Discurso durante a 173ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre o Fórum Conjunto de Legisladores de Pequim, que realizar-se-á de 6 a 8 de novembro de 2010, e que contará com a participação de S.Exa. Reflexão sobre a formação de profissionais em nosso País, com destaque para a experiência desenvolvida pela Petrobras.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. EDUCAÇÃO. POLITICA ENERGETICA. SAUDE.:
  • Considerações sobre o Fórum Conjunto de Legisladores de Pequim, que realizar-se-á de 6 a 8 de novembro de 2010, e que contará com a participação de S.Exa. Reflexão sobre a formação de profissionais em nosso País, com destaque para a experiência desenvolvida pela Petrobras.
Publicação
Publicação no DSF de 30/10/2010 - Página 48596
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA DO MEIO AMBIENTE. EDUCAÇÃO. POLITICA ENERGETICA. SAUDE.
Indexação
  • ANUNCIO, PARTICIPAÇÃO, CONFERENCIA INTERNACIONAL, DEBATE, LEGISLAÇÃO, ALTERAÇÃO, CLIMA, REALIZAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, BUSCA, COMPROMISSO, ACORDO, AMBITO INTERNACIONAL, DISCUSSÃO, FISCALIZAÇÃO, COMENTARIO, ASSINATURA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECRETOS, CRIAÇÃO, FUNDO NACIONAL, COORDENAÇÃO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), REPRESENTANTE, COMITE, GESTÃO, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, ORIGEM, LUCRO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, ELOGIO, INICIATIVA, BRASIL, EMPENHO, REDUÇÃO, DESMATAMENTO, GAS CARBONICO, APROVAÇÃO, POLITICA NACIONAL, SETOR.
  • ANALISE, ESTUDO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, HISTORIA, CONTRIBUIÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), CRIAÇÃO, DEMANDA, TECNICO, AMPLIAÇÃO, OPORTUNIDADE, EMPREGO, INICIATIVA, TREINAMENTO DE PESSOAL, CONTRATAÇÃO, ESTRANGEIRO, INAUGURAÇÃO, CURSO SUPERIOR, GEOLOGIA, ENGENHARIA DE MINAS, METALURGIA, ATUAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), REGISTRO, ORADOR, AVALIAÇÃO, QUADRO DE PESSOAL, ATUALIDADE, IMPORTANCIA, PLANEJAMENTO, AREA ESTRATEGICA, QUALIFICAÇÃO, JUVENTUDE.
  • COMENTARIO, REGIME, RISCOS, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, CRITICA, DIRETRIZ, POLITICA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, TENTATIVA, PRIVATIZAÇÃO, DIVERSIDADE, EMPRESA ESTATAL, ABERTURA, EXTRAÇÃO, EMPRESA ESTRANGEIRA, PROTESTO, REDUÇÃO, FORMAÇÃO, ENGENHEIRO, GEOLOGO, ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, RETOMADA, INCENTIVO, SETOR, DESCOBERTA, PRE-SAL.
  • IMPORTANCIA, EDUCAÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, NECESSIDADE, INCENTIVO, DIVERSIDADE, CURSO SUPERIOR, ESPECIFICAÇÃO, MEDICINA, ENGENHARIA, ENSINO PROFISSIONAL, CIENCIA E TECNOLOGIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, PROMOÇÃO, OPORTUNIDADE, JUVENTUDE, INGRESSO, MERCADO DE TRABALHO.
  • SOLICITAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, APROVAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, EMENDA CONSTITUCIONAL, DESTINAÇÃO, RECURSOS ORÇAMENTARIOS, SAUDE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, inicio esta minha fala... O Senador Pedro Simon está dizendo, da bancada: “Acho que também vou embora, com vocês dois”. De jeito nenhum, Senador! De jeito nenhum! O senhor tem de ficar aqui.

            Inclusive, o tema sobre o qual iria falar hoje, resolvi que não vou mais falar. Não vou falar porque sei que o Senador Pedro Simon vai abordá-lo, e, como tenho assinado embaixo de tudo o que ele diz a respeito do Ficha Limpa, resolvi não falar. Não vou falar porque tudo o que eu disser vai ser pequeno perto do que ele dirá. Então, como sei que daqui a pouco eu vou ouvi-lo, não vou tratar desse assunto. Dizendo sempre que a fala do Senador Pedro Simon sobre o Ficha Limpa - e tenho ouvido praticamente todos os pronunciamentos dele a esse respeito - valeu. Todos os pronunciamentos dele valeram, com certeza, porque a gente tem ouvido os comentários na imprensa nacional sobre os seus pronunciamentos e eles surtiram efeito, com certeza.

            Vou aqui discorrer sobre alguns assuntos. Um deles é sobre a minha ida ao Congresso Nacional do Povo da China & Globe Internacional, Fórum Conjunto de Legisladores de Pequim, que se realizará de 6 a 8 de novembro de 2010.

            Sr. Presidente, resumidamente, lá vamos discutir os seguintes tópicos: “Um Novo Enfoque Internacional: Criar Pontes entre a Legislação Nacional e os Compromissos Internacionais”; “As Medidas da China sobre Mudança Climática”: a legislação chinesa e as medidas de âmbito nacional, a Lei sobre Energia Renovável, a Lei sobre Economia Circular, a Lei de Proteção ao Meio Ambiente, a Lei de Eficiência Energética e outras; assim como “A Arquitetura para um Acordo Pós-2012”, com a apresentação da minuta de proposta da Globe, por parte de Lorde Deben e do Presidente Wang Guangtao. Uma outra temática será a “Legislação sobre Mudança Climática nas Principais Economias”, um estudo que mapeia a legislação vigente sobre mudança climática nas principais economias, e vincula a legislação nacional a um acordo pós-2012 sobre mudanças climáticas. Também “Aprimorar a prestação de contas quanto aos compromissos governamentais sobre o clima”, o papel fiscalizador dos legisladores, como os legisladores podem ser mais eficazes em fazer com que os governos prestem contas sobre os compromissos referentes à mudança climática.

            Senhores e senhoras que nos veem e nos ouvem, nessa prestação de contas se definem compromissos, são assinados compromissos importantes, mas como verificar se esses compromissos estão sendo efetivamente cumpridos? Isso é extremamente importante, o papel fiscalizador, para ver se esses compromissos referentes a mudanças climáticas estão sendo cumpridos.

            Por fim, na última reunião, será apresentado um modelo de arquitetura acordada, vamos chamá-lo assim, e da declaração do fórum, que será o compromisso de cada delegação para promover tais resoluções junto a seus governos nacionais.

            Então, será um evento extremamente importante, que vai acontecer na China, nos próximos dias 6, 7 e 8.

            Sr. Presidente, além de comunicar que estarei na China, participando dessa conferência sobre mudanças climáticas - deixarei o Brasil dia 3 à noite e retornarei dia 10 -, como acabo de dizer, sob a organização da Globe...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS. Fora do microfone) - V. Exª vai passar mais tempo no ar do que na China.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Mais ou menos, Senador. O Senador diz que eu vou ficar mais tempo no ar do que na China. Mais ou menos.

            Participarei de evento em que vamos representar o Senado e o Brasil na conferência sobre mudanças climáticas da organização Globe International. Sou a coordenadora, no Brasil, dessa organização, que é composta por legisladores dos países membros do G8+5 - o G8, nós sabemos, são as oito economias consideradas as maiores do mundo; e o +5 são a China, Índia, México, África do Sul e Brasil - e, todo ano nos reunimos para tratar de projetos que podemos desenvolver em nossos países no tocante a assuntos relacionados ao meio ambiente e às mudanças climáticas.

            Nessa próxima conferencia, que será em Tianjin, na China, próximo a Pequim, além de mim, estarão presentes o Senador Cícero Lucena, a Deputada Rebeca Garcia e o Deputado Augusto Carvalho, para discutir a atuação do Brasil no tocante às mudanças do clima, que cada vez mais aumentam no mundo.

            Dia 26 de outubro foi assinado o regulamento do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, com a publicação ontem de decreto no Diário Oficial da União. Os recursos serão aplicados em ações de combate à desertificação, adaptação ao clima, promoção e difusão de tecnologias e incentivo às cadeias produtivas sustentáveis e pagamento de serviços ambientais.

            Cerca de R$226 milhões já foram aprovados para 2011, isso no Brasil. O decreto foi assinado, como disse, dia 26 de outubro, pelo Presidente Lula, em reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e o lançamento do Inventário Brasileiro de Emissões de CO2. O fundo é o primeiro no mundo a utilizar recursos provenientes da participação dos lucros da cadeia produtiva do petróleo para financiar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e seus efeitos.

            De agora em diante, o comitê gestor do fundo - implementado pelo decreto e coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, composto por representantes governamentais, comunidades científicas, empresários, trabalhadores e organizações não-governamentais - terá condições de administrar, acompanhar e avaliar a aplicação dos recursos em projetos, estudos e empreendimentos de mitigação e adaptação da mudança do clima e seus efeitos.

            No ano passado, após a Conferência do Clima em Copenhague (COP 15), o Brasil aprovou a Política Nacional sobre a Mudança do Clima e se comprometeu voluntariamente a reduzir até 2020 as emissões de gases de efeito estufa entre 36% e 39%. Desde que o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia foi instituído, em 2003, nosso País evitou a emissão de 2,9 bilhões de tCO2eq.

            Por todos esses nossos esforços é que o Brasil tem o menor índice hoje de desmatamento dos últimos 21 anos. É assim que seguiremos mudando: um Brasil mais forte e se desenvolvendo sustentavelmente. Temos esse compromisso com o clima, com a nossa população e com o mundo. É o desenvolvimento econômico se dando com sustentabilidade ambiental.

            Agora, eu vou passar a falar não tão rapidamente, tentando fazer, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, senhores e senhoras que nos ouvem, uma reflexão sobre a formação de profissionais em nosso País. E vou pegar só um exemplo, que vou aprofundar um pouco, que é o da Petrobras.

            Começo perguntando por que nós temos - não que eu tenha uma coisa contra advogados; eu sou advogada, com muita honra, tenho filho advogado - mais advogados do que engenheiros formados no Brasil. Queremos ter muitos advogados, mas queremos ter muitos engenheiros e outros profissionais também. Quanto tempo se gasta para formar um profissional de nível superior? Como estaremos daqui a trinta anos? O que aconteceu nos últimos vinte anos com a formação técnica no Brasil?

            Quando um profissional se formava na universidade, ele saía com o canudo debaixo do braço e achava que podia tudo, como todo jovem que acabou de vencer uma etapa da sua formação. Então, com o canudo debaixo do braço, ele batia na primeira porta e tinha um não; na segunda, outro não; passava um tempo, e ele começava a duvidar se o canudo valia alguma coisa; após um certo tempo, ele começava a duvidar da sua própria capacidade como profissional; e, depois de um certo tempo, ele já duvidava da sua própria capacidade como ser humano.

            Hoje, nós estamos aí com falta de técnicos de todo tamanho. Então, as coisas mudaram. As coisas estão mudando, com certeza.

            Quando vimos, senhores e senhoras, a lei do bafômetro caindo, eu parei para refletir sobre o planejamento estratégico que temos feito nos últimos vinte anos e então resolvi segmentar e estudar uma área específica. Considero o momento propício para levantar essa discussão, visto que estamos passando por um momento decisivo para o futuro do nosso País. Com a descoberta do pré-sal, o Brasil se firmará como um dos principais países produtores de petróleo do mundo. Então, precisamos pensar sobre como tem sido o processo de formação técnica dos profissionais necessários para operar nesse processo importantíssimo para o desenvolvimento do Brasil.

            Decidi analisar a formação de profissionais sob esse viés, pois a Petrobras é uma instituição que, ao longo dos seus 57 anos de história, foi decisiva nas tomadas de decisões estratégicas do País. Foi a partir dos seus marcos que surgiram várias das demandas de necessidades nacionais.

            Por esse motivo, uso como referência para esta reflexão o estudo feito pelo Dr. Ricardo Latgé Milward de Azevedo e pelo Dr. Gerson José Salamoni Terra, publicado na Revista de Geociências da Petrobras, com o título “A busca do petróleo, o papel da Petrobras e o ensino da Geologia no Brasil”.

            A partir desse trabalho do Dr. Ricardo Latgé, vamos fazer um resumo histórico da empresa e analisar a educação no Brasil. Vou usar desse artigo alguns excertos para falar um pouco da importância dessa empresa para o Brasil e a relação com a formação dos profissionais, ou seja, com a educação.

            A criação da Petrobras, no ano de 1953, ampliou as oportunidades de emprego e demandou a necessidade de uma formação técnica diversificada, o que definiu os rumos de todas as políticas públicas na segunda metade dos anos 50. Pois notou-se a necessidade de o Brasil dispor de uma indústria petrolífera estruturada, tendo como motivação a esperança do povo brasileiro de encontrar e produzir no território nacional uma matéria-prima estratégica para o nosso crescimento.

            Nos anos 30, foram criadas estatais de petróleo na Argentina e na Bolívia. No Brasil, havia um absoluto descrédito quanto à existência de petróleo nas nossas terras, apoiado por grandes conglomerados internacionais interessados, principalmente, em conquistar posições no refino. Ainda assim, nessa época foram estimulados debates sobre qual seria o melhor modelo do setor de petróleo no País, o que motivou a criação da Sessão de Geologia do Instituto de Pesquisa Tecnológica, em 1937. Dois anos depois, foi criado o curso de Engenharia de Minas e Metalurgia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Esse foi o segundo núcleo acadêmico para suprir os quadros técnicos demandados para a indústria petrolífera, minério de ferro e outros necessários para a construção civil, em forte expansão. Em 1942, foi criado o Curso de Engenharia de Minas na Universidade de Porto Alegre, e, em 1946, na Universidade do Recife.

            A descoberta do Campo de Candeias, em 1941, faz com que a indústria do petróleo seja prioridade nacional. Houve a campanha popular de que “O Petróleo é nosso”, o que leva à criação do Projeto da Petrobras, que determina a urgência da formação de brasileiros para atuarem na indústria petrolífera.

            Com a descoberta do petróleo na Bahia, o Conselho Nacional do Petróleo enviou técnicos brasileiros para os Estados Unidos para um programa de treinamento em instituições especializadas.

            Quando a Petrobras começa a operar, em 1954, ela incorpora como uma de suas bases estratégicas o desenvolvimento de treinamento de profissionais, e o Governo Federal implanta uma política de formação de geólogos, por exemplo. O Conselho Nacional do Petróleo elabora programas de treinamentos, coordena estágios de aperfeiçoamento de técnicos no exterior, para poder conduzir no País uma cultura de desenvolvimento de cursos de especialização em diferentes ramos ligados às atividades do setor petróleo.

            Nos primeiros anos da Petrobras, a empresa não tinha como apoio um sistema educacional brasileiro suficientemente estruturado, que pudesse oferecer profissionais qualificados necessários para o crescimento da indústria do petróleo no País.

            As discussões em torno do tema ganham força com o Ministério da Educação e Cultura designando uma comissão para avaliar a criação dos primeiros cursos de Geologia nas universidades brasileiras.

            A Petrobras contratou mão de obra estrangeira para colaborar na exploração da matéria-prima e se comprometeu a propor, direcionar e sustentar novos rumos para a qualificação profissional brasileira. Assim, os primeiros programas de treinamento especializado para brasileiros com formação universitária são estabelecidos.

            Que bom que jovens estão adentrando as nossas galerias, estudantes. Estamos falando aqui da importância, em determinados setores, de nos prepararmos com tempo, com antecedência, com planejamento estratégico, para a formação dos profissionais. Por isso, com certeza, faz-se necessário que se pense isso nas nossas escolas. Devem as escolas, desde as fases iniciais, discutir questões importantes para o desenvolvimento do Brasil, para o desenvolvimento maior do nosso Brasil.

            Estou fazendo aqui um breve relato do que foi o início da nossa Petrobras e as dificuldades que ela sofreu com a formação de quadros profissionais inexistentes então no Brasil. Hoje, ela é grande porque investiu muito em educação também, Senador Geraldo Mesquita, Senador Pedro Simon. Muitos perguntarão: mas o que tem a Petrobras a ver com educação? Se não tivesse investido em educação, ela não teria se desenvolvido, chegado ao patamar de desenvolvimento de hoje.

            Por isso, é importante, estudantes, jovens aqui presentes, senhores profissionais da educação que acompanham os nossos jovens, tomarmos decisões estratégicas de desenvolvimento para o nosso País com tempo para que a formação venha a acontecer. Temos muitos advogados, como eu acabo de dizer, no País. É muito importante essa profissão para o nosso País, mas nós precisamos... Por exemplo, hoje, estamos com problemas sérios na formação de engenheiros. Só para citar duas profissões. Há anos, engenheiros se formavam para abrir - como eu mesma vou citar daqui a pouco - pequenas empresas, até lojas de chocolates, Senador Geraldo Mesquita, porque não tinham trabalho. E, hoje, há muito trabalho, porque o Brasil está buscando outras metas de desenvolvimento realmente estabelecidas.

            Foram selecionados e contratados professores de grande renome, tanto brasileiros como estrangeiros, vindos de empresas e universidades que se destacavam por sua competência na indústria de petróleo.

            Nos anos 70, empresas estrangeiras e nacionais começaram a explorar petróleo sob regime de risco. Nos anos seguintes, houve um grande esforço financeiro, técnico e humano em superar a dependência que se apresentava definitiva de petróleo como um produto estratégico para a soberania. Mas a estagnação econômica mundial e a explosão da dívida externa e da inflação no Brasil provocaram a redução substancial nos índices do Produto Interno Bruto e levaram o Governo de então a reduzir o crédito das empresas, manter os salários estagnados e reduzir, substancialmente, a entrada de novos empregados nas estatais. Isso sacrificou o ingresso de novos geocientistas na Petrobras.

            O cenário nacional nos anos 80 e 90 era de uma inflação elevada e baixo investimento para a formação de profissionais qualificados para trabalharem na exploração do petróleo. O mesmo aconteceu com os engenheiros, que foram famosos - como disse há pouco - por abrirem até pequenas fábricas de chocolate. Também nesse período, os primeiros geocientistas brasileiros ingressos na Petrobras - já era a década de 90 - se aposentaram, o que provocou uma evasão de quadros técnicos e a restrição de ingresso de novos profissionais. Isso reduziu progressivamente o número total de profissionais da companhia.

            Então, cabe a pergunta quando tiramos a carteira de motorista: temos já experiência para dirigir? Sabe-se que temos que nos preparar, por isso temos que passar por exames, etc. e tal. De quanto tempo precisamos para isso? O mesmo acontece com um recém-formado. Ele precisa de um tempo para treinamento, em qualquer área, em qualquer área. Preparem-se muito, façam um curso superior e, depois, também, adquiram experiência para que sejam profissionais competentes.

            O mesmo acontece, como eu dizia, com um recém-formado: ele precisa de um tempo para treinamento e adequação no mercado de trabalho. Portanto, para um profissional maduro, vamos ter de sete a nove anos depois que ele ingressou na faculdade. Portanto, um governo de quatro ou de oito anos não consegue formar profissionais nesse período, prontos para a competição internacional.

            Voltemos à Petrobras como exemplo. Nos anos 90, o Governo Federal optou por uma política generalizada de privatização das estatais. Em 95, o Congresso Nacional aprova uma alteração que retira a exclusividade da Petrobras na exploração e produção de petróleo no Brasil, abrindo as portas para que empresas estrangeiras viessem a explorar nossas riquezas sem investirem no desenvolvimento do nosso País. Esse é o período com menor número de criação de cursos de formação desde a fundação da Petrobras. Nesse período, nós temos uma queda de formação de engenheiros, geólogos, geofísicos, médicos, etc.

            Onde esses profissionais que não iriam se formar iam fazer muita falta? Voltemos ao exemplo da Petrobras, com políticas direcionadas para reduzir o papel do Estado na economia. A Petrobras teve que assumir no campo de recursos humanos a adoção do incentivo a aposentadorias, a demissões voluntárias gratificadas e ao cancelamento de novas contratações, crescendo o número da mão de obra terceirizada e a redução das verbas para treinamento.

            Mas na campanha presidencial de 2002 ocorreu, felizmente, a retomada da atuação do papel do Estado como indutor do desenvolvimento brasileiro. A escolha feita pela população por um projeto mais intervencionista leva novas orientações na política adotada na exploração e produção da Petrobras. Passa a existir o investimento em tecnologias inovadoras para aumentar o fator de recuperação nos reservatórios produtores para alcançar a autossuficiência, mantendo uma confortável relação reserva/produção.

            A partir de 2002, começa a criação do maior número de formação de técnicos que este País já teve na sua história. Todavia, entre a criação dos cursos até a formatura desses profissionais, infelizmente, não deu tempo suficiente para se entregarem diplomas a homens e mulheres que vão levar este País a ser, quem sabe, a maior potência mundial, dentro de um tempo não muito longo.

            Alguns vão se formar no próximo Governo, mas é fundamental para nossos netos que não pare essa formação de técnicos. O renomado pai da Administração, Peter Drucker, faz no futuro da organização uma análise de quanto os Estados Unidos faturam com o envio de jovens do mundo inteiro para estudar nas escolas americanas e o impacto disso no PIB americano. O Brasil está vindo para disputar esse espaço, não só com petróleo, mas com educação, com certeza. Cada vez mais, precisamos de investimentos em educação, em todos os níveis, da creche, da educação infantil e creche à pós-graduação.

            Novamente no nosso exemplo histórico, a partir de 2002, a Petrobras voltou a investir em cursos de formação para profissionais recém-admitidos, com duração de cerca de sete meses, para acelerar a capacitação dos novos empregados, visando à antecipação e ao amadurecimento profissional, para compensar a lacuna de quase dez anos sem contratação. São estruturados cursos específicos ligados à exploração e à produção de óleo e gás natural em águas profundas. Muitos desses cursos são realizados em convênios com universidades brasileiras contando com poucos consultores estrangeiros e cursos de campo, tanto no Brasil como no exterior.

            Nos últimos anos, o País tem vivido momentos muito bem-sucedidos, como a confirmação da camada do pré-sal, anunciada ao Brasil pelo Presidente Lula em novembro de 2007, o que coloca o País em uma posição privilegiada como uma matriz energética diversificada, relativamente limpa, com potencial para incorporar ou ampliar a participação de outras fontes menos poluidoras.

            Assim, admitindo que o petróleo continue a ter excepcional importância no cenário energético mundial, a descoberta do pré-sal abre grandes oportunidades para o desenvolvimento industrial, tecnológico e científico de forma a assegurar o direito a uma vida digna para todos os brasileiros. Mas vejam, senhoras e senhores, a necessidade do trabalho de equipe. Como cita o Deputado Chalita, eleito em São Paulo, Lula sabe trabalhar em equipe.

            Eu falei da educação e, na minha reflexão, chego à conclusão de que o País tem mais advogados do que engenheiros e médicos. Por que não preparamos a nossa capacidade técnica há dez ou quinze anos? Então, nossos jovens foram formados para discutir contratos, e passamos a importar um produto que não aparece na balança comercial, que é o que até chamamos, entre aspas, de “extrato de cérebro”, pois nossas cabeças pensantes ficaram ótimas em discutir contratos, mas precisamos de mais cabeças pensantes e, para isso, precisamos de mais e mais preparo de técnicos para projetos de infraestrutura de modo geral e, acrescento aqui, de médicos também.

            Vou citar o fato de quando sofri um acidente no interior do meu Estado de Mato Grosso. O Estado tinha acabado de inaugurar um fantástico hospital na cidade de Sorriso. Era Governador o hoje Senador Jayme Campos, e ele tinha uma dificuldade enorme. Nós éramos absolutamente adversários políticos. Eu sofri um acidente na região e fui deslocada para esse hospital, à época, de primeira linha na região e hoje também, com muitos profissionais bastante competentes. Saúdo todos, aliás, os profissionais da saúde do hospital de Sorriso. Mas havia apenas três médicos. O próprio Governador estava ansiosíssimo para conseguir profissionais. Médicos vieram de São Paulo para atuar lá no interior do nosso Mato Grosso.

            Então, precisamos nos preocupar com o tempo. O desenvolvimento do País está acontecendo. As ações se fazem necessárias no interior do País, não só nas grandes e médias cidades. As cidades pequenas precisam de técnicos e profissionais de toda ordem.

            Precisamos, neste momento, decidir se queremos voltar à abertura de entrada de capitais estrangeiros, à estagnação, a qualquer coisa, ou se queremos a possibilidade de seguir para um caminho em que possamos capacitar mais e mais brasileiros para alavancar o progresso do nosso País.

            Antes de encerrar, queria saudar, mais uma vez, esse trabalho do Dr. Ricardo Latgé, do qual só peguei alguns excertos sobre a necessidade de se pensar, estrategicamente, o desenvolvimento do País com tempo hábil para formação dos profissionais. Ele nos relata, com muita competência, como isso foi feito pela Petrobras, desde as suas origens, o seu nascimento. Na sua criação, na década de 50, não havia profissionais em áreas fundamentais para o crescimento e para o desenvolvimento do petróleo no País. A empresa teve de ir assumindo, junto com o País - mas principalmente a empresa -, a formação desses profissionais.

            Não esperemos que outros setores de desenvolvimento do nosso País tenham de dedicar-se tanto à formação. Que se dediquem também... É importante que as empresas invistam na formação permanente dos seus profissionais, mas que façamos com que o País como um todo, com que as nossas universidades o façam.

            Creio que o desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental, que o desenvolvimento tecnológico do nosso País, no rumo correto, deem-se fundamentalmente pelo preparo técnico-científico, etc. e tal, das nossas universidades federais. Os nossos cursos superiores são os que dão a linha e que contribuem de forma extremamente significativa. Os particulares também, mas, muitas vezes, nem tanto quanto às nossas universidades públicas. Eu, que fui professora por 26 anos, numa universidade federal do meu Estado, tenho essa convicção.

            Nós temos de pensar o País, como estamos pensando atualmente, mas ainda precisamos pensar muito mais na direção do seu desenvolvimento, para que a formação de nossos profissionais se encaminhe para essas direções, com a competência necessária e com o compromisso político não partidário, mas com o desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental, para que o futuro das nossas gerações esteja assegurado, a fim de que sejamos, o mais breve possível, uma grande potência não só com desenvolvimento econômico, mas com esse a serviço da melhoria da qualidade de vida do nosso povo, especialmente daqueles que têm menos posses.

            Já finalizando, Senador Geraldo Mesquita, o senhor falava dos nossos jovens. Eu digo sempre e vou repetir aqui - as pessoas já estão até cansadas de me ouvir - que jovem precisa de expectativa de vida, Senador Pedro Simon. Jovem com expectativa de vida. Como o senhor dizia, não é com punição, com isso ou aquilo que vamos resolver, é com expectativa de vida. E o jovem vai ter expectativa de vida, se sentir que existem possibilidades de formação para ele. Formação real, na qual sinta que está sendo capacitado para participar do desenvolvimento deste País. E isso, por meio da educação. Mas que ele sinta também que a sua família está protegida, porque tem trabalho, moradia. Quer dizer, a sua família tem emprego, trabalho, moradia, saúde de qualidade.

            E aí aproveitamos, mais uma vez, para pedir à Câmara que regulamente a Emenda nº 29 - num parêntese bem lembrado -, para que a família do jovem tenha realmente condições dignas de vida. Por conseguinte, ele estará protegido pela família, dedicando-se a estudar, a preparar-se, porque sabe que vai ter um futuro assegurado. Então, deve-se assegurar o seu presente, para que ele tenha um futuro assegurado. Com certeza, se ele tiver um futuro assegurado, nós, que hoje somos adultos, pessoas de mais idade, também o teremos.

            Portanto, queria dizer aos nossos jovens: vamos prestar a atenção. Vamos ajudar a conquistar esse futuro, porque ele é para vocês!

            Tenho quatro filhos e cinco netos, mas considero, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, senhores que nos ouvem, que, como política, tenho de lutar pelo futuro dos jovens e das crianças do meu Estado de Mato Grosso, como se todos fossem meus filhos e meus netos.

            Muito obrigada.


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