Discurso durante a 174ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao uso da religião nas campanhas eleitorais. Registro dos avanços ocorridos no Brasil, durante o Governo Lula.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Críticas ao uso da religião nas campanhas eleitorais. Registro dos avanços ocorridos no Brasil, durante o Governo Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 04/11/2010 - Página 48785
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • BALANÇO, PROCESSO ELEITORAL, COLIGAÇÃO PARTIDARIA, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC DO B), PARTIDO REPUBLICANO (PRE), PARTIDO SOCIAL CRISTÃO (PSC), MISSÃO, ORADOR, SEGUNDO TURNO, CAMPANHA, AMBITO, IGREJA EVANGELICA, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VITIMA, INJUSTIÇA, DISCRIMINAÇÃO, REFERENCIA, RELIGIÃO, OFENSA, HONRA.
  • AGRADECIMENTO, POVO, REELEIÇÃO, SENADO, REGISTRO, IGUALDADE, RECEBIMENTO, ORADOR, DISCRIMINAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), INICIATIVA, BISPO, IGREJA CATOLICA, PROTESTO, DESRESPEITO, SEPARAÇÃO, ESTADO, RELIGIÃO, BRASIL, IMPORTANCIA, DEBATE, ELEIÇÕES, CONHECIMENTO, PROPOSTA, GOVERNO.
  • VALORIZAÇÃO, HISTORIA, PARTICIPAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO ELEITO, LUTA, DEFESA, DEMOCRACIA, SAUDAÇÃO, VITORIA, ELEIÇÕES, CONFIANÇA, CONTINUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, BRASIL, ELOGIO, REALIZAÇÃO, MANDATO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • FRUSTRAÇÃO, RESULTADO, VOTAÇÃO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), MINORIA, APOIO, DILMA ROUSSEFF, CANDIDATO, AUSENCIA, RECONHECIMENTO, POVO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, RECUPERAÇÃO, ECONOMIA, AMBITO ESTADUAL, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Jefferson Praia, Srs. Senadores, Deputado Manato, ilustre Deputado do meu Estado, que machucou o braço, quebrou a mão...

            V. Exª é lutador de jiu-jítsu? (Pausa.)

            Não. De boxe? (Pausa.)

            Foi uma fatalidade!

            ...nobre Senador Valdir Raupp, reeleito, nobres Senadores, aqueles que nos assistem agora pela televisão, pela TV Senado, que nos ouvem pela Rádio Senado, pelos meios de comunicação, Sr. Presidente, o que me traz a esta tribuna hoje, neste dia memorável, em que o Brasil, pela primeira vez na sua história, elege uma mulher presidente... Mas é um dia triste também para nós, porque foi o dia da posse, Senador Inácio Arruda, do suplente do Senador Tuma, saudoso Tuma, e muitas homenagens foram feitas a ele aqui, neste plenário, a esse colega memorável, patrimônio do Brasil, exímio conhecedor da segurança pública. Mas o que traz a esta tribuna é o desejo de lembrar um pouco o processo eleitoral, Deputado Manato.

            No processo eleitoral, Senador Inácio, no primeiro turno, todos nós estávamos empenhados, em nossos Estados, na eleição de companheiros, na eleição dos governadores. Nós, que estávamos do mesmo lado no Estado, Senador Inácio Arruda, ombro a ombro com o Senador Casagrande, nosso candidato a Governador, nosso querido Manato, candidato a Deputado Federal do PDT, lideranças do Estado, como o Prefeito Helder Salomão, o Prefeito João Coser, o Prefeito Neucimar Fraga, prefeitos da Grande Vitória, do interior, Prefeito Sérgio Vidigal, lideranças significativas de partidos, Nilton Baiano, Reginaldo Almeida, presidentes de partidos se juntaram, desde os menores até os maiores... E, quando se integra uma coalizão para governar ou ganhar uma eleição, o PMDB tem de ficar do tamanho do menor partido, e o menor partido... O PMDB do meu Estado tem de ficar do tamanho do PV; o PV, do PCdoB; o PCdoB, do PR; e o PR, do PSC, porque há uma coalizão para ganhar uma eleição e para governar junto e não se entende que, depois, eles sejam medidos pelo tamanho que têm do ponto de vista de filiados.

            Ganhamos a eleição no primeiro turno. Empenhei-me, de uma maneira muito forte, Senador, na campanha de Dilma Rousseff, e o fiz por crença, tão somente por crença, por acreditar no novo Brasil, neste Brasil que avançou em sete anos com o Presidente Lula, o Brasil que eu quero para os meus netos, para as minhas filhas, o Brasil que eu quero, o Brasil dos pobres, da inclusão social, o Brasil que eu quero que continue.

            Pois bem. Eu, no segundo turno, fui chamado para cumprir uma missão no País - e essa missão também me foi dada em 2002 -, dessatanizar a nossa Presidente no segmento onde eu professo a minha fé, no segmento evangélico, a mesma missão que eu cumpri em 2002, quando satanizaram o nosso Presidente Lula.

            Sou avesso à discriminação, sou avesso a ataques à honra das pessoas, até porque onde professo a minha fé - e a Bíblia é minha regra de fé e prática - Salomão disse: “Com a medida com que medis vos medirão”. A Bíblia diz isto: “Tudo aquilo quanto quereis que os outros vos façam, façais vós também”. Quando você ataca uma pessoa de uma maneira irresponsável, sem conhecimento, é preciso, pois, que você se prepare, porque você será medido com a mesma medida. Tenho visto tanta injustiça na vida de pessoas com a sua honra dilacerada, pessoas que terminam os seus dias, os melhores dias da sua vida longe da família, pessoas quebradas, humilhadas por serem discriminadas pela pele e pela fé que professam, Senador Jefferson Praia. Também tenho visto pessoas que foram caluniadas no emprego, dentro da própria igreja, em algum lugar, caluniadas, Deputado Manato, que perderam a família, perderam o emprego, perderam alguma coisa na vida, perderam a alegria de viver, pessoas mergulhadas na depressão. Sei que milhares de brasileiros que me ouvem hoje, que estão me vendo na TV Senado, milhares deles já foram vítimas de discriminação e de mentiras.

            No processo eleitoral, os bispos católicos do meu Estado fizeram um documento, que era lido nas igrejas, nas missas, pelos padres, em que pediam aos católicos para não votarem em mim.

            Será uma discriminação por causa da minha fé, da fé que eu professo, a fé evangélica?

            Nós estamos em um País laico. E em um país laico, há que se respeitar a todos. A Constituição brasileira diz, Deputado Manato, que temos que respeitar o hinduísta, o budista, que temos que respeitar o católico, que temos que respeitar o ateu, aquele que professa a fé afro. Mas eu também preciso ser respeitado.

            Um homem público não pode ser votado pela fé que professa. Ele tem que ser votado pelo seu passado, pelo seu presente e por aquilo que ele propõe para a sociedade brasileira, Senador Valdir Raupp, e não pela sua confissão de fé.

            Cometeram esse crime com a Dilma. Lamentavelmente, os nossos irmãos escolheram alguns pontos e começaram a atacar essa mulher. Os e-mails viraram a vedete dessa eleição. O ataque à honra das pessoas, e-mail que ninguém assina, e-mails sem anexo, do qual não se sabe a origem... Aí começaram a dizer muita coisa: “a Dilma Rousseff não pode ser Presidente porque falou que nem Jesus tira a vitória dela”, “não pode ser Presidente porque foi guerrilheira”, “essa mulher pegou em arma”, “essa mulher sequestrou”.

            O único sequestro que conheço, na época da ditadura, foi feito pelo Gabeira, assim mesmo em sonho de uma juventude. Essa guerra empreendida por essa jovem Dilma Rousseff, nos anos difíceis de ditadura, por ela, pelo Serra... Nós não podemos esquecer as pessoas que participaram desta movimentação: o José Dirceu, o nosso querido - lá do meu Estado - Perly Cipriano, que gastou 11 anos da sua vida trancafiado numa cela suja, comendo marmitex em cima de vaso sanitário, e tantos outros que enfrentaram a ditadura militar, uns deportados; outros não, cassados: o pai do Arthur Virgílio,

            Arthur Virgílio Filho - o Arthur Virgílio Neto é nosso companheiro, infelizmente nós não o teremos aqui -, e tantos que estão espalhados pelo Parlamento cujo nome eu poderia citar. Olha que aberração, Deputado Manato! Foi a luta dessas pessoas, por exemplo, que a mim orgulha muito.

            Se não houvesse essa luta de enfrentamento, essa utopia de sonhar com um Brasil livre, pelo qual a Dilma lutou... Eu, filho de uma faxineira, lá do interior da Bahia, jamais teria chance de me tornar Senador da República sem a luta deles.

            Ah, essa mulher é a favor de casamento homossexual, essa mulher fez o PL nº 122, esse PL nº 122 já foi votado, só falta ser sancionado. Nunca foi votado. V. Exª sabe. Nunca foi votado. Nada de discriminar pessoas. Eu respeito demais, mas esse projeto de lei está eivado de inconstitucionalidades. E nós não podemos permitir, com todo o respeito. E nós precisamos respeitar, e não tem nada a ver nem com Lula nem com Dilma.

            Começaram uma série de mentiras, de ataques à honra dessa mulher. Ela nunca disse isto: que nem Jesus tiraria a vitória. Eu me lembro que após o processo eleitoral do primeiro turno eu vim para Brasília, estive com a Ministra Dilma, nossa candidata. Eu, Walter Pinheiro, o Rodovalho; sentado, ela na minha frente aqui, Deputado Manato. E ela dizia: tudo me fere, tudo me machuca demais, mas o que mais me dói, o que mais me sangra é dizer que eu falei que nem Jesus tiraria minha vitória.

            De onde veio isto? Qual a origem disto? Infelizmente, as pessoas espalharam isso no meio do nosso povo, pessoas simples, pessoas crédulas, pessoas doutas. Gente simples, humildes, que amam a família, que amam a Deus. E qualquer coisa que falem para elas, em que elas percebam que há uma ameaça, que está vindo alguma coisa contra princípios, essas pessoas se espinham e reagem.

            E essa reação virou uma avalanche contra essa mulher. Quanta desonra, quanta ignomínia, quanta indignidade foram praticadas contra ela ao longo do primeiro e do segundo turnos.

            Viajei este País, Senador, cruzei o País, com o Deputado Manato, Senador Valdir Raupp. Estive com ele lá em seu Estado. Havia reunião o dia inteiro, até à noite, com lideranças religiosas, falando à imprensa. Os mesmos ataques sofria o candidato a governador. Os e-mails viraram vedetes, não é Senador Valdir Raupp? Ataque ao candidato a governador, ataque à candidata. Tive a oportunidade de colaborar. Mas a minha grande alegria é que aonde eu fui, Deputado Manato, aonde eu fui, tive a possibilidade de falar aos meus irmãos, da mesma confissão de fé. Marina é uma irmã nossa, Marina professa sua fé no segmento evangélico. Ela é crente de verdade. Marina anda com a Bíblia na mão. Mas, para votar em Marina, não era preciso justificar o voto dizendo: “Voto em Marina porque não voto em Dilma, porque Dilma é isso, é aquilo.” Voto em Marina porque....” Você tem de votar em Marina porque ela tem uma vida pública limpa, é proba, uma grande Senadora, tem história neste País, foi uma grande Ministra, ajudou Lula a construir essas políticas públicas de inclusão social no País. Então, não era preciso usar isso para justificar o voto em Marina e atacar Dilma.

            Quando terminou o primeiro turno, tentaram transferir tudo da Marina para o Serra. Aí diziam assim: “Voto no Serra porque essa Dilma não tem condição nenhuma de ser Presidente. Essa mulher falou que nem Jesus tira a vitória dela.” Deveriam dizer assim: “Voto no Serra porque acredito no governo que eles fizeram oito anos antes de Lula, porque os oito anos de Fernando Henrique e de Serra foram maravilhosos, acredito nisso e por isso vou votar nele. Acredito no Serra como um homem probo, um homem decente e vou votar nele.” Mas diziam: “Não, vou votar no Serra porque essa Dilma é isso.” Ninguém tem que votar em ninguém, não é a confissão de fé, não é a confissão de fé que é o fator primordial. Até porque tenho carinho e amor por esses meus irmãos do segmento. Eu fui para essa cruzada pensando neles, porque estavam sendo enganados, estavam mentindo para eles; eles votaram nos Estados.

            Qual é a confissão de fé do Anastasia, em Minas Gerais? Não é confissão de fé evangélica. E os evangélicos votaram nele. Votaram nele porque entenderam que era um grande gestor e tinha um projeto para Minas ou por causa da confissão de fé? Porque se fosse por causa da confissão de fé não poderia votar. Mas em Minas podia votar. Só não podia votar no País, na Dilma.

            Aqui, Agnelo Queiroz é evangélico? Agnelo lê Bíblia? Agnelo anda em igreja? Qual é a confissão de fé do Agnelo? Não é evangélica, mas aqui podia votar. Só não podia votar na Dilma.

            Qual é a confissão de fé da Roseana Sarney, que ganhou no primeiro turno? Não é confissão de fé evangélica. Ela não vive com a Bíblia debaixo do braço.

            Qual é a confissão de fé de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro? No entanto, tinha evangélicos votando nele. Aliás, líderes religiosos, líderes evangélicos fizeram campanha para ele, no Rio, mas para Dilma não podia.

            Qual é a confissão de fé de Renato Casagrande? Católico. Lá, podia votar. Os evangélicos podiam votar nele; só não podiam votar na Dilma.

            Olha só que coisa desproporcional, descabida. E eu comecei a andar neste País exatamente para fazer os nossos irmãos enxergarem.

            Uma outra coisa que disseram para não votar nela: o vice dela era satanista, o Temer. A Bíblia diz que tem dois espíritos no mundo: o espírito de Deus e o espírito do diabo. Não tem três. Ora, quem aceitou Jesus, aceitou; quem não aceitou, precisa aceitar. Só tem esses dois caminhos. Então, têm milhões que precisam aceitar no Brasil. Têm milhões que aceitaram e milhões que precisam aceitar.

            Então, o Temer não está sozinho nesse negócio. Quem falou isto? E, aqui, eu preciso falar o nome: Daniel Mastral. Quem é esse rapaz? Escreveu um livro dizendo que era o filho do Temer. Isso é o fim do mundo.

            Agora esse rapaz aparece numa revista cristã, que foi atrás dele, www.revistacristã.com.br, dando uma entrevista, desmentindo e dizendo que nunca falou isso. Mas isso ganhou o Brasil como verdade. Agora está desmentindo com a boca o que falou pelo cotovelo, porque quem fala pelo cotovelo é obrigado a desmentir com a boca. 

            Viajei este País e via os olhos dos meus irmãos em todos os lugares que eu passava, lideres, homens que deram a vida pregando o Evangelho, com 30, 40 anos de ministério, chorando. Depois dizer assim: “Eu tenho que pedir perdão a Deus e a minha igreja de tanta besteira que eu falei”.

            Nós precisamos votar em alguém não é pela confissão de fé. Ora, eu sou um homem publico, que professa fé evangélica. O Valter é um homem probo, honrado, que vai fazer falta ao Brasil aqui neste Senado, que professa a fé católica. O Raupp professa a fé católica. Agora, nós somos evangélicos e gravamos no seu programa, não é Raupp?

            Ora, com a sua confissão de fé, ninguém pode ser votado por isso. Temos homens probos na vida pública: hinduístas, budistas, espíritas, católicos. Eu fui discriminado porque professo fé evangélica no processo eleitoral do meu Estado. Agora, quem escreveu que eu seria Senador foi Deus, então não tem quem faça campanha, quem escreva besteira, quem mande e-mail que vai apagar aquilo que Deus escreveu.

            Então como é que ficam agora os pregadores do caos, que passaram esse processo todo eleitoral sangrando esse ser humano, chamado Dilma Rousseff, indevidamente, publicamente, sem conhecer a verdade dos fatos? Ora, para votar na Dilma não precisa atacar o Serra. Para dizer que o Brasil que eu quero é o Brasil do Lula, não preciso atacar Fernando Henrique na sua honra. Não preciso disso. Para dizer que meu Governador era Renato Casagrande, eu não tinha que atacar o meu amigo Luiz Paulo.

            É amigo o tempo inteiro. Chegou o processo eleitoral, agora eu vou sangrá-lo em praça pública? Olha, a boca que honra a Deus não desonra ninguém. Não dá para o sujeito ir para o púlpito honrar, ler a bíblia, fazer oração e, em algum lugar, falar em línguas estranhas, irmão, e depois atacar a honra dos outros. Que história é essa?

            E fizeram isso com essa mulher. Foi em nome e pelo senso de justiça, nosso querido Senador Jefferson Praia, que também vai fazer falta nesta Casa, que eu cruzei este Pais. Vinte e seis dias dentro de um avião, falando três, quatro vezes por dia no País inteiro, onde houve um mapeamento, onde essas coisas aconteceram com muita força. E eu fui desmistificar, desmistificar porque é uma inverdade.

            Tem uma entrevista da mãe desse rapaz, esse que diz que o Temer é satanista, em que ela diz que está processando ele. A mãe processando ele! Ela disse: “Ele me desonrou, hoje eu tenho vergonha de ir á igreja. Ele me desonrou. Eu só fui mulher do pai dele. Nunca tive um outro homem”. Ele diz que é filho do Temer.

            Olha onde é que nós chegamos! Então quer dizer que as minhas filhas, que professam a fé evangélica, amanhã elas não vão poder ser nada, porque vão sair e-mails contra elas. Ninguém mais pode fazer vida pública, porque se essa prática pega... O debate não é esse. O debate, Deputado Manato, é diferente. O debate é este: qual é o Brasil que eu quero e o Brasil que eu não quero.

            Nós chegamos ao segundo turno e eram duas candidaturas: tu e tu, ele ou ela. Nós não estávamos trabalhando, ninguém estava lutando num processo eleitoral para eleger uma bispa para o Brasil, Senador Raupp, ou eleger um padre, ou eleger um pastor, ou eleger um bispo para o Brasil, uma papisa ou um papa. Nós estávamos lutando, trabalhando, discutindo ideias para eleger um Presidente para o Brasil, um programa para o Brasil.

            Qual o país que eu quero? O que eu quero para as minhas netas, para as minhas filhas? Qual é o Brasil que eu quero e o Brasil que eu não quero? O Brasil que eu quero eu sei, eu dizia a eles. Eu respondi isso para mim.

            Então, você não tem que estar atrás da confissão de fé e dizer: não pode votar nessa mulher porque ela foi guerrilheira. E eu perguntava assim: então, quer dizer que o seu netinho, a sua filha que está sentada aí, de cinco anos de idade, no seu colo, essa menina não pode virar, um dia, governadora de Porto Alegre, porque ela é neta de pastor? Passou a vida inteira aprendendo sobre a Bíblia. Aí vão dizer nos e-mails que ela vai acabar com o carnaval, que ela vai fechar a Igreja Católica. O que fizeram com Neucimar Fraga, em Vila Velha: vai acabar com a Festa da Penha, vai acabar com a Procissão dos Homens. Isso não existe. Nós vivemos num país laico. Ninguém pode fazer isso. Nós precisamos respeitar.

            Então, quer dizer, a luta de Dilma deu ao filho do lavrador, deu ao filho do pedreiro, da faxineira, como eu - a origem de V. Exª também é simples, que eu conheço -, a possibilidade. Foi a luta deles.

            Hoje, falar de José Dirceu é fácil. Falar de fulano é fácil. Eu não sou do PT. Eu sou do PR. Atacar a honra das pessoas, que têm uma história construída na luta em favor da liberdade deste País... É fácil esquecer a história dessas pessoas.

            Então, não é esse o debate. O debate é: qual é o país que eu quero? O que eu quero eu sei, eu dizia a eles. O país que eu quero é o país do Lula. O país que eu quero é o país da Dilma, é o país da Marina, porque Marina lutou com ele anos da sua vida e passou quase sete anos no governo. Ajudou a construir todas essas políticas públicas.

            Eu quero o Brasil de Dadá, minha mãe. Eu quero o Brasil do pedreiro. Eu quero o Brasil do filho do pobre, do negro. Eu quero o Brasil que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria. Este é o Brasil que eu quero. Eu não quero mais o Brasil que tinha 40 milhões de irmãos nossos na miséria.

            Esse é o único país que tem uma empresa, chamada Vale do Rio Doce, que tira ouro do chão 24 horas por dia. Um país que tem ouro, um país que tem granito, um país que tem mármore, um país que tem peixe, um país que tem muita madeira, um país que tem café, que tem riquezas infindas, não há que se entender que este país ainda tenha 40 milhões de irmãos nossos abaixo da linha da pobreza. Trinta milhões foram tirados. O Brasil que tinha 40 milhões eu não quero. Eu quero o Brasil do Lula, que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria e os inseriu no contexto que hoje a elite, que escreve nas colunas, chama de pobres emergentes.

            É verdade, porque pobre no Brasil hoje, Senador, tem máquina de lavar em casa. Pobre no Brasil hoje tem microondas, compra biscoito recheado para os filhos. Pobre no Brasil hoje senta nas praças de alimentação. Os aeroportos estão cheios e estão viajando de avião, porque está tão barato quanto viajar de ônibus. Esse Brasil eu quero. Eu quero o Brasil das vinte novas universidades federais que o Lula construiu em sete anos, esse Brasil eu quero. O Brasil das 214 escolas técnicas.

            Era proibido no velho Brasil fazer escola técnica no governo Fernando Henrique Cardoso, e ele é um doutor. Ora, esse Brasil eu não quero. Era proibido, tinha um decreto proibindo fazer escola técnica. Como é que você classifica mão de obra, como é que tem inserção no mercado de trabalho, se a mão de obra não for qualificada? Então, quer dizer que os filhos do pobre, sem escola técnica, tem que morrer ajudante de pedreiro, lavando carro, como flanelinha, pegando enxada, porque não tem como qualificar para o mercado de trabalho.

            Então, o Brasil que quero é o Brasil das 214 escolas técnicas feitas pelo Lula. Eu quero o Brasil que pagou US$15 bilhões ao FMI e nos tirou da humilhação. O Brasil que eu quero é o Brasil do Lula que tirou 15 milhões de irmãos nossos do escuro, que fez o Luz para Todos, que fez Caminhos do Campo. O Brasil que quero, Senador, é o Brasil que avançou, que firmou os pilares da economia, que recebeu respeito mundial e continua recebendo. O Brasil que eu quero é o Brasil do ProUni, é o Brasil da universidade do negro.

            E sabe o que mais me encanta nisso? É que esses intelectuais todos tinham dez dedos na mão, generais intelectuais. Depois veio a anistia, depois tivemos o primeiro homem eleito, o Sarney, com a morte de Tancredo Neves, nosso querido Presidente Sarney. Sarney é tão intelectual que é imortal. Eu também já fui imortal porque, até 1992, eu não tinha onde cair morto. Mas imortal de tão intelectual que é! Depois veio o Collor, imortal, um jovem intelectual de Alagoas. Depois veio Dr. Itamar. Depois veio Dr. Fernando Henrique Cardoso. Doutor mesmo! Não fez uma universidade! Proibiu escola técnica! E esse tinha dez dedos intelectuais na mão.

            Para mim, Deputado Manato, a melhor história, a mais bonita página da educação do Brasil, Senador Raupp, foi escrita por um semi-analfabeto que só tem nove dedos na mão, que é o Presidente Lula!

            O sujeito pode não gostar dele, achar que ele é feio, que ele engordou demais, a barba ficou branca muito rápido, qualquer coisa. Agora, uma coisa não dá para esconder: que este País avançou, que este País não é mais o mesmo.

            A crise internacional pegou os países de primeiro mundo de frente e pegou-nos de lado. Fomos os últimos a entrar e os primeiros a sair, porque os fundamentos da economia estão sólidos.

            O Brasil que eu quero é este: Minha Casa, Minha Vida. Manato, se mãe estivesse viva, chamaria Lula de “meu filho”. Lá, Deputado José Carlos, minha mãe, faxineira, em Itapetinga, no prédio escolar Dr. José Vaz Espinheira, minha mãe limpava chão e fazia merenda para as crianças. Nós nunca tivemos uma casa, Deputado! Nós morávamos lá em cima, num bairro chamado Rola-Pote. O mais simples bairro da cidade.

            Ah! Quem dera tivesse o Programa Minha Casa, Minha Vida! Quem dera tivesse! Não havia um programa desse.

            O Brasil que eu quero não inclui privatização. Eu quero o Brasil do Lula sem privatização. O Brasil que eu quero não tem programa para salvar banco, em vez de salvar pobre.

            Este é o Brasil que eu quero: o Brasil do Lula! Eu quero o Brasil seu, eu quero o Brasil do Praia, eu quero o Brasil do Manato, eu quero o Brasil do nosso querido Valtinho, que vai fazer uma falta medonha, principalmente para mim.

            É sobre isto que a gente tem que refletir: sobre o Brasil que eu quero e o Brasil que eu não quero. Não é tentar fazer uma campanha desmoralizadora, em cima da figura de uma pessoa, de forma acintosa, contra sua honra, contra sua moral, espalhando e-mails, gravando vídeos. Fico com vergonha: líderes gravaram vídeos, contando, metendo medo no povo evangélico, dizendo que vai acontecer aquilo que já aconteceu. Por exemplo, a liberdade das Igrejas no Código Civil, no nosso primeiro ano aqui. Era o nosso saudoso que estava por aqui, Valtinho. Você não estava aqui ainda. Era o Ramez, quando mudamos e emendamos o Código Civil, que passou 22 anos para ser promulgado. Foi promulgado, colocando as religiões no mesmo patamar de um clube de futebol, de uma escola de samba. É o fim do mundo!

            Aqui, quebramos todos os interstícios. Uma emenda que começou com o Pinheiro, lá na Câmara, veio para cá; em 29 dias, votamos, com a ajuda de todos os líderes: líderes espíritas, líderes católicos, líderes evangélicos. Todos. E, no dia da promulgação, lá no salão, lotado, o Lula, olhando para todo mundo, para todos os líderes evangélicos, - inclusive, esse pastor de Curitiba, que gravou esse vídeo, metendo medo em todo mundo, estava sentado na frente - o Lula olhou para todos e disse:

             “Pois é! Vocês passaram a vida inteira dizendo que eu não podia ser presidente, porque eu ia fechar as igrejas. Pois Deus me deu o privilegio, Deus que escreve certo por linha tortas - usou essa frase -, para eu, Lula, assinar a liberdade das igrejas.” E assinou. Não tem mais essa história... O que é isso? Isso já foi vencido lá atrás! Agora, vai debitando na conta das pessoas, de forma irresponsável, para buscar voto, fazendo um trabalho eleitoreiro e nojento.

            Eu cruzei este Brasil com muita satisfação, porque pude esclarecer a cabeça de muitos irmãos nossos, de muita gente simples, pelo interior, nas captais. Eu pude demonstrar a verdade de tudo isso, até porque estou neste Parlamento e dou graças a Deus, porque tenho um mandato visível. O Brasil me vê, o Brasil vê o meu mandato, o Brasil vê a minha luta. E tudo o que eles colocaram, conheço com muita profundidade. E fui dizer a eles qual é o Brasil que eu quero.

            Eu tive o privilégio de, no dia 3, votar; e, às 5h da tarde, ver este País dizer que o Brasil do Lula tem que continuar. O Brasil do povo de Macarani tem que continuar, o Brasil do povo da Bahia tem que continuar, dos pobres da Amazônia. Oitenta e tantos por cento na Amazônia! Quando V. Exª falou isso aqui, eu gelei! Sabe por quê? Porque meu Estado, há 8 anos, estava quebrado, Deputado José Carlos. Estava quebrado o Espírito Santo, não é, Manato? Arrebentado, Deputado. Fernando Henrique, em 8 anos, foi ao Espírito Santo por 15 minutos e ficou no pátio da Aracruz Celulose. Nunca fizeram nada pelo meu Estado. Arrebentados, fomos até o Lula - eu era o coordenador da bancada -, quando o Lula estava começando o governo. Pedimos a ele para antecipar os royalties do petróleo para salvar o Estado. E o Lula, começando o Governo, chamou o Ministro das Minas e Energia, para ver o que fazia, porque essa coisa de petróleo é com o Ministério das Minas e Energia. O Ministro, entendendo a nossa situação, antecipou 400 milhões para o Espírito Santo. Sabem quem era o Ministro? Dilma Rousseff! E ela perdeu no meu Estado. Fico triste com isso. 

            O Lula tirou, no meu Estado, 200 mil famílias da miséria. Os pobres e emergentes que visitam os shoppings centers têm máquina de lavar em casa.

            Fico pensando e dizia aos líderes, aos religiosos, que eu ia aos congressos, aos encontros e olhava os estacionamentos. Há doze anos, só se via Brasília velha, Passat velho, Monza velho. Hoje, vê-se carro brilhando, porque prestação de carro mil, zero, é R$250,00.

            O que ele fez pelo meu Estado? O Lula foi ao Espírito Santo 12 vezes, Senador. Doze vezes! Tudo o que o Governador Paulo Hartung quis, tudo de que necessitamos, o Lula fez. Agora, o que mais me ressente é ver autoridades do Estado, que podiam sair dizendo isto para o povo, chamando prefeito, chamando vereador para dizer a eles: “O Luz para Todos não é programa estadual; é federal; o Minha Casa, Minha Vida é federal; Caminhos do Campo é federal, não é estadual. Foi o Lula!” Infelizmente, não o fizeram.

            E, com todo o respeito que tenho ao Serra, ele ganhar no meu Estado e a Dilma perder, fiquei muito triste. É não reconhecer as 12 escolas técnicas que foram para o Espírito Santo. Você sabe que, das 214 do Brasil, 12 foram para nós. Sabe por quê? Por que quem criou a frente parlamentar em favor do ensino profissionalizante e foi um dos autores da lei, orientado pelo Cristovam, para derrubar a resolução do Presidente Fernando Henrique, proibindo escola técnica, foi o prefeito de Vila Velha, Neucimar Fraga, que era Deputado Federal. Para lá, levamos 12; das 214 escolas, levamos 12. Doze para o Espírito Santo, um Estado de 78 Municípios. E ela ainda perdeu lá.

            Por que isso? Porque criou-se contra ela tanta coisa ruim, mentiram tanto contra essa mulher! Diziam assim: “Eu vou votar no Serra, porque essa mulher é isso e isso.” Deveria ser assim: “Vou votar no Serra porque agradeço muito o que eles fizeram pelo Espírito Santo. Eu sou muito grato ao que eles fizeram pelo meu Estado. Por isso, vou votar.” “Vou votar nele porque essa Dilma... Vou votar nele porque essa Dilma...” Todo lugar era isso! Minha tristeza foi essa.

            Viajei ao País inteiro. Cumpri uma missão. Eu tinha que estar hoje aqui, fazendo este relatório.

            No domingo, às 20h05, o Brasil conhecia a primeira mulher Presidente deste País. Uma mulher preparada, que tem uma história de luta, que vai dar continuidade a todos os programas do Lula e que vai melhorá-los. Vai melhorá-los! Tem obrigação disso. A mulher que gestou o PAC! Eu via tanta propaganda dizendo: “Fizeram o PAC, mas só conseguiram realizar 30%.” Mas 30% do PAC é mais do que 100% daquilo que eles não fizeram. Ela vai fazer muito mais.

            Fiquei muito emocionado por estar ao lado dela no seu primeiro discurso como Presidente eleita da Nação brasileira. E, certamente, ao lado da experiência do Raupp, campeão de voto, lá no seu Estado, junto com o Marinha, seus parceiros e as pessoas de bem, elegeram Confúcio governador, em uma batalha insana que travaram contra ele e contra vocês. Mas Deus deu a vitória.

            Aqui, estaremos na base da nossa querida Presidente Dilma Rousseff, para ajudar a avançar, Deputado José Carlos, baiano, este Brasil que todos queremos. O Brasil de João, de Maria e de Pedro; o Brasil do pedreiro, do serralheiro. Aliás, está faltando pedreiro, serralheiro, está faltando engenheiro civil, está faltando mestre de obras no Brasil, porque aqueceu-se tanto a construção que está faltando esse tipo de mão de obra.

            Vamos estar aqui para dar sustentação a ela, para dar continuidade a esse novo Brasil, a esse novo País.

            Fui Senador, fui Deputado, para poder abraçar e desfazer uma mentira que estava na cabeça dos meus irmãos mais simples. E, pelo meu senso de justiça, ninguém pode ser atacado na sua honra sem poder se defender. Um e-mail contra a sua honra, Deputado? Que origem, quem escreveu, quem é esse covarde que não assina? Como é que você se defende? E ela chegou a uma situação em que ela ia se defender e piorava! Para ficar calada, ela estava errada. Chegou a uma situação em que ela ia se defender e ficava pior, e a gente, que tem bom senso, tinha que tomar uma decisão.

            Acho que qualquer um pode tomar a decisão que quiser. Parabéns a quem votou no Serra; parabéns a quem votou no Luiz Paulo, no meu Estado; parabéns a quem votou na esposa do Roriz aqui; parabéns a quem votou no Agnelo.

            A gente não escolhe as pessoas pela sua profissão de fé, nem pela sua confissão de fé. Não queremos estabelecer, num País que já é laico, uma guerra religiosa desnecessária, sem responsabilidade, em que tiramos de nós mesmos a possibilidade de chegar a algum lugar.

            Encerro meu pronunciamento dizendo o que a Bíblia diz: “Com a medida com que medis vos medirão, e tudo quanto quereis que os outros vos façam, façais vós também.”

            Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/11/2010 - Página 48785