Discurso durante a 25ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoraçãocdo nonagésimo aniversário de fundação do jornal Folha de S. Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.:
  • Comemoraçãocdo nonagésimo aniversário de fundação do jornal Folha de S. Paulo.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2011 - Página 6699
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ELOGIO, ATUAÇÃO, IMPARCIALIDADE.
  • REGISTRO, INICIATIVA, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, ENCAMINHAMENTO, PROPOSIÇÃO, APROVAÇÃO, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, CRIAÇÃO, RENDA MINIMA, CIDADANIA, EXPECTATIVA, ORADOR, AMPLIAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO, PROJETO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente do Senado Federal, Senador José Sarney, queridos Maria Cristina Frias e Otavio Frias de Oliveira, sinto a presença de vocês aqui no Senado como algo de enorme relevância. Que bom que estão aqui, e em companhia de alguns dos principais colaboradores desse jornal, como Eliane Cantanhêde, Valdo Cruz, Fernando Rodrigues, Melchíades e diversos companheiros que aqui contribuem enormemente para que esse jornal se aprimore cada vez mais.

            Quando nasci, e vou completar este ano 70 anos, meus pais já assinavam então a Folha da Manhã, e mesmo que eu ainda não soubesse ler, já a folheava. Mas desde que passei a ler, e na minha adolescência com maior interesse, todos os dias de minha vida, salvo nos tempos em que estudei no exterior ou por viagem ao exterior, eu tenho a Folha como um dos instrumentos principais e fundamentais de informação. Esse hábito permanece até os dias de hoje.

            Em 1975, tive a honra de ter sido convidado por Claudio Abramo, um dia, para almoçar na Folha de S.Paulo. Ele havia tido conhecimento daquilo que eu vinha fazendo como estudante e professor de economia e me disse: “Olha, eu gostaria que você viesse trabalhar na Folha, escrevendo artigos”. Nessa oportunidade, conheci Octavio Frias de Oliveira, que estava no almoço e, a partir daí, nós nos tornamos amigos.

            Não foi propriamente em junho ou julho de 1975 que comecei, porque naquela época eu era editor de economia da Visão e fui conversar com Henry Maksoud, perguntando se eu poderia trabalhar nos dois. Ele falou: “Não, isso não dá”. Mas, quando chegou outubro, novembro, eu acabei preferindo sair da editoria de economia da Visão e liguei para o Claudio: “Agora eu posso”. E foi lá, por volta de dezembro, que Claudio Abramo me disse que estava por iniciar uma nova etapa da Folha de S.Paulo, primeiro com a publicação de artigos especiais sobre o que seria o novo Brasil. E foi exatamente em 3 de janeiro de 1976, em busca de um novo modelo, que escrevi o primeiro artigo de uma sequência. De 1976 a 1980, no período antes de eu ser Parlamentar pela primeira vez, em 1978, eu escrevia três, quatro artigos por semana, além de todos os dias colaborar, indo à redação da Folha de S.Paulo desde o final da tarde, cinco, cinco e meia, até onze, onze e meia da noite.

            Fiquei muito contente de poder fazer aquelas coisas. Quando se completa 70 anos - o Presidente Sarney já o fez, o Senador Pedro Simon também já, há tempo -, é importante poder dizer das coisas bonitas que nós fizemos e das coisas que muito valeram a pena. Eu quero dizer aos amigos da Folha de S.Paulo que uma das coisas que mais valeram a pena na minha vida foi ter escrito para este jornal.

            Quero cumprimentar também o Ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho; o Ministro do Supremo; o Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen; Senadores Marcelo Crivella e Ricardo Ferraço, que propuseram esta sessão, na qual também me coloquei ao lado, e o Vice-Reitor acadêmico da Unilegis, Ministro Carlos Fernando Mathias de Souza.

            Pois bem, ao final de outubro de 1976, alguns amigos vieram a mim e disseram: “Olha, Eduardo, seus artigos publicados na Folha têm sido muito lidos, sobretudo pelos jovens. Seria muito bom que você considerasse defender suas ideias no Parlamento”. Foi então que passei a ser candidato a Deputado Estadual, eleito em 78, e depois Federal, Vereador, Presidente da Câmara e Senador já por três vezes. Então, acredito que toda essa minha vida parlamentar se deve muito à acolhida que Octavio Frias de Oliveira, a quem Claudio me apresentou, deu-me nesse extraordinário jornal.

            Desde a sua criação, como Folha da Noite, em 1921, a Folha mostrou um pioneirismo no conteúdo e na parte industrial. O primeiro jornal com impressão em offset colorida, usado em larga escala e que sempre primou pela imparcialidade política do seu noticiário, medida adotada sobretudo a partir de 1945.

            Mas foi na década de 70 que houve um extraordinário avanço tecnológico, quando o jornal abandonou a composição a chumbo e adotou o sistema de fotocomposição; introduziu o sistema eletrônico de fotocomposição. Todo o jornal passou a ser feito em máquinas de fotocomposição a partir de 74.

            Mas as maiores alterações foram em termos do conteúdo. Seguindo os ventos de redemocratização do País, abriu as suas páginas ao debate de ideias que fervilhavam na sociedade civil, além daquela sequência de artigos denominados “Caminhos do Futuro”. E eu aqui tenho o meu artigo “Em busca de um novo modelo”. Era um artigo de oito páginas, publicado na íntegra. E eu pude agora recuperá-lo, graças a esse novo sistema utilizado pela Folha.com, em que disponibiliza tudo que está na sua história impressa.

            Em 22 de junho de 1976, começou a circular “Tendência e Debate”, com os textos dos intelectuais, daqueles que haviam - muitos - sido perseguidos pelo regime militar e das pessoas que, em qualquer área do conhecimento, tivessem contribuições importantes a dar.

            Os avanços e o pioneirismo editorial e tecnológico levaram a empresa a assumir, na década de 80, a liderança da imprensa diária brasileira como o jornal de maior circulação no País.

            Torna-se a primeira redação informatizada da América do Sul, com a instalação de terminais de computador para redação e edição de texto e sempre com os princípios básicos de três pontos fundamentais: informação correta, interpretações competentes sobre essa informação e pluralidade de opiniões sobre os fatos.

            Daí para a frente, as mudanças e os avanços se tornam uma constante, e nem as intervenções da Polícia Federal na década de 90 ou qualquer ameaça conseguem impedir o crescimento e a expansão do jornal.

            Nos anos 90, surgem as edições regionais, Sudeste, ABCD, Nordeste, Norte e Vale. Na década de 90, o noticiário também foi reorganizado com os novos cadernos de circulação diária, além da Ilustrada, Brasil, Mundo, Dinheiro, Cotidiano e Esporte.

            E, mais uma vez, a Folha foi o primeiro órgão da imprensa brasileira, como ressaltaram os que me antecederam, e o Senador Pedro Simon aqui tanto recordou a sua vibração, com o abraço que a Folha de S.Paulo deu, abrindo esse abraço ao povo brasileiro na campanha pelas Diretas Já e, depois, na Campanha pela Ética na Política, em 1984 e 1992, respectivamente.

            Em 1992, Octavio Frias de Oliveira passa a ser o proprietário unitário da empresa, a página do jornal passa a ser impressa colorida todos os dias e são lançados o Caderno Mais e a Revista da Folha.

            Em janeiro de 2000, o grupo Folha lança o Brasil Online (BOL) e o NetGratuita. Em maio de 2000, associado ao Infoglobo, lança o jornal Valor, de conteúdo financeiro e econômico, que hoje é o principal jornal desta área no Brasil. O jornal Folha de S.Paulo possui uma circulação média em dias úteis de 300 mil exemplares e 370 mil aos domingos. Conforme aqui Kátia Abreu relatou, mais de 2,5 milhões de pessoas leem a Folha de S.Paulo diariamente, inclusive este Senador. A filosofia do jornal sempre foi noticiar com pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e analítico e independência.

            Alguns dos principais nomes do jornalismo brasileiro passaram pela redação da Folha, pessoas que já nos deixaram, como Samuel Wainer, Claudio Abramo, Paulo Francis, Lourenço Diaféria, Otto Lara Resende, Antonio Callado, Roberto Campos, Plínio Marcos, Glauber Rocha, dentre tantos outros que continuam esse trabalho fantástico da Folha de S.Paulo.

            Cada vez que temos a Folha, como hoje de manhã, abrimos para ler com extraordinário interesse. E para nós, Senadores ou Congressistas, ler o Caderno Brasil - na verdade, toda a Folha de S.Paulo - torna-se um instrumento fundamental. Eu, por exemplo, hoje, sinto-me na responsabilidade de comentar na sessão normal do Senado alguns dos artigos, como “País rico é país sem pobreza”, da Ministra Tereza Campello.

            Lembro-me da guarida que a própria Folha de S.Paulo deu, por exemplo, à garantia de uma renda mínima para todos. Certo dia, nos anos 90, na primeira página, a Folha de S.Paulo publicou um editorial sobre a renda mínima, dizendo que era hora de o Brasil implementar um programa tal como hoje existe. E bem analisado hoje está o Programa Bolsa Família pela Ministra Tereza Campello, que tão bons resultados tem tido. A renda mínima está hoje associada às oportunidades de educação e de saúde, mas poderá avançar ainda mais na direção de um dia termos - e a Folha também tem dado guarida a isso - a renda básica de cidadania. Ainda no último dia 25 de fevereiro, tive a honra de ter tido mais um artigo publicado, o último que tive publicado na Folha de S.Paulo, sobre a experiência pioneira, no mundo em desenvolvimento, de uma renda básica de cidadania que todo,s em uma comunidade, uma vila rural de apenas mil pessoas, tiveram.

            Hoje até ouso fazer uma sugestão de pauta aqui, prezado Otavio. No próximo dia 22 de abril, na Universidade de Anchorage, no Alasca, haverá um seminário especial, um workshop sobre a experiência pioneira do único lugar do mundo onde é pago, já por 28 anos, a todas as pessoas ali residentes, há um ano ou mais, um dividendo anual igual. A experiência concreta da renda básica de cidadania. Ali vão os principais estudiosos, inclusive dos Estados Unidos, mas da própria Universidade do Alasca.

            Então, queria sugerir à Folha que cobrisse esse evento, porque, mais e mais, a experiência do Alasca está sendo vista como algo extremamente relevante. Eu próprio tive a oportunidade de publicar um artigo sobre como é que poderia o Iraque, em uma viagem que fiz em janeiro 2008, por ter grande reserva petrolífera, seguir o exemplo do Alasca, para que pudesse então haver a democratização e pacificação do Alasca.

            Quando visitei o Presidente da Assembleia Nacional, os Líderes, Congressistas e Ministros, eu me lembrei do que havia lido na Folha de S.Paulo, logo após ter saído de São Paulo, antes de ir a Bagdá. Foi uma entrevista do técnico brasileiro Jorvan Vieira, que tinha levado o time do Iraque a vencer a Copa Asiática. Lá, eu disse para eles: “Olha, o Jorvan Vieira disse que, de início, foi muito difícil fazer os xiitas passarem a bola para os sunitas, para os curdos e daí por diante. Mas, quando conseguiu harmonizar o time, ele então levou o Iraque a ser campeão da Ásia. Da mesma maneira, se vocês que têm tido, há cada duas ou três semanas, bombas que matam 60, 70, 100 pessoas, às vezes com suicidas que lançam essas bombas, quem sabe se vocês, criando um sistema em que todos se sintam solidários e participantes da riqueza da Nação, não conseguirão um bom resultado, efetivamente, para democratizar e pacificar o País?”

            Pois eu gostaria de lhes transmitir que o Embaixador do Iraque, há três ou quatro semanas, convidou-me para almoçar, com o Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Iraque e com dois assessores do atual Presidente do Iraque, para me dizer que a proposta que ali fiz em janeiro de 2008 acabara de ser acatada.

            O Presidente do Iraque encaminhou, e foi aprovada pela Assembleia Nacional do Iraque, uma proposição na qual todo o petróleo daquele País pertence ao povo iraquiano e às suas províncias regionais, e que haverá, daqui para frente, um sistema no qual cada iraquiano, dos US$30 milhões, vai receber algo como US$15.00 a US$20.00 mensais para começar. Ou seja, a ideia vai se expandindo pelo mundo inteiro. E dentre os lugares onde tive a oportunidade de ver a ideia sendo levada adiante, sendo soprada pelo vento, nas palavras do Bob Dylan, até que todos possam compreender que se trata de uma ideia de bom senso, como disse Thomas Penn, em 1795, acredito que logo, logo, isso vai ser uma realidade no Brasil.

            Espero poder ter a oportunidade de dialogar com o Presidente Barack Obama, relatar isto que está acontecendo e como seria bom se pudesse contribuir para que, do Alasca à Patagônia, um dia, tenhamos uma renda básica de cidadania.

            Quero também agradecer a gentileza do Líder do PT, Senador Humberto Costa, por ter me dado a oportunidade de falar em nome do Partido dos Trabalhadores.

            Queridos Otavio e Maria Cristina, que bom que vocês tenham seguido a inspiração e o exemplo de seu pai, para tornar a Folha de S.Paulo esse jornal tão excepcional, que tão bem serve ao povo brasileiro!

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2011 - Página 6699