Discurso durante a 215ª Sessão Especial, no Senado Federal

Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, em sua primeira premiação.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.:
  • Concessão da Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, em sua primeira premiação.
Publicação
Publicação no DSF de 22/12/2010 - Página 60207
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, ELOGIO, BIOGRAFIA, CIDADÃO, RECEBIMENTO, COMENDA, DIREITOS HUMANOS, PATRONO, HELDER CAMARA, SACERDOTE, LUTA, JUSTIÇA SOCIAL, COMBATE, DITADURA, DEPOIMENTO, FORMAÇÃO, VIDA PUBLICA, ORADOR.
  • HOMENAGEM, LUTA, DEFESA, DIREITOS HUMANOS, BRASIL, COMBATE, DESRESPEITO, DISCRIMINAÇÃO, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, MEMORIA NACIONAL, RECUPERAÇÃO, VITIMA, DITADURA, REGIME MILITAR, MORTE, DESAPARECIMENTO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia a cada uma e a cada um!

            Quero cumprimentar, em primeiro lugar, ao Senador José Nery, que tem papel tão importante nesta sessão; ao Senador Marco Maciel, ao Senador Inácio Arruda, ao Senador Eduardo Azeredo, ao Bispo Emérito de Limoeiro do Norte, Revmo Sr. Dom Manuel Edmilson da Cruz; ao Defensor Público, Sr. Antônio Roberto Figueiredo Cardoso; ao Defensor Público Wagner Giron de La Torre; ao Secretário Executivo do Conselho Indigenista Missionário, Sr. Éden Pereira Magalhães, que está representando aqui Dom Pedro Casaldáliga e ao Sr. Eduardo Freitas, representando o Deputado Marcelo Freixo.

            Quero dizer que, quando lemos a biografia de cada um dos agraciados, sentimos orgulho do Senado, Senador Nery, que, de vez em quando faz coisas como essas. Seria tão bom que o Senado ficasse marcado apenas por atos que servissem ao respeito dos direitos humanos e ao respeito aos direitos sociais de todos os brasileiros. Pena que nem sempre é isso que aparece no noticiário relacionado ao Senado.

            Por isso, no momento em que nós agraciamos a cada um dos senhores, quero agradecer-lhes por estarem aqui conosco, porque os senhores nos honram muito mais do que nós, certamente, honramos cada um de vocês. Muito obrigado por estarem aqui, pela luta de cada um de vocês e por terem sido escolhidos por nós e, estando aqui, estarem nos honrando.

            Ao mesmo tempo, quero dizer da satisfação de ter como patrono dessa solenidade, dessa Comenda justamente Dom Hélder Câmara.

            Cada um de nós é feito de milhares de encontros ao longo da vida, mas existem encontros com letras minúsculas e grandes encontros com letras maiúsculas. O meu encontro com Dom Hélder Câmara se situa entre aqueles cinco, seis, sete - não chegam a dez - encontros, que marcaram a minha vida. Durante quatro anos convivi profundamente com ele - eu um jovem ainda estudante, recém-formado - assessorando-o ainda no que era possível fazer para pensar aquela realidade que nós sofríamos.

            Não esqueço o dia da posse dele em frente à Matriz de Santo Antônio , no centro de Recife. E, provavelmente, o Senador Marco Maciel, que era nosso contemporâneo, devia estar por ali também. E não posso esquecer cada um dos momentos em que estive com ele, cada uma das lições que recebi dele, fosse na sede onde ficava o arcebispo, fosse na casinha, pequena, onde ele morava na Rua das Fronteiras, em que a gente tocava a campainha, e ele próprio vinha abrir. Ninguém vinha abrir por ele, apesar de todas as ameaças que ele sofria, apesar do assassinato do Padre Antônio, que trabalha com ele. Apesar de todos os riscos, era ele que abria, com aquele corpo franzino e aquela alma de gigante.

            Devo muito a ele do que ele passou para mim, sobre como deve ser o comportamento de qualquer pessoa, especialmente caso se encaminhe para a vida pública. Por isso, no momento em que passamos essa comenda, e eu tive o privilégio de entregar uma delas pessoalmente, eu quero agradecer a vocês que, estando aqui, além de honrarem o Senado, nos permitem relembrar um dos maiores brasileiros do Século XX, e, portanto, um dos maiores brasileiros de toda a História do Brasil.

            Muito obrigado a vocês, e que essa comenda sirva não apenas para nos honrar, não apenas para honrar cada um de vocês, mas sirva também para lembrar o Brasil inteiro de que ainda existem pessoas que não deixarão de lutar pelos direitos humanos, seja em caso de regimes autoritários, seja em caso de regimes civis, até mesmo chamados de democráticos, mas que fecham os olhos para os direitos humanos.

            Vocês são a prova de que a luta pelos direitos humanos não é uma luta apenas contra ditaduras; é uma luta contra o desrespeito, contra a discriminação que continua existindo no nosso País. Finalmente, a luta pelos direitos humanos é também a luta pela memória, para sabermos quem, ao longo de nossa história, feriu os direitos humanos; luta pela memória para sabermos quem foi morto, torturado, preso, porque não havia direitos humanos naquele tempo.

             Não podemos falar em direitos humanos no Brasil enquanto a nossa história não estiver inteiramente contada. Enquanto um só ou uma só tiver seu corpo escondido ninguém sabe onde; enquanto uma pessoa, uma mãe, pai, irmão ou irmã não souber onde está o corpo do seu filho ou do seu irmão, assassinado pelas forças do regime militar, os direitos humanos não estarão respeitados no Brasil.

            Estaremos deixando de desrespeitar direitos humanos que antes desrespeitávamos, mas ainda não estamos respeitando todos os direitos humanos, inclusive esse direito sagrado de cada um saber o que aconteceu com os restos do seu filho, do seu irmão, do seu amigo, inclusive o direito humano que temos de saber quem foi responsável pelas maldades feitas contra pessoas. E vocês lutam pelos direitos humanos plenos.

            Por isso, meus agradecimentos, meu orgulho de estar aqui e a minha certeza de que vocês não vão parar a luta porque receberam o prêmio; ao contrário, esse prêmio vai significar um compromisso ainda maior de vocês com todo o Brasil, especialmente com Dom Hélder Câmara.

            Um grande abraço para vocês e muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/12/2010 - Página 60207