Discurso durante a 197ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração por notícias veiculadas pela imprensa de que a classe D já é o dobro da classe A nas universidades. Regozijo pela aprovação, na Câmara dos Deputados, da emenda que destina recursos oriundos do pré-sal para a educação. Homenagem pelo transcurso hoje do Dia Nacional do Samba, com destaque para os sambistas brasileiros Adoniran Barbosa e Noel Rosa. Registro da realização da 16º Edição da Ordem do Mérito Cultural, oportunidade em que o Presidente Lula entregará quarenta condecorações.

Autor
Ideli Salvatti (PT - Partido dos Trabalhadores/SC)
Nome completo: Ideli Salvatti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Comemoração por notícias veiculadas pela imprensa de que a classe D já é o dobro da classe A nas universidades. Regozijo pela aprovação, na Câmara dos Deputados, da emenda que destina recursos oriundos do pré-sal para a educação. Homenagem pelo transcurso hoje do Dia Nacional do Samba, com destaque para os sambistas brasileiros Adoniran Barbosa e Noel Rosa. Registro da realização da 16º Edição da Ordem do Mérito Cultural, oportunidade em que o Presidente Lula entregará quarenta condecorações.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 03/12/2010 - Página 55801
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, DADOS, INCLUSÃO, ALUNO, BAIXA RENDA, UNIVERSIDADE, OPORTUNIDADE, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, ELOGIO, MANDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRIAÇÃO, CAMPUS UNIVERSITARIO, INTERIOR, INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIENCIA E TECNOLOGIA, BOLSA DE ESTUDO, ESCOLA PARTICULAR, ENSINO SUPERIOR.
  • REGISTRO, APROVAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, MATERIA, INICIATIVA, SENADO, DESTINAÇÃO, METADE, RECURSOS, FUNDO SOCIAL, PRE-SAL, EDUCAÇÃO, LOBBY, MOVIMENTO ESTUDANTIL, PREVISÃO, AMPLIAÇÃO, ACESSO.
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MANIFESTAÇÃO, MUSICA POPULAR, BRASIL, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, MUSICO, COMPOSITOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ELOGIO, BIOGRAFIA, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, APRESENTAÇÃO, TRECHO, OBRA MUSICAL.
  • ANUNCIO, SOLENIDADE, ENTREGA, CONCESSÃO HONORIFICA, ORDEM DO MERITO CULTURAL, PERSONAGEM ILUSTRE, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Agradeço, Sr. Presidente.

            Quero iniciar dizendo à Senadora Serys que, no Brasil, há compromissos claros do Governo do Presidente Lula, reafirmados e ampliados pela nossa Presidenta eleita Dilma Rousseff, de erradicar a miséria, acabar com a fome, mas, além da fome do alimento, temos também que acabar com a fome do saber, do conhecimento, como diz aquela música maravilhosa: “A gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte”.

            Venho à tribuna, no dia de hoje, para fazer um mix. Vou misturar algumas coisas aqui que, para mim, têm tudo a ver.

            Primeiro, comemorar a notícia publicada nesta semana que me encheu de orgulho, como professora, como pessoa que atuou incansavelmente para que as ações do Governo do Presidente Lula dessem resultados positivos, principalmente nessa área tão importante que é a da educação.

            A manchete dos jornais é: “Classe D já é o dobro da classe A nas universidades”. Classe D são as famílias que ganham de um até três salários mínimos - que sobrevive naquela faixa de R$500,00 até R$1.500,00, o que não é simples nem fácil. Mas, em 2002, havia apenas 180 mil jovens dessas famílias da classe D na universidade. E, conforme dados do ano passado, já se aproximam de 900 mil. Portanto, houve um crescimento - de 2003 a 2009 - de quase cinco vezes mais jovens da classe D, inclusive mais do que o dobro da classe A. Atualmente há em torno de 400 mil jovens dessas famílias da classe A nas universidades públicas e privadas do nosso Brasil.

            Então, eu não poderia deixar de comemorar isso, porque faz toda a diferença. É realmente aquela questão de abrir a oportunidade para que a mobilidade social se concretize. E todos sabemos, Senador Mozarildo, que há muita coisa importante para as pessoas adquirirem: a casa, um móvel, um eletrodoméstico, um computador, um carro, uma moto. Mas só há uma coisa que, quando se adquire, ninguém mais tira: a educação e o conhecimento.

            Portanto, essa manchete, para quem tem um entendimento do seu significado, ou seja, de que as classes menos favorecidas estão tendo a oportunidade de acessar aquilo que, infelizmente, durante séculos, só era permitido às famílias ricas, ao topo da pirâmide social, é muito importante. E sabemos que isso se deu graças às 14 novas universidades criadas pelo Presidente Lula; ao programa do Reuni, que é a interiorização, a abertura de novas vagas, novos campi; à questão dos institutos federais - o Presidente Lula, esta semana, inaugurou mais outra leva em todos os Estados, cinco só em Santa Catarina -; e também à questão do ProUni, que abre a bolsa gratuita nas instituições privadas. Então, eu só posso comemorar essa manchete.

            E, nessa madrugada, Senadora Serys, mais uma comemoração, porque a Câmara aprovou o que nós apresentamos e aprovamos aqui no Senado: que do Fundo do pré-sal, ou seja, dos recursos oriundos da exploração de petróleo e gás, teremos 50% destinados à educação, sendo que, dessa metade dos recursos do Fundo oriundos da exploração do pré-sal, 80% serão para educação básica - educação infantil, educação fundamental, ensino médio.

            E essa emenda, que foi movimentada nacionalmente pela União Nacional dos Estudantes, pelas entidades estudantis, aqui no Senado teve a minha assinatura, a assinatura da Senadora Fátima Cleide, do Senador Inácio Arruda e de vários outros Senadores.

            Para nós isso foi muito importante, e agora vai à sanção. Espero que, efetivamente, o Presidente Lula sancione essa conquista, porque, aí, com certeza haverá mais manchetes de que as classes menos favorecidas, as classes de menor renda vão poder efetivamente acessar, em um percentual e em um número cada vez maior as oportunidades de estudo no nosso País.

            Mudando um pouquinho de assunto, Senador Mozarildo, eu todo ano faço uma homenagem e não deixaria de fazê-la no meu último ano de mandato: hoje é o Dia Nacional do Samba. E, neste ano, há motivos mais do que de sobra para comemorar, com o centenário de dois sambistas fantásticos, que orgulham a cultura do povo brasileiro, que são exatamente a sua imagem; artistas que tiveram a capacidade de sintetizar, de forma brilhante, a maneira de ser, de se expressar, de pensar, de ver a vida, de ver o mundo em nome do povo brasileiro.

            Então, neste Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro, eu queria prestar a minha homenagem a esses dois sambistas. Um deles para mim é muito, muito especial porque é do bairro onde nasci, teve destaque nacional a partir do famoso Bexiga, lá em São Paulo, apesar de não ter nascido no Bexiga. Adoniran Barbosa, que comemorou o seu centenário no dia 6 de agosto, é um exemplo do artista paulista, do artista brasileiro que conseguiu, na sua forma brilhante, expressar aquela mistura que aconteceu em São Paulo, de italianos com portugueses, com afrodescendentes, com espanhóis, toda aquela mistura que se movimentava nos bairros da Mooca, do Brás, do Bexiga, e ele colocou isso em sambas memoráveis como “Saudosa Maloca” e “O Trem das Onze”. E há um que acho que todos conhecem e é muito emblemático, inclusive pela forma de se expressar, da mistura do linguajar paulistano, que mais do que ninguém o Adoniran expressava: “Samba do Arnesto”:

Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora

no Brás

Nós fumos não encontremos ninguém

Nós voltemos com uma baita de uma reiva

Da outra vez nós num vai mais

Nós não semos tatu!

            E por aí vai. O Adoniran, maravilhoso, fazendo essa expressão tão linda da cultura do nosso povo.

            O outro sambista que comemora o seu centenário - vai ser no dia 11 de dezembro - é exatamente o Noel Rosa, que pega outra forma, outra nuance da cultura brasileira, do carioca, daquela maneira de agir, de viver, de ser, de estar no mundo do nosso querido povo do Rio de Janeiro. E Noel, que vai completar o seu centenário no dia 11 de dezembro, fez também sambas maravilhosos, e há um que é muito difícil de cantar, Senador Mozarildo. Por isso, vou declamar a sua maior parte. Se eu me animar, vou cantar um pedacinho.

            “Feitio de Oração” é uma poesia lindíssima. Aliás, acho que deveria servir de parâmetro de comportamento, porque começa assim: “Quem acha vive se perdendo”. Olhem que coisa linda!

Quem acha vive se perdendo

Por isso agora eu vou me defendendo

Da dor tão cruel desta saudade

Que, por infelicidade,

Meu pobre peito invade

Batuque é um privilegio

Ninguém aprende samba no colégio

Sambar é chorar de alegria,

É sorrir de nostalgia

Dentro da melodia

            E, nesses tempos tão difíceis no Rio de Janeiro, quando vislumbramos a ocupação das Forças do Estado no Complexo do Alemão, onde aparecia sempre, em quase todos os momentos, a Igreja da Penha, relembramos aqui esse maravilhoso “Feitio de Oração”, de Noel Rosa, do tempo em que a Penha não estava cercada pelos criminosos, pelo narcotráfico, e as pessoas podiam acessá-la. O Noel, nesse samba, “Feitio de Oração”, dizia assim:

Por isso agora lá na Penha eu vou mandar

minha morena pra cantar, com satisfação

E com harmonia essa triste melodia que é meu samba

Em feitio de oração

            E aí vai Noel Rosa.

            Por isso que acho que neste Dia Nacional do Samba, centenário, Senador Eduardo Suplicy, do nosso legítimo paulistano sambista Adoniran Barbosa, e deste carioca da gema Noel Rosa, reveste-se de muita importância o que vai acontecer no Rio de Janeiro na noite de hoje: a 16ª Edição da Ordem do Mérito Cultural. O Presidente Lula vai entregar, hoje à noite, quarenta condecorações. O principal homenageado é o professor, antropólogo, intelectual, de nome reconhecido internacionalmente, Darcy Ribeiro.

            Entre os homenageados, os agraciados, há um ilustre catarinense nascido em Concórdia, Município do meu querido Estado de Santa Catarina, que é Leonardo Boff, além de vários outros artistas de todos os cantos, intelectuais de todos os cantos do nosso País. In memoriam, serão homenageados Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Vinícius de Moraes, entre outros.

            Por isso, neste Dia Nacional do Samba, centenário de Noel Rosa e Adoniran Barbosa, estaremos com muito orgulho acompanhando a entrega e a homenagem desses quarenta ilustres brasileiros que enriqueceram, enriquecem e vão continuar enriquecendo a cultura consagrada do povo brasileiro.

            Ouço, com muito prazer, o Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Fico feliz, Senadora Ideli Salvatti, com a homenagem que V. Exª presta ao extraordinário Adoniran Barbosa e ao tão especial Noel Rosa, ambos por terem completado 100 anos, neste ano, e por serem compositores de extraordinária qualidade, que tanto honram o samba brasileiro, e de forma eterna, porque o samba e as marchinhas tanto de Adoniran Barbosa quanto de Noel Rosa ficaram para sempre. A cada momento, em qualquer época dos anos, as suas canções são cantadas pelo povo, como V. Exª aqui, agora, acaba de fazê-lo. E não é à toa que as pessoas gostam tanto de canções como “O Arnesto nos convidou...” e assim por diante. Eu, inclusive, fui convidado pelo Ministério da Cultura, pelo Ministro Juca Ferreira para estar hoje no Rio de Janeiro e gostaria muito de estar presente nessa cerimônia em que o Presidente Lula, pessoalmente, vai agraciar pessoas como essas que V. Exª mencionou em seu pronunciamento e que tanto merecem a homenagem por sua contribuição à cultura do povo brasileiro. Como já havia me comprometido a aceitar o convite da Federação dos Estudantes da Argentina, sigo, logo mais, ao final da tarde, para falar a eles, amanhã, em Mar del Plata, no mesmo local onde haverá a conferência de cúpula. A Federação Universitária Argentina, inclusive, convidou o próprio Presidente Lula para também, se possível, no sábado, juntamente com outros Presidentes da América do Sul, como Evo Morales, Hugo Chávez e a própria Presidenta da Argentina e outros, para falar para os estudantes argentinos. Então, eu vou aceitar esse compromisso. E, por essa razão apenas, não estarei lá com V. Exª, mas envio o meu carinhoso abraço a esses artistas e também ao Leonardo Boff, que considero um grande amigo, não apenas de nosso partido, mas também meu amigo de afinidades. Tantas vezes tenho ouvido a sua recomendação. E uma das mais significativas, nos livros onde ele fala da história da águia e da galinha, é uma que agora é muito apropriada. Se me permite recordar, Leonardo Boff escreveu, há algum tempo, nesses livros da sequência do voo da águia e da galinha, que nós, homens, precisamos compreender que as mulheres têm outras sensibilidades características, diferentes das nossas. Portanto, será muito importante para construirmos uma sociedade melhor, mais civilizada, que estejamos alternando, ora o homem, ora a mulher, no comando das instituições. E, por essa razão, agora estamos tendo a Presidenta Dilma Rousseff, a partir do dia primeiro, à frente de uma instituição tão importante como a Presidência da República. V. Exª quase chegou lá também, à frente do Governo de Santa Catarina, mas, pelo menos, a recomendação de Leonardo Boff está agora sendo colocada em prática pelo povo brasileiro. Meus cumprimentos.

            A SRª IDELI SALVATTI (Bloco/PT - SC) - Agradeço, Senador Suplicy. Acho que a solenidade de hoje à noite será muito importante, emocionante, justa, merecida para esse conjunto fantástico de intelectuais, de artistas, que o nosso País tem, que o nosso País já teve e que precisa continuar sendo valorizado e incentivado, porque são exatamente os artistas que amalgamam, fazem essa junção da nossa identidade cultural. A gente se sente como nação quando a gente se reconhece, a gente se identifica nas manifestações culturais do nosso país.

            Então, é por isso que o dia de hoje, o Dia Nacional do Samba, dia onde quarenta brasileiros serão agraciados com a Ordem do Mérito Cultural, é um dia muito especial, em que eu não poderia deixar de vir à tribuna para fazer o registro.

            E termino a minha fala com o último verso de Feitio de Oração, de Noel Rosa e Vadico, que diz:

“O samba na realidade não vem do morro

nem lá da cidade

e quem suportar uma paixão

sentirá que o samba então

nasce do coração”.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Desculpe-me por ter passado do tempo, mas acho que é um discurso um pouco mais leve, numa quinta-feira.

            Muito agradecida.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/12/2010 - Página 55801