Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário da Associação Psicanalítica Internacional.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário da Associação Psicanalítica Internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2010 - Página 52883
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, PRESENÇA, SENADO, HOMENAGEM, CENTENARIO, ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL, PSICANALISE, REGISTRO, HISTORIA, IMPORTANCIA, ESTUDO, TEORIA, DESCOBERTA, ORIGEM, DIVERSIDADE, PROBLEMA, SAUDE MENTAL, QUEBRA, PARADIGMA, OCORRENCIA, POLEMICA, RELEVANCIA, ATUAÇÃO, ENTIDADE, DIFUSÃO, CONHECIMENTO, COMENTARIO, CRESCIMENTO, DEMANDA, BUSCA, APOIO, PSICANALISTA.
  • DEFESA, AMPLIAÇÃO, TRATAMENTO, SAUDE MENTAL, SISTEMA UNICO DE SAUDE (SUS), PROMOÇÃO, DEBATE, CONGRESSO NACIONAL, INCLUSÃO, PSICANALISE, DIREITOS SOCIAIS, CIDADÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador Mão Santa; Exmª Srª Senadora Marisa Serrano, primeira signatária da presente sessão; Srªs e Srs. Senadores; Sr. Presidente da Federação Brasileira de Psicanálise, Dr. Leonardo Francischelli; Sr. ex-Presidente da Associação Psicanalítica Internacional de 2005 a 2009, Dr. Cláudio Eizirik; Presidente da Sociedade Psicanalítica de Recife, Srª Ivanise Ribeiro Eulálio Cabral; Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, Srª Inge Bornholdt; Presidente da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Drª Silvia Helena Dutra de Carvalho; Presidente da Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul, Srª Gleda Brandão Coelho Martins Araújo; senhoras e senhores membros das associações psicanalíticas, saúdo todos os presentes aqui, no nosso plenário, nas tribunas e todos aqueles que nos assistem neste dia importante para a psicanálise brasileira, quando estamos vivendo esta homenagem muito bem lembrada pela Senadora Marisa Serrano.

            Senhoras e senhores presentes, Srªs e Srs. Senadores, a descoberta do inconsciente por Freud, na virada do século XIX para o século XX, representou, para o entendimento do homem sobre sua própria natureza, uma revolução equivalente à que resultou para o conhecimento do planeta a navegação oceânica e o achamento de novas terras na segunda metade do século XV.

            Com efeito, do mesmo modo como a notícia da descoberta do continente americano descartou definitivamente a concepção da terra como um plano, a novidade trazida pela ideia do inconsciente abalou, desde o alicerce, o velho conceito da mente em vigília como uma unidade racional e lúcida. Revelava-se um fato desestruturante da noção prevalente do ser humano: nossa mente é composta também de impressões emocionais, livres do controle da razão e recalcadas - mas não desativadas - por sob a superfície da consciência.

            Pior, muito pior: esse mundo inconsciente de que usualmente não nos damos conta é muito maior que o consciente, na proporção aproximada da parte submersa de um iceberg para a parte emersa.

            Foi rápida a difusão da novidade, tão rápida, que, menos de 15 anos após a publicação por Freud dos primeiros artigos apresentando suas ideias no rumo da formulação da teoria psicanalítica e apenas 10 anos após o aparecimento de A Interpretação dos Sonhos, sua obra seminal, era fundada, no dia 30 de março, na cidade alemã de Nurembergue, a Associação Internacional de Psicanálise (IPA, na sua sigla em inglês).

            Entre seus conceitos centrais figurava a questão da repressão da sexualidade como fator da formação das neuroses, a influência do inconsciente sobre fenômenos como associações livres, fantasias, sonhos e a possibilidade da investigação dos traumas pela fala do paciente. A prática da psicanálise freudiana baseia-se na confrontação do paciente com suas defesas, seus desejos e sua culpa, na busca da emersão para a consciência dos bloqueios inconscientes, possibilitando-se a cura.

            A Associação Internacional de Psicanálise, desde seu primeiro congresso de 1908 - anterior, portanto, à sua fundação -, já realizou mais de 45 congressos. O antepenúltimo, em 2005, no Rio de Janeiro, teve por tema “O trauma: novos avanços em Psicanálise”. O próximo a se realizar será no ano que vem, na Cidade do México e tratará do tema “Explorando conceitos centrais: sexualidade, sonhos e o Inconsciente”.

            Nesses 100 anos, a Associação Internacional de Psicanálise teve um Presidente brasileiro - que nos honra aqui com sua presença -, Dr. Cláudio Eizirik, que a dirigiu entre os anos de 2005 e 2009. No País, a propósito, há diversas associações estaduais e locais associadas à IPA e reconhecidas por esta, mas não há uma instituição de caráter nacional.

            A teoria psicanalítica, apesar de ter lançado luz sobre a parte obscura da mente humana, sempre enfrentou resistências por parte das instituições conservadoras da sociedade, como igrejas, Estados totalitários, e até da ideologia neoliberal, que pretende reduzir o homem a um agente econômico sem vida interior. Mas a própria crise das sociedades ocidentais, diante da economia pós-industrial - que prolongou a vida, sem lhe prover sentido -, atesta a necessidade da Psicanálise. A solidão e o vazio existencial do homem, agravados pelo colapso financeiro dos anos recentes e pela falta de noção de rumo dos governantes, clamam por um retorno do homem ao esforço pelo autoconhecimento, que a análise pode prover.

            Esse mal-estar explica também a onda de publicações de autoajuda - quase todas rasteiríssimas, são a face vigarista do reconhecimento de nossa fragilidade emocional - e a voga de todo tipo de esoterismo que pretende trazer de um passado vago e anticientífico as respostas para as inquietações do homem contemporâneo.

            Não há facilitário no trabalho psicanalítico. Não se pode comprar tratamento autêntico para os males da alma na banca de jornais ou na estante de espiritualidade e de autoajuda das livrarias.

            Neste ano em que a Associação Internacional de Psicanálise completou 100 anos, a psicanálise é mais necessária e urgente que nunca.

            O conhecimento de si e a consciência da origem das neuroses e dos traumas de cada um constituem hoje parte integrante da noção de saúde mental. Deveria, portanto, ser pensada a sua popularização pelo Sistema Único de Saúde, nas unidades públicas de saúde ou por convênio.

            Penso mesmo ser este centenário, senhoras e senhores, uma oportunidade para discutirmos, aqui na presença das Srªs e dos Srs. Senadores, no Congresso Nacional, a inclusão da psicanálise no capítulo referente aos direitos sociais do cidadão brasileiro.

            Era o que eu tinha a dizer Sr. Presidente.

            Muito obrigado. (Palmas.)


Modelo1 5/9/2410:10



Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2010 - Página 52883