Pronunciamento de Mão Santa em 25/11/2010
Discurso durante a 191ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comentários sobre a violência que está assustando os moradores da cidade do Rio de Janeiro, lembrando que há tempos vem advertindo as autoridades para o crescimento dessa violência, destacando a importância de serem valorizadas a família e a escola, importantes instituições para a pacificação da sociedade. Apelo em favor da aprovação da PEC 300/2008 que reajusta os soldos de policiais e bombeiros militares.
- Autor
- Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.:
- Comentários sobre a violência que está assustando os moradores da cidade do Rio de Janeiro, lembrando que há tempos vem advertindo as autoridades para o crescimento dessa violência, destacando a importância de serem valorizadas a família e a escola, importantes instituições para a pacificação da sociedade. Apelo em favor da aprovação da PEC 300/2008 que reajusta os soldos de policiais e bombeiros militares.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/11/2010 - Página 53076
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
- Indexação
-
- APREENSÃO, VIOLENCIA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, ADVERTENCIA, ORADOR, AUTORIDADE, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, COMPARAÇÃO, SEGURANÇA PUBLICA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, CHILE, URUGUAI, RELEVANCIA, FAMILIA, EDUCAÇÃO, RELIGIÃO, PREVENÇÃO, PROBLEMA, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO.
- REPUDIO, CORRUPÇÃO, POLICIA, CRITICA, INFERIORIDADE, REMUNERAÇÃO, POLICIAL, DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, PISO SALARIAL, POLICIA MILITAR, BOMBEIRO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Gilvam Borges, que preside a sessão, serei breve.
Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado, o tema hoje é violência. O Rio de Janeiro, que é o símbolo do País, por ter sido a cidade que foi capital deste País por mais longo tempo...
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Peço permissão a V. Exª, antes que continue, até para consultá-lo, para maior conforto de V. Exª, quanto à questão do tempo.
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Serei muito breve.
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - V. Exª necessita de quantos minutos?
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Serei breve. Não chegarei a dez.
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - É relativo. Então, dez minutos ou vinte minutos?
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Dez minutos. Pode marcar.
A violência sempre existiu, mas as instituições souberam administrar. Cícero, em um Parlamento como este, em Roma, disse que pares cum paribus facilime congregantur, violência atrai violência, pancada atrai pancada.
Mas eu adverti há muito tempo dessa situação. Precisa-se estudar. Eu acredito em Deus, eu acredito no estudo, eu acredito no trabalho e no amor.
Norberto Bobbio, que é o maior estudioso dessa forma de governo em que nós vivemos, Gilvam Borges, a democracia, viveu também em regime de autoritarismo na Itália do Mussolini. Era professor de Direito. Então, foi justamente naquele período de transição, no final de vida de Mussolini, na Itália, no fascismo. Ele era professor de Direito e escreveu os melhores compêndios sobre a democracia.
Então, ele deixou ao mundo e à Itália, onde ele viveu, a Itália do Renascimento, a Itália dos Césares, a Itália do Parlamento de Cícero, que dizia: “O Senado e o povo de Roma”... Eu posso dizer: o Senado e o povo do Brasil, que eu represento.
Então, Norberto Bobbio - e lá eles têm essa sabedoria do Direito romano - tem o Senado e ele tem umas cinco vagas por mérito, por reconhecimento; não é por voto. Norberto Bobbio ocupava uma dessas. É uma coisa que nós podemos ver aqui, Gilvam, V. Exª, que vai continuar a legislar. E Norberto Bobbio foi um desses, reconhecido e premiado. Morreu há pouco mais de um ano. Ele é aceito como teórico, professor da melhor democracia, de entender a democracia. E justamente porque ele viveu a transição do fascismo de Mussolini para o nascer da democracia e foi professor de Direito. Ele disse: “O mínimo que tem que se exigir de um governo é segurança à vida, à liberdade e à propriedade.
É isso. E desde o começo de nosso mandato, eu advertia: o Rio de Janeiro, que todos nós amamos... Eu lá estudei, tenho essas vinculações, trabalhei no Hospital Servidor do Estado durante tempos e vivi... o Rio não tinha nada disso, era a cidade maravilhosa. O Rio, ô Gilvam Borges, tinha aquela figura do malandro, que era agradável, simpático, sambista, carnavalista, torcedor no Maracanã do Flamengo, era uma admiração quando terminava um jogo e o Flamengo ganhava... alegria.. Mas não existia isso. Era no fim dos anos 60, de 60 para 70.
Quero lhe dizer que essa transformação foi... aumentou e se intensificou agora. Antes não tinha... Eu vivi lá, convivi, andava a pé; nunca houve isso. Isso foi...
Eu advertia que isso é nosso. Aí é que se enganou a sociedade brasileira, se disse tanta mentira, mentira, mentira que o país... O Brasil está aí. Um quadro vale por dez mil palavras. É uma sociedade, é uma barbárie. Não tinha isso. Não tinha, não tinha. Isso é uma barbárie. Não existe... E eu não iria citar aqui, porque nós, Parlamentares, até que podemos viajar pelo primeiro mundo (Suíça, Suécia, Holanda, Inglaterra). Bem aí na Argentina não tem essa violência. Eu vou lá várias vezes e nas madrugadas eu ando de mão dada com Adalgisinha, às três horas da manhã, as livrarias abertas...
Gilvam Borges, eu me lembro que eu vinha num trem que vem lá de um delta que eles têm...
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - De mão dada com quem, Senador Mão Santa?
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Com minha mulher, Adalgisinha...
Mas - espera aí - eu vinha num trem lá pela uma hora da manhã, uma e meia, duas horas... Eles têm um delta lá no rio... Não é como o delta do rio Parnaíba em mar aberto. É em um rio, porque Mar Del Plata não é um mar, e sim um rio. Pensavam isso pela sua largura.
Mas eu vinha, mais ou menos, por volta de uma e meia da manhã - nunca me esqueço dessa cena -, quando vi dois velhinhos. Eu até me levantei para ajudá-los a subir. Isso por volta de uma e meia, duas horas! Ela estava cheia de jóias. Eles estavam namorando, um casal de velhos. Eu, com a Adalgisa. Fiquei imaginando: ele pegando o trem duas horas da manhã, a mulherzinha cheia de jóias, um casal de mais ou menos 90 anos, na hora de saltar... Eu os ajudei a descer. E pensei: isso lá no Brasil! Duas horas da manhã, um casal de velhinhos andando com jóias... E isso bem aí.
E no Uruguai, que é a sede do nosso Parlasul, em Montevidéo... Países...
O Chile me surpreendeu. Andando por lá, representando este Brasil. Na rua, eu vi. O popular - atentai bem! - diz: “Pode andar por volta da quatro ou cinco horas da manhã. A Polícia daqui não é corrupta!”. Eles dizem e fazem questão de dizer isso!
Eu passei, e o taxista me disse que era a casa do ex-Presidente, anterior à Bachelet. Era um professor muito amigo do Sarney. Eu olhei e vi que era um sobrado simples, olhei assim
Olhei assim, quase não vi, devia haver, mas não vi policial, tal a tranquilidade em que ele vivia na sua residência.
E o Brasil está aí nessa violência.
Então, é o seguinte: nós que somos da mesma geração, e o País se baseou nessa cultura que nós temos, européia: educação da família. A família está destroçada. A Pátria é a família amplificada, como disse Rui Barbosa. A família tem que se ajustar. O valor da família é tão importante que Deus, Gilvam, Deus, depois de inúmeras tentativas, resolveu mandar um filho; e ele botou esse filho numa família: a Sagrada Família. Então, uma das causas disso é a reflexão, a valorização da construção da família. Que sejamos, no Brasil, todas sagradas famílias, como Jesus, Maria e José. Esse é o nosso sentimento, a nossa vocação cristã; essa é a nossa cultura, da nossa história, dos nossos antepassados.
A família anda meio destroçada. Então, atentai bem, sejamos os exemplos construtores dessas famílias.
A escola. Outro dia nós vimos na televisão uma professora de Enfermagem que apanhou do aluno, toda mutilada e deformada. Essa escola não é a do nosso tempo. Professora, aquela que se chamava mestra, simbolizando e que se igualava a Cristo na bondade, no respeito, no carinho. A escola está destroçada também. Não é como no nosso tempo.
E as religiões - até que esta é uma bênção de Deus - multiplicaram-se no nosso País.
Eu quero dizer que Lutero, em 1.500 d.C, viu muitos erros na Igreja de Cristo, a católica, que pregou 96 pecados na igreja matriz. E surgiram outros.
Hoje eu acho que nós vivemos esse momento... Como diz a Bíblia, há tempo para nascer, morrer, plantar, colher, espalhar e juntar. Espalhou-se essa filosofia da religião cristã. E agora vamos todos nos juntar naquilo que nos une, que é Jesus, que é Deus. Foi uma bênção a gente ver isso. E surgiram outras igrejas cristãs. Mas nós temos que entender que Lutero teve a missão extraordinária de moralidade da Igreja de Cristo. Mas hoje vamos unificá-la no tempo.
Eu aqui mesmo...
O SR. PRESIDENTE (Gilvam Borges. PMDB - AP) - Senador Mão Santa, mais quantos minutos V. Exª deseja? Três minutos.
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Eu quero dizer, então, Gilvam Borges, que eu assisti a uma audiência pública sobre violência neste Senado; cada cabeça, uma sentença. Cada um dizia uma coisa: põe o Exército nas ruas; aumentam-se os vencimentos; institui-se a pena de morte. Cada um dava sua idéia. E chegou um jornalista que disse: “Olha, eu ando nessas favelas no Rio, todas”. Eu vi esse testemunho. Observo e digo: onde havia uma igreja, havia paz em torno.
Então, a religião, a igreja é importante, sim, se nós a fortalecermos, estimulando-as e motivando-as. Graças a Deus, elas estão aí frutificando; a gente sente. É um fator positivo. Mas aqui nós podemos e já devíamos ter feito.
Está aí este filme - eu não sei se o Senador Gilvam já assistiu -: Tropa de Elite 2. Ele retrata a sociedade de hoje. A corrupção da polícia, da política, enfim. Eu queria dizer que nós, eu sou um cirurgião, homem de ação... Nós podemos fazer já, já! Olha, os policiais não podem viver com esse vencimento. Isso é uma imoralidade, isso é uma indignidade, isso é uma sem-vergonhice! E está ruim para o Vice-Presidente da República Michel Temer, do PMDB, porque se comprometeu, aquela PEC-300.
Ô Gilvam Borges, vendo os salários que se pedem para o Parlamentar, que se pedem para o homem da Justiça, dos Supremos Tribunais de Justiça, percebemos que não é justo eles ganharem 100 vezes, 200 vezes mais do que um soldado. Deus não os fez com cem estômagos e o soldado só com um.
Então, o que nós podemos fazer... E neste minuto que nos falta - em apenas um minuto, Jesus fez o Pai Nosso, que nos salva a todos nós -, quero dizer para o Michel Temer: vamos votar essa PEC-300. Isso vai minimizar que realmente a polícia... Nós não podemos dizer como o chileno, que a polícia daqui não é corrupta. Nós temos sido fracos, nós enganamos policiais, porque, às vésperas das eleições, todos nos comprometemos. E acabaram as eleições.
E acabadas as eleições, os que ganharam, ganharam, e a Dilma não merece receber um País, Luiz Inácio, com a polícia mal paga, não é? Não reconhecida pela nossa população.
Então, eu lembraria e terminaria com aquela frase de Cícero: Pares cum paribus facillime congregantur. É isso aí, a violência.
Vamos levantar...
(Interrupção do som.)
O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - ...o amor que une a família, que fortalece. Vamos melhorar a escola, valorizando as nossas professoras e, sobretudo, a religião, Deus. Que Deus abençoe este Brasil, para que possamos sair desta violência para entrarmos naquilo que os nossos antepassados tiveram, a inteligência de fazer em duas palavras: o lema de Auguste Comte, positivo, Ordem e Progresso.
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