Discurso durante a 199ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cumprimentos ao Senador Paulo Paim por sua reeleição e à jornalista Ana Amélia Lemos, eleita para representar o Estado do Rio Grande do Sul no Senado Federal, a partir da próxima legislatura. Lamento pela saída do Senador Sérgio Zambiasi, que não se candidatou a cargo eletivo.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Cumprimentos ao Senador Paulo Paim por sua reeleição e à jornalista Ana Amélia Lemos, eleita para representar o Estado do Rio Grande do Sul no Senado Federal, a partir da próxima legislatura. Lamento pela saída do Senador Sérgio Zambiasi, que não se candidatou a cargo eletivo.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 07/12/2010 - Página 56021
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. ELEIÇÕES. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, REELEIÇÃO, PAULO PAIM, SENADOR, VOTO DE PESAR, SAIDA, SENADO, SERGIO ZAMBIASI, CONGRESSISTA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, INICIATIVA, NATUREZA SOCIAL, ATUAÇÃO, RADIO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), APOIO, RECUPERAÇÃO, VICIADO EM DROGAS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ENTREVISTA, CANDIDATO ELEITO, SENADOR, MULHER, SAUDAÇÃO, ORADOR, PARTICIPAÇÃO, BANCADA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, VIDA PUBLICA, JORNALISMO, COMPROMISSO, DIGNIDADE.
  • ESCLARECIMENTOS, RENUNCIA, ORADOR, PRESIDENCIA, DIRETORIO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, ABERTURA, DIVERSIDADE, OPINIÃO, EXPECTATIVA, QUALIDADE, MANDATO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, COMPOSIÇÃO, GOVERNO.
  • BALANÇO, ELEIÇÕES, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), INSUCESSO, REPRESENTAÇÃO PARTIDARIA, CANDIDATO, SENADOR, GOVERNADOR, CRITICA, FALTA, UNIFORMIDADE, DIRETRIZ, POLITICA PARTIDARIA, DIRETORIO ESTADUAL, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu venho aqui com a obrigação de dizer que a bancada do Rio Grande do Sul aqui no Senado sente uma emoção muito grande com a vitória do Senador Paulo Paim. S. Exª é um grande líder, tem uma atuação altamente positiva neste Congresso, primeiro na Câmara, agora aqui; é campeão de projetos e de lutas por causas sociais e populares, e teve uma vitória que foi uma consagração. É muito grande a emoção do Rio Grande do Sul pela eleição de Paulo Paim.

            Como é triste a nossa posição pela saída de Sérgio Zambiasi! Sérgio Zambiasi é um grande líder, um grande companheiro. Sérgio Zambiasi começou a sua vida profissional no rádio e se transformou num produtor, criador do mais extraordinário programa de rádio de que se tem conhecimento no Rio Grande do Sul - e não sei se se tem conhecimento de algum igual no resto do Brasil.

            O programa começa às seis horas da manhã e vai até a uma da tarde; um programa essencialmente popular, de debate e discussão com o povo, com a sociedade. Realiza obras sociais. Zambiasi é criador do Centro Vita, um projeto de dá chances aos drogados e às pessoas que, na rua, atirados estão sem a presença, sem a colaboração, sem o apoio de ninguém. Zambiasi e sua equipe, de madrugada, recolhem essas pessoas. Conseguiram organizar um centro de recuperação que vem fazendo milagres.

            Diz-se costumeiramente no Rio Grande do Sul que o Centro Vita, humilde, de condições modestas, é talvez a grande e única chance que o drogado tem de se recuperar, de voltar a ser gente e de voltar a ter oportunidade na vida.

            Zambiasi está voltando para esse programa. Um amigo seu estava no seu lugar. Nós insistimos demais para que ele ficasse. Era um dos nomes que tínhamos para candidato a Governador no Rio Grande do Sul, mas não houve jeito. A paixão do Zambiasi pela rádio é tão grande que ele não aceitou concorrer a absolutamente nada e está voltando para a rádio.

            Se nós sentimos, e muito, a saída do Zambiasi, é com muita emoção que venho aqui saudar a nossa nova companheira de Bancada, a jornalista Ana Amélia Lemos. Trata-se de uma mulher extraordinária. A vida inteira, mulher de rádio, jornal, televisão, debatendo os assuntos mais importantes e mais polêmicos na TV Gaúcha, na Rádio Gaúcha, na TV Rural, no Zero Hora.

            Não tenho nenhuma dúvida de que é a jornalista de mais sucesso, jornalista política, que, durante o tempo todo, debateu, discutiu e analisou os temas sociais, políticos e econômicos da nossa sociedade.

            Há muito tempo, todos os Partidos batiam na porta dela, dramaticamente, pedindo que S. Exª aceitasse ser candidata, e ela nunca aceitou. E agora disse ela que, de repente, sentiu que devia aceitar um dos vários apelos, achando que sua etapa na imprensa estava feita e que ela tinha um longo caminho a percorrer aqui nesta Casa.

            Ana Amélia Lemos é uma legenda no Rio Grande do Sul.

            Estou aqui e peço a transcrição nos Anais da entrevista que ela dá a Felipe Prestes e que é uma síntese do seu pensamento. Ao lê-la, os 30 anos que ela tem de jornalismo parece que são 30 anos que ela está na política. A convivência dela com a classe social e política e as entidades governamentais - todas - é de tal ordem que ela é uma grande política com uma grande experiência e uma grande capacidade.

            Agora vai ser uma explosão de ideias nesta tribuna, sob um novo ângulo; não o ângulo do jornalismo, mas o ângulo da pessoa com responsabilidade política não apenas de analisar e criticar, mas também de interpretar e opinar. Tenho certeza de que ela fará um belíssimo trabalho.

            Ana Amélia é esposa de Octávio Cardoso, que foi nosso colega aqui. Foi um grande político, Deputado e Senador, formava uma Bancada extraordinária: Daniel Krieger, Octávio Cardoso e Guido Mondim. Imaginem os senhores! Foi talvez a melhor Bancada que o Rio Grande já teve. 

            Tenho muito carinho e sempre tive muita amizade, respeito e admiração pela jornalista Ana Amélia Lemos. Sinto-me feliz. Muitos colegas da Ana Amélia eu convidei e consegui que aceitassem entrar na política. E eles fizeram política. Um deles é o Zambiasi, que estava nesse seu programa para o qual está voltando. Consegui retirá-lo, quase à força, mas ele aceitou e há 20 anos está na política.

            Eu poderia citar outros, como Ibsen Pinheiro, que tinha um programa na TV Gaúcha e na Rádio Gaúcha; José Paulo Bisol, então com um programa de grande aceitação - a TV Mulher, na TV Gaúcha; Fogaça, também com um grande programa na época; Ruy Carlos Ostermann, uma das figuras mais cultas, mais competentes e mais responsáveis que conheci. Podia citar o Mendes Ribeiro, o pai, homem de rádio, jornal e televisão, também durante anos um grande e extraordinário repórter. Eu poderia citar muita gente.

            Com Ana Amélia, não tive sorte, porque não fui na hora exata. Naquele momento, ela era convidada muitas vezes, inclusive por mim, mas sua resposta era uma só: ela não estava interessada.

            Eu achei que este “não estava interessada” fosse definitivo. Nunca imaginei que, de repente, ela estaria aí, Senadora. E não me surpreende se, daqui a quatro anos, ela for candidata - e uma grande candidata - ao Governo do Rio Grande do Sul.

            Por isso eu lhe dou as boas-vindas, Ana Amélia! Você não calcula o que ouço de todas as pessoas com quem falo de política, a primeira coisa de que elas falam é da alegria de ver a Ana Amélia na política.

            E como ela diz em sua reportagem, e eu imagino isso, deve ser muito interessante. Ela fez mais de mil palestras pelo interior do Rio Grande do Sul, e deve ser interessante, e em qualquer lugar a que ela chegasse era como se ela chegasse ali pela décima, pela vigésima vez, porque a sua imagem na televisão é tão constante e todos estão acostumados a vê-la duas, três vezes por dia todos os dias, que as pessoas que encontram Ana Amélia a cumprimentam assim: “Como vai a senhora? Tudo bem?” E depois, às vezes, encabulados, dizem: “Desculpe-me, mas é que a senhora entra tanto na minha casa que pensei que a senhora era minha grande amiga”. Isso é interessante. E várias pessoas me disseram isso com relação a ela.

            Por isso, trago aqui a minha palavra de muita alegria.

            Ana Amélia, entre todas as pessoas a que me referi e a que posso me referir, que largaram a vida na imprensa, na rádio, no jornal, na televisão, e entraram na política, é difícil encontrar alguém como você, com tanto preparo, com tanta capacidade, com tanta integridade, com tanta competência.

            Ana Amélia era uma grande jornalista. Houve momentos em que Ana Amélia foi talvez a jornalista mais badalada do Brasil. Na época em que o Delfim Netto era o mago das finanças, ele tinha, como tem, muito respeito pela Ana Amélia. E muitas vezes, na época em que o Delfim era o todo-poderoso, na época do chamado milagre brasileiro, lembro-me de que em um debate na Assembleia do Rio Grande do Sul, os políticos faziam referência ao Delfim dizendo que o Presidente americano tinha pedido ao Governo brasileiro que liberasse o Delfim para ele passar trinta dias lá para orientar o Governo americano para ele sair de uma crise. Naquela época, a Ana Amélia era a jornalista por quem o Delfim tinha o maior respeito. Suas notícias, suas entrevistas mais profundas ele fazia questão de dar a ela, porque ela as interpretava da maneira exata.

            A mim, pessoalmente, o Delfim disse isto várias vezes: “Interessante essa Ana Amélia. Ela bota no jornal melhor do que tu fala. Eu nunca precisei fazer uma interpretação daquilo que ela escreve. Geralmente, tu fala para o jornalista, ele escreve, publica, e tu, depois, tem que dar mil explicações. Ana Amélia publicou, tá publicado. É aquilo, é absolutamente aquilo”.

            É por isto que há essa expectativa em torno da entrada da Ana Amélia nesta Casa. E eu, que estou saindo, bem mais velho que ela, mais velho do que o marido dela, eu a vejo iniciar com grande alegria. Acho que o Rio Grande do Sul terá uma mulher de primeira grandeza.

            Aliás, o Rio Grande está na moda. Nossa Governadora fez um governo respeitável, nossa Presidente da República é mineira... Claro que é mineira, e ninguém vai tirar isso dela. Quando ela, mineira, saiu, era uma jovem estudante, mas entrou na vida, na luta, teve sua experiência de luta, de vida, foi lá no Rio Grande do Sul. Jovem, recém-casada, depois de sair da resistência, da luta, da tortura, da violência, quase da morte, ela conseguiu se reintegrar e começar a fazer política foi lá no Rio Grande do Sul, no Ieps, organização que reunia intelectuais, jovens de praticamente todas as entidades representativas do pensamento progressista do Rio Grande do Sul, com o Collares na Prefeitura, com o Olívio no Governo do Estado. E agora Ana Amélia. Três mulheres do Rio Grande do Sul, na época em que as mulheres estão na moda. Isto no Rio Grande do Sul, como alguns brincam, terra de macho.

           Houve um grande debate aqui no Congresso e aí o Britto velho bateu na mesa daqui da tribuna e disse a um Senador de Minas Gerais: “Não diga isso. Lá no Rio Grande do Sul nós somos machos, todos machos”. Aí o seu colega mineiro respondeu: “Eu respeito V. Exª. Nós, em Minas Gerais, somos diferentes: metade macho, metade fêmea, e nos damos muito bem”. (Risos.)

            Mas eu digo que exatamente por isto é que eu fico feliz de ver, nesse apogeu, na Presidência da República, uma mulher que teve a sua formação política lá no Rio Grande; ver uma mulher que sai do governo e a expectativa, neste Congresso, pela Ana Amélia Lemos, que, não tenho nenhuma dúvida, vai brilhar como política e como mulher.

            Eu tenho muito carinho pela Ana Amélia. Eu a respeito muito, porque ela é uma pessoa de bem, uma pessoa digna, uma pessoa correta, uma pessoa honesta, uma pessoa decente.

            Na sua vida, como mulher, como esposa, como cidadã, como profissional, em qualquer análise que você fizer, ela é nota dez. Nunca vi uma referência que não seja de dignidade, de admiração, de carinho e de respeito pela Ana Amélia.

            Por isto, neste meu final de vida pública, renunciei à Presidência do MDB do Rio Grande do Sul, em caráter definitivo, e encerrei minha vida no âmbito de vida partidária. O Rio Grande do Sul tinha fechado questão que tinha que votar no Serra no segundo turno, e eu, que votei na Marina no primeiro turno, não tinha nenhuma dúvida de que ia votar na Srª Dilma. E votei na Dilma.

            Como Presidente, ficava muito difícil para mim não seguir a determinação do Partido. Eu, que já estava meio disposto a sair mesmo, larguei a Presidência, e estou muito feliz de ter votado na Dilma, acompanhando o seu governo, a sua organização, nas horas complicadas do seu início, e vendo análises que se fazem da diferença.

            Oito anos atrás, o Lula brilhando, percorrendo o mundo, lançando grandes nomes, grandes projetos, uma brilhatura total; e a Yeda na sua singeleza, longe da imprensa, longe das viagens, preocupada em formalizar o seu governo.

            Eu tenho rezado muito, minha amiga Dilma, para que Deus te ajude, para que Deus te ajude na seleção. Não é fácil. Repare que Jesus Cristo, na hora de escolher o mais importante, o ‘Secretário da Fazenda’, o homem do dinheiro, errou: escolheu Judas. Para controlar o dinheiro, Ele escolheu alguém que O vendeu por trinta moedas. Então, não é tão fácil assim.

            Por isso, a tua concentração é importante, assim como é importante o fato de não teres feito manchetes nem repercussão espetacular, nem buscado grandes notícias, nem percorrido o mundo. Acho que tua amizade e teu respeito para com o Lula são importantes.

            Alguém já está querendo fazer intriga. Dizem “ah, porque é o Lula que está mandando...!” Isso, minha amiga Presidente, é assim mesmo. Tenho certeza de que você não vai ligar. Nem você, nem o Lula. Vão querer fazer intriga: “mas quem manda é ele, não sei o quê...”

            Nós sabemos que, no Brasil, quem manda é quem tem a caneta. E a Dilma vai ter a caneta. Mas a Dilma vai ter a grandeza de ouvir. É importante que ouça, que debata, que discuta. É aquilo que ela disse no pronunciamento dela, o primeiro depois de eleita: “várias vezes irei na casa do Lula, bater à porta do Lula”. Isso é positivo.

            Eu até dei uma interpretação que as pessoas, quando fiz meu pronunciamento, depois vieram mexer comigo. Eu disse que tinha gostado do pronunciamento. Gostei disso que ela disse de ir à casa do Lula para conversar com ele. Gostei também de, indiretamente, ela estar dizendo que não era o Lula que iria ao Palácio conversar com ela, mas que ela é que, quando quisesse, iria procurar o Lula na casa dele. Não sei se essa minha interpretação é piada ou não, mas, na verdade, é importante que isso aconteça. E é nesse contexto que coloco a Ana Amélia.

            Diz ela que vai defender o Rio Grande do Sul, o que é muito importante. Ninguém melhor do que a Ana Amélia. Ninguém, nesses últimos trinta anos, andou tantas vezes e debateu tantas questões e viajou tanto pelo Rio Grande do Sul como ela. Ninguém tem mais condições do que ela.

            O Governador Tarso telefonou para ela lhe felicitando e ela lhe disse: “Estarei no Senado Federal defendendo o Rio Grande do Sul. Conte comigo!” A Presidente Dilma telefonou para ela e ela disse que iria votar no Serra, porque era o candidato do seu Partido, mas disse-lhe que a Dilma poderia contar com ela em tudo aquilo que dissesse respeito ao Rio Grande e ao Brasil. Sei que vai ser assim.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concederei um aparte a V. Exª dizendo que vim a esta tribuna... À época, só estava eu aqui e a sessão poderia ser encerrada. Eu esperava V. Exª, que sei que vai ocupar a tribuna. Como V. Exª não estava, falei antes. Mas eu lhe concedo o aparte agora, sabendo que V. Exª falará logo após.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Pedro Simon, primeiro, felizmente, pelo conhecimento de todos nós, V. Exª ainda tem mais quatro anos. Então, tem tanta coisa por... Aqui, no cotidiano de nossas vidas, nos próximos quatro anos, onde serei seu colega, vamos continuar a tê-lo como um representante dos mais dignos da história do Senado e do Rio Grande do Sul. E quero compartilhar com V. Exª a avaliação que faz dos Senadores do Rio Grande do Sul, a começar por Sérgio Zambiasi, que aqui honrou tão bem o seu mandato. Preferiu não se candidatar agora, preferiu voltar à sua atividade como radialista muito ouvido no Rio Grande do Sul, onde ele vai continuar as reflexões com que tantas vezes nos brindou aqui e de maneira tão positiva em defesa de seu Estado, do povo e das questões importantes para a democracia e o bem-estar da população brasileira. V. Exª também ressaltou as qualidades extraordinárias do Senador Paulo Paim, que fizeram com que ele tivesse um reconhecimento consagrador nessa eleição, com votação muito expressiva, numa disputa muito renhida, muito difícil até, com um adversário - adversário, não -, um companheiro de disputa da qualidade do ex-Deputado Federal e Governador Germano Rigotto. Mas V. Exª salienta as qualidades da mulher Ana Amélia Lemos, e eu também, não tanto quanto V. Exª, muitas vezes fui por ela entrevistado aqui. Ela, volta e meia, também me chamava para falar para a emissora da RBS do Rio Grande do Sul, às vezes em cadeia nacional, para analisar todos os temas importantes que aqui vivemos. Eu também compartilho com V. Exª a avaliação bastante positiva que faz do quanto ela poderá realizar pelo seu Estado, com toda a experiência que teve, o conhecimento do Rio Grande do Sul, ela que visitou praticamente todo o Estado nessa campanha - e já o fazia em função da sua profissão. Certamente, ela terá, com a Presidenta Dilma Rousseff e com o Governador Tarso Genro, um relacionamento de extraordinária qualidade para o bom proveito da população do Rio Grande do Sul. V. Exª salienta aqui as qualidades formidáveis primeiro da Marina, em quem votou no primeiro turno. O voto de V. Exª é extremamente respeitado por todos nós; eu também reconheço em Marina Silva um extraordinário valor. Ela deu uma contribuição que veio para ficar, a sua influência nas eleições.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O tema da sustentabilidade e do meio ambiente ganhou outra importância a partir da presença dela. E também ressalta as qualidades de quem V. Exª votou no segundo turno, a Dilma Rousseff, que V. Exª conheceu muito bem no Rio Grande do Sul. Muitas vezes V. Exª aqui ressaltou que a presença dela na chefia da Casa Civil deu uma condução de seriedade na coordenação de projetos, o que fez com que houvesse uma qualidade muito positiva no Governo do Presidente Lula. Eu aqui ouvi muitas vezes V. Exª ressaltando isso. V. Exª já pode e já faz o prenúncio de que, em alguns momentos, a Presidenta Dilma Rousseff vai se destacar muito positivamente. Ontem ouvi uma declaração dela que me permita V. Exª destacar. Em entrevista ao The Washington Post, que, possivelmente, com o The New York Times, faz a dupla dos mais importantes jornais dos Estados Unidos da América, ela fez uma declaração que ganhou destaque de toda a imprensa brasileira nos Estados Unidos e, certamente, em muitos lugares do mundo, possivelmente espero até que no próprio Irã. Permita-me ler a breve declaração que ela fez. Quando perguntada a respeito, garantiu, por exemplo, que, “se já tivesse tomado posse, o Brasil não teria se abstido na votação da Resolução das Nações Unidas e na condenação da violação dos direitos humanos no Irã”. Daí ela disse: “Eu não endosso o apedrejamento. Não concordo com as práticas que têm características medievais para as mulheres. Não há nuances. Não vou fazer qualquer concessão a esse respeito”. Disse numa referência à condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashanti, acusada de adultério e de cumplicidade no assassinato do marido: “Minha posição não mudará quando assumir a Presidência. Não concordo com a maneira como o Brasil votou. Não é a minha posição”. Eu avalio que essa declaração é um sinal muito importante, dado pela Presidente Dilma Rousseff com sentido amplo, na questão de direitos humanos e do respeito às questões da mulher. Destaco isso como algo muito consistente com as observações que V. Exª fazia há pouco sobre as qualidades da nossa Presidenta eleita, Dilma Rousseff.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço a V. Exª o aparte e acho muito importante a análise que V. Exª faz.

            A Presidenta, na minha opinião, corretamente - imagine se ela estivesse dando entrevista em rádio, jornal e televisão todo dia; se desse uma, tinha de dar uma atrás da outra -, afastou-se dos meios de comunicação. E, no meio disso, vem essa entrevista de que V. Exª está falando. E, nessa entrevista, ela foi muito feliz. Tem razão V. Exª. Deixou claro, inclusive, a independência dela. Um voto na ONU... Eu até não sei, acho que votaria com o Brasil aquela questão. Mas, na verdade, ela teve... Não, não, estou confundindo. Eu votaria com o Brasil, eu faria como o Brasil fez na decisão com relação à Palestina. Acho que esse outro não entra na discussão, mas há o respeito a ela, porque acho que ela foi muito competente e demonstrou muita autoridade.

            Aliás, isso ela vem fazendo. Se você analisar, o Lula também deu a entender que, por ele, o Presidente do Banco Central ficaria. E não ficou, porque há tempos a gente sabia que havia uma divergência entre ele, o estilo dele e o da Presidenta. E isso, aos poucos, vem aparecendo.

            Eu quero aqui encerrar. Eu, Presidente do PMDB do Rio Grande do Sul, participei da campanha. E quero deixar aqui registrado, porque, se não deixasse este registro, poderia parecer estranho. O PMDB perdeu a eleição no Rio Grande do Sul, mas nós tínhamos dois grandes candidatos. O Senado ganhou Paim. Ótimo! E ganhou Ana Amélia. Ótimo! Mas o nosso candidato, o companheiro Rigotto, seria um grande Senador. Foi um grande Governador no Rio Grande do Sul. Foi um grande Deputado Federal, Líder do Governo. Inclusive, agora, no Governo do Lula, no Conselho, foi uma das pessoas de maior expressão. Tinha um grande projeto e uma grande garra. Ele foi relator e apresentou o trabalho da reforma tributária no Governo. Ele e o atual novo Chefe da Casa Civil, os dois atuaram e fizeram um projeto de reforma tributária que chegou a ir à Mesa da Câmara dos Deputados para ser votado, quando o Governo o retirou. Ele tinha essa proposta da reforma tributária e da reforma política.

            O Rigotto é um guri novo, tem muito pela frente, tem um grande futuro pela frente. Mas não posso, no momento em que saliento os que ganharam, deixar de salientar a profusão de grandes nomes. Com toda a sinceridade, eu que estou saindo, gostaria de, neste momento, se fosse possível, sair e dar o meu lugar para o Rigotto, porque acho que ele faria um grande trabalho.

            Tivemos também um grande candidato ao governo do Estado, que, durante 16 anos, foi estrela nesta Casa: o companheiro Fogaça. Ele, por dois mandatos, brilhou nesta Casa. Foi Prefeito, reeleito Prefeito e fez uma grande administração na prefeitura de Porto Alegre. Seria um grande Governador.

            Perdemos porque o PMDB no Rio Grande do Sul ficou em uma situação muito estranha. Nós defendíamos, porque defendíamos uma candidatura própria, e a candidatura própria foi derrotada na convenção nacional do PMDB. Então, ficamos em uma situação muito complicada.

            Uma aliança com o PDT, que deu o vice, um grande companheiro, candidato a vice-governador. Mas o PDT estava fechado com a candidatura da Dilma, e o PMDB com uma questão aberta. Foi difícil fazer o discurso, e nós não conseguimos encontrar o rumo.

            Mas o Fogaça é um grande nome. Penso que o PMDB do Rio Grande do Sul pode se orgulhar, porque existem derrotas que são derrotas, mas que devem ser vistas com respeito porque não humilham; até dignificam.

            O Fogaça é um grande nome; o Pompeo de Mattos, nosso candidato a vice, do PDT, é um grande nome; e o Rigotto, um grande nome.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E, ao seu lado, como suplente, a Lícia Peres, um nome extraordinário. Saliente-se, outra mulher, amiga e colega da Dilma. Junto com a Dilma, entre as mulheres do PDT, lutaram e defenderam a caminhada da anistia. Lícia Peres - viúva do ex-Prefeito Glênio Peres -, vice de Rigotto; uma dupla extraordinária.

            Ouço V. Exª como maior prazer, Senador.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Governador Simon, não imagina V. Exª com que desespero eu percorri o trajeto de onde estava até ao plenário do Senado porque assistia a esse seu discurso e me preocupei - muito embora o Senador Suplicy já tenha feito uma correção embora V. Exª tenha voltado a afirmar -, pois V. Exª já disse duas vezes que está deixando a Casa. Na verdade, V. Exª está no meio de um mandato, tem mais quatro anos para servir ao Rio Grande do Sul e ao Brasil. E esse “está deixando a Casa” assusta. Pessoa que estava ao meu lado disse: “O mandato do Simon terminou, ou ele está renunciando?” Eu disse: nem uma coisa, nem outra; é a nostalgia do fim do ano. Aliás, o discurso de V. Exª não me surpreendeu, porque V. Exª é um homem que eu aprendi a admirar antes de chegar à Casa. E, durante todo o período em que passei na Câmara e no Senado, V. Exª foi uma das pessoas por quem eu tive a oportunidade de nutrir uma admiração, e não me arrependi ao longo do tempo.

            O SR. PEDRO SIMOM (PMDB - RS) - É a convivência amiga que tivemos com pessoas amigas que nos ensinaram a ambos.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - É evidente. Mas, hoje, V. Exª fez uma coisa por que eu vou sair daqui mais feliz do que nunca: V. Exª fez um discurso só de elogios. Deixou de lado um pouco o Judas, por ter traído Cristo, mas todo o mundo que V. Exª citou hoje - o que é raro no temperamento e na personalidade de V. Exª...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Então, vamos fazer justiça. A única pessoa que eu “critiquei”, que escolheu Judas para Secretário da Fazenda, e nisso ele errou.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois é. Tudo bem! Foi a única coisa. E V. Exª fez elogios justos. É evidente que não conheço Ana Amélia como V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É excepcional.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Mas convivi com ela bem aqui. Tive essa oportunidade. Tive também o privilégio de ser entrevistado por ela várias vezes. E quero dizer que as entrevistas da Ana Amélia a mim foram indiretamente proporcionadas por V. Exª O primeiro momento foi aquele momento crítico para a indústria gaúcha, quando V. Exª me intimou a ir ao Rio Grande do Sul para resolver a situação da indústria do fumo...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - ...projeto lotado de hipocrisias queria tirar o sustento das famílias de Santa Cruz, e eu fui lá com V. Exª. Depois, foi quando eu fui solidário aqui a V. Exª, e nós ficamos quase dez horas nos alternando nessa tribuna para que o Rio Grande do Sul não perdesse aquele empréstimo.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Para que o projeto chegasse à Casa, porque ele ainda não tinha chegado.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Sim, chegasse à Casa. A Casa Civil não queria mandar - V. Exª sabe -, e nós ficamos aqui. Eu perdi um compromisso político no Piauí, mas achei que, naquele momento, era mais importante a solidariedade ao Rio Grande do Sul, porque aquilo podia ser apenas a primeira de uma série de atitudes que o Governo, naquela época, estaria tomando com relação a alguns Estados. Não me arrependo. E hoje vejo aqui V. Exª elogiar Dilma Rousseff, e num aspecto eu concordo plenamente. No Nordeste, se diz que a pessoa...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - ...tem cabelo nas ventas. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Acho que falta apenas ela dizer ao Presidente da República e ao Brasil que não quer aquele Aerodilma, aquele avião de US$500 mil, neste momento.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Com todo o respeito, eu tenho certeza de que ela não quer.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois é. Mas, no restante, ela tem-se mostrado uma pessoa de firmeza. Essa posição, Senador Suplicy, com relação ao Irã, é louvável. O que não é louvável é o silêncio, inclusive nosso, dos Parlamentares, durante todo esse tempo, por um comodismo político, por dizer “amém”, por não termos combatido, nessa tribuna livre que é o Senado Federal, a atitude tomada pelas autoridades do Irã. Espero que agora as pessoas se sintam livres das amarras e comecem a defender os direitos humanos, porque, evidentemente, Sr. Senador Simon, a defesa dos direitos humanos não pode ter a característica complacente. Ou você defende ou não defende. A defesa ideológica é hipócrita. Esse caso - e ela teve a coragem de tomar essa atitude agora - já é uma sinalização para o futuro. E espero que os que participam da sua base de apoio não se acovardem nessa defesa e tomem lugar na tribuna para defender o que há de mais sagrado, que é o instituto dos direitos humanos no Brasil e no mundo. Portanto, Senador Pedro Simon, eu me congratulo com V. Exª, com os elogios que fez a todos, e quero dizer que não sairei do Senado sem registrar este dia em que V. Exª fez só elogios. Parabéns!

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Esse é um Senador que, infelizmente, não vai estar conosco aqui ano que vem. É fácil sentir a falta que ele fará.

            Eu vou acrescentar mais um elogio a V. Exª. Eu me lembro de um guri de menos de 30 anos, metendo-se no nosso meio. Depois dele, o mais moço era eu, com 60 e tantos. Tancredo, Teotônio, Ulysses, Arraes, Montoro, Covas, e o guri vinha e era metido e sentava e participava. E, nas horas mais dramáticas e mais difíceis na vida deste País, lá estava o Deputado Heráclito, guri, menino. Mas, a começar pelo Dr. Ulysses, todos tinham um carinho muito grande pela sua competência, pela sua capacidade. Cresceu e brilhou nesta Casa.

            Não sei se o Presidente Lula, que foi o grande vitorioso dessa campanha, pode somar à sua biografia que ele contribuiu para a sua não eleição. Eu acho que não. Eu acho que, se ele tivesse ficado quieto e não tivesse se metido, nós teríamos muito a ganhar com a presença de V. Exª.

            Mas V. Exª, na sua perspicácia maliciosa - porque V. Exª tem muito de malícia -, chamou-me atenção para algo que eu realmente não tinha notado. Fui falando naturalmente - falei o que me vinha na alma - num discurso de fim de ano, quando eu devia trazer minha saudação à minha querida amiga que estava chegando e não podia deixar de sentir a saída do que estava saindo e não podia deixar de lembrar meus irmãos que perderam. Realmente, não sei se muitas vezes eu tenha feito discurso só de elogio. Mas V. Exª notou.

            Então, eu quero dizer agora, com profunda sinceridade: eu não me lembro de outra oportunidade de ter vindo a esta tribuna e ter me sentido tão feliz, tão tranquilo como agora. Sinto-me muito mais bem adaptado a essa posição do que à outra de bater, de condenar, e muita gente pode pensar que o Simon faz isso porque gosta de fazer isso. Não gosto. Eu gosto muito mais de poder elogiar a Ana Amélia, porque é uma mulher fantástica que vem para cá. Não posso deixar de dar um abraço carinhoso ao Rigotto, que é uma pessoa extraordinária, que não veio, mas virá. E eu não posso deixar de reconhecer que a Dilma, desde que ganhou, vem atuando com uma singeleza, com uma humildade que a mim me agrada muito. Muito. Eu entendo - aliás, todo mundo está entendendo - quase que a explosão do Lula nesse seu final de Governo. Ele não esconde isso. E a Dilma está respeitando. Deixe o Lula. Acho que vale a pena, Sr. Presidente.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Simon, eu queria apenas, com a permissão do Presidente e o testemunho do Senador Dornelles, fazer aqui um reparo, e V. Exª há de concordar. V. Exª citou, no período da reforma tributária, o Rigotto e o Palocci, mas se esqueceu de citar uma figura extraordinária, que foi o Deputado Mussa Demes, que era o Presidente da Comissão. O Palocci era o 1º Vice-Presidente. Mussa Demes, já falecido, era piauiense. Eu gostaria apenas que esse seu discurso perfeito não tivesse a omissão a um piauiense que foi quem presidiu a Comissão, muito bem assessorado e ajudado naquela época pelo 1º Vice...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - .... que era Antonio Palocci. Juntamente com Rigotto, percorreram o Brasil inteiro, discutindo com setores da sociedade sobre essa aprovação. Eu queria apenas fazer esse registro, com a sua permissão.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu agradeço.

            Eu encerro, Sr. Presidente. Digo-lhe muito obrigado por essa chance de lembrar o que de importante vai chegar, que é Ana Amélia, e a tristeza do que vai sair, que é Zambiasi.

            Muito obrigado a V. Exª.

 

*********************************************************************************

DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

*********************************************************************************

Matéria referida:

Ana Amélia Lemos: Eu quero carregar o piano.


Modelo1 5/7/243:55



Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/12/2010 - Página 56021