Discurso durante a 185ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Referência à matéria publicada no jornal Valor Econômico, da última terça-feira, dia 16, segundo a qual o Brasil estaria vivendo um processo de "desindustrialização" que pode ameaçar as contas externas, pedindo apoio governamental aos exportadores brasileiros.

Autor
Augusto Botelho (S/PARTIDO - Sem Partido/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Referência à matéria publicada no jornal Valor Econômico, da última terça-feira, dia 16, segundo a qual o Brasil estaria vivendo um processo de "desindustrialização" que pode ameaçar as contas externas, pedindo apoio governamental aos exportadores brasileiros.
Publicação
Publicação no DSF de 19/11/2010 - Página 51103
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, VALOR ECONOMICO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ANALISE, DOCUMENTO, MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO DA INDUSTRIA E DO COMERCIO EXTERIOR (MDIC), AVALIAÇÃO, BAIXA, BALANÇA COMERCIAL, RISCOS, DEPENDENCIA, BRASIL, ENTRADA, CAPITAL ESPECULATIVO, SUGESTÃO, PROVIDENCIA, GOVERNO FEDERAL, AUMENTO, EXPORTAÇÃO, INCENTIVO, EXPORTADOR, DESONERAÇÃO TRIBUTARIA, SIMPLIFICAÇÃO, BUROCRACIA, DESVALORIZAÇÃO, REAL, ESPECIFICAÇÃO, APREENSÃO, PROCESSO, REDUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, PRODUTO INDUSTRIALIZADO, PERDA, COMPETIÇÃO INDUSTRIAL, CONFIANÇA, ORADOR, ATENÇÃO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. AUGUSTO BOTELHO (S/Partido - RR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Jayme Campos, Srªs e Srs. Senadores, o Valor Econômico desta terça-feira trouxe uma importante matéria mostrando que o Brasil vive atualmente um preocupante processo de “desindustrialização” que pode ameaçar as contas externas do País.

            O alerta foi feito por um documento reservado do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior obtido pela reportagem do jornal.

            Sr. Presidente, o documento, que segundo o Valor já circula entre os integrantes da atual equipe econômica, diz ser um “fator de preocupação e sinal de alerta” a influência da balança comercial no aumento do saldo negativo nas contas externas, o que torna o Brasil cada vez mais dependente de investimentos especulativos.

            O relatório sugere que o Governo deve atuar para elevar o saldo comercial, em torno de 9% das exportações.

            Esse é um alerta importante, Sr. Presidente Jayme Campos, pois o Governo deveria fixar um “nível mínimo” considerado aceitável para a relação entre o saldo comercial e exportações, e apoiar os exportadores. Essa relação superávit/exportações ficou em 8,8% para um saldo de US$7,9 bilhões.

             Para eliminar a necessidade de cobrir as contas externas com investimentos em carteira do exterior, seria necessário que o superávit no período tivesse sido de US$19,5 bilhões, desempenho considerado não muito bom pelo próprio Ministério.

            O documento propõe que, após fixado o “nível mínimo aceitável” para o saldo comercial, o governo adotaria medidas para elevar as exportações de forma a reduzir pela metade a necessidade de financiamento para as contas externas.

            Srªs e Srs. Senadores, a matéria do Valor Econômico destaca ainda que a busca de um saldo comercial mais alto deve ser feita com iniciativas de estímulo às exportações brasileiras, com medidas estruturantes como redução de tributos sobre exportadores, simplificação de procedimentos burocráticos e políticas de incentivo à desvalorização do real, o que efetivamente pode trazer ganhos para o Brasil.

            Baseados no desempenho das exportações no primeiro semestre, os técnicos do Governo previam que as exportações teriam de ter crescido US$5 bilhões acima do resultado obtido entre janeiro e junho, ou seja, 35% além do desempenho do mesmo período de 2009.

             No segundo semestre, o surpreendente desempenho das exportações elevou a previsão de exportações de US$180 bilhões para US$195 bilhões, o que reduziria o esforço para obter o superávit maior - o número exato teria de ser recalculado pela equipe econômica.

            Para o Ministério do Desenvolvimento, a “reprimarização” ameaça o País desde 2007 e ficou evidente no primeiro semestre, quando a participação dos produtos manufaturados (máquinas, veículos, eletrodomésticos) no total das exportações foi de 40,5%, abaixo dos 43,4% da participação de produtos básicos - o que fez o Brasil retroceder ao patamar de 2008, segundo o documento.

            Enquanto o Brasil exporta cada vez mais commodities (ferro, soja, carne), o comércio de produtos manufaturados segue tendência inversa, e passou, de um superávit em favor do País de US$4 bilhões, em 1992, para um déficit de US$9,8 bilhões em 2007 - valor que subiu para US$30,5 bilhões só no primeiro semestre de 2010.

            Setores considerados de “baixa-média” tecnologia como os de têxteis, confecções e móveis, que mantiveram superávits comerciais até o começo da década, já têm déficits ou, como no caso de móveis e indústrias diversas, deverão ter saldo negativo até o fim do ano.

            Outro exemplo do problema que enfrentamos é o segmento de veículos automotores e equipamentos de transporte, considerado de média-alta e alta intensidade tecnológica e que passou de um superávit anual de, em média, US$9,1 bilhões, entre 2004 e 2007, a um déficit de US$3,1 bilhões em 2009, que deve se elevar ainda neste ano.

            Nos últimos três anos, as exportações aumentaram a um ritmo inferior ao do crescimento do País e, na falta de medidas compensatórias, o câmbio influencia diretamente a perda de competitividade das vendas da indústria ao exterior, como mostra o estudo, Sr. Presidente Jayme Campos.

            Já as importações aumentam acima do ritmo de crescimento da economia, ameaçando o saldo comercial, e os investimentos diretos já não são suficientes para cobrir as necessidades de financiamento do déficit nas contas externas.

            Esse é um cenário preocupante, Sr. Presidente, pois mostra que o Brasil pode cair num ciclo de dependência de capitais de curto prazo, capitais especulativos, sujeitos a volatilidade e nervosismos dos agentes financeiros internacionais.

            Confio, Srªs e Srs. Senadores, que a equipe econômica do Presidente Lula e da Presidente eleita Dilma Rousseff está atenta a este alerta e buscará, com o apoio do Congresso Nacional, o melhor caminho para a economia brasileira.

            Era isso que eu tinha a dizer, Sr. Presidente Jayme Campos.

            Muito obrigado pela oportunidade.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/11/2010 - Página 51103