Discurso durante a 203ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca de reportagem veiculada no Jornal da Globo, que mostrou as diferentes realidades para quem planta soja nos Estados Unidos e em Mato Grosso. Apelo à presidente eleita, Dilma Rousseff, para que invista na logística e na infraestrutura de Mato Grosso.

Autor
Jayme Campos (DEM - Democratas/MT)
Nome completo: Jayme Veríssimo de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Comentários acerca de reportagem veiculada no Jornal da Globo, que mostrou as diferentes realidades para quem planta soja nos Estados Unidos e em Mato Grosso. Apelo à presidente eleita, Dilma Rousseff, para que invista na logística e na infraestrutura de Mato Grosso.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2010 - Página 57941
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRODUTIVIDADE, TERRAS, BRASIL, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, TELEJORNAL, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), PERDA, LUCRO, BRASILEIROS, COMERCIALIZAÇÃO, SOJA, DEFICIENCIA, LOGISTICA, TRANSPORTE, ARMAZENAGEM, COBRANÇA, ORADOR, PROVIDENCIA, GOVERNO, CANDIDATO ELEITO, VALORIZAÇÃO, SUPERAVIT, BALANÇA COMERCIAL, INVESTIMENTO, AMPLIAÇÃO, FERROVIA, ASFALTAMENTO, RODOVIA, ACESSO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), PORTO DE SANTAREM, ESTADO DO PARA (PA), LIGAÇÃO, REGIÃO CENTRO OESTE, PORTO, OCEANO PACIFICO, INCENTIVO, HIDROVIA.
  • DEFESA, INCLUSÃO, OBRAS, ECLUSA, EDITORIAL, LICITAÇÃO, USINA HIDROELETRICA, SUGESTÃO, PROJETO DE LEI, EXIGENCIA, PRESERVAÇÃO, HIDROVIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. JAYME CAMPOS (DEM - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Adelmir Santana, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria de falar um pouco sobre meu querido Estado do Mato Grosso nesta oportunidade.

            Quando a fertilidade da terra resolve premiar o esforço e a obstinação do homem, o resultado é sempre a fartura e o progresso. Desde tempos imemoriais, as colheitas generosas impulsionavam os avanços econômicos e sociais da civilização. A escassez, ao contrário, representava a guerra e a miséria.

            Para plantar e comercializar de forma célere e profissional, a humanidade aprimorou a técnica e a logística de produção até alcançar métodos sofisticados de controle das lavouras e da criação de animais, da conservação e do transporte destes gêneros.

            Portanto, a boa colheita é sempre motivo de regozijo e satisfação coletiva. Ela proclamava, Senador Gilvam Borges, tempos venturosos e preconizava a supremacia de um povo. O mundo mudou, mas a safra continua sendo o principal indicador do desenvolvimento de uma comunidade.

            Por isso mesmo, ao anunciar a descoberta do torrão brasileiro, Pero Vaz de Caminha, em missiva ao rei de Portugal, já se mostrava otimista com a fecundidade de nossas terras. “Em aqui se plantando, tudo dá”, escrevia ele, de forma profética, nos idos de 1500.

            Pois bem, nosso solo é fértil e abundante; nossa gente é destemida e laboriosa; mas faltam-nos visão estratégica e investimentos em infraestrutura. Isto foi o que apurou reportagem exibida, segunda-feira, no Jornal da Globo. Os jornalistas Flavio Fachel e Jonas Campos mostraram as diferentes realidades para quem planta soja nos Estados Unidos e em Mato Grosso.

            Se aqui o grão atinge uma produtividade espetacular, em média 11% superiores ao conseguido nas plantações norte-americanas, lá a lucratividade é que pesa a favor deles. A equação é simples: no Brasil, a perda de rentabilidade ocorre na deficiência da logística do transporte e na armazenagem.

            Segundo explica a reportagem, a tonelada de soja tem preço fixado em pregão internacional, portanto ela vale US$480 tanto em nosso País quanto na América do Norte. Porém, ao chegar ao seu destino final, o produtor mato-grossense apura o lucro de US$328 por tonelada, enquanto o sojicultor ianque obtém renda de US$458 pelo mesmo produto. Ou seja, nosso agricultor deixa US$130 pelo caminho.

            Mesmo estando no Meio Oeste, a soja americana anda no máximo 50 quilômetros de caminhão até chegar aos elevadores das barcas que a escoarão por via fluvial até os portos do Atlântico, na região sul do país.

            Da Fazenda Joanildes, em Nova Ubiratan, em meu Estado do Mato Grosso, onde a reportagem foi produzida, até o terminal ferroviário de Alto Araguaia, na divisa com Goiás, nossos grãos viajam cerca de mil quilômetros.

            Neste percurso extenuante e perigoso, ao longo da BR-163, o caminhão que foi recarregado no Município de Sorriso cruzou buracos, acidentes e uma fila interminável de carretas. Dezoito horas depois, chegou a sua paragem. Embarcada na composição, a soja leva mais três dias e meio até chegar ao porto de Santos.

            Mas, Sr. Presidente, as terras mato-grossenses oferecem sua produtividade ímpar ao agricultor, porém a logística, deficitária e atrasada, subtrai a sua lucratividade. Sem hidrovias, ferrovias e meios de armazenagem condizentes com nossa importância no cenário agrícola internacional, os espetaculares resultados de nossas safras vão perder o viço econômico.

            Mesmo assim, relatam os repórteres da TV Globo, há um crescente interesse dos lavradores americanos na produtividade local, tanto que alguns deles visitam e até adquirem terras em Mato Grosso.

            Nossa pujança está atraindo a cobiça internacional, mas nossos governantes ainda estão adormecidos em berço esplendido, negando-se a enxergar o valor econômico e social dos cerrados brasileiros, de onde brota ouro em grão, de onde sai o superávit da balança comercial do País e para onde uma nação produtiva caminha.

            Mato Grosso precisa ser contemplado com investimentos maciços em sua infraestrutura econômica, principalmente nos corredores de exportação de sua exuberante produção agropastoril. Precisa que os trilhos da Ferronorte prossigam até Rondonópolis, depois Cuiabá, caminhando para o médio norte do Estado do Mato Grosso. A Ferrovia Centro-Leste precisa sair do papel.

            Por outro lado, a pavimentação asfáltica da BR-163 deve ser concluída no trecho entre Mato Grosso e o porto de Santarém, no Estado do Pará. Assim, uma nova rota se abre para o escoamento de nossa colheita para os países asiáticos e a Europa.

            Outra alternativa é a ligação rodoviária entre nossos campos produtivos e os portos do Pacífico, com o trajeto sendo feito através de Cáceres, que é um Município da região oeste do Estado, San Mathias, até o litoral chileno, em Arica, e o peruano, em Ilo.

            Além disso, a experiência americana com as hidrovias deve ser introduzida no País. Temos, por exemplo, a hidrovia Teles Pires-Juruena-Tapajós, que irá reduzir os custos de transporte e a tensão sobre as rodovias, sempre congestionadas e esburacadas.

            Sr. Presidente, eu gostaria de manifestar meu entusiasmo com a correção das informações e a firmeza da linha editorial impressa nesta e em tantas outras reportagens do Jornal da Globo, requerendo à Mesa Diretora da Casa que sejam enviados votos de congratulações do Senado à direção de jornalismo da TV Globo, aos apresentadores e editores-executivos do telejornal noturno da emissora, Christiane Pelajo e William Waack, e aos repórteres Flavio Fachel e Jonas Campos.

            Produzir um país justo e próspero começa justamente com a compreensão das nossas deficiências estruturais e o relato corajoso dos exemplos de superação e de crença no trabalho como ferramentas para construção de uma sociedade fraterna e progressista.

            Se nosso solo é bom, nossa gente é especial. Então, nada nos falta para semear um futuro melhor.

            E quero concluir, Sr. Presidente, dizendo da importância do Governo investir em infraestrutura. Mato Grosso tem dado uma contribuição enorme para o Governo Federal, sobretudo para a nossa balança comercial. Todavia, é muito precária a questão da logística e da infraestrutura, tendo em vista que, lamentavelmente, transportamos nossa produção por quase 1.600 ou 1.700 quilômetros até que se atinja os grandes portos: o porto de Paranaguá ou o porto de Santos.

            Senador Adelmir Santana, que é um brilhante e operoso Senador da República, como os demais Senadores aqui presentes, espero que revejamos os conceitos das concessões dos serviços elétricos, ou seja, para a construção das usinas hidrelétricas no Brasil, tendo em vista que os grandes potenciais hidráulicos que podemos explorar de forma racional e auto-sustentável, as nossas hidrovias.

            Agora mesmo estão sendo licitadas cinco concessões no rio Teles Pires, ou seja, Juruena-Teles Pires-Tapajós e, lamentavelmente, Senador César Borges, não está prevista nenhuma das eclusas. Após a conclusão da obra, a implantação de eclusas fica muito oneroso, Senador João Durval, como foi o caso de Tucuruí. Passaram-se 20 anos... Aquela obra que, se fosse construída no início, custaria, no máximo, R$100 milhões, custou, para os cofres públicos, R$2 bilhões. E atravancou e atrasou o desenvolvimento dessa região do Brasil.

            Portanto, nós temos de, obrigatoriamente, aqui, fazer um projeto de lei exigindo que em qualquer implantação de usinas neste Brasil, desde que os leitos dos rios permitam explorar sua navegabilidade, o Governo Federal entre com as eclusas e, naturalmente, aquele que ganhar a concessão, faça as usinas hidrelétricas nos leitos dos rios de nosso País.

            Portanto, Sr. Presidente, o apelo que faço à futura Presidente da República, Dilma Rousseff, é no sentido de melhorar a logística, não só de Mato Grosso, mas do Brasil; sobretudo a de Mato Grosso, porque temos suficientes cargas para exportar e, mais ainda, precisamos de um transporte intermodal condizente com nossa realidade.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2010 - Página 57941