Discurso durante a 179ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2010 - Página 49234
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, AUTORIDADE, HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CARDEAL, ARCEBISPO, ATUAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ESTADO DA BAHIA (BA), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMENTARIO, BIOGRAFIA, ELOGIO, ENGAJAMENTO, PROMOÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS, ASSISTENCIA RELIGIOSA, INICIATIVA, CRIAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IGREJA CATOLICA, PROGRAMA ASSISTENCIAL, SINDROME DE IMUNODEFICIENCIA ADQUIRIDA (AIDS).

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Há número regimental. Declaro aberta a sessão.

            Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

            O tempo dos oradores da Hora do Expediente da presente sessão será dedicado a homenagear o Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida, de acordo com o Requerimento nº 805, de 2010, do Senador João Faustino e de outros Srs. Senadores.

            Convido para compor a Mesa o Exmº Sr. Núncio Apostólico do Brasil, Reverendíssimo Senhor Dom Lourenzo Baldisseri; o Arcebispo Emérito de Brasília, Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom José Freire Falcão; o Arcebispo Emérito de Natal, Reverendíssimo Senhor Dom Heitor de Araújo Sales, representando o Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom Eugênio Sales.

            Convido para compor a Mesa o primeiro signatário do requerimento, Senador João Faustino.

            Convido também para compor a Mesa o Sr. Reitor da Unilegis, Exmº Sr. Ministro Carlos Mathias.

            É com imensa satisfação que presido esta sessão, em que procuramos, no Senado, comemorar os 90 anos, completados ontem, do Cardeal Emérito do Rio de Janeiro, Dom Eugênio Sales.

            Dom Eugênio dedicou toda a sua vida a serviço de Deus, a serviço da Igreja e a serviço do seu apostolado. Ele nasceu em Acari, no Rio Grande do Norte. Eu o conheci há muitos anos, como Bispo de Natal. Marcava-o já então uma forte preocupação social, que não o abandonaria ao longo dos longos anos de serviço à Igreja.

            Removido em 1964 para Salvador, feito Arcebispo de Salvador em 1968, feito Cardeal em 1969 e, finalmente, em 1971, transferido para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, tornou-se presença central na Igreja brasileira e figura importante no Colégio de Cardeais e na Santa Sé, em que foi membro de onze Congregações.

            Um dos criadores das Comunidades Eclesiais de Base, Dom Eugênio foi, no entanto, um crítico de seu engajamento político. As Comunidades Eclesiais de Base eram um trabalho com lideranças laicas, para, sob a coordenação de um animador especialmente formado, cultivar a vida cristã por meio da oração, do culto dominical, da leitura da Bíblia, da reflexão, do apoio mútuo e da solidariedade.

            Em 1958, Dom Eugênio começou uma experiência de escolas radiofônicas para alfabetização e formação das comunidades. Mais tarde, em 1961, um convênio entre a Presidência da República e a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fundou o Movimento de Educação de Base e estendeu a experiência a outras áreas do Brasil.

            Outra experiência desses tempos de pioneirismo foi a de entregar paróquias à direção de freiras.

            Foi também um dos fundadores da Campanha da Fraternidade. Seu irmão, Dom Heitor de Araújo Sales, aqui presente, então sacerdote potiguar e mais tarde Arcebispo de Natal, estudando na Europa, trouxe para o Brasil subsídios que foram adaptados à realidade brasileira.

            A primeira Campanha da Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal, em 1962. A segunda, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 dioceses do Nordeste. Nesse mesmo ano, o Secretário-Geral da CNBB, Dom Helder Câmara, escreve a todos os Bispos do Brasil, sugerindo sua adoção em âmbito nacional.

            Corajosamente, tomou parte da acolhida a refugiados políticos latino-americanos, abrigando-os no Palácio São Joaquim, sede episcopal. Ajudava-os até a obter asilo político. Foi sempre firme na defesa dos direitos humanos, em que sua posição de absoluta isenção política lhe dava autoridade.

            No Rio, formou uma equipe com Maria Cristina Noronha de Sá e com outros beneméritos, que levaram adiante o Banco da Providência e criaram programas como o Centro de Atendimento a Portadores de Aids, a Pastoral Carcerária, o Núcleo de Formação de Líderes de Sumaré.

            Por uma deferência especial do Papa João Paulo II, de quem foi grande amigo, foi autorizado a permanecer à frente da Arquidiocese do Rio de Janeiro até os 80 anos.

            Dom Eugênio, aos 90 anos, completa 67 anos de sacerdócio, 56 de episcopado e 41 de cardinalato.

            Dom Eugênio constitui para todos nós, brasileiros, um exemplo do homem que dedicou toda a sua vida a serviço de uma causa, a serviço da fé, a serviço de Deus. Ele, permanentemente, teve preocupação material também com as obras que realizou e que aqui acabei de relatar. Mas, sobretudo, o que nele ressalta é o homem extraordinário, o homem que, até hoje, por meio da sua pregação de princípios morais, de princípios de fé, alimenta, com o exemplo, o sacerdócio do Brasil e, sem dúvida alguma, de toda a Igreja no mundo inteiro.

            Foi um homem extraordinário que Deus pôs a serviço de sua causa no mundo. Eu, pessoalmente, sinto-me honrado pelo fato de ser contemporâneo de Dom Eugênio Sales, isto é, de ter vivido num tempo em que ele também viveu, para poder testemunhar o grande homem de fé, o grande exemplo, o grande homem que, na Igreja, serviu de exemplo para todos nós, cristãos.

            Muito obrigado.

            (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2010 - Página 49234