Discurso durante a 207ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a Oscar Niemeyer pelo transcurso dos seus 103 anos.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Oscar Niemeyer pelo transcurso dos seus 103 anos.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 15/12/2010 - Página 58720
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, OSCAR NIEMEYER, ARQUITETO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, ARQUITETURA, BRASIL, MUNDO, ESPECIFICAÇÃO, CONSTRUÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu estava quase na tribuna; eu estava na boca do túnel!

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; Senador Marconi Perillo, que nos deixa hoje; Senador Cyro Miranda, que assumirá, em breve, essa cadeira, um grande amigo que trago de longos anos. Bem-vindo, Senador Cyro Miranda! Seja bem-vindo à nossa Casa!

            Sr. Presidente, hoje, quero falar sobre um mito, um herói nacional. E, ao contrário de tantos outros, esse está vivíssimo, lúcido e bastante atuante. Trata-se do homem que encantou o Brasil e o mundo com seus desenhos, com o traço inconfundível e irresistível de sua arquitetura. Falo de Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho ou, simplesmente, Oscar Niemeyer.

            Esse ícone maior de nossa arquitetura completa, daqui a três horas e oito minutos, 103 anos. Longevo e de personalidade marcante, o maior arquiteto brasileiro ainda está em plena atividade profissional, atendendo a inúmeros pedidos de projetos para obras espalhadas pelo mundo inteiro. Niemeyer é um personagem, portanto, mundial.

            Sua vida está e será marcada, sempre, pela construção da nova Capital brasileira no meio do Planalto Central. Quem percorre Brasília, antes de ver o lago Paranoá ou as asas do Plano Piloto, vê a marca de Niemeyer estampada em suas principais e belas edificações. Nesta cidade, está seu cartão de visitas, o portfólio maior de suas formidáveis criações. Na Catedral, no Palácio do Planalto, no Alvorada, neste Congresso Nacional, o conjunto arquitetônico de Niemeyer é muito mais do que obras de concreto a abrigar prédios públicos. Elas configuram a representação máxima do sentimento cívico e popular tão caro ao genial comunista convicto, que visualizava em seus projetos, sempre grandiosos e monumentais, a aproximação do povo com sua arquitetura. Certa vez, declarou: “Quando me pedem um prédio público, procuro fazer diferente, criar surpresa, porque sei que os pobres poderão, ao menos, passar e ter um momento de prazer ao ver uma coisa nova.” É exatamente isto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que move o velho mestre criativo: fazer de sua obra um instrumento de contemplação, de admiração para aqueles que têm tão pouco acesso à beleza estética, à qualidade artística. 

            Suas fortes e inabaláveis convicções políticas, admiráveis no sentido da resistência de seus ideais, nunca forjaram barreiras à sua criação. Niemeyer sempre soube colocar sua obra acima de ideologias ou objetivos políticos. Tem consciência de que pratica, por meio de seu oficio e de sua arte, a pequena revolução, aquela que não derruba governos nem sistemas, mas que oferece à sua gente a libertação visual e sensitiva.

            Brasília e sua arquitetura inconfundível, nesse sentido, representam sua obra e aspiração máxima, uma proposta inovadora e absolutamente literária do ponto de vista urbanístico e arquitetônico. A despeito de seus problemas de expansão e de gestão, como qualquer outra cidade moderna, nossa Capital serviu de modelo e de maquete para a experimentação criativa de Niemeyer.

            O Alvorada, por exemplo, é o primeiro palácio do movimento moderno, com linhas curvas e todo envolto em vidro. A Catedral, com seu simbolismo religioso, adornado em vitrais e em formas únicas, rompeu com o padrão estético dos tempos tradicionais. O Congresso Nacional, com suas cúpulas voltadas para a representação das Casas Legislativas, consubstancia outra de suas máximas preferidas: “A Arquitetura não constitui uma simples questão de engenharia, mas uma manifestação do espírito, da imaginação, da poesia”, assim diz Niemeyer.

            Assim é Oscar Niemeyer, Sr. Presidente, senhoras e senhores, um personagem que, ao revolucionar e transformar a arquitetura, consegue transcendê-la. Ser um grande arquiteto não basta para ilustrar sua extensa e rica biografia.

            Niemeyer é mais do que um técnico brilhante em atividade. É um patrimônio moral e humano que temos a obrigação cívica de enaltecer e homenagear. Sua centenária existência pontuou todas as décadas do século passado.

            Ele viu o País crescer assustadoramente, desenvolver-se, urbanizar-se e projetar-se para o mundo. No mundo, testemunhou crises, depressões e períodos de euforia; apoiou e combateu governos, regimes e ditadores; conviveu com grandes guerras e conflitos regionais. Mas, nesses 103 anos, em nenhum momento perdeu a dimensão monumental de obra, a ferramenta inovadora de sua arquitetura.

            Parabéns, Oscar Niemeyer! Muito obrigado por nos ter brindado com suas criações geniais, por ter elevado o nome do Brasil em todos os seus projetos mundo afora, enfim, por ser um personagem tão importante e marcante em nossa história.

            Nesta tribuna, sob o teto magnífico de uma de suas belas obras, saúdo a vida e a obra desse grande brasileiro, um dos maiores do nosso panteão. E rogo para que sua presença continue a nos iluminar por muitos e muitos anos.

            Mais uma vez, e acredito ecoar e antecipar a manifestação dos colegas: parabéns, Oscar Niemeyer!

            Dedico este pronunciamento ao grande arquiteto; dedico-o, enfim, a todos os que abraçaram essa bela profissão. Dedico-o, em especial, à minha mulher, a arquiteta Sandra Moura.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Roberto Cavalcanti?

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Pois não, Senador Suplicy. Concedo, com muita honra, um aparte a V. Ex

            ª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero me solidarizar com a homenagem que V. Exª faz ao extraordinário arquiteto Oscar Niemeyer, que, ao completar 103 anos, merece o respeito, a consideração e, sobretudo, a admiração de todos nós, brasileiros. Trata-se de uma pessoa que dedicou a sua vida para que nós, brasileiros, pudéssemos apreciar o que é a arte proveniente de suas mãos, mas que também tem uma consciência com respeito à busca da justiça, à busca de podermos viver em solidariedade, em fraternidade, com liberdade. Oscar Niemeyer é um verdadeiro gigante da construção do Brasil dos nossos sonhos. Os seus traços, por exemplo, fizeram a beleza do edifício do Congresso Nacional, inclusive do Senado, onde, hoje, estamos falando. Nas vezes em que visitei Oscar Niemeyer, saí sempre com palavras de admiração. São lições extraordinárias as que esse homem nos deixa. Cada um de seus artigos, sempre ilustrados com o seu traço, constitui um legado fantástico para todos nós, brasileiros. Meus cumprimentos por sua iniciativa. Quero, aqui, também abraçar Oscar Niemeyer, juntamente com V. Exª.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Agradeço. É um privilégio ter o aparte de V. Exª em saudação a esse grande arquiteto, que só perde, na verdade, para o Arquiteto da natureza.

            A Senadora Marina Silva, aqui presente, é testemunha disso. A natureza que V. Exª contempla na sua terra natal é imbatível. Fora essa beleza de Deus, os traços de Niemeyer são, na verdade, imperdíveis e marcam o talento de um grande brasileiro.

            Agradeço, Sr. Presidente, mais uma vez, o tempo e o espaço a mim dedicados.

            Muito obrigado.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/12/2010 - Página 58720