Pronunciamento de Mozarildo Cavalcanti em 21/02/2011
Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Lamento pelas estatísticas que mostram o quanto o Brasil está atrasado na questão da valorização da educação.
- Autor
- Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
- Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
EDUCAÇÃO.:
- Lamento pelas estatísticas que mostram o quanto o Brasil está atrasado na questão da valorização da educação.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/02/2011 - Página 4002
- Assunto
- Outros > EDUCAÇÃO.
- Indexação
-
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REFERENCIA, DEFICIENCIA, QUALIFICAÇÃO, PROFESSOR, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, INVESTIMENTO, FORMAÇÃO, RECICLAGEM, CURSO DE PROFESSORES, MELHORIA, EDUCAÇÃO.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senadora Vanessa Grazziotin, que preside a sessão nesta tarde de segunda-feira, dia 21 de fevereiro, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, a Presidente Dilma, na sua fala ao Congresso Nacional, entre vários aspectos abordados, ressaltou a ênfase e a importância que seu Governo dá à educação. E, no seu primeiro pronunciamento à Nação, em cadeia de rádio e televisão, o tema foi exatamente a educação.
E quero cumprimentar a Presidente, porque não se pode pensar na erradicação da miséria, não se pode pensar no desenvolvimento, enfim, no bem-estar das pessoas, das famílias, se realmente o País não investir maciçamente na educação.
Estamos vendo, nos noticiários da televisão, nos jornais impressos, que atualmente falta mão de obra qualificada, isto é, o trabalhador que tenha tido ensino profissional e treinamento, para de fato ocupar as vagas que existem tanto na indústria, quanto no comércio.
E temos também observado, lamentavelmente, notícias dando conta de estatísticas que nos mostram o quanto o Brasil está atrasado na questão da valorização da educação.
A Folha de S.Paulo, do dia 19 deste mês, publicou uma matéria cujo título é: “17% dos professores não têm formação ideal para dar aula”. Aí vamos perguntar: a culpa é do professor? Não. A culpa é do governo: governo municipal, governo estadual e Governo Federal que não investem na qualificação do professor, que não investem na formação e na reciclagem do professor e com isso é obrigado, logicamente, a contar com o que é possível, que é o professor que não tem a formação adequada mas que, como se diz no popular, quebra o galho dando aula dentro daquilo que ele conseguiu. É uma pessoa que terminou, digamos, o Segundo Grau e, sem ter feito curso superior, dá aula para o Segundo Grau, dá aula para o Ensino Fundamental.
Nessa estatística, nós nos colocamos numa situação lamentável. E o jornal Folha de S.Paulo também diz: “País não pode prescindir de professores, ilegais ou não”, isto é, tendo ou não tendo formação necessária requerida, o País não pode abrir mão desses professores. Lamento que não haja atenção com o professor, que não haja realmente investimento no professor.
Como pensar em ter uma educação melhor se não temos professores em número suficiente e o número que temos ainda é daqueles que não têm a qualificação ideal para dar aula?
Temos também dados do próprio MEC informando que, a cada ano, menos jovens procuram as áreas de pedagogia, isto é, das licenciaturas para a formação como professor de química, de matemática, de física, enfim, de todas as matérias. Por quê? Porque o salário é imoral. Não há estímulo, portanto, para o jovem se formar como professor, e, quando se forma, não é valorizado, não há investimento para melhorar a sua qualificação. Aí ficamos nesta triste realidade: professores que não estão estimulados, que não estão reciclados dando aulas e ninguém querendo mais ser professor porque o que ganha um professor não compensa.
Nessas estatísticas, quero lamentar, Senadora Vanessa, que tenhamos dados tristes, principalmente para a Região Norte, e para o meu Estado nem se fala. Em recente programa internacional de avaliação de alunos, o meu Estado, em termos de gasto - não é investimento; gasto - na educação, foi o segundo. Só perdeu para o Distrito Federal. O Distrito Federal investiu R$4.834,43 e Roraima, R$4.365,37.
Quer dizer, foi o segundo colocado em gastos com educação. No entanto, qual foi a colocação do meu Estado na avaliação? O Distrito Federal mostrou que gastou corretamente, porque foi o que mais investiu e é o primeiro colocado no ranking feito pelo Programa Internacional de Avaliação de alunos.
E o meu Estado? Foi o segundo que mais gastou é o 18º na avaliação.
Fico muito triste, porque se não investirmos nos jovens, na educação, que futuro podemos esperar para um estado, um município ou um país?
E estou falando do meu Estado, porque realmente lamento. Tivemos, no passado, Senadora Vanessa, uma realidade em que só tínhamos lá o ensino fundamental. Tínhamos de sair para fazer o ensino médio. Eu e toda uma geração de jovens, naquela época, tivemos de sair para o Amazonas, para o Pará e para outros Estados da Federação para fazer o segundo grau e a faculdade.
Hoje, temos em Roraima uma universidade federal, uma universidade estadual e pelo menos seis instituições de ensino superior particulares. No entanto, os dados que temos na avaliação dos alunos no ensino fundamental e no ensino médio realmente são tristes.
Lamento que o Governo do Estado de Roraima, pelo menos de 2007 para cá, não tenha levado a sério a aplicação do dinheiro na educação, na saúde e na segurança. São três áreas em que, realmente, vivemos um caos.
Mas se é lamentável que não tenhamos uma boa assistência à saúde - e não temos mesmo -, muito ruim para o futuro do meu Estado é que tenhamos esses índices da educação: 16,8% dos docentes da rede pública não têm ensino superior no Brasil. Sabe qual é a colocação do meu Estado? Ele é o quarto pior. Pior do que ele só tem três. O quarto pior em termos de quantidade de professores com ensino superior completo. E não é por falta de universidade. Acabei de citar: tem uma universidade federal e uma universidade estadual que, aliás, foi criada pelo ex-governador Ottomar Pinto, já falecido, com o objetivo, com a ênfase na formação de professores. No entanto, 41,93% dos professores no meu Estado que não têm curso superior. Não há justificativa. Se fosse naquela época - como mencionei - que tínhamos que sair para fazer o ensino médio e a faculdade, poderia se justificar. Mas, hoje, com universidades lá, instaladas, repito, realmente é falta de compromisso do atual governo com a realidade e o futuro do meu Estado.
Quero aqui até pedir aos órgãos competentes que, com esses dados do gasto e do rendimento do setor de educação do meu Estado, se faça uma investigação mais profunda de como está sendo gasto esse dinheiro. Porque não é possível. Estou falando aqui dos professores e da classificação da avaliação dos alunos. Mas, se for falar da infraestrutura, então aí é um caos total. As escolas estão caindo aos pedaços, as salas de aula precárias demais. E por quê?
Porque não há compromisso do atual Governador com o futuro do meu Estado. Ele realmente está usando aquele cargo, desde 2007, para proveito próprio e de um grupo de amigos.
Denuncio isso com o dever de, sendo parlamentar, representando o meu Estado, mostrar uma realidade que precisa ser corrigida.
Nesse particular, portanto, chamo a atenção do Tribunal de Contas do Estado, mas também do Tribunal de Contas da União, porque muitos dos recursos da educação são federais; chamo a atenção também do Ministério Público do meu Estado, como do Ministério Público Federal, pela mesma razão. Espero que o Ministério da Educação faça uma avaliação da aplicação dos recursos federais que vão para lá e que a Assembleia do Estado também se preocupe com essa realidade, que é a do filho e do neto de cada um que lá está. Não podemos ter uma realidade tão triste, com dados oficiais.
Aqui não é uma questão de ser ou não ser aliado do Governador. Sou aliado do povo de Roraima. Tenho compromisso com a terra onde nasci; tenho compromisso com a terra onde meus filhos nasceram. Quero ver realmente Roraima uma terra boa, próspera e digna, onde a nossa gente possa viver melhor. Mas, do jeito que está, infelizmente, eu só tenho a lamentar e denunciar, porque, se há uma coisa que muita gente não entende, é que fazer essas denúncias, mostrar a realidade é papel do parlamentar, fiscalizar, cobrar o zelo com o dinheiro que é do povo. O povo paga imposto é para isso!
Aliás, a Presidente Dilma disse que uma das ênfases de seu Governo será um estrito cuidado com a aplicação do dinheiro pago pelo povo, de tanto imposto neste País. Nós somos um dos campeões, senão o campeão mundial, de pagamento de imposto, de cobrança de imposto.
Então, não é possível. Pagar imposto para quê? Para não ter uma boa educação, para não ter uma boa saúde, para não ter uma boa segurança? E é o que está acontecendo no meu Estado. Portanto, eu vou - apesar de estar fazendo aqui, publicamente, esta denúncia e pedindo a providência dos órgãos estaduais e federais neste caso - fazer também um ofício com esses dados para que os órgãos possam ter formalizado o pedido de providência. Não podemos deixar ao bel-prazer da conduta do Governador, que já demonstrou sobejamente que não tem preocupação com o futuro do Estado, até, talvez, porque o seu futuro não seja no Estado de Roraima.
Precisamos, sim, cobrar e exigir que nós tenhamos uma educação de qualidade; que os professores sejam valorizados; que os professores sejam estimulados a permanecer em sala de aula e a dar boas aulas.
Eu quero dizer que lamento muito isso. Na época, como eu falei, em que terminei o antigo curso ginasial, que equivalia ao final do Ensino Fundamental, eu e mais uma centena de jovens tivemos de sair de lá para estudar. E hoje vemos que, tendo tudo lá, pega-se o dinheiro e se gasta de maneira errada.
E, com certeza, em relação a esse dinheiro - repito -, Roraima só perde para o Distrito Federal. E, olhe, Senador Eurípedes, que nós temos apenas 471 mil habitantes, e o Distrito Federal tem, pelo menos, três milhões de habitantes. E nós só perdemos para o Distrito Federal. No entanto, o Distrito Federal é o primeiro na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos. E nós, os de Roraima, somos o 18º! É uma vergonha para o Governo de Roraima, uma vergonha e uma tristeza para o povo de Roraima. E pior: também aqui na avaliação dos professores, nós somos o 4º pior Estado no que tange a número de professores com curso superior.
Quero, portanto, fazer esse registro, essa denúncia e pedir que, realmente, a população de meu Estado avalie bem essas coisas, porque, muitas vezes... E a Presidente Dilma disse, em seu pronunciamento à Nação, que investir na educação vai ser prioridade em seu Governo. Porque é lógico! Não adianta... Se nós ficarmos só fazendo programas assistenciais, não vamos mudar a realidade do País e não vamos mudar a realidade dos Estados e Municípios. O que nós temos de fazer é investimento na educação, investimento na segurança, na saúde; mas, principalmente, a locomotiva de tudo é, sem dúvida, a educação.
Portanto, Senadora Vanessa, quero pedir a V. Exª que autorize a transcrição, como parte de meu pronunciamento, das matérias a que fiz referência, publicadas na Folha de S. Paulo, e, também, da tabela do Programa Internacional de Avaliação de Alunos.
Muito obrigado.
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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inseridos nos termos do art. 210, Inciso I e § 2º do Regimento Interno.)
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Matérias referidas:
“17% dos professores não têm formação ideal para dar aula.” (Folha de S.Paulo);
“País não pode prescindir de professores, ilegais ou não”. (Folha de S.Paulo);
Tabela do Programa Internacional de Avaliação de Alunos. (educação.org.br)
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