Pronunciamento de Francisco Dornelles em 09/11/2010
Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.
- Autor
- Francisco Dornelles (PP - Progressistas/RJ)
- Nome completo: Francisco Oswaldo Neves Dornelles
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/11/2010 - Página 49236
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- CUMPRIMENTO, AUTORIDADE RELIGIOSA, PRESENÇA, SENADO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CARDEAL, ARCEBISPO, ATUAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, ENGAJAMENTO, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, LUTA, PROMOÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, GARANTIA, DIREITOS HUMANOS, ASSISTENCIA RELIGIOSA, BUSCA, PAZ, CONCILIAÇÃO, COMENTARIO, AMIZADE, PAPA, PRESTIGIO, SEDE, IGREJA CATOLICA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. FRANCISCO DORNELLES (PP - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney; Sr. Senador João Faustino, primeiro signatário do requerimento da presente sessão; Revmº Sr. Dom Lorenzo Baldisseri; Revmº Sr. Dom Heitor de Araújo Sales, representando o Arcebispo Dom Eugênio Sales; Arcebispo Emérito de Brasília, Revmº Sr. Cardeal Dom José Freire Falcão; Reitor da Unilegis, Sr. Ministro Carlos Mathias; senhoras e senhores, é com muita alegria que me junto aos que hoje prestam esta justíssima homenagem a Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pela passagem de seus 90 anos de idade, completados ontem, dia 8 de novembro.
Dom Eugênio é mais uma dessas fortes figuras, surgidas no seio da Igreja Católica, que marcaram a história recente do País.
Em março de 1971, Dom Eugênio Sales foi nomeado cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro. Ainda em 1971, foi designado representante do episcopado brasileiro no Sínodo dos Bispos, em Roma.
Desde o início de sua administração episcopal no Rio de Janeiro, Dom Eugênio se caracterizou por uma atitude política moderada e cautelosa, que nunca aliás o impediu de se manifestar em defesa dos direitos humanos.
Participou de alguns dos encontros da chamada Comissão Bipartite, fórum de discussão que se reuniu entre 1970 e 1974, com o objetivo de impedir a deterioração das relações Igreja-Estado e que era integrado por importantes líderes da Igreja.
Nessas reuniões, o primeiro escalão do clero cobrou da cúpula militar a investigação de casos de violação de direitos humanos e o fim do cerceamento da liberdade de expressão e das perseguições políticas. Dom Eugênio deixaria de integrar essa Comissão em 1972, depois que as autoridades violaram a promessa de que não prenderiam um sacerdote suspeito de subversão.
Após o fechamento do Congresso em abril de 1977, Dom Eugênio tornou-se um dos interlocutores do Presidente do Senado, Senador Petrônio Portella, em suas negociações com o que então se chamava de “representantes da sociedade civil”, visando encontrar pontos de convergência que tornassem possível o encaminhamento do projeto de abertura política do Presidente da República, Ernesto Geisel, e do Chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva.
Em dezembro de 1978, pronunciando-se a respeito do projeto de anistia que vinha sendo preparado pelo Presidente Ernesto Geisel, Dom Eugênio Sales declarou: “A anistia, independentemente da justiça ou injustiça, é uma forma de misericórdia e pode ser uma forma de sabedoria política”. Em agosto de 1979, já no governo do Presidente Figueiredo, quando o projeto da anistia tramitava no Congresso, Dom Eugênio declarou que desejava que a anistia fosse a mais ampla possível.
No início de setembro de 1980, Dom Eugênio celebrou na igreja da Candelária a missa de sétimo dia pela alma de Lyda Monteiro da Silva, secretária do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), morta num atentado terrorista da extrema direita à sede da entidade. Em novembro seguinte, como protesto, recusou-se a receber a Medalha do Pacificador, que lhe fora conferida pelo Exército.
Amigo do Papa João Paulo II, grande defensor de suas ideias e considerado por muitos o homem forte do Vaticano no País, influenciou, direta ou indiretamente, a maior parte das decisões que afetaram a Igreja no Brasil no período. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, Dom Eugênio era tão prestigiado no Vaticano que chegou a ser chamado nos bastidores eclesiásticos de vice-rei de Roma. Ao longo dos anos 80, ele integrou simultaneamente mais de dez congregações, comissões e conselhos que assessoram o papa e dirigem, de fato, o mundo católico, entre os quais destaco: a Sagrada Congregação para o Culto Divino; o Conselho Permanente dos 15 Cardeais, que trata dos assuntos financeiros do Vaticano, e o Conselho dos Negócios Públicos da igreja, órgão da Secretaria de Estado do Vaticano.
Dom Eugênio integrou também o Conselho Permanente da CNBB.
Sr. Presidente, senhoras e senhores, ao chegar aos 90 anos de uma vida particularmente ativa e plena, Dom Eugênio Sales nos apresenta um exemplo do que seja uma vida orientada pela fidelidade aos valores evangélicos e pela coerência. Seu reconhecido talento de administrador e de organizador deixou uma marca definitiva na Igreja Católica brasileira e mesmo latino-americana. Sua força espiritual animou e anima ainda todos aqueles que se dedicam à missão pastoral própria da igreja. Sua visão social está na direta linha dos princípios consagrados pelo Concílio Vaticano II. Sua moderação e seu equilíbrio tiveram um papel fundamental em um momento especialmente delicado da vida nacional, contribuindo para a paz e para a conciliação, que superam as dificuldades e curam as feridas.
Por tudo isso, Sr. Presidente, sinto-me feliz de poder participar desta justa homenagem que hoje o Senado Federal, comandado por V. Exª, presta ao Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro e pela oportunidade que tenho de manifestar a minha admiração por este grande personagem, que é Dom Eugênio Sales.
A Dom Eugênio, deixo aqui meus parabéns pela passagem de seus 90 anos e meus sinceros e profundos agradecimentos pela obra, que é sua própria vida, e pelo exemplo que nos deu, nos dá e continuará a dar.
Muito obrigado. (Palmas.)
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