Pronunciamento de Marcelo Crivella em 30/11/2010
Discurso durante a 195ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Congratulações aos policiais e às autoridades que participaram da operação contra o narcotráfico, no Rio de Janeiro, apontando a desigualdade social e a morosidade da justiça como fatores que contribuem para o aumento da violência e defendendo a criação de CPI para tratar da fiscalização das fronteiras brasileiras.
- Autor
- Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
- Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SEGURANÇA PUBLICA.
ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GOVERNO ESTADUAL.
SEGURANÇA NACIONAL.:
- Congratulações aos policiais e às autoridades que participaram da operação contra o narcotráfico, no Rio de Janeiro, apontando a desigualdade social e a morosidade da justiça como fatores que contribuem para o aumento da violência e defendendo a criação de CPI para tratar da fiscalização das fronteiras brasileiras.
- Aparteantes
- Eduardo Suplicy, Flexa Ribeiro, Mozarildo Cavalcanti, Roberto Cavalcanti, Valter Pereira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/12/2010 - Página 54498
- Assunto
- Outros > SEGURANÇA PUBLICA. ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), GOVERNO ESTADUAL. SEGURANÇA NACIONAL.
- Indexação
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- ELOGIO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PARCERIA, PREFEITO DE CAPITAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MILITAR, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA DEFESA, INICIATIVA, OCUPAÇÃO, FAVELA, CONTRIBUIÇÃO, PAZ, RESTITUIÇÃO, CIDADANIA, POPULAÇÃO, REGIÃO, COMENTARIO, INFLUENCIA, DESIGUALDADE SOCIAL, AUMENTO, VIOLENCIA, CUMPRIMENTO, ATUAÇÃO, POLICIAL, PROTEÇÃO, POVO.
- REGISTRO, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, MOÇAMBIQUE, COMENTARIO, SUPERIORIDADE, PERCENTAGEM, PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB), ORIGEM, DOAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, MAIORIA, EMPREGADO, TRABALHO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ELOGIO, INFERIORIDADE, DADOS, QUANTIDADE, PRESO.
- CRITICA, CORRUPÇÃO, PARTE, CATEGORIA PROFISSIONAL, POLICIAL, VINCULAÇÃO, CRIME ORGANIZADO, COMENTARIO, DECADENCIA, MORAL, SOCIEDADE.
- REGISTRO, ANTERIORIDADE, INICIATIVA, ORADOR, AUTORIA, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, SANÇÃO PRESIDENCIAL, REFERENCIA, CONCESSÃO, PODER DE POLICIA, FORÇAS ARMADAS, ATUAÇÃO, FRONTEIRA, ANUNCIO, CRIAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), INVESTIGAÇÃO, INEFICACIA, PROVIDENCIA.
- IMPORTANCIA, DEFESA, FRONTEIRA, IMPEDIMENTO, ILEGALIDADE, ENTRADA, ARMAMENTO, DROGA, PROTEÇÃO, POPULAÇÃO, COMENTARIO, RELEVANCIA, PROJETO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), MAQUINA, FOTOGRAFIA, ATIVIDADE AEREA, CONTRIBUIÇÃO, CONTROLE, FAIXA DE FRONTEIRA.
- HOMENAGEM, DIA, MEMBROS, IGREJA EVANGELICA, COMENTARIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, BRASIL, CONTRIBUIÇÃO, CONSTRUÇÃO, NACIONALIDADE.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado e senhores ouvintes da Rádio Senado, venho, com muita emoção, à tribuna do Senado Federal para extravasar a minha alegria de ver que o Estado do Rio de Janeiro se ergue. O povo fluminense vê a bandeira do Brasil e a do seu Estado tremulando altaneiras em uma comunidade de gente trabalhadora e ordeira, depois de muitos anos em que ali imperaram as forças do narcotráfico.
Esse é um gesto simbólico e, de certa forma até, eu diria, utópico, porque era de se supor que o Rio de Janeiro não fosse o que é. O Rio de Janeiro são duas irmãs siamesas e monstruosas. São duas irmãs que não podem viver uma sem a outra: de um lado, uma riqueza conspícua, muitas vezes até faustosa; e, a uma distância constrangedora, gerações de brasileiros negros, mestiços, brancos pobres, que se perpetuam no mais odioso monumento da nossa desigualdade, que são as favelas.
Desde o primeiro dia do meu mandato anterior, tenho lutado, falado, denunciado. E não foram em vão os meus pronunciamentos, porque de lá surgiu o Cimento Social, de lá surgiram o Minha Casa, Minha Vida e tantas obras de infraestrutura que estão sendo feitas nas comunidades cariocas e que nunca haviam sido feitas anteriormente.
Agora, a presença do Estado, dando segurança às pessoas e tirando dali os malfeitores - e tudo isso sendo mostrado pelas câmeras das televisões que transmitiam ao vivo - devolveu ao povo da minha terra uma cidadania que havíamos perdido, uma esperança que já não tínhamos mais. Hoje, o povo do Rio consegue deslumbrar, nos horizontes da esperança, a construção da cidade maravilhosa dos nossos sonhos e dos sonhos de todos os brasileiros. A nossa decadência, o fundo do nosso poço parece que agora chega ao seu paroxismo, ao ápice, ao vértice da crise. Não havia mais para onde descer.
Quero parabenizar todos os policiais que, com ousadia, com coragem, com bravura, com destemor, se incumbiram dessa missão sagrada de proteger o povo do Rio de Janeiro. E também as autoridades, o seu Governador, o Prefeito da cidade, os comandantes militares, o Ministro da Defesa, o Presidente Lula, que, despojados de qualquer ambição pessoal, trabalharam unidos para mostrar à bandidagem que os homens de bem hão sempre de prevalecer e as famílias brasileiras e as famílias fluminenses hão sempre de prevalecer na construção desse Brasil, como eu disse, dos nossos sonhos.
Há muitas outras.
Pessoas irão dizer: “Mas, Senador Crivella, o Rio de Janeiro não é apenas o Morro do Alemão, nem o Estado do Rio é apenas a cidade do Rio, nem o Brasil é apenas o Estado do Rio”. É verdade. Nosso trabalho apenas começa. Mas é simbólico, porque ali havia uma fortaleza. Ali, na verdade, havia uma afronta dos bandidos ao poder da polícia. Era um desalento saber que aquela população - já não é de hoje, e são milhares de pessoas que moram ali - vivia sob regras impostas, na distribuição do gás, na compra dos canais a cabo, na distribuição do sinal da Internet e até no transporte dos motoboys e dos carros que ali trafegavam. O comércio pagava também um pedágio para uma proteção, como no tempo dos gângsteres em Nova Iorque. É um período que queremos ver esquecido, ultrapassado nos processos da nossa evolução econômica, social, política, cultural e espiritual do Rio de Janeiro.
Sr. Presidente, as pessoas, então, dizem: “Mas, Crivella, não é só aquilo ali”. É verdade, não é só aquilo ali. Embora aquilo tenha um simbolismo especial, não é só aquilo ali. Há diversos fatores. Eu citei um: a nossa desigualdade, que causa uma violência enorme.
Há alguns dias, estive em Moçambique, que é um dos países mais pobres daquele lindo continente, onde tive a honra de morar durante dez anos, que é o continente africano. Quase 70% do PIB de Moçambique são de doações de países amigos. Presidente, imagine uma nação em que 70% do seu PIB são doações de países amigos e 90% da força de trabalho são empregados no Governo! Ora, é um país com imensas dificuldades, mas, Senador Mozarildo, sabe quantas pessoas estão na cadeia hoje em Moçambique, um país em que 70% do PIB são de doações de nações amigas e 90% daqueles que têm emprego com carteira assinada trabalham para o Governo? Apenas quinze mil pessoas; e a pena média é de três anos. Mas como, em um país onde há tanta pobreza, não há crime? Pois é.
Vê-se, com isso, que o fator principal não são as mazelas que o ser humano sofre. A desigualdade, a disparidade, quando há, de um lado, essa riqueza conspícua, muitas vezes até perdulária, faustosa e, a uma distância constrangedora, multidões vivendo abaixo da linha da dignidade humana, isso acaba criando, sim, uma revolta íntima naquela cidadão que diz: “Puxa, eu trabalho, eu luto, e, na hora em que vou a um posto de saúde, meu filho não tem remédio, não tem médico, não tem atendimento”. Mas, ali ao lado, veem-se muitos investimentos em infraestrutura, muitos investimentos em lazer, parques, praias, clubes. E isso tudo causa, sem sombra de dúvida, uma revolta, sobretudo na mocidade, sobretudo nas gerações mais jovens. E os jovens, muitas vezes, não sabem esperar e acabam entrando para o caminho do crime.
A desigualdade é um fator importantíssimo. A leniência da Justiça, também. A corrupção de certos policiais é um desastre, é desastrosa. Em tudo isso, a decadência moral, que, muitas vezes, se espalha pela mídia. Maus exemplos de todos, de todos os atores sociais e, inclusive - me penitencio -, de muitas forças políticas que exercem seus mandatos com uma ambição desmedida e até vergonhosa. Mas não podemos deixar também de considerar a porosidade de nossas fronteiras. E aí eu também quero me penitenciar, porque, em 2004, nesta Casa, apresentei uma emenda a uma lei complementar que estava sendo reformada e que trata do emprego das Forças Armadas, que foi aprovada pelo plenário; no mesmo ano, foi aprovada na Câmara dos Deputados; e, no mesmo ano, o Senhor Presidente da República a sancionou: nós demos poder de Polícia Federal ao Exército e até a prerrogativa de contar com a Marinha e a Aeronáutica para serem Polícia Federal nas fronteiras brasileiras.
Ora, por que - se o Exército, recebendo essa atribuição - nós tivemos o desprazer de ver aumentarem os crimes transfronteiriços, crimes ambientais, armas, drogas e até pessoas? Por que, se tivemos uma atitude aqui, se tivemos um projeto, uma lei votada, e tínhamos esperança de que isso diminuísse, por que aumentou? Eu não sei, Senador Mozarildo, mas vou descobrir! Vou descobrir com a CPI que nós vamos instalar, criar e, com paixão, conduzir. Vamos chamar aqui todos os atores e irmos juntos àquelas fronteiras, andarmos por aquelas terras, conversarmos com as pessoas, com os comerciantes, com os governadores, com os parlamentares. Vamos ao Peru, vamos à Colômbia, vamos à Bolívia, vamos ao Paraguai. Vamos conversar com os nossos colegas. Vamos devolver a este País a soberania.
Qual é a nação, meu Deus do Céu, que pode se erguer diante das outras nações como uma nação soberana se não consegue guardar, sequer, as suas próprias fronteiras? Qual é a maior riqueza deste País, se não a sua população, os seus filhos, a sua juventude? E nós estamos sendo vilipendiados na nossa maior riqueza, porque os nossos jovens estão se viciando numa cocaína barata, numa cocaína que atravessa o País. É um acinte! Ela vem das fronteiras do oeste e chega ao litoral! Ela atravessa vários Estados e chega em profusão, e cada dia chega mais. E o povo, atônito, pergunta o que as autoridades estão fazendo. Se não apenas debater e discutir, quais são as medidas?
Senador Mozarildo, será que devemos instalar pelotões de fronteiras, com companhias recuadas, para servirem de meios e lhe estenderem o apoio? Será que temos que chamar o pessoal do Cindacta e criarmos uma rede de radares que nos proteja? Será que temos de navegar nas nossas fronteiras com veículos não tripulados?
Eu soube que a Universidade de São Paulo tem um projeto, que custa R$20 mil, de uma máquina fotográfica voadora. Senador Valter Pereira, é uma máquina fotográfica voadora, de asas! Dois metros de envergadura, custa R$20 mil e voa cinco quilômetros de altura a cento e cinquenta quilômetros por hora. Com pouco combustível, roda quilômetros, centenas de quilômetros, ligada a um centro e transmite online movimentações que ocorrem na fronteira.
Sei que a fronteira é também um deserto demográfico, com suas montanhas, com suas matas. O que devemos fazer? Certamente, a CPI há de concluir com um relatório, com um plano nacional de defesa das fronteiras brasileiras, com, eu diria, todos os projetos, com todas as iniciativas que nos cabem no Orçamento, para garantir recursos e devolvermos a este País aquilo que lhe é de direito, que é a soberania e a proteção do seu território.
Ouço o Senador Mozarildo, nobre Líder de Roraima.
O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Marcelo Crivella, tive oportunidade, dias atrás, fazendo um aparte ao Senador Pedro Simon, de me referir à notícia que tinha saído sobre a iniciativa de V. Exª de instalar uma CPI das Fronteiras. Eu tive, hoje, o prazer de assinar, logo após a sua assinatura, essa CPI. E por que assinei e por que a defendo? Primeiro, vamos analisar o que está ocorrendo no Rio de Janeiro. Muita gente diz: “Mas só agora, depois de três décadas, é que se está aplicando esse remédio?” Aí, eu, como médico, digo que não interessa se a pessoa não começou a tomar o remédio no momento certo e está tomando um pouquinho atrasado. Desde que esteja tomando o remédio e ele possa curá-la, está ótimo. Então, o que está sendo feito no Rio, em termos de combater um problema que já era conhecido - as causas, V. Exª colocou algumas, mas são muitas mesmo -, o importante é que esse remédio tem de ser uso contínuo. Não adianta dar uma dose agora e depois retirar o uso desse medicamento; tem de ser permanente. Não só os investimentos sociais são necessários, mas também a presença permanente da polícia ali, nesse trabalho inédito de união com as Forças Armadas, com a Polícia Federal, com a Polícia Rodoviária Federal, trocando inclusive informações, usando os serviços de inteligência todos para acompanhar essa questão e, lógico, usando os mecanismos de repressão quando necessários. Não tenho dúvidas de que, se não cuidarmos da fonte da doença, que é justamente por onde entram a droga e a arma, que são as nossas fronteiras, não vamos curar essa questão. É verdade que, como eu disse, tem de ser usada uma medicação de uso contínuo, mas, se não cortarmos também a fonte da doença, não vamos mudar nada. Por isso, embora nossa Subcomissão Permanente da Amazônia e da Faixa de Fronteira esteja realizando um trabalho no sentido de fazer esse diagnóstico, e já ouvimos, inclusive, várias autoridades e pessoas da Amazônia, eu acho que uma CPI é a coisa mais apropriada. E é bom que o Governo entenda - e eu tenho certeza de que essa é a intenção de V. Exª - que não é uma CPI para investigar ninguém. É uma CPI propositiva, para fazer um diagnóstico e propor medidas que de fato o País possa adotar de maneira rápida. Por isso, quero cumprimentar V. Exª. Não poderia partir de um Senador mais adequado para propor, porque está lá vivendo o dilema. Mas, como disse V. Exª, é um problema de toda a Nação. Portanto, é importante que o Senado se debruce de maneira urgente para fazer um trabalho adequado e, no menor espaço de tempo possível, fazer esse diagnóstico e indicar todos os tratamentos necessários, todas as medidas necessárias para que nós possamos ter um País respeitável. Fiquei triste quando vi que, no dia 27, saiu no The New York Times que essa ação no Rio de Janeiro teria sido mais motivada pela questão da Copa e das Olimpíadas. Mas, até se tenha sido esse motivo, aconteceu. Não podemos é deixar arrefecer. Portanto, até em respeito à população do Rio de Janeiro, notadamente aqueles menos favorecidos que moram nos morros. Parabéns, portanto, a V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Mozarildo, por sua solidariedade. Eu vou incorporar ao meu pronunciamento todas essas diretrizes que V. Exª, com a lucidez de quem analisa com percuciência os fatos, até porque a formação médica de V. Exª faz sempre uma análise conjunta do corpo.
Porque cabe ao Senado Federal a representação do Estado - o Estado brasileiro, a Nação brasileira, representada por três ilustres cidadãos, arregimentados na elite política dos seus Estados. Ninguém chega ao Senado Federal sem trazer o cheiro do povo, ninguém chega aqui com menos de dois, três milhões de votos. Então, certamente nós devemos isso ao nosso povo.
Ouço o Senador, o querido Senador Roberto Cavalcanti, o orgulho do meu Partido, grande Líder da Paraíba.
O Sr. Roberto Cavalcanti (Bloco/PRB - PB) - Agradeço a oportunidade de apartear meu Líder no Senado Federal, companheiro de várias tratativas, de vários debates - sempre nós dois unidos. Somos nós dois, Cosme e Damião, no sentido figurado de policiais que vigiam permanentemente as atividades deste plenário, das comissões. Faz com que nós dois possamos - V. Exª pelo Rio de Janeiro, e eu pela Paraíba - defender os interesses do povo. Mas tem outro fator também que me traz muita satisfação. V. Exª faz um pronunciamento no dia de hoje, que é o Dia do Evangélico, um dia significativo, feriado aqui em Brasília. Sem dúvida, V. Exª, como nenhum outro, poderia externar essa referência ao dia de hoje, Dia do Evangélico. Também achei interessantíssimo V. Exª, quando abriu o pronunciamento, conclamar o povo fluminense. Não sei se é uma alusão ao campeonato brasileiro, porque V. Exª às vezes falava carioca, do Rio de Janeiro, mas hoje foi enfático no sentido do povo fluminense. Esse “fluminense” foi tão forte que acho que ele, por trás, traz o desejo do Rio de Janeiro de ver um de seus times campeão brasileiro. Mas eu vou ater-me ao tema que V. Exª está abordando e dizer que não adianta nós olharmos para o passado. O passado serve um pouco de exemplo. Mas, na verdade, se passado fosse importante, espelho retrovisor seria maior que para-brisa. Na verdade, o espelho retrovisor é pequenininho, e o para-brisa é bem grande. Isso é para se ter visão para frente. Mas houve uma cumplicidade de governos e mais governos para com a situação pela qual o Rio de Janeiro passou, no tocante à cumplicidade com a contravenção. Na verdade, os gestos que estão acontecendo agora por parte dos bandidos são no sentido de se sentirem incomodadíssimos com as UPPs. O Governo dá uma demonstração efetiva: o Governo estadual e o Governo Federal, a conjunção de forças do bem, forças policiais do bem, juntos estão dando ao mundo uma lição e o exemplo de que nem tudo está perdido. Muitas vezes, tinha-se a imagem de que não havia nada o que fazer, que era um fato consumado, que o Rio de Janeiro estava dominado pelo banditismo. Isso não é verdade. O Brasil não deixará que isso aconteça. Mas eu trago essa lição do passado e esse exemplo de presente para fazer a sugestão de que os Estados brasileiros, quaisquer que sejam as suas dimensões, imitem o exemplo do Rio de Janeiro e implantem as UPPs. Nós temos na capital da Paraíba, nobre Senador, em João Pessoa, favelas em que hoje já está estanque a ação policial. Lá, já não é permitido que o policial entre para cumprir a missão que lhe é atribuída. Então, na verdade, essa operação da implantação das UPPs deveria servir de modelo. Todos os governantes, principalmente os governantes que agora tomam posse, ou os reeleitos, deveriam colocar nas listas das atribuições, ou dos desejos, nas propostas de Governo, que os seus secretários de segurança, as suas áreas de segurança implantassem nas favelas de cada capital brasileira, de cada zona na qual exista uma favelização, onde exista a contravenção, o tráfico de drogas e o crime, unidades como as UPPs, que demonstraram ser, no Rio de Janeiro, sucesso, razão da reação tão brutal por parte da contravenção, dos bandidos. Então, parabenizo V. Exª. Assinei também o requerimento de V. Exª para convocação da CPI. É uma honra estar no Senado Federal liderado por V. Exª. Muito obrigado.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Roberto Cavalcanti. As palavras de V. Exª ressaltam a afinidade que temos na nossa vida parlamentar. Eu quero agradecer sempre a sua presença atuante aqui neste plenário.
V. Exª foi, em todo o tempo que respondeu pela cadeira no Senado Federal do bravo Estado da Paraíba, um Líder presente e atuante, e dos grandes do seu tempo na Paraíba. Parabéns a V. Exª, que honrou as mais altas tradições daquela nossa gente sofrida e valente.
Muito obrigado também por V. Exª se comover com o meu Estado do Rio de Janeiro, do povo fluminense. Certamente, nós haveremos de estancar as linhas de suprimento do tráfico, as armas pesadas, para que as UPPs possam se instalar em todas as comunidades do Rio de Janeiro e do Brasil onde quer que exista o controle do tráfico sobre o controle do Estado. Não vamos atuar apenas no narcovarejo; vamos atuar também naqueles que são os organizadores, os financiadores, os importadores, os exportadores, de maneira que possamos romper seus caminhos, impedir suas rotas, confundi-los, dificultá-los e, assim, devolver ao nosso País a soberania que ele merece e que nós todos queremos.
Eu ouço o Senador Valter Pereira. É um prazer enorme estar com V. Exª. Em seguida, ouvirei o Senador Eduardo Suplicy, do Estado de São Paulo, onde existem muitas facções, aliás, uma facção que traz muitos problemas ao seu Estado.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senador Marcelo Crivella, assinei sem vacilo a proposta de V. Exª para instituir essa CPI das Fronteiras. Acho que, enquanto não estancarmos a entrada de armas e drogas dos países vizinhos, dificilmente conseguiremos estancar a criminalidade no interior do Brasil. Até porque, na verdade, a bandidagem se vale desse corredor que alimenta o tráfico e que alimenta o crime. Lamentavelmente, não estarei aqui para compor esta Comissão.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Infelizmente.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Mas tenho certeza de que V. Exª haverá de conduzi-la bem. Mas me chamou a atenção, no pronunciamento de V. Exª, a referência que fez quando se hastearam as duas bandeiras - a bandeira do Estado do Rio e a Bandeira Nacional - no pico do morro. Efetivamente, o hasteamento do pavilhão nacional significa o quê? A ocupação. Ali reside uma das grandes virtudes da atitude do Governador do Estado do Rio: o de reconhecimento de que havia um pedaço do território do Estado do Rio que não estava sendo controlado pelo Poder Público, que não estava sendo controlado pelo Estado, onde o governo que mandava nessa área era um governo paralelo. A partir desse diagnóstico, o Governador começou a acertar. Acho que esse é um reconhecimento, é uma humildade, é uma legitimidade que o Governador teve, um reconhecimento patente de que realmente precisava se fazer uma intervenção para recuperar o espaço que estava nas mãos da bandidagem. Quero dizer a V. Exª que aqui, no Senado, não faltou ao Estado do Rio e não faltou ao Governo daquela unidade da Federação a solidariedade de todas as representações brasileiras e que a representação que V. Exª integra com bastante brilho está cumprindo a rigor os seus ditames, as suas demandas, a sua representação. Portanto, parabéns a V. Exª e parabéns a toda representação do Rio. Que o exemplo do Rio de Janeiro realmente se espalhe pelo País afora.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Valter Pereira.
(Interrupção do som.)
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Todos sentiremos sua falta, com certeza, pelo seu parecer jurídico, pelo seu conhecimento do Direito, da lei. V. Exª, que já brilhou na Câmara dos Deputados, teve aqui um mandato extraordinário e substituiu à altura o nosso saudoso Senador que nos deixou e deixou também uma lacuna imensa no coração de todos nós. E que me dizia, várias vezes: “Crivella, eu vim para o Senado porque achava que o Senador é um príncipe das instituições. Aqui se pensa o Brasil. Aqui se extravasa o sentimento nacional”. E várias vezes pude comungar com ele do mesmo sentimento. Eu que chegava e ele já tinha inclusive sido Presidente desta Casa. E conversei com ele nos últimos momentos de sua vida. Fizemos uma oração pelo telefone. Pouca gente sabe disso. Eu liguei para ele, o assessor me passou. Ele nem pode me responder...
(Interrupção do som.)
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - ... apenas pude ouvi-lo balbuciando suas últimas palavras. Mas fizemos juntos uma oração e, quando o assessor pegou o telefone de volta, disse: “Olha, ele está aqui com lágrimas nos olhos. Lágrimas estão rolando no rosto.” Minutos depois ele veio a falecer.
Então, fica aqui essa lembrança em homenagem a V. Exª, ao extraordinário trabalho que prestou pelo seu Estado. O seu nome não se apagará das nossas consciências e o seu caráter e o seu exemplo não se apagarão dos nossos corações.
Parabéns, Senador Valter Pereira, pela sua presença aqui conosco.
Senador Mão Santa, pediria a V. Exª um gesto de generosidade. É um assunto importante e temos que ouvir dois grandes Líderes, um de São Paulo e um do Pará, reeleito agora. O Senador Flexa Ribeiro volta para cá, agora com a legitimidade daqueles votos do povo da sua terra. Pediria a V. Exª que tivesse complacência e indulgência.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - V. Exª tem cinco minutos, ao tempo em que convido a Senadora Serys Slhessarenko para presidir.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado. Complacência, indulgência e compreensão!
Vamos ouvir o Senador Eduardo Suplicy.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Primeiro, Senador Marcelo Crivella, quero expressar a solidariedade ao povo do Estado do Rio de Janeiro e da Cidade Maravilhosa em função dos episódios tão traumáticos que aconteceram nas últimas semanas, principalmente desde que foi iniciada essa operação para o domínio do Complexo do Alemão pelas forças policiais do Estado do Rio de Janeiro, Polícia Militar, Polícia Civil, Bope, com a colaboração do Ministério da Defesa, o bom entrosamento havido entre o Governador Sérgio Cabral, o Ministro da Defesa Nelson Jobim e os comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Isso demandou um extraordinário esforço de planejamento e estratégia, com vistas a minimizar danos ao patrimônio, mas, sobretudo, danos à vida de pessoas inocentes, moradores de toda e qualquer idade, porque, infelizmente, nesses episódios, faleceram pessoas, algumas inocentes, às vezes até crianças ou mães que estavam ali, em decorrência de tiroteios, de balas perdidas, fatos que causaram ansiedade no povo do Rio de Janeiro e de todo o Brasil. De São Paulo e de todos os lugares do Brasil, eu mesmo e tantas pessoas acompanhamos o que acontecia no Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão. E, naquela igreja do Alto da Penha, as pessoas rezaram, assim como no Corcovado, para que pudesse haver paz. Ainda que tivesse havido registros de abusos aqui e acolá, a operação até agora resultou em eficiência com respeito ao propósito de liberar aquela região da ação de pessoas que haviam encontrado no narcotráfico a sua forma de sobrevivência. Quero dizer que assinei o requerimento para instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito proposto por V. Exª para que se examine, nas fronteiras, o que se passa com respeito ao tráfico de drogas e de pessoas e quem pode estar contribuindo para uma situação como essa, que tem infelicitado o Rio de Janeiro, São Paulo e outros lugares do Brasil. Portanto, a minha solidariedade a V. Exª, ao Senador Francisco Dornelles, aos Senadores do Rio de Janeiro e ao Governador Sérgio Cabral. Avalio que são importantes as iniciativas das Unidades Pacificadoras que estão sendo realizadas. Acredito também - e V. Exª sabe bem qual é o meu pensamento - que, se houver uma situação tal em que todas as pessoas em nosso País tenham o direito de participar da riqueza da Nação, através de uma renda incondicional, já aprovada pelo Congresso Nacional, nós teremos uma situação diferente. Isso porque se aquele jovem, que não tem outra alternativa senão a de se tornar um instrumento da quadrilha de narcotraficantes - depois até um possível chefe de quadrilha -, tivesse a garantia de sua sobrevivência com dignidade, ele pelo menos teria a possibilidade de não precisar seguir aquele caminho. Avalio que, ao lado de medidas para se evitarem os problemas, é necessário também que pensemos neste outro caminho. Aqui, portanto, expresso meu cumprimento a V. Exª, ao Governador Sérgio Cabral e às autoridades que colaboraram. Quero também cumprimentar o José Junior, do AfroReggae, que, com muita coragem, esteve no Complexo do Alemão, para dialogar e persuadir aqueles que estavam tentando resistir de que seria melhor que eles se entregassem pacificamente. José Junior teve uma atitude de coragem excepcional, inclusive ele havia sido ameaçado de morte por alguns daqueles com os quais dialogou, mas disse que seria melhor que se entregassem sem resistência armada que só iria causar a perda de vidas deles, dos policiais ou de membros do Exército e das Forças Armadas e, possivelmente, de inocentes, quem sabe até de crianças. Meus cumprimentos a V. Exª.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador Suplicy.
Eu gostaria de imediatamente passar a palavra ao Senador Flexa Ribeiro, apenas dizendo a V. Exª que o AfroReggae realmente presta um trabalho de solidariedade importantíssimo, nesses momentos, no Estado do Rio de Janeiro.
Senador Flexa, vejo que V. Exª está ao lado do Deputado Otavio Leite. Eu gostaria de saudá-lo, grande liderança da minha terra, e que faz um trabalho extraordinário, sobretudo com os deficientes.
Concedo um aparte ao Senador Flexa Ribeiro.
A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Eu gostaria de solicitar ao Senador Flexa Ribeiro...
O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Eu serei bastante rápido.
A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - ...que use o menor tempo possível. Há Senadores se retirando do plenário por conta do tempo que está correndo. Por favor, Senador.
O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Minha Presidenta - é Presidenta ou Presidente, Senadora Serys? Então, é Presidente Serys. Senador Crivella, serei bastante breve, mas eu não poderia deixar de prestar a minha solidariedade a V. Exª e de parabenizá-lo pela sua proposta de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para que se estude definitivamente a questão das fronteiras brasileiras. O que se vê no Rio de Janeiro hoje, que tem o apoio e a solidariedade de todo o povo brasileiro, é o combate ao efeito. V. Exª propõe o combate à causa, ou seja, que não se chegue à necessidade... E o Deputado Otavio Leite, a quem V. Exª fez referência há pouco, também representa, na Câmara dos Deputados, o Estado do Rio de Janeiro. Nós todos sabemos que isso é um processo que já vem ocorrendo há muito tempo e que agora o governo do Rio de Janeiro, com auxílio das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Força Nacional e com a vibração positiva de todos os brasileiros, torcendo para que efetivamente o Estado do Rio possa assumir o comando daquelas áreas... Tive oportunidade de conversar com Dom Orani, que é Bispo do Rio de Janeiro e foi Bispo de Belém, que disse que, para acessar algumas áreas desses morros, você teria de permitir permissão ao crime organizado. Isso é um absurdo! Para levar o consolo, a religião, o evangelho a essas áreas precisava-se de permissão. Então, nós estamos vendo que não podemos parar nisso. Conversava há pouco com o Senador Heráclito, que, preocupado, dizia: “Esses malfeitores que estão sendo expulsos do Rio de Janeiro, daqui a pouco, estarão no Piauí”. Eu lhe disse: “Espero que não cheguem ao Pará.” Como hoje tudo é interligado, é fácil sair de lá e vir para cá. Não é isso. Nós temos de extirpar, realmente. Então, V. Exª está de parabéns pela proposta da CPI, que eu tive também a alegria e a honra de subscrevê-la.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, Senador. E, mais uma vez, parabéns pela linda vitória, consagradora eleição.
Senadora, eu pediria a V. Exª dois minutos, apenas para concluir.
A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Senador, três Senadores já se retiraram do plenário.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Eu concluo em dois minutos. Prometo a V. Exª que...
A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. Bloco/PT - MT) - Um minuto, Senador.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - ... em dois minutos, concluirei.
Mas o que eu gostaria é de agradecer todos os depoimentos, todos os apartes, em nome do povo do Rio de Janeiro. Dizer que vamos trabalhar com afinco, com dedicação, com bravura e destemor. Queremos, ao final dessa CPI, apresentar à Nação Brasileira o Plano Nacional de Proteção das nossas Fronteiras. É um dever do Senado. Vamos nos debruçar incansavelmente.
Infelizmente, não tenho o tempo que gostaria de ter, mas gostaria de deixar consignado o efusivo e o entusiasmado aplauso a todos os evangélicos que, com amor, dedicação e devoção ajudam tanto na construção da nacionalidade brasileira. Hoje é o Dia do Evangélico e eu gostaria de deixar consignado esse meu voto de congratulação.
Senadora Serys, apenas para concluir neste minuto que V. Exª me deu, o primeiro culto evangélico no Brasil se deu em 1555, na Ilha de Villegagnon. Quando V. Exª pousa no Aeroporto Santos Dumont, é aquela Ilha em que hoje tem a Escola Naval. Ali, os huguenotes, os pastores que vieram da Suíça, de João Calvino, realizaram o primeiro culto com Santa Ceia, com a leitura do Salmo 27. De lá para cá, os evangélicos têm estado sempre presentes na formação do Brasil e da nossa nacionalidade. A eles o meu mais reverente voto de muita felicidade e os parabenizo.
Muito obrigado.
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