Discurso durante a 25ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do nonagésimo aniversário de fundação do jornal Folha de S.Paulo.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do nonagésimo aniversário de fundação do jornal Folha de S.Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2011 - Página 6695
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, ATUAÇÃO, COMPROMISSO, JORNALISTA.
  • CONCLAMAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), APOIO, IMPLEMENTAÇÃO, REFORMA POLITICA, MELHORIA, SETOR, EDUCAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Bom dia a cada um e a cada uma!

            Quero começar cumprimentando o nosso Presidente José Sarney, não só pela Presidência, mas também pela iniciativa; o Ministro Gilmar Mendes; o Ministro João Oreste; o Ministro Garibaldi Alves; os Senadores que também tomaram a iniciativa da sessão, Senadores Marcelo Crivella e Ricardo Ferraço; e, de maneira muito especial e carinhosa, aqueles que representam aqui a Folha de S.Paulo e que representam o espírito do Otavio Frias. Cumprimento Otavio Frias Filho e a Srª Maria Cristina Frias.

            Quero começar, Sr. Presidente, fazendo uma coisa que pode não ser muito usual, mas é um testemunho pessoal da importância da Folha.

            Esta é a minha primeira vinda à tribuna nesses últimos 30 dias por conta de uma cirurgia que se complicou e que me deixou fora de circulação. Nesses 30 dias, se não fossem os jornais como a Folha, trazendo não só as matérias, porque matérias a gente ouve e vê por televisão e rádio, mas sobretudo...

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. Bloco/PMDB - AP) - Senador Cristovam, perdão por interrompê-lo, mas o Ministro Gilmar Mendes tem uma sessão agora no Supremo Tribunal Federal e tem que se retirar.

            Quero, então, agradecer a presença do Ministro Gilmar Mendes e dizer o quanto honrado estivemos com a sua presença.

            Obrigado, Senador. Me perdoe por interrompê-lo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu que agradeço.

            Não fosse a possibilidade de ler, em casa, todos os dias, a Folha de S.Paulo e outros jornais, eu teria ficado isolado das opiniões. Devo, portanto, nesses 30 dias, à Folha de S.Paulo a possibilidade de estar hoje aqui informado e até formado também pelos debates.

            Mas, independentemente deste testemunho, quero dizer que é na escola que a gente aprende a decifrar a combinação das letras. Mas a gente não aprende a ler na escola. É nos livros que a gente dá o salto de decifrar as letras e começar a ler, imaginando o mundo. Mas ler o que acontece ao nosso redor, a gente aprende lendo jornal. Como pernambucano, foi graças ao Diário de Pernambuco e ao Jornal do Commercio que aprendi a ler. Ali, lendo e discutindo obviamente com os pais, com os irmãos, aprendemos a ler.

            Por isso, estamos aqui homenageando os jornais. Mas há algo especial na Folha de S.Paulo. É como uma cidade em que há muitos edifícios, mas raros podemos chamar de monumentos. Temos muitos jornais, mas raríssimos podemos chamar de monumentos. E a Folha de S.Paulo é um monumento. E é um monumento por algumas razões.

            Primeiro, por ser um instrumento de jornal que assume o risco das revoluções. A Folha foi sempre o primeiro jornal a tomar algumas iniciativas revolucionárias na maneira de fazer jornal, tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista social, pois, já em 1920, tinha mulheres trabalhando no jornal, quando os outros se recusavam a isso. Foi a Folha de S.Paulo que começou, no Brasil, a ter ombudsman, e isso foi uma revolução. Isto faz o jornal ser um monumento, por sua história. Inclusive o fato de a Folha completar 90 anos em um país em que apenas um terço da população termina o segundo grau. Um jornal assim, completando 90 anos neste País, permite-se ser chamado de monumento, porque o Brasil sofre muita resistência à leitura.

            Mas não é só por isso que é um monumento. É um monumento também pela sua tiragem, pela sua importância. Eu sou autor de artigos de jornal e sei a repercussão de um artigo publicado na Folha em comparação com outros jornais. Isso faz com que a Folha seja mais que um jornal. Isso a faz ser um monumento.

            Sobretudo, a terceira razão para que ela seja um monumento são seus jornalistas. Eu acho que seria menos agradável acordar todos os dias se eu não soubesse que teria ali junto Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Gilberto Dimenstein - embora menos do que eu gostaria, por ser meu amigo -, Kennedy Alencar, Valdo Cruz, Fernando de Barros e Silva, Heitor Cony, José Simão, Juca Kfouri, Fernando Rodrigues, as notas da Renata Lo Prete, a Mônica Bergamo - amiga aqui de Brasília - Janio de Freitas, Ranier, Melchiades Filho, Gustavo Patu. Isso para não falar de três figuras fundamentais que fazem com que, ao acordar, a gente vá quase direto ali para ter o gosto pela inteligência: Angeli, Glauco e o saudoso Laerte. Por isso também, por esses jornalistas, podemos dizer que a Folha de S.Paulo é um monumento e não apenas um jornal.

            Mas há uma razão a mais: as campanhas, as opiniões, as tomadas de posição que a Folha de S. Paulo tem a ousadia de fazer, sabendo que muitas dessas assustam leitores, mas a Folha tem cumprido o seu papel na hora de tomar posição, inclusive com o editorial em defesa de um candidato ou outro. E não importa se agradou ou não a mim como leitor, mas foi uma tomada de posição que faz com que o jornal seja mais do que um jornal, seja um monumento.

            Meu caro Otavio Frias Filho, para não ficar apenas nesta louvação do passado de 90 anos, eu gostaria de desafiar a Folha a três novas grandes campanhas que este Brasil precisa desesperadamente e que não podem ser levadas adiante apenas aqui dentro, não podem ser levadas adiante sem a participação popular. A primeira é a campanha da reforma política. A reforma política é quase tão importante quanto foi a Campanha das Diretas, porque “As Diretas” trouxe a eleição e a nossa participação. A reforma política traz a moralização, a eficiência. E, sem ela, a democracia não está plena. Eu queria ver a Folha na campanha por uma reforma política republicana e não apenas por uma reforma eleitoral com pequenos arranjos.

            A segunda é a grande revolução de que o Brasil precisa, que é a revolução educacional. A Folha tem sido um dos jornais que mais importância dão à educação. Talvez tenha sido o primeiro a colocar a educação como algo importante, inclusive aparecendo na primeira página. Deve-se, inclusive, ao Gilberto Dimenstein, eu acho, uma certa influência na importância que a Folha dá à educação. Mas não basta dar notícias sobre educação. Nós precisamos fazer uma revolução para que neste País o professor seja a categoria mais bem remunerada, a categoria sobre a qual mais pesem cobranças, porque aumentar salários e não cobrar de professor não melhora a educação. Eu gostaria de ver a Folha abraçando a ideia de que neste País ninguém vai ter uma educação melhor do que outra por causa de dinheiro que tem; porque a educação será igual para todos, e as pessoas serão diferentes pelo seu mérito, pela sua vocação, pela sua persistência, mas não pela sua conta bancária.

            A terceira campanha tem a ver com a educação, mas é mais imediata: pela erradicação do analfabetismo no Brasil. Não podemos continuar um País, como é o nosso, com 14 milhões de adultos que não sabem ler e não tem o privilégio, portanto, de ler a Folha de S.Paulo. Imaginem o quanto aumentaria o número de leitores dos jornais se neste País todos terminassem o ensino médio. Mas bastaria que se alfabetizassem todos e já se aumentaria o número de eleitores. Este é o meu reconhecimento, começando por um testemunho pessoal avançando pelo meu reconhecimento do monumento e entrando na cobrança a esse grande jornal- monumento para que não apenas nos informe bem, mas que nos ajude a mudar o País.

            Eu espero que, daqui a dez anos, muitos de nós ainda estejamos - não diria nesta Casa - vivos para assistir pela TV Senado a comemoração do primeiro centenário da Folha de S.Paulo.

            Nesse dia, além de lembrar Otavio Frias, vamos lembrar também essas grandes campanhas que deixo aqui como meu desafio, mas, independentemente de serem atendidas ou não, muito obrigado pelo que vocês fizeram e fazem pelo Brasil. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2011 - Página 6695