Discurso durante a 168ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Agressividade de setores da campanha de Dilma Rousseff, com a incitação de militantes à violência. Críticas pelo aparelhamento do Estado durante a gestão Lula. Reconhecimento dos benefícios ao País, oriundos do modelo de privatização adotado no Governo FHC, que, porém, vem sendo repudiado pelo atual Governo.

Autor
Antonio Carlos Júnior (DEM - Democratas/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL. ATUAÇÃO.:
  • Agressividade de setores da campanha de Dilma Rousseff, com a incitação de militantes à violência. Críticas pelo aparelhamento do Estado durante a gestão Lula. Reconhecimento dos benefícios ao País, oriundos do modelo de privatização adotado no Governo FHC, que, porém, vem sendo repudiado pelo atual Governo.
Aparteantes
Adelmir Santana, Heráclito Fortes, José Bezerra, Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2010 - Página 48047
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL. ATUAÇÃO.
Indexação
  • REPUDIO, PRONUNCIAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFENSA, MARCONI PERILLO, EX SENADOR, CANDIDATURA, GOVERNADOR, ESTADO DE GOIAS (GO), CRITICA, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), AGRESSÃO, CANDIDATO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), OCORRENCIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, EXCESSO, CONTROLE, EMPRESA ESTATAL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, APARELHAMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIREÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), BANCO DO BRASIL, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), EMPRESA, GRUPO, CENTRAIS ELETRICAS BRASILEIRAS S/A (ELETROBRAS), OPINIÃO, ORADOR, EFEITO, INCOMPETENCIA, DIRIGENTE.
  • LEITURA, TRECHO, OPINIÃO, JORNALISTA, DEFESA, IMPORTANCIA, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, INFLUENCIA, POSSIBILIDADE, INCLUSÃO, NATUREZA SOCIAL, REGISTRO, DADOS, REFERENCIA, RESULTADO, PRIVATIZAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, AMPLIAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, TELEFONIA, AUMENTO, CRIAÇÃO, EMPREGO, CRESCIMENTO, ARRECADAÇÃO, IMPOSTOS, CONFIRMAÇÃO, MANIPULAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INFORMAÇÃO, GESTÃO, ANTERIORIDADE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não era o tema principal do meu discurso, porém, em função da urgência e da gravidade dos episódios ocorridos, eu tenho que começar por ele.

            A agressividade dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, a começar pelo Presidente Lula, começa a trazer consequências mais graves, incitando uma militância petista, eu diria profissional, a se manifestar de forma cada vez mais violenta.

            Vejam três episódios muito recentes de ontem e de hoje.

            Lula, ontem, em mais uma operação casada para driblar a legislação, foi a Goiás para um evento oficial, quando o objetivo real era, no comício em Goiânia, ofender o candidato ao Governo do Estado, nosso colega Marconi Perillo, a quem eu presto total solidariedade agora, chamando-o de mentiroso, de sem caráter e de desviar verbas.

            É um absurdo! Eu protesto, como membro deste Senado, que o nosso colega tenha sido ofendido dessa forma e presto a ele toda a solidariedade.

            Lula, hoje, em reunião com dirigentes da Mitsubishi, chamou José Serra de irresponsável, porque, segundo o Presidente, Serra promete o que não vai cumprir e também porque pretende mudar a política econômica.

            E agora, à tarde, Serra estava em uma caminhada em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, quando se deparou com um grupo de militantes petista, esses tais profissionais, que começaram a gritar palavras de ordem e agredir verbalmente o candidato e sua comitiva.

            Os militantes do PSDB reagiram, e houve confusão. Serra teve que entrar numa loja, onde permaneceu até que os ânimos se acalmassem.

            Então, é preciso moderação por parte da campanha do PT, para que os ânimos não se acirrem a ponto de se criar um problema de mais graves consequências.

            Srª Presidente, eu já disse aqui que o PT é o primeiro Partido que, ao assumir o Governo em um regime democrático, em vez de desenhar um futuro para o País, resolveu reescrever o seu passado, ao mesmo tempo em que dele usufrui. Mas faltou dizer, senhoras e senhores, que, enquanto tenta reescrever o passado, o Partido dos Trabalhadores coloca em risco o futuro do País.

            O Governo petista coloca em risco o futuro do Brasil, quando aparelha, da pior forma possível, em um processo clandestino e tacanho de privatização para proveito próprio, empresas de importância estratégica como a Petrobras, os Correios, o Banco do Brasil, o grupo Eletrobrás e a Caixa Econômica Federal, leiloando seus cargos, permutando-os por facilidades no Congresso Nacional ou por favores inconfessáveis.

            Ao aparelhá-las, o que ocorre? A incompetência de uns drena a competitividade dessas empresas, e a desonestidade de outros se apropria de seus recursos.

            Levantamento feito pela revista Veja, publicado na edição de 8 de setembro passado, mostra que, entre os quarenta cargos mais importantes do Governo, mais da metade está sob o controle direto do PT: Petrobras e suas subsidiárias, BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Correios, empresas do grupo Eletrobrás entre outras, sem mencionar os fundos de pensão das estatais, estão sob o controle do Partido.

            O mesmo acontece nos escalões intermediários dessas empresas e da administração pública. Dos mais de 1,2 mil cargos de direção e assessoramento superior, tradicionalmente reservados para especialistas e técnicos, 45% estão ocupados por sindicalistas, quase todos petistas. Desde o início do Governo Lula, mais de 6 mil servidores federais, ocupantes de cargos de alto nível, se filiaram ao PT. Setenta por cento desses neopetistas tiveram promoções ou foram nomeados para cargos de chefia.

            Enquanto fazem isso, eles tentam impingir a pecha de maus gestores e de vendedores da pátria aos que lhes combatem esses malfeitos. Na verdade, eles estão é apavorados, isto sim, com a perspectiva de virem a perder a boquinha, se me permitem o termo.

            Nos debates do segundo turno, nas propagandas eleitorais e nos discursos de palanque, a candidata, o Partido dos Trabalhadores, o Presidente da República, até mesmo Ministros e Presidentes de empresas estatais, em eventos sociais, repetem mantras mentirosos de falso nacionalismo e tentam confundir o eleitor.

            Na falta de argumentos, chegam ao requinte de afirmar que o Governo Fernando Henrique teria preparado a Petrobras para ser privatizada - uma afirmação sem sustentação objetiva que mostra o Presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, mergulhado de vez na campanha presidencial e levando com ele, de forma absolutamente indevida, a empresa que preside - ele é filiado ao PT e foi candidato a Governador, em 1990, pelo PT - mas não é dele, não é do Presidente Lula, não é da candidata Dilma. É do Brasil.

            Mas reparem: preparando a Petrobras para ser privatizada? Ora, só se eles acusam o Governo Fernando Henrique Cardoso por ter tornado a Petrobras mais eficiente, por ter modernizado a legislação sobre o setor de petróleo, enfim, por tornar a empresa melhor e, assim, mais admirada, cortejada e, comprova-se, apta a desenvolver-se e crescer.

            Pode ser isso, vez que o Governo Lula vem buscando fazer o inverso com o setor.

            Ao contrário do Presidente Fernando Henrique, que modernizou a legislação, o Presidente Lula enfiou goela abaixo do Congresso Nacional - e nós vimos aqui o trator passar, e eu protestei aqui veementemente contra esses projetos de reestatização do setor de petróleo com o pré-sal - e da sociedade o pacote de medidas retrógradas do pré-sal, que aumenta mais ainda a máquina pública, cria mais burocracia para o setor e inibe a concorrência.

            Mas não é só a Petrobras. Eles falam das privatizações como se essas tivessem sido nocivas ao País. Usam de demagogia barata e deliberada confusão em seus pseudoargumentos, pois sabem que alguns dos benefícios auferidos pelas privatizações, por serem indiretos, não são muito claros para o cidadão comum. Isso fica evidente quando eles fogem, como o diabo da cruz, de discutirem, por exemplo, os benefícios das privatizações das teles.

            Claro, qualquer brasileiro sabe o quanto mudou para melhor, em qualidade e preço, os serviços de telefonia após a privatização. Como disse José Serra, “se dependesse do PT, o Brasil seria o País dos orelhões”.

            Negar os benefícios para o Brasil das privatizações feitas no Governo Fernando Henrique é, como se costuma dizer, mentira de pernas curtas.

            Vamos comparar? Em 1995, 88% dos telefones fixos e 100% dos celulares estavam nas mãos das classes A e B. Havia fila para se conseguir um telefone, os preços eram proibitivos. Com a privatização, acabou o monopólio estatal para ricos. O celular entrou para o cotidiano brasileiro de qualquer classe de renda e as telefônicas assumiram o compromisso de universalizar seus serviços e instalar linhas mesmo nas regiões mais pobres e distantes.

            A telefonia estatal disponibilizava vinte milhões de aparelhos fixos. Com o sistema privatizado, foram disponibilizados quarenta milhões de aparelhos. Com a telefonia estatal, 7,4 milhões de celulares foram vendidos. Com o sistema privatizado, foram disponibilizados 121 milhões de aparelhos; desses, mais de 70 milhões para as classes C, D e E.

            O dinheiro obtido com a privatização da telefonia - US$30 bilhões - foi considerado recorde e nos permitiu abater a dívida pública, garantir a estabilidade econômica e dar prioridade a área social. Além disso, o setor recebeu, em dez anos, mais de US$140 bilhões em investimentos privados.

            Senhores, visto isso, fica fácil compreender porque a candidata do Governo se esquiva de discutir a privatização do setor de telefonia. Talvez eles fujam a esse debate porque também poderiam acabar tendo que explicar o que este Governo vem fazendo, utilizando-se para isso das teles e de outras empresas, com o dinheiro dos trabalhadores que se encontra depositado nos grandes fundos de pensão, eles todos em mãos petistas.

            Senhores, e a Vale? O Presidente Lula fala mal da privatização da Vale, mas seu governo se beneficia dos resultados da medida. Senão, vejamos. Desde a privatização, o lucro da Vale multiplicou por 13, as vendas por 2,5 e o valor de mercado por 8. Ao comprar a canadense Inco por US$17 bilhões, a Vale tornou-se a segunda maior mineradora do planeta. A Vale tinha 11 mil empregados e recolhia R$724 milhões em impostos. Hoje, ela tem 60 mil empregados e recolhe R$6 bilhões em impostos. Esses impostos - sempre é bom lembrar aos brasileiros que nos assistem - são recursos que podem ser destinados à educação, à saúde, à habitação, a obras de infraestrutura.

            As exportações da Vale em 2008 somaram US$17,6 bilhões e foram responsáveis por mais de 70% do superávit comercial do Brasil. São números que o PT esconde ou deturpa - inclusive nos programas eleitorais da ex-Ministra Dilma ou é mentira ou então são chutes, são números estapafúrdios, chutados - ao mesmo tempo em que luta nos bastidores pelo controle da empresa, como, aliás, já disse o próprio Presidente da Vale. Quer dizer, o PT quer tomar a Vale para ser gerida por seus próprios interesses.

            Sr. Presidente, o que dizer dos Correios?

            Os Correios sempre foram considerados eficientes, orgulho de seus funcionários, admirados pelos brasileiros e conceituados internacionalmente. Aí veio o PT e transformou os Correios em alvo de denúncias, em palco de escândalos e exemplo de como uma empresa aparelhada politicamente e mal administrada pode se deteriorar em curto espaço de tempo.

            À revelia do seu corpo de funcionários, que consegue ainda levar a empresa para a frente, mesmo com dificuldades, o Governo Lula tem feito o possível para destruir os Correios, impondo-lhe maus dirigentes, quase todos oriundos de partidos políticos ou nomeados graças às relações pessoais com o mandarinato petista, de dentro e de fora do Governo.

            Agora mesmo é do conhecimento de todos a paralisia e a situação caótica e de desmandos por que passam os Correios, em face da disputa de poder existente entre o PT e a ala mineira do seu principal aliado.

            E a Eletrobrás? A empresa, a mais recente vítima conhecida dessa praga, misto de aparelhamento e desonestidade, vê-se agora envolvida num escândalo internacional. Lá, seu diretor, amigo dileto da candidata Dilma, está enrolado até o pescoço em uma fraude de 157 milhões de euros, junto a um banco alemão.

            O dinheiro, tomado por empréstimo para investimentos que jamais aconteceram, simplesmente teria sumido. Com ele, acusado de extorsão, também está o chefe de gabinete da ex-Ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

            Já perceberam? Os principais casos de corrupção até agora conhecidos neste Governo quase sempre começam ou acabam chegando à Casa Civil da Presidência da República. No Governo Lula, mudaram-se os ministros- chefe da Casa Civil, mas não se modificou a prática.

            Mas voltando ao caso da Eletrobrás. O mais grave, Sr. Presidente, é que, nessa mesma turma, tem ramificações da Norte Energia, empresa encarregada de implantar a polêmica usina elétrica de Belo Monte, justamente a obra que o Presidente Lula considera uma “questão de honra” levar adiante a qualquer custo e sem considerar os aspectos ambientais.

            Afirmar, como faz a candidata Dilma, que o Governo passado tentou estatizar a Petrobras, é mentira. Prova disso é a carta que o Presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, escreveu para o Presidente do Senado, Senador José Sarney, em que Fernando Henrique propõe sejam aprovados pontos, como o de que a Petrobras não seja passível de privatização e que a União não contrate empresas para pesquisa em áreas que tenham produção já estabelecida.

            Vou repetir: o Presidente Fernando Henrique propôs ao Congresso Nacional fixar em lei a proibição de que a Petrobras fosse passível de privatização.

            Mas eu quero aqui, por justiça, ler um trecho pequeno do comentário da jornalista Míriam Leitão, que fala em falsas verdades, exatamente o que estou falando aqui.

            Diz a jornalista Míriam Leitão:

Ninguém com um mínimo de honestidade intelectual conseguirá tirar do ex-presidente Fernando Henrique o mérito de ter começado a estabilização como ministro no governo Itamar Franco, e consolidado nos seus dois mandatos. Por ser bem sucedido, o plano chacoalhou toda a economia, quebrou os bancos, criou desafios que o governo FHC teve que enfrentar num contexto de crise externa.

Foi mais fácil para o governo Lula fazer a colheita. Ele encontrou a terra arada, e sementes germinando. Poderia ter destruído tudo, se ouvisse alguns dos seus conselheiros, mas teve o mérito de ouvir os conselhos certos [de Palocci e de Henrique Meirelles]. O país ganhou e pôde passar para suas outras tarefas como a da inclusão social. Mas aí de novo é incontornável em qualquer série histórica ver que a primeira grande queda da pobreza aconteceu entre o final do governo Itamar e o começo do governo Fernando Henrique como resultado do controle da inflação [no Plano Rea]l. Como é fácil constatar que uma nova grande queda do percentual de pobres aconteceu no governo Lula.

            Então, essa justiça tem de ser feita. Da mesma maneira, a candidata Dilma também mente para o eleitor, quando afirma que a Oposição pretende privatizar as empresas estatais.

            Senhores, na verdade, José Serra eleito reestatizará a Petrobras. E não apenas ela. Serra trará de volta para todos os brasileiros as empresas estatais que foram usurpadas pelo PT e seus amigos.

            Muito obrigado, Srª Presidente, Srs. Senadores.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senhor Senador, é que eu já estava pedindo há algum tempo.

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Desculpe-me, Senador Papaléo. Concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Parabenizo V. Exª pelo discurso esclarecedor para a população brasileira e solidarizo-me, também, como V. Exª fez, com o nosso Senador, nosso colega Marconi Perillo, e com o nosso candidato a Presidente da República José Serra. Com atos, eu digo, até grosseiros e irresponsáveis, politicamente falando, foi como se portou o Senhor Presidente da República. Sua Excelência não pode deixar que uma campanha política desvirtue a sua condição de Presidente da República. Ele é Presidente de todos os brasileiros e não somente de quem o acompanha politicamente. Lamento profundamente as acusações que ele fez ao nosso Marconi Perillo, Vice-Presidente desta Casa. Quero repudiar esse ato. E que Deus abençoe para que isso não seja um sinal altamente negativo para o processo democrático brasileiro. Quando as pessoas que estão no poder passam a usar a arrogância, têm a sensação de impunidade, do vale-tudo, isso é de se temer muito pela sociedade que elas dirigem. Então, lamento profundamente o comportamento do Senhor Presidente da República, que costuma ser sempre inadequado a sua condição de Presidente da República. Mas que essa inadequação se prendesse apenas a alguns problemas que se relacionam às questões sociais de Sua Excelência, de caráter privado, aos excessos que pratica, de caráter privado. Isso aí, tudo bem! Mas, publicamente, jamais deveria se portar da maneira deselegante como tem se portado neste momento, acirrando o mal-estar político em que se encontra neste momento o nosso País. Nós queremos paz, queremos um Presidente da paz e queremos que o Presidente use o serviço de comunicação pública para tranquilizar os brasileiros e para dizer a todos eles que devem votar com a sua consciência e não com a imposição do poder. Muito obrigado.

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Agradeço ao Senador Papaléo Paes.

            Concedo a palavra ao nobre Senador José Bezerra e, depois, ao nobre Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. José Bezerra (DEM - RN) - Senador Antonio Carlos, quero primeiramente solidarizar-me com o nosso colega Senador Marconi Perillo, grande ex-Governador daquele Estado de Goiás. Uma prova inequívoca disso é que o povo de Goiás irá reelegê-lo agora no dia 31 de outubro para mais um mandato de Governador. Esses impropérios do Presidente estão ficando a cada dia mais exacerbados, vamos dizer assim. Alguém, como já disse o ex-Presidente Fernando Henrique, tem que dar um basta nisso ou algum amigo colocá-lo em uma antiga escola - de que me lembro -, no Rio de Janeiro, de bons modos, chamada Socila. Quem sabe se o Presidente não acataria conselho de seus amigos para ir a esta escola fazer um curso para poder ter boas maneiras, bons gestos e se comportar realmente como Presidente da República. Segundo, por exemplo, o jornalista Cláudio Humberto, existem, lá no Rio Grande do Norte, apenas dois Deputados do PT: a Deputada Federal Fátima Bezerra e o Deputado Estadual Fernando Mineiro. Ele chamou os dois, por não terem derrotado o Senador José Agripino - eu vou ter que repetir aqui o termo que o Presidente usou; lamento e peço desculpas aos meus colegas -, de “dois bundões”. Vejam a que nível chega o Presidente da República! Não concordo com a declaração de que a Deputada Fátima e o Deputado Mineiro sejam “bundões”. De jeito nenhum! São atuantes e têm uma boa atuação parlamentar no meu Estado. Ela foi eleita agora a Deputada mais votada do Estado do Rio Grande do Norte e foi chamada pelo Presidente de “bundona”.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - E não é no sentido estético, não é?

            O Sr. José Bezerra (DEM - RN) - Não. Estético, com certeza, não é. Vejam só a que nível chegamos! E aonde vamos chegar? Não sei. Em relação a essa história de privatizar ou não a Petrobras, o brasileiro tem que saber que hoje paga a gasolina pior e mais cara do mundo; pior gasolina e mais cara do mundo. E nós temos autossuficiência em petróleo. Não é o caso do Japão, que não tem petróleo. Não é o caso da França, da Alemanha, da Suíça, que não têm petróleo e pagam uma gasolina mais barata. A Petrobras está em sérias dificuldades financeiras. Nós soubemos que essa capitalização foi para sanar problemas financeiros e que a maioria das ações foi comprada pelo próprio Governo. Nós sabemos disso! Além disso, Senador, o senhor falou da Eletrobrás; há os Correios, de que o senhor também falou, mas nós nos esquecemos da Infraero. A Infraero também está sucateada, cheia de penduricalhos. Faliram a Infraero, que está aí sem dinheiro para fazer qualquer investimento nos aeroportos brasileiros. Esse é o caos em que se encontram as empresas públicas, e ainda não querem que sejam privatizadas, apesar do sucesso que teve a telefonia brasileira e a Vale do Rio Doce. Era isso que queria dizer. Parabéns, Senador!

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Agradeço, Senador José Bezerra. Precisamos recriar a Socila, mesmo porque o Presidente da República precisa aprender bons modos.

            Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Antonio Carlos Júnior, estava ouvindo o pronunciamento de V. Exª e surgiu o aparte do Senador Papaléo. Antes, porém, estava ouvindo um pronunciamento do Senador Tião Viana em que dizia que o Presidente Lula prometeu ir uma vez ao Acre, duas vezes ao Piauí, duas vezes ao Pará. Senadora Serys, é preciso cobrar do Presidente todas essas promessas feitas em palanques de visitar cidades antes do final do mandato. Já fiz as contas: ele visitará 18 cidades depois do 2º turno, antes de deixar o Governo - o que deverá ocorrer no dia 1º de janeiro, a não ser que esteja preparando com o Chávez alguma outra saída -, para ver se essas coisas podem ser levadas a sério. O que me chamou a atenção foi essa agressão que ele cometeu contra o Senador Marconi Perillo. Eu e o Senador Mão Santa fomos vítimas, no Piauí, de agressões semelhantes. O Senador e Governador eleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo, foi vítima de agressões dessa natureza lá em Santa Catarina. O Senador José Agripino foi vítima de agressões dele na campanha de 2008, não é isso, Senador? E agora novamente. Será que esse é o exemplo que um homem como o Presidente Lula, que tem uma popularidade incontestável, quer deixar à Nação? 

            Ficar agredindo as pessoas em público, ficar agredindo o cidadão é o papel do Presidente da República? Já basta misturar as ações administrativas com palanque! Espero que a Justiça Eleitoral encontre um termo para isso. Além disso, há as más companhias que o Presidente e sua candidata começam a incorporar para sua equipe. Os jornais de ontem anunciam que ela fez uma grande aquisição, o Delegado Protógenes Queiroz, que agora é seu assessor, seu assessor de informação, e inclusive já teria participado dessa operação envolvendo uma gráfica lá em São Paulo. Imaginem quem vai cercar a candidata Dilma se as coisas continuarem assim.

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Inclusive, assessoramento em debates.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - E assessoramento em debates! Imagine V. Exª! Precisamos de um equilíbrio numa questão como essa. A eleição está chegando à sua reta final. Estamos nos últimos dias. É preciso equilíbrio. Essa história de ir para Goiás e agredir Marconi Perillo, uma pessoa educada, uma pessoa respeitável, eleitoralmente não tem nenhum sentido, não tem nenhuma lógica, a não ser que ele esteja jogando para os militantes do PT e não para os brasileiros. A divergência do Senador Marconi Perillo com o Presidente Lula é conhecida. O Senador Marconi Perillo alertou o Presidente Lula sobre a possibilidade da existência de um mensalão, que estava acontecendo no seio do Governo. O Presidente Lula disse que tomaria providência. Depois, quando os fatos aconteceram, o Senador Marconi comentou a questão e, então, o Presidente Lula ficou aborrecido com ele. Mas não ficou tão aborrecido, porque os jornais comentaram que, na véspera da CPMF, o Presidente Lula fez uma tentativa de um novo encontro com o então Governador Marconi Perillo, tendo como intermediário o então Governador de Brasília José Roberto Arruda. Portanto, esses ódios seletivos do Presidente Lula não são tantos assim - tanto é que se vê hoje o Presidente Lula abraçado com meu ex-Colega de Casa e de Câmara dos Deputados Eduardo Paes. Ele tinha ódio de Eduardo Paes, que, na CPI, fez um relatório inclusive com ofensas à família do Presidente Lula, e, hoje, os dois estão abraçados. Desse modo, acho que o Presidente teria de ter mais comedimento e respeitar as pessoas, principalmente quando chega à sua terra, à sua cidade. O debate tem de ser travado em outro nível. Mas, se ele comete excessos, a assessoria deveria controlá-lo: ou segurar os amigos para não permitir que o Presidente cometa excessos ou, após os excessos, não deixar o Presidente falar. Realmente, é desagradável. Vamos chegar a Goiás: um ex-Governador, um Senador da República que está numa campanha de segundo turno, o candidato que o Presidente Lula apoia, uma figura querida por todos também, mas que está dez pontos atrás do Senador Marconi Perillo, deve ter se sentido inclusive constrangido no palanque. Não é este o exemplo que um Presidente da República deve dar à Nação: agredir os cidadãos, agredir as pessoas em palanque. Eu e Mão Santa fomos vítimas lá no Piauí. E ele ainda foi mais fundo: ele disse que aquilo era uma decisão, uma ajuda de Deus, que Deus perseguia. O Deus dele não é o meu, não! Não vou culpar Deus pelo resultado das eleições. Não culpo Deus de maneira nenhuma. Culpo a máquina que ele colocou lá no Piauí para ajudar, de maneira escancarada e descarada, no pleito eleitoral. Aliás, o Piauí não foi o único lugar, não. Mas não vamos esquecer que ele também agrediu o ...

            O SR. ANTONIO CARLOS JUNIOR (DEM - BA) - ... o Senador Marco Maciel também.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - O Senador Marco Maciel, o Senador Tasso Jereissati.

            O SR. ANTONIO CARLOS JUNIOR (DEM - BA) - Também.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Ora, agredir o Senador Marco Maciel, um homem que não atinge ninguém, um homem que é conhecido pela educação, pela maneira de fino trato com que se conduz, Senadora Serys, é muito desagradável. De forma que quero emprestar aqui a modesta solidariedade de um Senador piauiense, colega do Senador Marconi Perillo, e dizer que a melhor coisa que a gente faz é torcer para que o Presidente Lula, até o último dia da eleição, continue nos palanques agredindo as pessoas, e o povo brasileiro tirando as suas conclusões. Muito obrigado.

            O SR. ANTONIO CARLOS JUNIOR (DEM - BA) - Agradeço, Senador Heráclito. Se o Presidente Lula continua agredindo é porque alguma coisa não está andando bem no lado da campanha da sua candidata.

            Senador Adelmir Santana.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Senador Antonio Carlos Júnior, eu estava fora daqui do plenário, mas ouvi o pronunciamento de V. Exª. Quero me congratular com V. Exª e com os aparteantes. Uma coisa me chamou a atenção quando V. Exª, no final do pronunciamento, faz referências às bases, que foram entregues há oito anos, construídas pelo governo Fernando Henrique. A impressão que se tem hoje, pelos pronunciamentos atuais, é de que o Brasil começou em 2003. E, na verdade, V. Exª fez aqui uma análise extremamente bem apurada e bem colocada, mostrando e fazendo um comparativo agrícola quando fala das sementes que foram plantadas, do terreno que foi arado e da colheita que se resolve ou que se colhe agora, nesses últimos anos de Governo Luiz Inácio Lula da Silva. Então, Sr. Senador ACM Júnior, eu quero apenas me congratular com V. Exª pelo pronunciamento, ao mesmo tempo em que me associo aqui aos apartes feitos em defesa de um colega Senador, que foi extremamente agredido nesses últimos dias, e às referências feitas em relação a outros Senadores e até mesmo ao partido, quando foi dito que deveria ser extirpado da democracia ou do sistema político nacional. Isto não é democrático, esse tipo de colocação. Eu tenho até muito apreço pelo Presidente Lula, mas essas colocações me pareceram feitas num momento, sei lá, de paixão exacerbada, porque a democracia permite essa convivência até com os menores ou com as oposições. A extirpação de um partido é uma posição não muito democrática, ou não é democrática. Então, eu queria me congratular com V. Exª pelo pronunciamento que faz e por essa relação que fez, mostrando que o Brasil efetivamente não foi descoberto em 2003 e que antes, governos anteriores - Fernando Henrique, Itamar Franco e outros - sempre caminharam na direção de colocar o País em uma posição melhor, o que fez realmente, ninguém pode negar, houve avanços, o Governo Lula. Então, eu espero que o futuro governante, e creio que nada está decidido - na verdade, se há alguma decisão, uma tendência de decisão, eu aposto muito mais no lado contrário, aposto muito mais no nosso candidato...

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Com certeza, Senador.

            O Sr. Adelmir Santana (DEM - DF) - Há uma demonstração de crescimento. Creio que não serão abandonadas também as semeaduras feitas pelo Governo Lula, como não será negado aquilo que foi feito em outros governos, em governos anteriores. Congratulo-me com V. Exª e com os apartes aqui feitos em relação a outras colocações do Presidente Lula.

            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Agradeço, Senador Adelmir, e encerro, dizendo somente que todos os avanços que o Governo Lula conseguiu fazer, sem as bases anteriores, seriam impossíveis.

            Vamos acabar com esta história de “o Brasil começou em 2003” e “nunca antes na história deste País”!

            Muito obrigado.


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