Discurso durante a 212ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento dos cantores e compositores Noel Rosa e Adoniran Barbosa.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento dos cantores e compositores Noel Rosa e Adoniran Barbosa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2010 - Página 59077
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, CANTOR, COMPOSITOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, TRECHO, OBRA MUSICAL, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MUSICA BRASILEIRA.
  • ANALISE, HISTORIA, PROCESSO, CULTURA, QUESTIONAMENTO, INDUSTRIA FONOGRAFICA, RESTRIÇÃO, DIVULGAÇÃO, QUALIDADE, MUSICA, BRASILEIROS.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador Mão Santa, colegas presentes, David, que representa aqui a lembrança e a memória do grande Noel, nosso belo e querido coral, que tem inclusive, entre seus componentes, uma acreaninha muito querida, senhoras e senhores, tenho esta sessão de homenagem a Noel e a Adoniran quase como um presente. Na minha saída do Senado, um dos últimos atos é presenciar uma sessão em que se homenageia a música brasileira na pessoa desses monstros sagrados da música brasileira.

            Nesse sentido, agradeço ao Senador Inácio, cearense muito querido. Quero lembrar a ele e a todos nós que esta Casa, muito vetusta, muito formal, pouco se dá ao luxo de uma sessão como esta, de resgatar a Música Popular Brasileira, homenagear compositores consagrados e centenários. Mas digo uma coisa: se aqui fazemos muito pouco isso, nas ruas essa homenagem é diária. O povo brasileiro se aferra de tal maneira à memória do que há de melhor na música popular brasileira que homenageia essas figuras diariamente, reproduzindo suas músicas, cantando essas belas canções em todos os pontos de nosso País, Senador Inácio.

            E aqui lembro que, apesar dessas páginas bonitas da Música Popular Brasileira estarem fortemente enraizadas no coração dos brasileiros, há um movimento também muito forte no sentido de a gente virar essa página. A indústria fonográfica brasileira acolhe - eu vou falar com respeito, o meu desejo era outro - um volume imenso daquilo que poderia perfeitamente dar lugar à nossa bela música brasileira. É um espaço enorme que se perde, e, com isso, a indústria fonográfica, sub-repticiamente, vai empurrando, empurrando, empurrando essa nossa memória tão querida, tão saudosa para as calendas, Senador Inácio.

            Esse é um processo de que às vezes as pessoas não se dão conta, não percebem, mas é um processo que há anos está em curso. São deixadas de lado músicas de Noel, de Adoniran, de Cartola, de Pixinguinha que poderiam estar nos nossos rádios, aguçando a memória do povo brasileiro e conquistando, cativando, atraindo a juventude. É aí que a gente perde, pois a juventude de hoje raramente as ouve. E é assim que a gente vai cometendo uma falha inominável com esses artistas, com a nossa música popular.

            A quantidade de compositores, de músicos que não chegam a ter a mínima oportunidade neste País é uma coisa fantástica! Em qualquer lugar do Brasil, você percebe isso, mas, de forma acentuada, percebi isso por volta de década de 60, início da década de 70, quando morei alguns anos no Rio e frequentei muito, Senador Inácio, como a gente diz, a boemia nos subúrbios do Rio, botequins, bares, calçadas, praças, qualquer lugar. Fim de semana era uma coisa de emocionar a quantidade de artistas anônimos, completamente anônimos que chegavam, se aproximavam de uma roda de samba e, de repente, sacavam uma composição. Era uma coisa belíssima! E aquilo ficava no espaço, porque muito poucos deles tiveram ou têm a oportunidade de ter uma composição gravada, um disco produzido. É uma pena que isso ocorra. Enquanto isso, nós acolhemos, com a generosidade que o povo brasileiro tem - e não quero ser preconceituoso -, uma enxurrada. Muita coisa boa, muita coisa bonita também, mas muita, desculpem a expressão, muita porcaria, muita produção musical que poderia dar espaço à nossa Música Popular Brasileira.

            E eu digo que recebo esta sessão com muita alegria. Recebo com muita alegria! O povo brasileiro diariamente... E, com relação a Noel, com relação a Adoniran, com relação a tantos gênios da Música Popular Brasileira, não sei nem como tiveram oportunidade e espaço, porque eram pessoas humildes, trabalhadores, alguns davam um duro danado durante o dia para fazer música de noite. Fico imaginando como é que essas pessoas tiveram oportunidade, como é que tiveram espaço. Só a genialidade mesmo para forçar um paredão como esse que se coloca de parte da indústria fonográfica. Muito difícil!

            O Senador Inácio, de repente, na forma de prosa, declinou aqui versos de algumas canções belíssimas. E olhem como as coisas são: aqui, a gente vê com certo preconceito mesmo o apego que alguns colegas têm à música. O Senador Suplicy é alvo, vira e mexe, de ironia inclusive, porque, em algumas oportunidades, solta a voz, canta. Eu já ouvi piada acerca de uma oportunidade aqui em que a Senadora Ideli, também empolgada, emocionada, cantou alguns versos. Vejam só aonde nós chegamos! Se a política a gente fizesse entremeada de música, Senador Inácio, eu tenho certeza de que a gente conseguiria quebrar algumas resistências, avançar em alguns pontos onde a gente emperra.

            A política é a forma que a gente tem de resolver nossas questões; a música, também. A música é uma forma de a gente resolver nossas questões de forma doce, com muito sentimento. E, como eu disse, a melhor forma de homenagearmos aqui os nossos compositores, os nossos artistas da Música Popular Brasileira é como o povo brasileiro faz: cantando nas ruas, nos bares, em qualquer lugar.

            Hoje é quinta, amanhã é sexta; antigamente, sexta-feira, para mim, era o dia em que eu saía por aí atrás de algum lugar onde houvesse uma roda de samba, onde houvesse um violão para que eu pudesse, mesmo com a minha timidez, também dar o meu recado. Essa é a melhor forma que a gente tem, Senador Mão Santa, de homenagear esses monstros sagrados da Música Popular Brasileira. E eu fico imaginando se a gente aqui, com mais frequência, chegasse aqui e dissesse:

Nosso amor que eu não esqueço

E que teve o seu começo

Numa festa de São João

Morre hoje sem foguete

Sem retrato, sem bilhete

Sem luar e sem violão

Perto de você me calo,

tudo penso e nada falo

Tenho medo de chorar

Nunca mais quero o seu beijo

mas meu último desejo

você não pode negar (Palmas)

            Essa é a homenagem que eu presto, com a voz embargada, a Noel Rosa, Adoniran Barbosa e todos aqueles que, com muita dificuldade, perpetuam a música popular brasileira.

            Muito obrigado.

            (Palmas)

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2010 - Página 59077