Discurso durante a 213ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Despedida do mandato de Senador da República pelo Estado do Acre, com referência à necessidade das reformas política e tributária.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Despedida do mandato de Senador da República pelo Estado do Acre, com referência à necessidade das reformas política e tributária.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Marco Maciel, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 18/12/2010 - Página 59527
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • OPORTUNIDADE, DESPEDIDA, MANDATO PARLAMENTAR, VALORIZAÇÃO, AUTONOMIA, LEGISLATIVO, BENEFICIO, DEMOCRACIA, REGISTRO, IMPORTANCIA, CONCILIAÇÃO, BUSCA, SOLUÇÃO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, REFORMA POLITICA, REFORMA TRIBUTARIA, DETALHAMENTO, POSIÇÃO, ORADOR, APERFEIÇOAMENTO, FEDERAÇÃO, PROCESSO ELEITORAL, REDUÇÃO, TRIBUTAÇÃO, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO, RECEITA, ESTADOS, MUNICIPIOS.
  • ESCLARECIMENTOS, DIVERGENCIA, ORADOR, POLITICA PARTIDARIA, ESTADO DO ACRE (AC), REGISTRO, MANIFESTAÇÃO, APOIO, GOVERNO FEDERAL, EXCEÇÃO, DESVIO, ETICA, MATERIA, INTERESSE SOCIAL, OCORRENCIA, PERSEGUIÇÃO, AUSENCIA, LIBERAÇÃO, EMENDA, RECURSOS ORÇAMENTARIOS.

           O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, meu querido amigo, meu irmão, companheiro de tanta luta no Senado, que ora preside esta sessão de sexta-feira que, por sinal, tanto eu, quanto V. Exª, o Senador Mozarildo e alguns colegas aqui adotaram como a sessão mais querida, mais simpática. E eu elegi esta sessão para deixar aqui a nossa última palavra. Fiz de propósito, como se diz. Agradeço a gentileza do Senador Mozarildo, do Senador Marco Maciel, que estavam inscritos para falar antes de mim e que me cederam este espaço.

           Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, prestes a concluir meu mandato por não ter concorrido à reeleição, ocupo pela última vez esta tribuna, menos para despedir-me do que para cumprir o que considero o meu dever de Parlamentar, representante do meu querido Estado do Acre.

           Os oito anos durante os quais convivi com V. Exªs, Srªs e Srs. Senadores, serviram para reforçar a minha convicção de que um Parlamento livre, atuante e permanentemente voltado para as grandes questões nacionais, constitui o maior penhor da nossa democracia, mas foram úteis também para convencer-me de que, sem entendimento, sem convergência de ideias e sem identidade de valores, corremos o risco de repetirmos aqui o martírio de Sísifo, Senador Mão Santa, V. Exª que tanto conhece a história de Sísifo. Debater, discutir, reclamar e postular medidas que, por anos a fio, desafiam o País podem até nos dividir, Senador Cristovam, mas não podem servir de pretexto para adiarmos as mudanças e reformas que o País reclama, a ponto de constituírem obstáculos a um aprimoramento de nossas instituições.

           Nossas convicções - reconheço - podem ser desafios quase invencíveis se as divergências partidárias, ideológicas ou pessoais não puderem ser superadas em prol de soluções sempre debatidas, mas quase sempre adiadas. Refiro-me a mudanças que todos reconhecemos indispensáveis, algumas delas inadiáveis, e até mesmo urgentes e aqui restrinjo-me a dois exemplos que praticamente se repetem, se renovam e se reiteram por anos a fio: o da reforma tributária e a da reforma política.

           Essa última, a reforma política, tem sido muitas vezes confundida, admito até que de boa-fé, com a reforma eleitoral. É preciso estabelecer os limites e o alcance de ambas. Não sou especialista, como o Senador Marco Maciel, e menos ainda doutrinador em matéria de tal relevância. O que causa espécie é o fato de que, sem conceituarmos o alcance e o limite de cada uma dessas imprescindíveis reformas, jamais daremos um salto de qualidade em prol do regime democrático e de seu aprimoramento.

           A reforma política deve tratar da organização, estrutura e funcionamento do Estado, que só admite três modalidades: ou é um estado federado, como o Brasil, o México e os Estados Unidos; ou é um estado unitário, como a Grã-Bretanha e Portugal; ou ainda um estado semifederado, como a Itália, a França e a Espanha. A diferença entre o estado federado e o semifederado, que acabo de citar, é que, nestes últimos, as divisões políticas, províncias ou regiões, não têm todas as mesmas competências, como ocorre nos sistemas federativos como o nosso.

           O que denominamos reforma eleitoral, por sua vez, cinge-se à organização dos pleitos, que também só admitem três alternativas, Senador Mão Santa: ou é proporcional, ou é majoritário ou é misto, como pretendemos e reiteradamente discutimos no nosso País e não adotamos jamais.

           Além disso, é imprescindível, Senador Mozarildo, que se estabeleça formas de custeio de campanhas que não resultem em corrupção para, ao lado do Ficha Limpa, conseguirmos melhorar enfim o ambiente político do nosso País. Daí a necessidade de, antes de optarmos por um dos modelos, Senador Cristovam, escolhermos a alternativa que atenda pelo menos a dois requisitos: que seja viável e conveniente ao País. Só assim será possível chegarmos a um acordo.

           E o que se aplica às reformas política e eleitoral prevalece também em relação à reforma tributária. Separarmos a natureza e a modalidade dos tributos federais, estaduais e municipais vem sendo feito desde o Império. Determinarmos a partilha deles entre a União, os Estados e os Municípios também não é um obstáculo, na medida em que é possível estabelecermos sua destinação entre os Entes Federativos e sua partilha, como ocorre com alguns dos tributos hoje em vigor.

           O fundamental, entretanto, é que atinemos para dois fatos incontestáveis que precisam ser urgentemente alterados. Temos uma das mais altas cargas tributárias do mundo, Senador Buarque, e, até por consequência ou dando causa a isso, um número excessivo de tributos.

           Precisamos enxugar o nosso sistema tributário e fazer com que o povo brasileiro suporte uma carga menor de tributos, mais racional, mais apropriada ao País, ao seu processo de desenvolvimento e à generosidade de sua população.

           Ao despedir-me desta Casa para voltar à vida privada não posso deixar de registrar o quanto me foi útil, como cidadão, como criatura humana e como membro da sociedade, o exercício deste mandato.

           Em 2002, por decisão de boa parte dos acreanos, fui eleito Senador. Meu pai, que tanto conviveu com o Senador Marco Maciel, o Professor Geraldo Mesquita, como ele gostava de ser chamado, já havia tido esta honra em 1970. E eu quero aqui agradecer ao povo acreano, em meu nome e em nome dele, essa honra, que é representar o meu querido Estado. Foi uma honra para o meu pai e tem sido uma honra para mim. E ele que faleceu recentemente, plenamente apaixonado pelo Acre, Senador Mão Santa.

           Eu quero falar um pouquinho do que foi o meu mandato, rapidamente, sucintamente. Meu espírito independente e meu senso de justiça me levaram, logo no início do mandato, a divergir de alguns dos líderes da Frente Popular do Acre. Eles que levaram essa importante organização política a se afastar dos rumos imaginados no seu nascedouro. Por conta disso, esta Casa é testemunha, fui alvo de retaliações e de uma intensa campanha que visou a minha desmoralização pública. Os seus autores não conseguiram o intento, porque não me intimidei e lutei com todas as minhas forças para provar a minha inteireza moral.

           Creio que a consideração que humildemente recebo dos meus Pares nesta Casa é prova de que fui bem-sucedido nesta tarefa. No plano federal apoiei de forma crítica o Governo Lula, discordando apenas de suas proposições impopulares, como foi o caso da proposição que visava à prorrogação da CPMF. Votei contra. Votei em sintonia com o desejo do povo brasileiro. Com relação ao mesmo Governo Federal, bati-me igualmente contra os seus desvios éticos e morais, que eu acho que marcaram e marcarão este Governo: desvios éticos e morais. Não preciso aqui mencionar por que uma lista extensa - mensalões, aloprados -, enfim, é quase passado isso, mas acho que esses fatos marcarão o Governo Lula.

           Em razão desta minha postura, Senador Mão Santa, o Governo Federal bloqueou sistematicamente a liberação das emendas por mim indicadas ao Orçamento Geral da União, que sempre tiveram o propósito de beneficiar os nossos Municípios, não importava a que partido o prefeito era filiado, e beneficiar o próprio Estado do Acre.

           Aqui, para todos saibam - meus Pares, o País inteiro e notadamente os acreanos -, dos quase R$50 milhões que me couberam indicar para até o exercício vigente de 2010, apenas R$10,5 milhões foram liberados para o Estado do Acre.

           E R$12.506.000,00 sequer foram empenhados, Senador Mão Santa; cerca de R$10.961.000,00 encontram-se inscritos em restos a pagar, com mínima chance de serem liberados, e R$13.489.451,00 estão empenhados, aguardando liberação.

           Revelo esses fatos, Senador Marco Maciel, para mostrar a postura antidemocrática do atual Governo para com Parlamentares independentes. No exercício da intolerância e na tentativa de me atingir, o Governo não vacilou em prejudicar o nosso Estado, tão carente de recursos financeiros.

           Do ponto de vista da atuação parlamentar, orgulho-me de ter produzido, com apoio da Gráfica do Senado, mais de 350 mil livros, que distribuí em todo o Acre. E fiz com o propósito de contribuir para que os acreanos tenham, cada vez mais, conhecimento dos fundamentos da política, da nossa história e da rica literatura brasileira.

           Fui membro suplente da Mesa Diretora do Senado logo que cheguei aqui; atuei nas principais comissões desta Casa. Atualmente, sou Vice-Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional; sou membro efetivo, como o Senador Cristovam Buarque, do Parlamento do Mercosul e já presidi a representação brasileira naquele organismo regional. Integrei importantes missões parlamentares internacionais e sempre pautei a minha atuação na defesa da democracia, na busca da justiça social e no combate aos desvios éticos e morais na vida pública.

           Não por coincidência, tenho sido escolhido pelo Diap, nos últimos anos, como um dos Parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, indicação, Senador Marco Maciel, que recebo com extrema humildade, com muita humildade, mas que reconheço que possa traduzir um pouco o que foi a minha atuação nesta Casa. Mas o que me conforta é o respeito e a consideração dos quais tenho sido alvo tanto nesta Casa como fora dela, por onde ando, no País inteiro e, principalmente, no meu Estado.

           Recolho-me, agora, à vida privada com o sentimento do dever cumprido, mantendo o compromisso de continuar lutando, como cidadão, pelo aperfeiçoamento da democracia no nosso País, pela diminuição do fosso que separa ainda ricos e pobres e pela felicidade cada vez maior dos acreanos e de todos os brasileiros.

           Senador Marco Maciel, com muito prazer, concedo a V. Exª um aparte.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE. Com revisão do aparteante.) - Nobre Senador Geraldo Mesquita, gostaria de iniciar meu aparte a V. Exª, no momento em que se despede do Senado Federal, para dizer quão brilhante foi a sua atuação na Casa da Federação. Digo isso com toda a convicção, porque acompanhei de perto seu desempenho não somente nas comissões - algumas estratégicas, como a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional -, mas também na atividade diuturna do plenário, na votação de matérias etc. Já admirava V. Exª por hereditariedade. Conheci o seu pai, um cidadão republicano na plena expressão do termo, e acompanhei a luta que ele travou para promover o desenvolvimento do Acre por ser um Estado muito distante de Brasília e, consequentemente, nem sempre contemplado adequadamente pelo Governo Federal. V. Exª aqui se houve, como eu estava dizendo, com muita determinação para obter meios e recursos para seu Estado. Infelizmente, não obteve liberação das emendas como esperava. Lamentamos, porque, como todos sabemos, por ser do extremo Norte do País, é um Estado carente, que consequentemente precisa do apoio necessário para que possa finalmente promover seu desenvolvimento cultural, social, econômico e político. V. Exª se empenhou numa causa muito nobre, justamente a de ampliar o número de bibliotecas no seu Estado. Em parceria com a Gráfica do Senado, V. Exª pôde fazer um trabalho muito bonito de levantamento cultural do nosso povo. E ainda agora, lendo o texto de Mario Vargas Llosa, ele lembrava que começou a sua vida lendo porque a mãe sempre cobrava que ele devesse ler. E foi graças ao testemunho de sua mãe que Vargas Llosa começou, desde muito cedo, não somente a ler como também a escrever. Esse estímulo de sua mãe foi fundamental. Tive o cuidado de trazer o texto na íntegra do discurso do Vargas Llosa no momento em que foi escolhido para o Prêmio Nobel da Literatura este ano na Suécia. Então, diria a V. Exª que essa luta é fundamental para o País, a questão da educação. Sempre me lembro daquela frase de Francis Bacon: saber é poder, que quer dizer, quem sabe tem uma participação maior na sociedade. Norberto Bobbio, de outra forma, disse, em 2003, se não estou equivocado: o mundo vai se dividir entre os que sabem e os que não sabem. No terceiro milênio da Era Cristã, que estamos na primeira década, diria que poucas gerações conseguem ver uma virada de um século. Pouquíssimas conseguem ver a virada de um milênio. Somos uma geração privilegiada que assistiu não somente à virada de um século, como assistiu à virada de um milênio. E o que parece preponderar nessa virada de milênio é que as nações é que as nações mais afluentes serão aquelas que vão ter um peso maior. O Brasil nesse processo de globalização há de investir mmais em educação. V.Exª observou muito bem que a exclusão da CPMF criou condições para reduzir um pouco a carga tributária. A CPMF não resolveu a questão tributária brasileira. Ainda continuamos sendo o País da mais alta taxa de juros do mundo, da mais alta carga tributária no plano interno. Mas, a exclusão dessa contribuição fez com que se reduzisse um pouco a carga tributária com a qual infelizmente convivemos. Por isso, Senador Geraldo Mesquita, quero cumprimentá-lo mais uma vez e dizer que o desempenho de V.Exª não nos surpreendeu pelo seu talento, pela sua cultura, pelo seu espírito público. O balanço que faz V.Exª das suas ações no Senado Federal é muito importante porque pede a atenção do seu Estado e do País para a solução dos problemas mais angustiantes da região Norte, que precisa de maior atenção do Governo Federal. Cumprimento V.Exª. Desejo que continue, com seu espírito público, a lutar pelo seu Estado e pela sua gente. Muito obrigado.

           O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Marco Maciel, muito obrigado. Agradeço, inclusive, por ter tido a oportunidade de aprender com V. Exª nesta Casa, um homem público correto, atencioso, dedicado e que tanto serviço já prestou e prestará ainda a este País, à sua terra tão querida, Pernambuco, onde nasceu a minha mulher. Levo, de forma confortável, a lembrança de tantas passagens aqui que tiveram a participação decisiva de V. Exª.

           Se a gente pudesse eleger aqui fatos, situações, diria a V. Exª que, no meu rol daquelas eleitas e escolhidas, estão aquelas situações em que trabalhamos e batalhamos aqui nesta Casa e nas quais a presença e a participação de V. Exª foram sempre muito importantes e decisivas.

           Muito obrigado pelo seu aparte.

           Senador Mozarildo, que me pede um aparte, com muito prazer.

           O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Geraldo, conversei muito com V. Exª, antes que V. Exª definisse a sua decisão de não concorrer ao pleito passado, e, obviamente, essa é uma questão de foro muito íntimo, mas tenho certeza de que a decisão de V. Exª foi justamente fruto não diria das decepções, mas pelo menos dos desencantos com a legislação eleitoral, com a forma como se processam as eleições, com a conduta de certos agentes políticos que não primam pela independência, pela coerência, pela liberdade de ações e, portanto, o Acre ficou privado da participação de V. Exª. Quero aqui deixar um apelo que tenho feito a todos que estão deixando o mandato: que deixar o mandato não seja o motivo para deixar a política, porque a política não pode prescindir de pessoas sérias como V. Exª, que tem princípios, que defende idéias de fato e não se preocupa apenas com a troca de favores que infelizmente está se tornando, inclusive na visão dos meios de comunicação e da população, prioritária, como se prioritário aqui fosse fazer essa barganha por liberação de emendas, que é realmente, diria, até uma imoralidade e uma ilegalidade, porque essa liberação de emendas não cumpre os princípios que regem a Administração Pública, que são justamente a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. Nenhum desses princípios são observados na liberação dessas emendas, e o Tribunal de Contas da União, instado por mim e por outros Senadores, já inclusive oficiou ao Ministério do Planejamento, ao Tesouro Nacional para que estabeleça e explique os critérios para essas liberações, porque o critério que existe realmente - V. Exª colocou muito bem no espelho das suas emendas - é o critério apenas de liberar para quem agrada e de liberar um pouquinho para quem não está agradando, quem é Oposição, quem tem uma posição independente. Para dizer que não liberou nenhum tostão, libera um décimo do que você coloca, com muito trabalho, na Comissão de Orçamento. Mas V. Exª aborda um tema que, aliás, como eu disse, foi talvez a motivação da sua desistência de continuar na vida pública, que é essa questão da reforma do Código Eleitoral. É urgente. Não é possível haver eleição sob essa legislação que está aí: uma legislação frouxa, cheia de brechas, um calendário eleitoral que permite, por exemplo, que agora estejam sendo diplomadas pessoas que estão com processos ainda pendentes de julgamento, que permite que assumam, em 1º da janeiro, pessoas que estão claramente envolvidas em falcatruas. Portanto, nesse calendário eleitoral, tinha que a eleição ser puxada mais para frente, de forma que chegassem ao fim de ano com todos os processos julgados, nenhum pendente, nenhuma ação pendente, porque os maus, os desonestos apostam inclusive nisso. Gastam fortuna, como no caso da eleição para Governador no meu Estado, e aí sabem que não dá tempo para serem julgados. Eles assumem, continuam no mandato e aí, com o poder do mandato, com o dinheiro de que eles dispõem para pagar bons advogados, vão procrastinando e, às vezes, terminam o mandato sem serem julgados. Espero, inclusive, que a Justiça Eleitoral, que tem sido muito revolucionária ultimamente, de fato faça com que a lei seja aplicada. E a minha esperança é nesse Código Eleitoral que está sendo elaborado por uma Comissão composta aqui, no Senado, por juristas de renome, para que a gente possa discutir e aprovar essa reforma, a fim de que, na próxima eleição municipal, nós já tenhamos um novo Código Eleitoral. Senão vamos ficar malhando em ferro frio, porque é a questão do financiamento, é a questão da compra de voto, da compra até de abstenção, quer dizer, o cidadão, para não ir votar, pega dinheiro - e isso aconteceu no meu Estado, está provado inclusive. Então, é um absurdo isso. Quanto à questão que V. Exª coloca aí, reforma tributária, por exemplo, a única reforma tributária que foi feita neste País, nos últimos anos, foi feita pelo Senado, que foi a eliminação da CPMF. Foi a única reforma tributária feita. O resto não é; é o contrário: é só aumento de carga tributária. Então, não penso que seja falta de vontade. Todo mundo fala nisso. O que acontece é falta de vontade do Poder Executivo de fazer, porque é ele que não quer abrir mão dos impostos, porque os únicos impostos que a União divide com Estados e Municípios são o Imposto de Renda e o Imposto sobre Produtos Industrializados. O resto tudo é para o Governo Federal. Então, como ele quer fazer reforma? Não quer. Por fim, eu quero dizer a V. Exª que há uma reforma, que eu diria até, para parodiar algumas pessoas que gostam de dizer isso, a mãe de todas as reformas, que é a reforma que beneficia os cidadãos, em primeiro lugar. Qual é esta reforma que eu digo? É a reforma da saúde. Foi feita uma pesquisa pelo Ibope em todo o Brasil, e, disparadamente, a maior preocupação, o maior anseio da população é por uma saúde eficiente. E, do jeito que está a nossa saúde...O sistema de saúde hoje não está mais na UTI, não; ele está em estado terminal. Nós temos de mudar urgentemente o sistema de saúde, para que o cidadão, a quem interessa as nossas ações, possa se sentir seguro no que é, digamos, o maior dom que Deus deu ao ser humano, que é a vida. Para ter vida, tem de ter saúde. Então, eu quero terminar, dizendo a V. Exª e dando o meu testemunho ao povo do Acre e ao Brasil de que V. Exª é um Senador sério, independente, que trabalha com a sua consciência, em primeiro lugar, e com a preocupação com o seu Estado e com o Brasil. Portanto, quero concluir, dizendo: não saia da política, senão V. Exª só estará ajudando os maus a ocuparem cada vez mais espaço.

           O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Mozarildo, muito obrigado. Sair da política não, porque a gente é animal político. Mandato talvez jamais, mas sair da política também jamais. Vamos continuar futricando, como se diz na rua, vamos continuar na militância política.

           Quero agradecer, inclusive, por V. Exª trazer à tona a necessidade de o País, os governos e este Parlamento se voltarem, eu não diria nem à reforma, Senador Mozarildo, mas à reestruturação do sistema de saúde neste País. Eu me referi apenas àquelas duas reformas, mas não excluí que outras são extremamente necessárias. E V. Exª foi muito feliz quando trouxe à baila a questão do sistema de saúde no nosso País.

           Quando a gente observa, Senador Buarque, que no Acre, no Piauí, no Rio, em qualquer lugar, grande parte da população brasileira vive um verdadeiro terror para receber assistência médica, hospitalar, ambulatorial, é uma coisa que dói no coração da gente. Isso precisa ser revisto em nosso País. É uma crueldade que se comete contra a maioria do povo brasileiro, que não tem como pagar um plano de saúde, que não tem como receber, de forma privada, um atendimento médico, hospitalar, ambulatorial e se sujeita àquilo que a gente acha que é uma coisa fantástica, o SUS.

           Na sua formulação é fantástico, mas na sua execução é um desastre no nosso País. O desastre que maltrata, judia de forma perversa com a maioria do povo brasileiro.

           Eu queria agradecer a V. Exª por introduzir no meu pronunciamento esta lembrança tão importante para tanta gente neste País. E dizer, também, da alegria que foi para mim conviver, durante todo esse tempo, com o companheiro que nunca esquece a Amazônia, nunca esquece Roraima, a ponto de assumir a presidência de uma Comissão importante nesta Casa, que levou para o debate reitores, pessoas de referência na nossa Amazônia, para discutir o que se passa ali, o que deve acontecer, o que deve ser feito na nossa bela e pujante região. Portanto, obrigado também pelo privilégio de ter acompanhado V. Exª não só nessa Comissão, mas também nesta Casa durante todo este tempo. Muito obrigado, Senador Mozarildo.

           Para finalizar, concedo ao Senador Cristovam, que tanto me estimulou a vir aqui a esta tribuna prestar contas do que fiz, um aparte com muito prazer.

           O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Geraldo Mesquita, é verdade, eu tinha esquecido que, em conversa com o senhor, eu tinha dito que valia a pena deixar o registro neste momento em que o senhor se despede desta tribuna, talvez por algum tempo, talvez para sempre, mas não se despede de nós nem do Brasil. Mas, enquanto o senhor falava, eu estava pensando que o senhor é o único Senador aqui que eu trato, às vezes, pelo diminutivo, de Geraldinho. Nenhum outro eu trato pelo diminutivo. Tem alguma razão para isso. Não é pelo tamanho, porque sou mais baixinho que o senhor.

           É alguma razão do ponto de vista de uma relação carinhosa que eu passei a ter ao conviver com o senhor aqui e nas viagens ao Uruguai, por conta do Mercosul, e também pelo respeito que fui adquirindo por seus discursos. O senhor é um dos Senadores que trata aqui de muitos assuntos, todos assuntos fundamentais da vida brasileira. Eu estava notando aqui, por exemplo, mesmo neste discurso o senhor não devia tocar no aspecto fundamental da carga fiscal, mas nunca esquece a Amazônia como tema central do seu discurso. Fala sempre da necessidade de uma reforma política neste País. Nunca deixa de falar, quando é preciso, sobre os aspectos de um Pais dividido entre ricos e pobres. Fala de educação toda vez. Lembra muito da cultura, até porque é um praticante dela, de diversas formas, sobretudo com a biblioteca que criou lá em Rio Branco. Isso faz com que, aos poucos, todos nós tenhamos adquirido uma relação de amizade e de respeito. Além disso, é um dos frequentadores dessas sextas-feiras a que o Senador Mão Santa - ouviu, Mão Santa? Ele fala assim com a gente - tanto se refere. Essas sextas-feiras em que a gente consegue não apenas mostrar que o Senado funciona às sextas, mas também falar com mais tempo, com mais liberdade. Por tudo isso, não tenha dúvida de que nós vamos sentir muito a sua falta - e eu também -, mas eu tenho certeza de que não será falta da sua militância por um Brasil melhor, como o senhor já disse neste discurso. Um grande abraço, Geraldinho! E vamos estar juntos, aqui, fora daqui, mas a gente vai continuar juntos na luta que o destino levou cada um de nós a cumprir na vida política.

           O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. Claro que nós vamos estar sempre em sintonia, até porque o povo de Brasília, o povo brasileiro deposita uma confiança enorme na sua pessoa, na sua presença nesta Casa, no sentido de que ela contribua decisivamente para que as coisas mudem efetivamente no nosso País, Senador Cristovam.

           A gente tanto fala em mudança, em reforma. A gente vê que o ritmo não é ainda aquele satisfatório para o povo brasileiro. É para alguns. É como a nossa democracia. A democracia é para alguns ainda, precisa ser aperfeiçoada no sentido de alcançar todos. V. Exª, que é um baluarte na área da educação - é uma expressão sua -, diz que a democracia precisa alcançar todos para proporcionar a todos a oportunidade da escola, da educação.

           Por tudo isso, é claro que nós vamos continuar em sintonia, até porque serei ali fora um observador atento e um torcedor fanático da sua participação, da participação dos demais colegas aqui, no sentido de continuar trabalhando, no sentido de a gente tornar concretas coisas que a gente fala aqui, utopias, coisas que a gente idealiza aqui e muitas das vezes ficam só nesse nível.

           Portanto, eu, que tanto aprendi com V. Exª aqui, acompanhando a sua participação no Senado Federal, levo com muita satisfação o apreço, a camaradagem, a amizade e, sobretudo, a inteligência que V. Exª exercita tão bem e, Graças a Deus, coloca-a a serviço do povo de Brasília, do povo deste tão querido Brasil.

           Eu quero aproveitar a oportunidade para desejar a todos - fim de ano é o momento em que a gente se volta mesmo com alegria para todos - que o ano que vem seja ainda muito melhor do que este. Espero, sinceramente, que isso aconteça. Que todos tenham um feliz Natal. Eu desejo isso, primeiro, aos meus conterrâneos acrianos, aos meus Pares aqui, a vocês todos com quem eu tive a alegria de conviver, aos meus auxiliares, que aguentaram as minhas rabugices, mas que se mantiveram ali, firmes, no propósito de me ajudar. Grande parte do que eu conquistei eu devo a eles, muito, muito, muito.

           Agradeço muito aos servidores desta Casa. Que gente dedicada! Que gente dedicada! E aqui não quero citar ou mencionar ninguém, porque não distingo. O Brasil precisa saber, Senador Marco Maciel, que esta Casa tem um corpo funcional, permanente ou não, da maior qualidade, que nos auxilia, que nos ajuda, que faz com que possamos produzir nesta Casa, do mais humilde ao que tem a função mais graduada.

           Quero agradecer a todos e desejar ao povo brasileiro que, não de forma passiva, mas ativa, provoque, atue, conteste, balance as estruturas, como eventualmente faz, para que as coisas, de fato, comecem a acontecer no nosso País, de forma a satisfazer a grande massa do povo brasileiro, essa que é excluída na saúde, é excluída na educação, é excluída na segurança. Portanto, espero que as coisas comecem a acontecer e que o Brasil, os brasileiros encontrem o caminho da realização plena.

           Ao meu querido amigo Senador Mão Santa, companheiro de todas as horas, também os meus agradecimentos sinceros. V. Exª sabe o quanto eu lhe tenho apreço.

           Espero que V. Exª tenha também, como os colegas que me apartearam aqui... Deus sempre há de lhe acompanhar e mostrar os caminhos que precisa continuar trilhando.

           Obrigado a todos, e felicidade geral para esta Nação.

           Muito obrigado. (Palmas.)


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