 recém-nascidos em uma UTI com 45 leitos... Isso mesmo: 63 bebês para 45 leitos na UTI Neonatal. E como se não bastasse, havia TRÊS cesarianas marcadas, sendo que uma delas de bebê prematuro, tudo para o mesmo dia. E o pior de tudo, meu povo de Porto Velho: com apenas uma única médica para cuidar de tudo isso.

            Precisamos nos colocar no lugar dessa médica para entender a pressão que ela estava vivendo, e que vários de seus colegas passam todos os dias nos hospitais de Rondônia. Eles são obrigados a conviver não apenas com as dificuldades normais da profissão, que é batalhar duro para salvar vidas. Mas eles também precisam lutar para enfrentar o descaso do poder público estadual e a sua falta de planejamento.

            Não há outra forma de explicar o que aconteceu no sábado pela manhã no Hospital de Base em Porto Velho, sem que usemos as palavras falta de estrutura e falta de planejamento. E quando o assunto é saúde, isso tudo se resume à falta de respeito com o ser humano. Falta de respeito para com os médicos, que são obrigados a participar diariamente de uma verdadeira corrida de obstáculos feita praticamente de propósito; e falta de respeito para com o povo rondoniense.

            Mas o caos no setor de saúde em Rondônia neste final de semana, como foi bem detalhado pela imprensa nesta segunda-feira e hoje, não se resumiu a esse verdadeiro escândalo. O problema da falta de médicos e falta de estrutura se alastra em outras especialidades. Especialidades importantes como as de anestesistas e cirurgiões neurologistas, pessoas que atendem as centenas e milhares de pessoas acidentadas nas vias públicas de nosso estado, por exemplo. Todo mundo no Brasil reconhece essa verdadeira catástrofe que é o nosso sistema viário e a educação no trânsito, e sabe da quantidade de mortos e feridos em nossas estradas. Como é possível, Sr. Presidente, que hoje em dia o Estado de Rondônia inteiro não tenha condições de atender pessoas feridas com necessidade de atendimento de neurocirurgiões? Como é possível?

            Pois esse problema, Srªs e Srs. Senadores, teve um exemplo dramático no final da semana passada, quando um rapaz sofreu um acidente de motocicleta em Ji-Paraná e teve que ser transferido para a Capital, em uma viagem de cerca de 400 quilômetros. O jovem ficou no hospital João Paulo II, sem as menores condições de atendimento, por quase 30 horas. Ficou assim no hospital que os próprios médicos chamam de “Chão Paulo Segundo” pelo simples fato de que a maioria das pessoas lá atendidas são deixadas no chão, por falta de leitos e até mesmo de macas!

            Exatamente isso, meu presidente. Não estou falando aqui sobre um hospital de campanha no Iraque, no Afeganistão, em países em guerra. Estou falando de um hospital em uma capital de um Estado brasileiro, onde os pacientes ficam largados pelo chão, pelas macas...

            Acontece, Srªs e Srs. cidadãos de Rondônia, esse rapaz, sem atendimento, que conseguiu fazer uma tomografia horas e horas depois de ter chegado ao hospital, finalmente foi praticamente entregue à sua família com a recomendação de que fosse levado para outro local, porque ali não havia condição de atendimento para ele.

            Um absurdo que ficou mais absurdo ainda quando um funcionário do hospital informou à mãe do rapaz, uma senhora humilde, que a cirurgia que o filho necessitaria custaria cerca de R$ 100 mil. Cem mil reais.

            Sr. Presidente, isso até envergonha qualquer um que tenha tido contato com essa história. Ainda mais pelo fato que depois de ter negado o atendimento ao rapaz, o próprio hospital executou o procedimento cirúrgico depois que a imprensa foi lá pressionar e um médico amigo da família foi lá dentro do “Chão Paulo Segundo” convencer as pessoas lá dentro da seriedade do caso.

            O resultado, Sr. Presidente, foi uma cirurgia atrasada, que resultou na necessidade de remover uma parte do cérebro do rapaz que necrosou devido ao atendimento tardio. Até ontem, senhoras e senhores, esse rapaz estava entre a vida e a morte. E se fosse capaz de se recuperar, terá seqüelas terríveis.

            O que mais incomoda nisso tudo, é que não são casos isolados. A falta de leitos e de médicos, falta de equipamentos, atrasos na realização de exames, é uma realidade cotidiana em Rondônia. Por isso dizem que o melhor hospital de Rondônia é o aeroporto: para pegar um avião e conseguir um tratamento em outro lugar.

            Foi o que fez a família de Gilberto dos Santos Aquino, um homem de 31 anos, que conseguiu levantar recursos junto à igreja que freqüentam, para levá-lo a São Paulo para uma neurocirurgia. Isso depois de terem recebido um laudo no qual o Estado lava suas mãos, afirmando que não tem condições técnicas para realizar o atendimento.

            É isso que não consigo entender! O que é mais correto para um estado fazer: criar um documento com um quadradinho para marcar um X, afirmando que não tem como atender seu povo por falta de médicos ou condições técnicas; ou é mais correto para um Estado correr atrás e criar as condições técnicas e ter esses médicos?

            É muito mais fácil fazer esse documento, mas não é o mais correto! Não é o mais justo! Não é o mais humano a ser feito. Os gestores de um Estado não estão aqui para se esquivar de encontrar soluções para os problemas do povo. Os gestores de um Estado foram eleitos para solucionar problemas, e não criar papeletas com justificativas para manter o problema existindo!

            Esses casos não são únicos, como disse, e não são isolados no tempo. Estão acontecendo todos os dias e trazendo um prejuízo humano gigantesco para Rondônia. Por isso que digo que Rondônia não tem tempo para esperar somente a construção de hospitais nos seus maiores centros regionais. Medidas emergenciais de gestão precisam ser tomadas para evitar o colapso, ao mesmo tempo em que esses hospitais começam a ser projetados, licitados, construídos e postos em funcionamento.

            Precisamos de medidas urgentes para corrigir um desmando que resulta em médicos sendo obrigados a comprar suas próprias luvas cirúrgicas. Para evitar que uma UTI Neonatal precise ficar seis meses sem soro enquanto tramita um processo de licitação. Situações absurdas que não cabem na cabeça do povo, mas que são concebíveis na cabeça de gestores públicos que não têm o menor comprometimento com a saúde da população e que, pior, nunca precisaram e nem precisarão usar o sistema de saúde público do estado.

            Daí alguém pode apontar o dedo em minha direção e dizer que eu nunca precisei desse sistema e que por isso eu deveria me igualar a esses gestores... Eu afirmo que não. Como empresários, eu e minha família lidamos com cerca de cinco mil funcionários em Rondônia e não foi uma, nem duas nem três vezes que tivemos que interceder por eles e buscar soluções por causa da deficiência nesse sistema público de saúde que critico. E não critico somente agora porque o conheço muito bem.

            Precisamos, em Rondônia, fazer uma melhor gestão da saúde pública, e me comprometo aqui, no plenário do Senado Federal, a viabilizar os meios e os recursos necessários para tentar evitar casos como os que eu narrei aqui, que mancham a imagem não apenas de meu Estado, mas de todo o país. Não temos mais espaço para tamanha vergonha.

            Era o que tinha a dizer.

            Muito obrigado pela atenção.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/10/2010 - Página 47960