Discurso durante a 185ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo preconceito com a mobilidade social verificada durante o Governo Lula, a qual permitiu que integrantes de classes C e D pudessem ter acesso a bens e serviços, externando preocupação com grupos organizados que discriminam os mais pobres e as minorias.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • Lamento pelo preconceito com a mobilidade social verificada durante o Governo Lula, a qual permitiu que integrantes de classes C e D pudessem ter acesso a bens e serviços, externando preocupação com grupos organizados que discriminam os mais pobres e as minorias.
Aparteantes
Magno Malta, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2010 - Página 51085
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ANALISE, SUPERIORIDADE, MOVIMENTAÇÃO, INTERNET, CAMPANHA ELEITORAL, COMENTARIO, CIRCULAÇÃO, TEXTO, DEMONSTRAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, VITIMA, POPULAÇÃO CARENTE, PROCESSO, INCLUSÃO SOCIAL, PROMOÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), ELOGIO, SEÇÃO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ABERTURA, PROCESSO PENAL, REU, ESTUDANTE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, POPULAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, INCITAMENTO, CRIME, REPUDIO, ORADOR, GRUPO, NAZISMO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), AMEAÇA, NEGRO, PAULO PAIM, SENADOR, IMPORTANCIA, OPERAÇÃO, POLICIA CIVIL, GRAVIDADE, AGRESSÃO, AUTORIA, ADOLESCENTE, CLASSE MEDIA, SUSPEIÇÃO, VITIMA, HOMOSSEXUAL.
  • LEITURA, TRECHO, DECLARAÇÃO, JORNALISTA, TELEJORNAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), MANIFESTAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, DIREITOS, AQUISIÇÃO, AUTOMOVEL.
  • ANALISE, SEMELHANÇA, DISCRIMINAÇÃO, AMBITO, CRITICA, EXAME, AMBITO NACIONAL, AVALIAÇÃO, ENSINO MEDIO, OCULTAÇÃO, MOTIVO, AMPLIAÇÃO, ACESSO, ESTUDANTE CARENTE, UNIVERSIDADE FEDERAL, TOTAL, TERRITORIO NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, ORADOR, ATENÇÃO, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, COMBATE, MISERIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Senador Augusto Botelho, Srs. Senadores, durante a campanha, nós tivemos uma movimentação muito grande na Internet. Muito grande.

            Eu quero, inclusive, aqui registrar que, dentro das nossas possibilidades de poder acessar os sites, o YouTube, o Twitter, que se movimentaram muito durante a campanha, eu cheguei até a comentar, Senador Paim, não sei se o senhor teve acesso a ele, um e-mail que circulou muito e de que até cheguei a rir. Quando eu o li pela primeira vez, cheguei até a fazer alguns comentários, porque ele levava a isso.

            Depois, os alunos da Universidade de Brasília, UnB, acabaram transformando trechos desse e-mail em pequenas produções, reproduzindo, com personagens, o que estava no e-mail.

            O e-mail era um pouco jocoso: Por que voto em Serra? Decidi. Por que voto em Serra?

            Eu vou ler alguns trechos: “Cansei de ir ao supermercado e encontrá-lo cheio. O alimento está barato demais. O salário dos pobres aumentou, e qualquer um, agora, se mete a comprar carne, queijo, presunto, hambúrguer e iogurte”.

            Depois, Senador Magno Malta, num outro parágrafo, dizia: “Cansei dessa história de ProUni, que botou esses tipinhos, sem berço, na universidade. Até índio, agora, vira médico e advogado. É um desrespeito... Meus filhos, que foram bem criados, precisam conviver e competir com esses pobres”.

            Pois lá, num outro parágrafo, dizia: “Cansei dos bares e restaurantes lotados nos fins de semana. Se sobra algum, a gentinha toda vai para a noite. Cansei dessa demagogia”.

            E, lá pelas tantas, ia com outros: “Cansei de ir a shopping e ver a pobreza comprando e desfilando com seus celulares. Cansei dos estacionamentos sem vaga. Com essa coisa de juro baixo, todo mundo tem carro, até a minha empregada. “É uma vergonha!”, como diria o Boris Casoy”.

            E vão outros: “O governo reduziu os impostos para os computadores. A Internet virou coisa de qualquer um. Pode? Até o filho da manicure, do pedreiro, do catador de papel, agora, navegam, têm Orkut... Vergonha, uma vergonha isso!”

            E o e-mail continuava por aí.

         Volto a dizer que os alunos - não sei se eram do curso de Comunicação da UnB - fizeram vários filminhos, ridicularizando esse sentimento, que apareceu na eleição, dos que não estão satisfeitos com a população melhorando de vida, as pessoas podendo ter acesso, podendo comprar. Durante a campanha, isso circulou.

            Senador Paulo Paim, eu, durante a campanha, cheguei a comentar e a rir desse tipo de matéria, de e-mails, de vídeos que circulavam, colocando o assunto do preconceito e do significado dessa mobilidade social que nós tivemos, felizmente, a oportunidade de viver, hoje, no Brasil. Eu cheguei a considerar isso positivo, porque estava vindo à discussão o preconceito, pela brincadeira e até pela ridicularização, mostrando como é ridículo alguém não se sentir feliz porque o outro pode comprar carne, pode dar um iogurte ou um biscoito melhor para o filho, achando absurdo que alguém se incomode porque o outro está podendo comprar carro, está podendo comprar casa.

            Mas, com o passar dos dias, das semanas e até do processo eleitoral, temos uma situação com que temos de começar a ficar muito preocupados. Muito preocupados! Começou com aquela história das mensagens, no Twitter, contra os nordestinos, com aquela moça... Inclusive, agora, quero até aproveitar para dar os meus parabéns pelos 80 anos da OAB. Tivemos uma sessão muito bonita, homenageando os 80 anos da OAB.

            A OAB de Pernambuco abriu um processo, investigação, e a moça vai responder por crimes de racismo e incitação pública à prática de crime, porque isso foi um absurdo que nós não podemos permitir que se propague pela Internet. Mesmo com toda a liberdade que há de comunicação, de expressão, há formas de se expressar.

            Esses e-mails que eu citei - Por que voto em Serra? - ridicularizam e criam constrangimento para quem se incomoda com os outros melhorando de vida, querendo que melhoria de vida seja algo só para poucos, só para alguns e para os outros, não. Agora, nós não podemos admitir que, pelo Twitter, se propaguem matérias do tipo: “Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado.” Aí, a OAB de Pernambuco tomou as providências, abriu o processo e tal.

            Também não podemos permitir aquilo que aconteceu no Rio Grande do Sul, quando a Polícia Civil encontrou material nazista, suástica, ameaça - estava implícita a ameaça ao Senador Paulo Paim -, num movimento claro, claro, claríssimo, num movimento preconceituoso, mas de um preconceito perigoso! Trata-se de preconceito com incitamento ao crime, à violência, como no caso ...

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Pela ordem, Senadora.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Já vou lhe ceder, Senador Magno Malta.

            Como no caso do Twitter, do “Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado.”

            No caso do vídeo, onde aparece a suástica, que é o símbolo nazista, no material pego pela Polícia Civil em Porto Alegre, estava implícita a ameaça física ao Senador Paulo Paim, pela sua luta, pela valorização e o respeito contra toda forma de preconceito, contra os negros. E era bem isso. Lá, no vídeo, aparecia jovens negros cometendo atos, também cometidos pelos brancos, na sua grande maioria também os brancos aparecem e cometem atos, infelizmente, porque não é uma questão de cor de pele se cometer determinados atos de vandalismo, e, no final aparece a pergunta: “Somos nós ou os nossos descendentes responsáveis por isso? Como se só jovem negro cometesse algum tipo de crime no nosso País! A incitação era claríssima no material que a Polícia Civil pegou em Porto Alegre.

            Ouço, de imediato, o Senador Magno Malta, porque quero, depois, citar outros casos, inclusive um caso absurdo acontecido, infelizmente, no meu Estado.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Senadora Ideli, V. Exª traz para esta Casa e esta tribuna um assunto importante, preocupante, um debate necessário para uma sociedade de bem. Estamos vivendo um tempo que já não mais comporta isso. Achávamos que isso estava meio enterrado. Não tínhamos a certeza de que estava enterrado por completo mas, a verdade é que está vivo, e bem vivo! Existem núcleos, às escondidas, no escuro, preparando-se para atacar a integridade física, moral das pessoas por sua cor, por sua pele, por sua condição social. Falo, aqui, na condição de nordestino, pois sou vítima o tempo inteiro das elites do meu Estado; falo na condição de evangélico discriminado; de negro, filho de faxineira nordestina. V. Exª nos traz um debate que nos preocupa. Eu vi esse e-mail que V. Exª leu, e digo que há muitos não agrada ver os pobres, agora chamados de “pobres emergentes” - fica até bonito -, são miseráveis, que saíram da condição subumana para serem integrados nessa nova condição de “pobres emergentes”. Por conta do ProUni, por conta dos Cefets, por conta das novas universidades, daqui a pouco os filhos desses serão classe média emergente; daqui a pouco não teremos mais miséria no País, porque ela será erradicada no Governo Dilma. Seremos o primeiro País do mundo a fazer isso, enquanto que os Estados Unidos ainda vivem a sua mazela. Quando eu quebrei o sigilo do Orkut, encontrei, nas páginas de pedofilia, um grupo de pessoas, uma caixa fechada, chamada “Morte ao Lula”. Eram jovens que falavam de armas de grosso calibre, que sabiam a distância do Palácio do Planalto para a casa do Presidente, que sabiam que tipo de arma o alcançaria. Era uma questão de segurança nacional. Entreguei o material ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, para que as providências - e estou falando isso hoje neste Plenário - fossem tomadas, porque era uma questão de segurança nacional a vida do Presidente Lula.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Isso está em um site de relacionamento. Essa demanda que envolve o Senador Paulo Paim - quero convocar todos para amanhã, já que teremos uma sessão aqui contra a discriminação, contra o racismo, para tomarmos uma posição, para que o País veja que as pessoas de bem, as pessoas que respeitam direitos se unam definitivamente, porque esse monstro está bem vivo. Em 2007, essa rede nazista foi descoberta. Desde 2007 - aqui chamo a atenção como Presidente de uma CPI e amanhã, faço uma convocação ao Google, mais uma vez vamos para uma batalha, porque ele assinou um termo de ajuste de conduta - o site desses nazistas está no ar, portanto, há três anos. Há três anos foi denunciado, e o Google não o tirou do ar. É tanto que, nesse momento, eles estão em rede se articulando para que, amanhã, divulguem em todas as redes, desde o Twitter, Orkut, Facebook, tudo, trabalhem no sentido de disseminar mensagens contra negros, contra nordestinos, contra pobres, contra tudo o que eles acham que estão agindo certo para limpar o Planeta. Evoco também, para amanhã, o Ministério Público Federal, que recebeu a denúncia em 2007 - estou com o número do procedimento -, e nenhum procedimento foi aberto em 2007, e já envolvia a denúncia de morte ao Senador Paim. Por isso, V. Exª está de parabéns! Quero convocar os Senadores que estão aqui em Brasília, aqueles que moram em Brasília, para que amanhã todos estejamos aqui. Quero conclamar o Presidente desta Casa, o Presidente Sarney, para que faça um expediente à Polícia Federal, à Polícia do Senado e determine à Polícia do Senado que vá ao Rio Grande do Sul buscar as informações. Temos uma Polícia nesta Casa, e é dever desta Instituição guardar e zelar pela integridade física do nosso querido Senador Paim. Por isso, parabenizo V. Exª. Estou tomando todas essas medidas, inclusive oficiando o Senador Sarney - espero que ele o assine hoje ainda antes de sair desta Casa -, para que a Polícia do Senado tome providências, juntamente com a Polícia Federal, porque é a vida do Senador Paim que está em risco por conta da doença desses marginas morais que atentam contra a integridade de um negro, que é patrimônio deste País, na luta em favor dos deficientes brancos e negros, dos aposentados brancos, negros, amarelos, pobres e ricos deste País, que é o Senador Paim. De maneira que a parabenizo. V. Exª traz o debate no momento em que os simples, os pobres vão tomando corpo neste País por conta da inclusão social feita nestes oito anos do Governo do Presidente Lula.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Magno Malta. V. Exª pega bem o espírito do que queremos trazer em termos de debate para esta Casa.

            Quero parabenizar o Senador Paulo Paim pela iniciativa, inclusive pela solenidade da audiência pública amanhã.

            É véspera do dia 20 de novembro, Dia de Zumbi, dia de luta contra toda forma de discriminação e, de forma muito especial, contra os nossos afrodescendentes. Mais de seis milhões de pessoas, seres humanos, que foram arrancados do continente africano, contribuíram, na forma de escravidão, durante mais de três séculos, e ainda hoje sofrem todas as formas de discriminação de forma muito significativa.

            Mas, Senador Magno Malta, tivemos, ainda nestes últimos dias, outros episódios que demonstram esse preconceito, essa sanha violenta de atacar e atingir os pobres, os negros, as mulheres, pessoas que têm outra orientação sexual. É o caso noticiado por uma grande rede, em que um grupo de cinco adolescentes, de classe média alta, atacou quatro pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo.

            A polícia está investigando. Há fortes suspeitas de que o ataque, a agressão ocorrida, inclusive com lâmpadas fosforescentes - agrediram e feriram as pessoas -, possa ter ocorrido por homofobia, por violência contra as pessoas, motivadas por essa não concordância com a orientação sexual que as pessoas têm e têm todo o direito de assumir.

            Mas, além desses episódios do Twitter mandando matar nordestino, afogar nordestino, o núcleo nazista, com ameaça concreta contra o Senador Paulo Paim, descoberto no Rio Grande do Sul, a questão do ataque de jovens, de adolescentes de classe média contra pessoas com forte suspeita de ter sido uma agressão homofóbica.

            No meu Estado, ontem, e isso está repercutindo na Internet de forma violenta, em pleno jornal do almoço, na TV de maior audiência no nosso Estado, no horário em que as famílias, as crianças, todo mundo está lá com possibilidade de assistir, ouvimos o seguinte comentário - vou ler apenas dois trechos do jornalista Luiz Carlos Prates, que falava dos problemas de trânsito, dos congestionamentos -:

É isso...As pessoas saem absolutamente desatinadas, por uma pressa que não se justifica por nenhuma razão. Eu andei ontem na BR-101. Nunca a tinha visto com tanto movimento, nem em dias de semana. Ontem era a metade de um feriadão: quem tinha que ter saído, já tinha saído e, ainda, era muito cedo para voltar pra voltar para casa. Mas, o que é isso?

Antes de mais nada, é a popularização do automóvel. Hoje, qualquer miserável tem um carro! O sujeito jamais leu um livro, mora apertado numa gaiola - que hoje chamam de apartamento -, não tem nenhuma qualidade de vida, mas tem um carro na garagem.

            Olha a fala, Senador Augusto Botelho: “Hoje qualquer miserável tem um carro”. Por quê? Por quê? Só pode ter carro a classe alta, a elite? Qual é o crime de uma pessoa... Posso até fazer uma discussão, acho que temos que fazê-la,...

            (Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...sobre dar mais condições para o transporte coletivo, para as pessoas não precisarem usar tanto o transporte individual. Mas dizer que uma pessoa, pela sua classe social, pela sua renda, não tem direito a ter um carro. Só o rico, Senador Valter Pereira, que tem direito? Só quem tem dinheiro?

            Mas teve coisa pior. Ele falou mais umas outras coisas e terminou assim:

Se um desgraçado destes [e esta é a palavra] é atropelado e feito sanduíche na pista, o que é que vão dizer? “Este trânsito insano...” Insano é o cara que para o carro, atravessa a BR, para ver o que aconteceu com a outra pessoa! [porque ele estava falando da história de parar para ver o acidente]. Então é isso: estultícia, falta de respeito, frustração, casais que não se toleram, popularização do automóvel!

Resultado deste Governo espúrio, que popularizou pelo crédito fácil o carro para quem nunca tinha lido um livro!

            Então é isso. É preconceito puro! É preconceito escancarado!

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Se ele fosse chamado a se explicar, V. Exª sofreria um processo da organização dele por estar querendo cercear a liberdade de imprensa, que é direito dele. Quer dizer, o cara fala isso, não responde por nada, ofende, agride, e quando é chamado às falas, você está amordaçando, tirando... É o fim do mundo. Então, é o seguinte: necessário se faz... Eu não sei qual é a associação ou sindicato, se é sindicato ou a associação. Penso que a televisão em que ele está é uma concessão pública, eles só são donos do equipamento. Então, a Comissão de Ciência e Tecnologia desta Casa poderia convocar os donos, porque a concessão é pública. Televisão é uma concessão pública, não é para que o cidadão, que é dono daquilo, seja obrigado a ouvir isso e seja destratado na sua honra. Ele não pode ter as coisas, ele não pode conseguir, ele não pode crescer, porque alguém que usa um serviço que pertence ao cidadão se utiliza do microfone para falar uma barbaridade dessas. E vai ficar por isso mesmo? Eu não pertenço a essa comissão, mas, se pertencesse, eu entraria convocando... Essa televisão reproduz o quê? SBT, Record, Globo? O que é?

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Globo.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Então convoquem os donos. Convoquem os donos junto com ele, porque é concessão pública. Façam uma denúncia na Anatel, no Ministério das Comunicações. É preciso fazer! É preciso fazer! Na verdade, uma coisa ele não está mentindo: a prestação do carro mil, hoje, novinho, é R$ 250,00. Hoje têm carro as pessoas que nem bicicleta podiam ter, neste novo Brasil, que caminha para dias diferentes. Infelizmente, desse tipo nós vamos ter que ouvir muito ainda. Mas, se botar freio... Eu sugiro a V. Exª que proponha ao Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia desta Casa, juntamente com a CCJ e a Comissão de Direitos Humanos, porque eles têm equipamentos, a concessão é pública, que faça uma denúncia à Anatel, ao Ministério das Comunicações; que tragam aqui os donos e esse jornalista macho, que ataca a honra das pessoas mais simples deste País, sem o menor escrúpulo.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Magno Malta. Como amanhã eu não sei se vou poder estar na audiência, eu quero já inclusive, Senador Paulo Paim, deixar a transcrição da fala desse radialista, desse jornalista, para que possa fazer parte da sessão amanhã. De repente, a própria sessão amanhã pode tomar alguma deliberação, algum encaminhamento, na linha que o Senador Magno Malta está sugerindo, porque a sensação que passa é uma só: mexer na estrutura da “casa grande e senzala” é algo que não se admite no Brasil - casa grande e senzala. Tem uma minoria que tem direito a tudo, acessa tudo, e a grande maioria só tem uma tarefa e uma obrigação: servir, servir e servir, e fazer com que a minoria se dê bem. Porque quando diz: “resultado deste Governo espúrio, que popularizou pelo crédito fácil o carro”...

            Gente, eu quero dizer o seguinte: o mesmo debate que nós fizemos na questão do Enem. Por que o Enem está sendo atacado? Tem problema? Teve erro? Teve falha? Mas a crítica ao Enem não é por causa de erro e de falha, é porque o Enem faz com que algo em torno de 4 milhões de jovens brasileiros possam entrar na disputa da vaga da universidade federal nas mesmas condições do “filhinho de papai”. Antes - no meu Estado, inclusive, aconteceu várias vezes - as famílias de bem fretavam até voo charter para permitir que seus filhos pudessem fazer vários vestibulares em universidades federais, vários. Num dia uma, no outro dia um voo charter para outra e assim vai. Agora, o Enem abriu. Hoje não é só quem tem condição que pode ficar circulando de um canto a outro do País para fazer vestibular em várias universidades, porque o Enem permite ao aluno que se inscreve estar disputando...

(Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SANVATTI (Bloco/PT - SC) - ... as vagas do ProUni em várias universidades particulares de classe alta, como também nas nossas universidades federais.

            Eu queria ouvir o Senador Paulo Paim, com muito prazer.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senadora Ideli, eu quero cumprimentar V. Exª. V. Exª me dizia aqui que gostaria muito de fazer esse pronunciamento amanhã. Para mim, amanhã seria o dia adequado, inclusive, dessa sua fala. Porque, quando a gente fala da questão de 20 de novembro, que é no sábado - nós antecipamos, naturalmente, para esta sexta, porque sábado não teremos sessão -, muitos pensam que a gente só fala do preconceito contra o negro. Não é isso. V. Exª está colocando muito bem. Aqueles que são preconceituosos, aqueles que são racistas, os intolerantes...

            A SRª IDELI SANVATTI (Bloco/PT - SC) - Machistas.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - ...machistas, são contra os pobres - e V. Exª coloca muito bem aí o preconceito contra os pobres -, são contra quem tem a sua livre orientação sexual, são contra os evangélicos, são contra os judeus, são contra os palestinos, são contra os negros, são contra os brancos pobres. É esse o universo. Eu quero muito e faço questão de que o seu pronunciamento seja incorporado à sessão de amanhã. Que o debate amanhã seja um debate, eu diria, universal, contra todo tipo de preconceito. E quanto à ameaça a este ou aquele, ou a mim ou ao outro, ou à senhora ou ao Magno, a questão não é pessoal, a questão é do universo de pessoas que eles querem atingir. Eu estava no gabinete do Senador Magno Malta, e estava lá o Dr. Tiago. Ele me apresentou uma série de denúncias de que eles vão fazer atos amanhã contra todo esse universo de pessoas...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - ...que eles entendem que não estão à altura daqueles que querem a hegemonia da sociedade. Por isso, meus cumprimentos, Senadora Ideli. Vou pedir que o seu pronunciamento seja incorporado à sessão de amanhã.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Paulo Paim.

            Quero apenas concluir agradecendo, porque realmente já me foram dadas várias prorrogações. Mas considero esse assunto muito grave, muito delicado, porque ele vem se consolidando. Não é uma coisa isolada. Eu citei aqui que, em menos de quinze dias, em menos de quinze dias, Senador Augusto Botelho, houve a questão do Twitter contra os nordestinos, o núcleo nazifascista descoberto em Porto Alegre, a questão dos adolescentes de classe média fazendo agressões bárbaras - provavelmente, pois ainda não está confirmado - pela questão homofóbica...

(Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...e um jornalista utilizando uma concessão pública para fazer a propagação do preconceito contra as pessoas de menor poder aquisitivo, os “miseráveis”, como ele denominou, que não têm direito a ter nada.

            Então, temos que estar muito atentos, temos realmente que agir, porque, em nosso País, isso está nos subterrâneos, isso está escondidinho. Se não reagirmos, vem para cima, aflora, sai, sai da retaguarda, do obscurantismo, vem a público, como já acontece em tantos países.

            Então, eu tenho o entendimento de que, no Brasil - e já tive oportunidade de dizer isto...

(Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...nós temos avançado muito na questão democrática. Nós derrubamos uma ditadura, conquistamos o direito novamente à organização sindical, à organização partidária, temos o direito de eleger desde o vereador até o presidente da República - porque houve época em que nós não pudemos fazê-lo -, temos liberdade de imprensa. Todas as pessoas podem manifestar suas ideias, desde que a manifestação não seja incitação ao crime, como em vários casos aqui está configurado. Mas o País só pode ser considerado absolutamente democrático - eu tenho esse convencimento - quando, além das formalidades da organização, da expressão, nós tivermos também resolvido o problema da miséria.

            País que tem gente passando fome, país...

(Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...que tem gente que não pode acessar os bens de consumo, os benefícios, as políticas públicas, país que tem ainda, como nós temos no Brasil, pessoas que estão absolutamente excluídas da vida social, da vida econômica, não pode se chamar país democrático. Não temos esse direito ainda, nós temos muito a trabalhar. E não podemos permitir que os preconceituosos, os que acham que o mundo foi feito para meia dúzia, e não para todos, que esses dominem, ajam e não sejam punidos.

            Então, eu acho que é esse debate que nós temos que fazer e quero parabenizar mais uma vez a iniciativa do Senador Paulo Paim. Desejo sucesso à audiência amanhã, e que isso seja, Senador Paulo Paim, o início de um movimento forte aqui pelo Senado, pelo Congresso Nacional, contra esse tipo de ação, de procedimento...

(Interrupção do som.)

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - ...e veiculação, seja pelo Twitter, seja pela TV, de atos que eu considero preconceituosos, de incitamento ao crime, ao crime mais perverso, que é o crime da discriminação e de impedir as pessoas de serem felizes.

            Então, era isso, Sr. Presidente. Desculpe por ter me alongado, mas realmente o assunto merecia um debate como eu acho que vai acontecer amanhã, de forma mais profunda, na audiência.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2010 - Página 51085