Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre o significado da eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República, comentando trechos de discurso da Presidente eleita relacionados à liberdade de expressão e à justiça social. (como Líder)

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações sobre o significado da eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República, comentando trechos de discurso da Presidente eleita relacionados à liberdade de expressão e à justiça social. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2010 - Página 48743
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, VITORIA, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, ESCOLHA, MULHER, CONTRIBUIÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL, CRITICA, DISCRIMINAÇÃO SEXUAL, DIVERSIDADE, PAIS, MUNDO, COMENTARIO, EMPENHO, CANDIDATO, COMBATE, DITADURA, DEFESA, LIBERDADE DE IMPRENSA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
  • LEITURA, TRECHO, ELOGIO, DISCURSO, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPROMISSO, ERRADICAÇÃO, MISERIA, FOME, INICIATIVA, IGUALDADE, OPORTUNIDADE, JUSTIÇA SOCIAL, BRASILEIROS, CONCLAMAÇÃO, COMPROMETIMENTO, SOCIEDADE, EMPRESARIO, IGREJA, UNIVERSIDADE, IMPRENSA, GOVERNADOR, PREFEITO, REITERAÇÃO, RESPEITO, DIFERENÇA, OPINIÃO, ABERTURA, DIALOGO, MEMBROS, OPOSIÇÃO, GOVERNO.
  • REPUDIO, PUBLICAÇÃO, INTERNET, DIFAMAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, POPULAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, AUTORIA, ESTUDANTE, DIREITO, ELOGIO, INICIATIVA, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), ABERTURA, PROCESSO JUDICIAL.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, RESTAURAÇÃO, VALOR, SALARIO MINIMO, AMPLIAÇÃO, INCLUSÃO SOCIAL, CONTRIBUIÇÃO, AUMENTO, CONSUMO, EFEITO, VELOCIDADE, RECUPERAÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

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           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pela Liderança. Sem revisão da oradora.) - Eu agradeço muito a gentileza do Senador Papaléo. E acho que provavelmente sou a primeira mulher a subir à tribuna nesta tarde, e é a primeira após essa vitória com tanta simbologia, que todos nós comemoramos no domingo à noite.

           Senador Papaléo, pode ter certeza, não há nenhuma supremacia nem abuso de espaço, de poder e de autoridade. Podem ter certeza de que Dilma presidente é a garantia do tratamento com carinho, da mesma forma como qualquer mãe cuida dos seus filhos, qualquer esposa companheira cuida do seu marido e do seu amor.

           Então, podem ter certeza de que todos serão muito bem tratados.

           Como não poderia deixar de ser, Senador Paulo Paim, em primeiro lugar, eu queria cumprimentar a todos que participaram desse processo pleno de democracia no nosso País e que nos deram este momento histórico: a vitória de Dilma Rousseff com mais de 12% dos votos em todo o País, fazendo com que esta vitória fosse marcante por vários aspectos, vários.

           Não só a vitória de ser a primeira vez em que uma mulher é eleita, porque já tivemos períodos, há muito tempo, em que uma mulher comandou. Houve períodos em que a Princesa Isabel, nas viagens do seu pai, substituía-o e comandava. Inclusive, quem teve a paciência de fazer as contas, diz que deu algo em torno de quase quatro anos. Então, já tivemos um período equivalente ao de um mandato presidencial com uma mulher no comando e à frente dos destinos do País. Mas é muito diferente, porque, agora, foi eleita, foi escolhida, foi consagrada pelas urnas. Então, tem esse caráter indiscutível de marco, de simbologia.

           A Presidenta Dilma também vem numa situação em que ela é uma mulher que vai responder pelos destinos de um país sendo uma entre muito poucas. Hoje, são apenas cerca de dez mulheres no mundo que comandam seus países. Portanto, tem uma simbologia não só para o nosso País, mas para o mundo, pois nós ainda estamos, infelizmente, amargando situações onde existem espaços, regiões, locais em que mulheres têm, na legislação, o apedrejamento como pena de morte no caso de adultério. Então, olha o espaço que nós ainda temos que conquistar para a observação dos direitos e do respeito às mulheres em todo o mundo.

           Agora, há uma questão, nesse processo eleitoral, que eu gostaria de realçar, porque nós estamos com possibilidade de fechar um ciclo, porque nós tivemos, na década de 70, um processo de instalação de uma ditadura no nosso País, com a eliminação das liberdades democráticas, partidárias, sindicais, de organização livre da população, da imprensa, e nós estamos, exatamente depois desse ciclo de derrubada da ditadura, de reinstalação da democracia política, iniciando, efetivamente, um processo de democracia social, com a inclusão, Senador Paulo Paim... E veja que quem tem a possibilidade de concluir esse processo é uma mulher, uma mulher que sofreu na própria pele a dureza da ditadura militar.

           Então, tem uma simbologia este ciclo que nós estamos com possibilidade de concluir, de consolidar, porque tem muita gente que fala de boca cheia da democracia. É claro que é de fundamental importância que, na democracia, haja liberdade de imprensa, que haja liberdade de organização social, que haja liberdade de organização partidária, que haja condições concretas e objetivas de eleger os seus representantes periodicamente, mas nenhuma democracia está completa enquanto existir algum, nem que seja um, marginalizado, na miséria, sem condição de sobrevivência com o mínimo de dignidade.

           Então, quando nós colocamos, de forma clara, que a eleição da Dilma para Presidente tem essa simbologia da mulher, mas tem a simbologia também de completar este ciclo de que todos nós participamos, pelo menos a maioria, porque houve gente, é claro, que estava do lado de lá, a favor da ditadura militar, que contribuiu com ela, que participou, mas todos nós que estivemos na luta contra a ditadura estamos agora com a clareza da possibilidade de completar, de concluir esse processo da democracia na sua plenitude ou de, pelo menos, estarmos muito mais próximos da plenitude democrática, que pressupõe, obrigatoriamente, as liberdades políticas, o fortalecimento das instituições, mas pressupõe a justiça social.

           Nenhum país onde a justiça social não seja um imperativo das ações, das políticas públicas, nenhum país onde haja miseráveis, pessoas abaixo da linha da miséria, pode se intitular democrático, pode dizer que é uma democracia na sua plenitude.

           Por isso, quando elegemos, em 2002, com posse em 2003, o primeiro operário, e agora, em 2010, estamos elegendo a primeira mulher, nós estamos exatamente apontando para acelerarmos essa conclusão, essa instauração da democracia mais ampla e plena possível. Por isso, no discurso que a nossa Presidenta eleita fez, ela assumiu compromissos extremamente importantes, alguns cuja leitura faço questão de fazer aqui:

Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo, que é exatamente a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem.

Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço, humildemente, o apoio de todos que possam ajudar o País no trabalho de superar este abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida.

            É por isso que essa fala da Presidenta Dilma é muito forte, porque ela vem exatamente nessa direção. Nós só podemos nos considerar uma democracia plena, completar o ciclo que nós iniciamos na década de 70, na ditadura militar, que nós tivemos a capacidade, na sequência, de derrubar, de instaurar todas as instituições e as formas de relacionamento social, quando nós, efetivamente, erradicarmos a miséria e pudermos ter um país, uma nação onde o pressuposto da justiça social seja o balizador entre um governo correto, um governo politicamente adequado aos interesses da maioria da população.

            Além dessa fala muito forte pela erradicação e o chamamento que a Presidenta faz à participação e ao compromisso de todos e de todas, ela também colocou, de forma muito clara, o chamamento aos Partidos, todos:

Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio.

A partir de minha posse, serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.

            Ela agradece também, de forma muito carinhosa e respeitosa:

Mas agradeço respeitosamente também àqueles que votaram no primeiro e no segundo turno em outros candidatos ou candidatas. Eles também fizeram valer a festa da democracia.

            Agora, tem algo no discurso da Presidenta, Senador Paulo Paim, demais Senadores presentes no plenário e telespectadores que estão nos vendo pela TV Senado, que foi a questão dos ataques e da baixaria. No discurso, ela colocou de forma até bastante emocionada:

Não nego a vocês que por vezes algumas das coisas difundidas me deixaram triste. Mas quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião, arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda a nossa juventude ao direito de expressão, somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento.

           Eu tenho a convicção, pelo que conheço da Presidenta Dilma, pela convivência ao longo de todos esses quase oito anos de trabalho conjunto, de que realmente ela não guardará ressentimento e fará um governo absolutamente respeitoso.

           Agora, cabe a nós, Parlamentares, sociedade civil, fazer uma profunda reflexão e ter ações efetivas, porque o que aconteceu nessas eleições em termos de ataque, de difamação e de chamamento ao ódio, Senador Paulo Paim, não foi qualquer coisa, a ponto de a Ordem dos Advogados do Brasil do Nordeste estar abrindo processo devido a manifestações feitas no Twitter - pasmem todos - por uma mulher e estudante de direito.

           A OAB reagiu aos ataques feitos pelo Twitter, por uma estudante de direito de São Paulo. Vou até omitir o nome, Senador Paulo Paim, porque, como mulher, eu quero dizer assim que me constrange muito dizer o nome de uma outra mulher que tenha tido a iniciativa de colocar no Twiter a seguinte frase: “nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo: mate um nordestino afogado”.

           Isso aconteceu, infelizmente, não apenas em uma, mas em inúmeras manifestações. Essa manifestação que veio a público de ódio, de preconceito... Até porque é o seguinte: a Dilma seria eleita se não existissem o Nordeste e o Norte. Se retirarmos os votos do Norte e do Nordeste, a Dilma teria sido eleita da mesma forma, com a votação que ela obteve no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste. Portanto, ela seria Presidenta do Brasil mesmo sem os votos do nordestinos e os votos do Norte do País.

           E esse ódio, esse preconceito que apareceu, que aflorou, ele precisa ser absolutamente combatido e erradicado, porque, vamos e venhamos. Hoje o Brasil saiu da crise rapidamente, por quê? Por causa de quem tinha uma renda maior? Por causa dos países mais ricos? Não, Senador Paulo Paim. Por que o Brasil saiu da crise? Saiu da crise porque houve um processo de recuperação do salário mínimo, houve um processo de ampliação dos programas sociais que fizeram a maior inclusão social da história do Brasil num curto espaço de tempo.

           Foram exatamente os mais de 30 milhões de brasileiros que vieram para a classe média que seguraram as pontas. Tenho exemplos concretos, concretos. Em Santa Catarina, posso até dizer o seguinte: acredito que o empresariado catarinense, na sua grande maioria, não votou na Dilma. Mas nós temos lá exemplos concretos de empresas que estão há três, quatro anos, Senador Paulo Paim, tendo um faturamento, um lucro na faixa de 20%, de 25% até 30% ao ano graças a quê? A essa população que, antes, não podia comprar um roupinha melhor, não podia comprar determinados produtos para comer, não podia ter acesso a determinados bens.

           O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - V. Exª me concede um aparte?

           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Então, é impressionante, porque lucram, têm o benefício e ainda continuam achando que pobre não vale nada, porque foi exatamente os milhões de famílias que acessaram bens que, antes, estavam absolutamente impossíveis de acessar que fizeram com que o Brasil saísse rapidamente.

           Cedo, com muito prazer, o aparte ao Senador Magno Malta, agradecendo a ida dele ao nosso Estado durante a campanha, no segundo turno, que foi muito preciosa, muito valiosa.

           Pois não, Senador Magno Malta.

           O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Senadora Ideli, essas coisas a mim também ainda assustam. O Brasil é o único país do mundo que tem uma empresa chamada Vale do Rio Doce, que tira ouro do chão 24 horas por dia e ainda tínhamos 40 milhões de irmãos nossos na miséria. Pobreza não é demérito, demérito é miséria. Pobre anda direitinho, come, dorme, cuida dos filhos. Minha mãe sempre foi pobre, nunca foi miserável. E lembro que a gente bebia Fanta no domingo lá em casa e guaraná. Ela era uma faxineira. Havia quarenta milhões abaixo da linha da miséria quando Lula recebeu este País. Trinta milhões foram tirados da miséria, e, hoje, esses colunistas que debocham os estão chamando de pobres emergentes, porque eles ocupam, hoje, as praças de alimentação dos shoppings e recusam-se a andar de ônibus. Está todo mundo andando de avião no Brasil hoje. Pobre no Brasil hoje, Senadora Ideli, tem máquina de lavar em casa, tem micro-ondas, compra danone para os filhos, compra iogurte para os filhos. A massa salarial da bolsa família tomou conta de alguns Municípios que não mais saberão viver sem ela. Ela sustenta as lojas. Hoje, no Brasil, a disputa é tão grande nas lojas de eletrodomésticos, como Casa Bahia, Ricardo Eletro, não sei o quê, que os próprios donos são os garotos-propaganda de suas próprias lojas. E para quem eles vendem? Para essa massa que saiu da miséria e foi incluída agora; são trinta milhões de irmãos nossos. Lembro que, há doze anos, você olhava as ruas empilhadas de Passats velhos, de Brasílias velhas. Hoje, se as avenidas estão cheias e problemáticas, Senador Paim, a culpa não é a falta de avenida. Se alguém tem que ser culpado é o Presidente Lula pela abertura que fez para que todo cidadão hoje tenha condição de comprar um carro mil, cuja prestação é de R$250,00. Então, aqueles que se beneficiam disso... Estou falando isso, Senadora Ideli, porque, no meu Estado, foram 200 mil famílias que saíram da miséria. Hoje, são chamados de pobres emergentes. A maior dor que eu tenho é ter visto a Dilma perder no meu Estado. Fernando Henrique foi ao meu Estado por quinze minutos em oito anos e ficou no pátio da Aracruz Celulose. O meu Estado estava quebrado, dilacerado. O Lula comprou os royalties antecipados do petróleo no Espírito Santo e mandou 400 milhões. E aí me lembrei de que a Ministra de Minas e Energia que assinou e salvou o Espírito Santo se chamava Dilma Rousseff. Olha, se as autoridades fossem para a rua dizer “Minha casa, minha vida”, “Luz para todos”, “Caminhos do campo” e que tudo isso é federal... O problema é que esses Governadores venderam isso para o povo como se fosse obra deles. Pelo que Lula fez pelo Espírito Santo, Dilma deveria ter 100% dos votos naquele Estado. Eu fiquei meio triste, porque não permaneci no Estado. Tive de cumprir uma missão no País inteiro. Esse Presidente foi ao meu Estado 12 vezes e cumpriu o papel de Presidente, atendeu aos nossos clamores, ao choro do povo do Espírito Santo. Eu era coordenador da Bancada, Senadora Ideli, com esse Estado quebrado, quando negociamos os royalties do petróleo. O nosso Governador, que vai tomar posse em fevereiro, Renato Casagrande...

           O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Em janeiro.

           O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Em janeiro. Eu queria dar mais um mês para o outro. Renato Casagrande era Deputado Federal. Ele é meu Governador, que ajudei a eleger. Trabalhamos para Dilma. Então, também fico abismado quando vejo essas pessoas. É gente no comércio, gente vendendo carro, gente vendendo eletrodoméstico, gente vendendo roupa e reclamando e fazendo argumentos para não terem votado na Dilma. Vou falar sobre isso hoje até porque eu quero falar dos malefícios que meu segmento evangélico fez a essa senhora, do mal que fez a ela. Ninguém tem direito de usar sua língua para atentar contra a integridade moral de ninguém, mesmo sem conhecer. A Bíblia diz que a boca que honra a Deus não desonra ninguém. Por isso, cruzei este País com o mesmo sentimento de V. Exª, com o mesmo sentimento de ver essa gente desfrutando “Minha casa, minha vida”. Nunca se teve tanto aquecimento na construção civil neste País. No Brasil, falta pedreiro, falta carpinteiro, falta serralheiro na construção civil.

           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Falta cimento.

           O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Falta cimento, falta engenheiro civil. Há oito anos, ou dez anos, engenheiro civil vendia cachorro-quente. Lembro-me de uma matéria do Fantástico, que localizou muitos engenheiros civis vendendo cachorro-quente em frente a universidades. O sujeito precisa perguntar e responder para si mesmo: que Brasil eu quero? E ele pode estabelecer um processo comparativo sem desrespeitar ninguém, sem ofender ninguém, sem tocar no nome de ninguém. Podem não gostar do Lula, podem não gostar da equipe do Lula, podem achar que ele é feio, deficiente, porque falta um dedo na mão, mas uma coisa têm que reconhecer: este País avançou muito. Eu não penso duas vezes para dizer que esse nordestino, com uma formação tão pequena, porque não teve o privilégio de outros. Ele estudou apenas até o quarto ano primário e construiu 20 novas universidades neste País e 214 escolas técnicas, o que era proibido fazer. Ele fez o ProUni; ele fez a universidade do negro. Então, a melhor página da história da educação do Brasil foi escrita por um semianalfabeto. Isso a mim me orgulha muito, sabendo da minha origem, de onde eu vim - eu e milhões de brasileiros. Não gostar dele é uma coisa, mas são obrigados a reconhecer que ele foi e ainda é o melhor Presidente da história deste País.

           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Magno Malta. E tenho o mesmo convencimento de V. Exª. A avaliação deveria ter sido feita sem preconceito, o que, infelizmente, aflorou nessa eleição e de forma raivosa. Quando, no Twiter, alguém posta a seguinte frase: “tinham que separar o Nordeste e os ‘bolsa vadios’ do Brasil construindo câmara de gás e matando geral”, quando isso vem a público, fica evidente o quanto o preconceito leva as pessoas a distorcerem a sua avaliação. Porque lucraram, e lucraram muito, beneficiaram-se muito das políticas públicas adotadas ao longo desses oito anos e, infelizmente, não tiveram a capacidade de fazer o reconhecimento, em boa parte, em vários Estados brasileiros. O Senador Magno Malta falou do Espírito Santo. Se eu fosse aqui fazer o rol de obras, de investimentos e de ajuda e socorro que Santa Catarina teve, nas suas inúmeras catástrofes, era para ter ganho de lavada em Santa Catarina. Mas, infelizmente, não foi assim. Respeitamos o resultado das urnas.

           Mas há algo, Senador Casagrande, que nenhum de nós tem o direito de escamotear: ou nós vamos fazer o enfrentamento desse ódio subterrâneo que aflorou com esse tipo de manifestação, que cheira a períodos absurdos de ódio, de matança, de discriminação e de atos de violência que, infelizmente, já percorreram o mundo e vários países, inclusive o nosso; ou vamos fazer esse enfrentamento, aproveitar que isso veio a público... E, portanto, quero parabenizar a OAB do Nordeste por estar tomando a iniciativa de abrir o processo, e acho que todos nós temos esta obrigação: fazer o bom debate, fazer a explicitação, porque esse tipo de ódio e de comportamento que chama câmara de gás para eliminar quem a gente não concorda ou acha que está trazendo algum prejuízo é algo que no Brasil não podemos permitir que se amplie, que se consolide. Portanto, é melhor que a gente estirpe esse ódio o mais rapidamente possível da sociedade brasileira, porque o nosso País é absolutamente incompatível com esse tipo de comportamento, e acho que isso é responsabilidade de todos nós.

           Por último, Sr. Presidente, agradeço o tempo a mais. Considero isso uma deferência para o dia de hoje, em que temos a primeira sessão depois da eleição da primeira mulher presidenta do Brasil. Volto a dizer: é uma mulher, não é qualquer mulher; é uma mulher que vem, exatamente, tendo como defesa e compromisso primeiro concluir o processo de consolidação da democracia, porque, além da democracia formal, este País, o Brasil, só poderá ser chamado de uma democracia real na hora em que erradicarmos definitivamente a miséria.

           Não sei se o Presidente me permite, já ultrapassei horrores o meu horário, mas o Senador Suplicy quer fazer um aparte. Por mim, não há problema.

           Concedo um aparte ao Senador Suplicy.

           O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senadora Ideli Salvatti, como estava na Comissão de Justiça, pude ouvir mais a sua parte conclusiva. Com respeito a esses ódios que foram emanados por pessoas que nem sempre se identificaram, eu gostaria de registrar uma coisa que me pareceu tão positiva e que está tendo uma repercussão para todos os lados, inclusive aqui na Casa, sobre as palavras que a nossa Presidenta Dilma Rousseff disse em suas principais entrevistas, seja no seu pronunciamento feito à Nação, no dia em que foi colocado o resultado, quando ela disse que queria estender - homenageava, inclusive, aqueles que haviam votado em outros candidatos - o seu abraço a todos e chamá-los para estarem juntos, seja no dia de hoje, quando ela deu entrevista ao lado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ali, no Palácio do Planalto, como Presidenta eleita, a primeira entrevista ali dada, em que ela também expressou o quanto ela quer ser a Presidenta de todos os brasileiros e está querendo superar isso. Inclusive, ela transmitiu explicitamente aos Senadores da Oposição o quanto ela quer ter um relacionamento de grande respeito, de construção. E ouvi de diversos Senadores como essas palavras foram atentamente ouvidas por todos. Quero aqui registrar que isso é um bom prenúncio e acho que V. Exª terá muito a colaborar nesse bom entendimento que a nossa Presidenta Dilma Rousseff terá com o Congresso Nacional.

           A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Suplicy.

           Inclusive, eu havia feito a leitura de trechos do discurso inicial da Presidenta Dilma, realçando exatamente esse gesto de paz, de participação e de chamamento inclusive aos partidos da Oposição.

           Por isso, eu queria aqui encerrar o meu pronunciamento dando, de coração, de forma emocionada mesmo, um viva ao Brasil, um viva aos homens e às mulheres que trabalham pela paz e pela justiça social, porque acho que é isso que deve nortear a todos em todos os momentos do nosso cotidiano e da nossa vida.

           Muito obrigada. Agradeço e peço escusas por ter ultrapassado, e muito, meu tempo.


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