Pronunciamento de Mão Santa em 30/11/2010
Fala da Presidência durante a 195ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.
- Autor
- Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Comemoração ao Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.
- Publicação
- Publicação no DSF de 01/12/2010 - Página 54392
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, SOLIDARIEDADE, POVO, PAIS ESTRANGEIRO, PALESTINA, COMENTARIO, HISTORIA, BRASIL, PROCESSO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, COMPROMISSO, LIBERDADE, OPOSIÇÃO, INJUSTIÇA, VIOLENCIA, EXPLORAÇÃO, LEITURA, TEXTO, PRESIDENCIA, SENADO, DEFESA, SOBERANIA.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - É com grande satisfação que presidimos esta primeira parte desta sessão, em que o Senado da República dedica a comemorarmos o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.
Entendo que este Senado da República foi... Houve o antes. Esse negócio de nunca antes não. Houve o antes. O antes está aqui, Rui Barbosa, num momento muito mais difícil do que este, em que não tinha Direito Internacional, atacavam-se nos bares; este Rui Barbosa que consolidou aqui o nosso modelo democrático, que deve ser copiado pelo Oriente.
Nem tudo foi muito fácil. Quando o povo, procurando uma forma de governo, derrubou os governos absolutistas, gritando nas ruas: “liberdade, igualdade e fraternidade” - atentai bem! Aprendam no Senado da República do Brasil, que eu presido agora -, esse grito levou 100 anos pra chegar aqui, 100 anos! E caíram todos os poderes absolutistas, os reis, só imaginários no poder. E nós, 100 anos, fomos retardatários, mas sábios.
Houve o antes, Suplicy, o muito antes, tanto é que esse Rui Barbosa, que era líder do império, que a ele nós devemos a liberdade dos escravos, sancionada por uma mulher, que está aqui representando a grandeza, jogaram flores aqui no Senado, ele que era do Governo dos reis passou a liderar a República. E era difícil. Não foi fácil. Teve a inteligência do homem brasileiro.
Houve o antes: o antes do preparo, o antes da sabedoria, o antes da dignidade. Não é esta história de nunca antes não. O antes!
Iniciou-se, então, a República: o Governo do povo, pelo povo, para o povo.
Um militar... Rui Barbosa foi Ministro da Fazenda, o primeiro com a chave do cofre. No segundo, fazia parte ainda do Governo. Quando eles quiseram dar uma sequência do terceiro militar, ele ensinou aos palestinos, ao mundo: “Estou fora! Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério”. Largou o Governo que ele havia criado, em que havia feito a primeira Constituição republicana.
O segundo militar era forte. Esse negócio de eles dizerem aí dos militares... Não foi uma ditadura. Nós tivemos foi uma “ditamole”. Não foi nada duro não. Eu vivi. Eu conheço a história. Eu vivi.
Em 1972, estávamos ganhando uma Prefeitura na minha cidade antes de Ulysses Guimarães. Eu conheço a história deste País. Era o ano de 1972! Ulysses, em São Paulo, veio em 1974. Eu tenho as cicatrizes da luta, conquistando a democracia deste País.
Quero dizer, então, que Rui Barbosa foi perseguido ali, sim, pelo Marechal, o segundo Presidente, que era chamado de Marechal de Ferro.
Ele deixou o Senado, fugiu para Buenos Aires e foi para a Inglaterra. Lá, ele se fixou, aprendeu e viu a beleza de uma democracia monárquica, mas bicameral. Por isso, somos assim. Nós! Nós! Tivemos antes gente preparada. Então, ele viu. Ele morou lá. Ele era Senador, teve de se ausentar e viu a beleza da democracia inglesa, monárquica e bicameral. E viu o filhote da Inglaterra, José Nery, os Estados Unidos - também democracia presidencialista, mas bicameral. Por isso, nós o somos. E ele veio.
Atentai bem! Aqui, V. Exª foi feliz. V. Exª tem o dever e tem de ter essa grandeza, como eu e todos nós, porque devemos ser o Rui de hoje. Atentai bem! Ele voltou. Foi eleito nosso Presidente civil graças ao sacrifício de Rui Barbosa. Por isso, não caiu. Por isso, fomos mais inteligentes do que os franceses, que fizeram nascer a democracia. Lá, rolaram cabeças. Aqui, não rolou cabeça. Rolou a inteligência de Rui Barbosa. Por isso, ele está ali. É por isso. E ele voltou.
Então, o País impôs um civil Presidente: Prudente de Morais - depois, outro civil, Campos Salles; depois, outro civil, Rodrigues Alves; outro civil, Afonso Pena; outro civil, Nilo Peçanha. Só então, veio um militar. E essa conquista foi um sacrifício à coragem de Rui Barbosa.
Mas ele voltou, o baiano o reelegeu Senador da República, e ele passou nesta Casa 32 anos. Atentai! Mais tempo na Oposição, José Nery. A Oposição não é coisa do diabo, do cão, não. É um aperfeiçoamento na democracia. Está aí. Perseguem a Oposição, porque a ignorância é audaciosa. Está aí Rui Barbosa. O tempo dele foi muito mais na Oposição, para frear o poder e representar o povo.
Então, o terceiro Presidente, Prudente de Morais, deu a missão para ele de ir para a Holanda defender o direito internacional. Os países fortes não podiam atacar os pequenos. E diziam que o Brasil não podia entrar no tema, porque não tinha submarino na época e tudo o mais. Mas essa paz hoje nós devemos a ele, na Holanda, Senador do Brasil, internacionalmente conhecido como Águia de Haia. Hoje, há o direito internacional. Aqui, são os parlamentos.
Assisti, no mundo, a uma das cenas mais bonitas da nossa história. Temos nossas civilizações. Somos filhos mesmo, o Brasil é da Europa. Por isso, nosso modelo é assim. Fomos colonizados pelo povo português da Europa. Nosso modelo democrático é este, trazido e implantado por Rui Barbosa, que está aí. O mundo aplaudiu, e essa foi a cena mais bonita.
Aliás, nós não temos dificuldades, somos cristãos. Meu nome é Francisco, é um nome cristão. Ele andava com uma bandeira no mundo: paz e bem. Por isso, falamos aqui com toda a autoridade: paz! Precisamos de paz. Mas o mundo vibrou com este líder da democracia, Bill Clinton - está aqui a fotografia, relembrando, que reúne Yitzhak Rabin, Bill Clinton e Yasser Arafat, durante a assinatura do Acordo de Oslo, viu, Eduardo? O Acordo de Oslo, V. Exª tem que estudar. V. Exª tem que ser o nosso... Eu sugiro que o seu partido, que é majoritário, eleja-o presidente da Comissão de Relações Exteriores e proceda como Rui Barbosa. Vá buscar o Bill Clinton e aproximar, respeitar os direitos, e vamos buscar aquilo que Francisco pregava pelo mundo com a bandeira: paz! Paz e bem.
Então, este é o momento em que o Senado da República acolheu o gesto desse Senador extraordinário, que representa a grandeza de São Paulo. E nós temos as nossas crenças. Talvez seja preciso saber porque respeito o Eduardo Suplicy. Somos de partidos opostos. Sou da oposição, como Rui Barbosa foi da oposição. Ele sofreu até mais, porque conseguiram botar ele para fora do País, e ainda não me botaram para fora deste País. Eu posso até perder mandato, mas eu sou povo, povo de vergonha, povo de dignidade, povo que não se vende, povo bravo, que gritou: “Liberdade, igualdade e fraternidade!” Quem criou a democracia foi o povo. E disto não abdico: ser um povo de vergonha, que não se submete a caprichos de governos transitórios, aos quais, muitas vezes, carece sabedoria.
Então, estamos aqui para prestar esta homenagem. Quis Deus, acertadamente, e incentivo. Ele é admirado porque a página mais bela do Eduardo Suplicy foi a democracia. Ele perdeu uma prefeitura e se candidatou a vereador da maior cidade do nosso País, a quinta do mundo, São Paulo, e foi o vereador que fez uma austeridade. Desde aí, o povo paulista não esqueceu o seu exemplo de honestidade, honradez e austeridade e o coloca aqui no Senado com expressivas votações. A admiração não é só de São Paulo, é de todo o Brasil. E faço votos que ele continue, seja o nosso Rui Barbosa na consecução da paz.
Então, compete-me ler aqui o trabalho que representa a Presidência:
Mais uma vez, o Senado da República associa-se às manifestações que, ao redor do mundo, marcam o Dia Internacional da Solidariedade ao Povo Palestino. Ao assinalar nesta Casa da Federação e, em nome de todos os brasileiros, nossa solidariedade à heroica luta do povo palestino, cumprimos o dever de coerência para com os sagrados princípios que os legisladores constituintes,, sintonizados com o espírito da sociedade pátria, consignaram nos artigos iniciais de nossa Carta Magna.
É da mais arraigada tradição da diplomacia brasileira o respeito à soberania das nações e autodeterminação dos povos. Somos uma sociedade amante da liberdade e da paz. Repugnam-nos toda forma de opressão e de injustiça. Prezamos, acima de tudo, o conceito de independência nacional.
E, para sintetizar e não cansá-los, eu terminaria com o poeta que exprimiu o seguinte para o mundo:
Quantas vezes deverão as balas de canhão voltar antes que elas sejam banidas para sempre?
Quantos anos pode um povo existir antes que lhe seja permitida a liberdade?
Quantas vezes pode um homem virar a cabeça e fingir que simplesmente não enxerga?
Quantas mortes serão necessárias até que saibamos que já morreram pessoas demais?
Prezados amigos, representantes do povo palestino, minhas senhoras e meus senhores, o Senado do Brasil não vira a cabeça, fingindo não enxergar. Nossa solidariedade ao povo palestino é firme e ativa. Basta de derramamento de sangue. Basta de injustiça, de opressão e de exploração.
Viva a Palestina livre e independente!
E cantai: “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Esse é o ensinamento nosso, nós que somos porta-vozes da democracia. (Palmas.)
A Presidência agradece as personalidades que nos honraram com seu comparecimento.