Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário da Associação Psicanalítica Internacional.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Comemoração do centenário da Associação Psicanalítica Internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2010 - Página 52881
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SENADO, HOMENAGEM, CENTENARIO, ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL, PSICANALISE, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, ACOMPANHAMENTO, EXERCICIO PROFISSIONAL, APERFEIÇOAMENTO, FORMAÇÃO, DIFUSÃO, CONHECIMENTO.
  • ELOGIO, COMPETENCIA, MEDICO, CIENTISTA, FUNDADOR, PSICANALISE, RELEVANCIA, TEORIA, DIVERSIDADE, AREA, CONHECIMENTO, LEGITIMAÇÃO, PSICOLOGIA, CIENCIAS, INFLUENCIA, RELIGIÃO, FILOSOFIA, ARTES.
  • FRUSTRAÇÃO, PRECARIEDADE, SAUDE PUBLICA, BRASIL, FALTA, ATENÇÃO, SAUDE MENTAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, o Senador Papaléo queria ocupar minha vaga. Se tivesse me pedido, eu teria negociado claramente, sem nenhum problema.

            Eu quero dizer, Senador Mão Santa, que preside tão bem esta sessão, que é um prazer muito grande estar aqui. Cumprimento, com especial gentileza, a Senadora Marisa Serrano, que é uma educadora, além de ser uma brilhante Senadora, primeira signatária do requerimento, apoiado por inúmeros Senadores, para a homenagem que hoje se presta aqui. Quero também cumprimentar o Presidente da Federação Brasileira de Psicanálise, Dr. Leonardo, e o ex-Presidente do Instituto da Associação Psicanalítica Internacional, Dr. Cláudio, em nome de quem cumprimento todos os presentes e também os Presidentes das Sociedades de Psicanálise dos diversos Estados e do Brasil.

            Mesmo que não fosse médico, eu, pelo fato de ser pai, de ser avô e de estar casado há 42 anos com a mesma mulher, já teria bastante sensibilidade para entender a importância do que é exatamente a emoção e a mente. Por isso quero dizer que é uma honra poder fazer o registro da minha homenagem aqui.

            O Senado Federal se junta às comemorações que, neste ano, se espalham por todo o mundo, em homenagem ao centenário da Associação Psicanalista Internacional. E é com muita satisfação que me associo a esta homenagem a uma instituição que representa um dos mais importantes e significativos movimentos intelectuais do século XX, a psicanálise.

            Sem dúvida, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, plateia de pessoas que, tenho certeza, são da área e que nos assistem aqui do plenário - dirijo-me também às telespectadoras e aos telespectadores da TV Senado e aos ouvintes da Rádio Senado -, o movimento psicanalítico foi um dos mais representativos e influentes do século passado. Creio que podemos afirmar com segurança que nenhum outro movimento teve a mesma fecundidade e a mesma capacidade demonstrada pela psicanálise de influenciar múltiplas áreas. Da ciência à religião, passando pela filosofia e pelas artes, não houve domínio intocado pelas ideias originalmente propostas por Freud. Sua profunda e inovadora visão da natureza humana deixou marcas indeléveis e faz hoje parte integrante da ideia que temos de nós mesmos.

            Do ponto de vista científico, a psicanálise contribuiu decisivamente para a consolidação da psicologia como ciência e para o aperfeiçoamento das técnicas psicológicas. Não há dúvida de que o desenvolvimento da terapia psicanalítica, alicerçado no vasto conhecimento médico, psiquiátrico e psicopatológico de Freud, levou a Psicologia a um novo patamar.

            Mas Freud não foi apenas um cientista, foi também um arguto intérprete da natureza humana em todas as suas dimensões. Suas análises da religião, por exemplo - como em O Futuro de uma Ilusão e Moisés e o Monoteísmo -, para além das polêmicas que suscitaram e ainda suscitam, são, sem dúvida, marcos incontornáveis do pensamento sobre a condição humana e a experiência religiosa. Sua análise dos fundamentos da vida civilizada, em O Mal-Estar na Civilização e também em Totem e Tabu, põe-no como referência importante no contexto de algumas discussões sociológicas e antropológicas fundamentais. Da mesma forma, seus escritos sobre aspectos da arte e da literatura são lidos com interesse não apenas pelos psicólogos, mas também por interessados em história e teoria da arte.

            No campo artístico, aliás, a influência da psicanálise não se limitou ao domínio da teoria. Como sabemos, a descoberta freudiana do inconsciente teve um impacto imenso em diversos movimentos artísticos fundamentais no século XX, tanto do ponto de vista da compreensão, por parte dos artistas, do funcionamento da criação e da sua própria atuação como criadores, quanto do ponto de vista do conteúdo das obras de arte. Não seríamos capazes de entender movimentos artísticos e culturais como o dadaísmo e o surrealismo, para citar dois dos mais óbvios e conhecidos, sem a referência de fundo às teorias psicanalíticas sobre o inconsciente, sobre os sonhos e, em geral, sobre a economia libidinal que dirige os comportamentos humanos.

            Sobretudo, Sr. Presidente, o sucesso e o impacto mais surpreendente das teorias psicanalíticas se medem pela penetração que tiveram no imaginário comum e nas representações correntes sobre a psique humana. Hoje, é comum falar-se em inconsciente (ou em subconsciente, como se costuma falar mais popularmente), é comum evocar interpretações freudianas dos sonhos e dos atos falhos. Aliás, como já foi dito aqui pela Senadora Marisa, a expressão “Freud explica” é um bordão que todos já usamos alguma vez. É comum ouvir referências genéricas a termos e expressões difundidos pela teoria psicanalítica: de libido a superego, de princípio do prazer a complexo de Édipo, todos conceitos que extrapolaram a teoria e foram incorporados pela maneira leiga como nos compreendemos e representamos o funcionamento das nossas mentes.

            Por tudo isso, Sr. Presidente, é justíssima a homenagem que hoje prestamos ao centenário da Associação Psicanalítica Internacional, fundada pelo próprio Freud em março de 1910. O sucesso dessa associação espelha o sucesso da própria teoria e da prática psicanalíticas. Hoje espalhada por todo o mundo, é a grande responsável pela preservação da herança freudiana, regulamentando e mantendo a credibilidade na profissão, incentivando a pesquisa e o permanente aperfeiçoamento da prática e da teoria, levando adiante com seriedade e competência essa herança que representa. Sua história centenária acompanha a história desse século, século conturbado, que foi o século XX, cuja plena compreensão, de resto, só se torna possível com uma referência à própria psicanálise.

            Sr. Presidente, quero finalizar, congratulando-me com todos os psicanalistas brasileiros pela passagem do centenário da associação e parabenizando-os pelo excelente trabalho que realizam no País há várias décadas, desde que a profissão começou a fixar raízes em terras brasileiras.

            Mas gostaria justamente de aqui dizer que muita gente não compreende que, como diz a Organização Mundial de Saúde, saúde humana é uma coisa mais complexa do que só a ausência de alguma enfermidade física. A saúde é realmente um estado de completo bem-estar físico, mental e social. E é lamentável - e, aqui, como membro da área de saúde - ver que a saúde no Brasil está tão ruim. Se está tão ruim até no atendimento mais elementar dos problemas físicos, imaginem nos problemas mais complexos, nos problemas mentais!

            Lamento muito que uma ideia tão bonita, como é a do Sistema Único de Saúde, não esteja, na prática, dando aquilo que nós - e digo nós até porque fui constituinte - discutimos, pensamos e que tantos países copiaram. Mas, entre a teoria e a prática, ficou uma distância enorme.

            Então, se cuidados elementares com o ser humano, mais simples, menos complexos, não são prestados adequadamente pelo serviço de saúde deste País, imaginem esses cuidados que, às vezes, na cabeça do cidadão ou da cidadã comum não existem ou eles transferem para o campo da religião ou de outras áreas, mas não se situam no campo de que aquilo também pertence à condição humana, à natureza humana!

            Então, lamento que, inclusive, isso não seja compreendido até por profissionais da área de saúde e, com isso, não haja, portanto, a integração necessária para que possamos de fato cuidar da saúde no sentido amplo da palavra, como um estado de completo bem-estar físico, social e mental.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2010 - Página 52881