Discurso durante a 212ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento do cantor e compositor Noel Rosa.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento do cantor e compositor Noel Rosa.
Publicação
Publicação no DSF de 17/12/2010 - Página 59080
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, CANTOR, COMPOSITOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), REGISTRO, TRECHO, OBRA MUSICAL, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, HISTORIA, MUSICA BRASILEIRA.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “Batuque não é privilégio. Ninguém aprende samba no colégio.”

            São versos sobejamente conhecidos de Noel Rosa, da música “Feitio de Oração”.

            Em outro trecho dessa importante obra, é possível entender o envolvimento de Noel com o samba:

O samba, na realidade,

Não vem do morro nem lá da cidade.

E quem suportar uma paixão

Sentirá que o samba então

Nasce do coração.

            Mas cabe lembrar que, quando o nosso homenageado nasceu, em 11 de dezembro de 1910, o samba ainda nem existia oficialmente.

            A obra que é considerada o primeiro representante dessa espécie só foi registrada em 27 de novembro de 1916. Trata-se de “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida.

            Portanto, Noel Rosa, o “poeta da vila”, viveu os primórdios desse ritmo contagiante que ajudou a desenvolver e enriquecer.

            Noel veio ao mundo em uma família de classe média e estudou no tradicional Colégio São Bento.

            Mas, em vez de uma vida de estudos e uma profissão reconhecida pela sociedade, optou pela boemia, abandonando a Faculdade de Medicina.

            Ele tinha se deixado encantar pelo samba e pelas noitadas com muita cerveja, o que o levou a uma morte prematura, com a idade de apenas 26 anos.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, Noel Rosa merece ser reconhecido como um dos grandes nomes da música popular brasileira, pois, mesmo tendo falecido em tão tenra idade, legou-nos uma obra importantíssima.

            Como afirma Marco Antônio Azevedo em importante artigo denominado “Noel Rosa”: o compositor que hoje homenageamos vem a ser “um paradigma no panorama da MPB”, como um letrista profissional pioneiro.

            Um dos responsáveis pelo advento da modernidade neste campo, e também pela nobreza com que tratou o samba, ajudando a projetá-lo como gênero de primeira grandeza.

            Além de ser um cronista musical que tratou a cidade e seus habitantes de forma singular, ajudando a construir o perfil poético de quem chamamos, hoje, de carioca e lançar a pedra fundamental da MPB ‘moderna’ no século XX”.

            Noel Rosa retratou em seus sambas e em suas canções os costumes, as atividades e os hábitos das pessoas comuns do Rio de Janeiro, homenageando muitos de seus bairros, com destaque especial para a Vila Isabel e a Penha.

            Outro grande compositor popular brasileiro, Chico Buarque de Holanda, não esconde a enorme influência recebida por meio da obra de Noel Rosa.

            O próprio Chico destaca dois de seus sambas como noelescos: “Juca” e “A Rita”, mas a influência não se limita a essas composições.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, Noel Rosa, com origem em uma camada da população que lhe possibilitou o acesso a uma faculdade de medicina - até ligar-se ao samba -, deixou para trás essa origem que lhe teria permitido fazer parte da elite social de seu tempo.

            Essa opção de vida também fica demonstrada em sua obra, na qual vamos encontrar mais de dez parceiros negros, da importância de Ismael Silva, Cartola, Alcebíades Barcellos, Antenor Gargalhada, Canuto, Puruca e Gradin.

            Mas, sem a companhia de Noel, esses autores também não teriam conseguido que suas músicas chegassem a intérpretes como Francisco Alves e Carmen Miranda, possivelmente os dois maiores intérpretes da época.

            Quem conhece a obra de Noel certamente opinará que sua parceria mais importante se deu com o pianista e compositor paulista Vadico (Osvaldo Gogliano).

            Citamos apenas alguns dos sucessos dessa dupla, músicas até hoje muito executadas: Feitiço da Vila; Conversa de Botequim; Feitio de Oração; Tarzan, o Filho do Alfaiate; Pra que Mentir.

            Entretanto, grande parte das composições de Noel Rosa têm letra e música de sua exclusiva autoria, demonstrando que, além do importantíssimo papel que as letras desempenham para a modernidade da canção brasileira, contrapondo-se ao parnasianismo desenfreado dos autores da época, ele também podia criar melodias de qualidade invejável.

            Destas, vale a pena mencionar: Com que Roupa?; Gago Apaixonado; Três Apitos; Até Amanhã; Fita Amarela; Palpite Infeliz; Último Desejo.

            Ironia e humor refinados, lirismo inimitável, além da espontaneidade da descrição de fatos do cotidiano podem ser conferidos em versos como os seguintes:

Quando o apito da fábrica de tecidos

vem ferir os meus ouvidos,

eu me lembro de você.(...)

Você que atende ao apito de uma chaminé de barro,

por que não atende ao grito tão aflito

da buzina do meu carro?”

(Três Apitos)

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa

uma boa média que não seja requentada;

um pão bem quente com manteiga à beça,

um guardanapo e um copo d’água bem gelada.(...)

Seu garçom me empresta algum dinheiro,

que eu deixei o meu com o bicheiro,

vá dizer ao seu gerente

que pendure esta despesa no cabide ali em frente.”

(Conversa de Botequim)

            E quem desconhece a sua polêmica com Wilson Batista, cujo apogeu se deu com a imortal “Palpite Infeliz”? (Quem é você, que não sabe o que diz? Meu Deus do céu, que palpite infeliz!)

            Noel Rosa também foi reconhecido como hábil instrumentista ao bandolim e ao violão, tendo tomado parte no famoso Bando dos Tangarás e vários outros conjuntos.

            Srªs Srs., talvez a melhor forma de homenagear essa importante figura da música popular brasileira fosse a realização de um sarau que avançasse pela noite adentro, até o dia amanhecer.

            Mesmo assim, não seria possível cantar ou tocar sequer a metade de suas músicas.

            Sei que há muito a ser dito nesta ocasião, mas corre-se o risco de ficar repetindo os mesmos louvores por muito tempo.

            Não é todo ano que há um centenário tão importante a ser comemorado.

            Salve o nosso ilustre compositor popular, Noel Rosa.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito Obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/12/2010 - Página 59080