Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.

Autor
Ana Rita (PT - Partido dos Trabalhadores/ES)
Nome completo: Ana Rita Esgario
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO.:
  • Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2011 - Página 6801
Assunto
Outros > RELIGIÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, COMEMORAÇÃO, ABERTURA, SESSÃO LEGISLATIVA, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSUNTO, ATENÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, PRESERVAÇÃO, RESPEITO, MEIO AMBIENTE, NATUREZA, PLANETA TERRA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª ANA RITA (Bloco/PT - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Srª Presidenta, nossa grande amiga e companheira, Senadora Marta Suplicy. Quero cumprimentá-la nesta tarde de hoje.

            Quero cumprimentar também o Bispo de São Luís do Maranhão e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Revmo Sr. Dom José Belisário da Silva, que está aqui, ao meu lado. É com alegria que nós o recebemos!

            Quero também cumprimentar o Diretor-Executivo da Campanha da Fraternidade, o Revmo Sr. Padre Luís Carlos Dias, e também cumprimentar o Assessor Político da Conferência Nacional dos Bispos, o Revmo Sr. Padre Ernani Pinheiro.

            Aqui, quero saudar todos os Senadores, todas as Senadoras presentes, a nossa querida ex-Senadora Serys Slhessarenko, que hoje está aqui prestigiando esta sessão. Quero saudar todas as pessoas que estão participando deste momento tão importante, que é o lançamento da Campanha da Fraternidade neste espaço do Senado!

            Como acontece todo ano, a CNBB lançou oficialmente, na última Quarta-Feira de Cinzas, no início da Quaresma, a nova edição, a quadragésima sétima, da sua tradicional Campanha da Fraternidade, a Campanha da Fraternidade deste ano de 2011.

            Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, a Campanha focará um dos problemas mais prementes da nossa época, que é a questão ambiental.

            O tema da Campanha da Fraternidade deste ano de 2011 é “Fraternidade e a vida no planeta”, e o lema, um versículo da epístola aos Romanos que diz: “A criação geme em dores de parto”. O tema, não é preciso insistir, é de uma atualidade óbvia. E a imagem evocada pelo lema é forte e significativa: à nossa volta, o planeta geme, seja por causa das agressões que causamos, seja porque, apesar de tudo, a vida ainda resiste e luta para se renovar, como em um parto permanente - e luta tanto mais violentamente, quanto mais aumentam nossas agressões.

            A Campanha porá a ênfase na questão das mudanças climáticas. Efetivamente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, a violência com que a natureza responde a nossas agressões tem se manifestado cada vez mais fortemente no clima. Exemplo eloquente disso foram as chuvas torrenciais que, em escala sem precedentes, causaram um desastre na região serrana do Estado do Rio de Janeiro recentemente, um dos maiores desastres naturais que já se verificaram no País, além de afetar outras regiões, inclusive o Espírito Santo, durante esta semana. No dia de hoje, alguns Prefeitos do Estado do Espírito Santo - aqui, estamos recebendo o Prefeito de Conceição da Barra - estão solicitando ao Governo Federal recursos e apoio para aqueles Municípios que foram afetados pelas chuvas.

            Todos temos consciência de que é complexo o debate em torno dessas questões. É certo que a atividade humana tem um impacto considerável no meio ambiente. Reavaliar e redirecionar esse impacto, portanto, implica reavaliar e redirecionar nossas atividades, ou seja, nossos modos de produção, a forma como usamos os recursos naturais, enfim, toda a maneira como produzimos nossa riqueza, como produzimos e reproduzimos as condições que nos permitem viver da forma como queremos. Redirecionar o impacto que causamos no meio ambiente implica, portanto, rever nosso modo de vida. E é isto, Srª Presidente, que V. Exª acabou de dizer: é preciso uma mudança de comportamento, uma mudança de postura, uma mudança de atitude das pessoas. A Campanha da Fraternidade deste ano chama justamente a atenção para isso.

            Ao pôr a questão ambiental na perspectiva da fraternidade, a Campanha da CNBB chama nossa atenção para o fato de que estamos aqui diante de uma das questões de justiça mais importantes do nosso tempo. Há, obviamente, um sentido em que os problemas ambientais nos afetam a todos igualmente. Estamos, afinal de contas, todos como que embarcados no mesmo planeta. É o mesmo meio ambiente que compartilhamos todos. Estamos todos envolvidos pela mesma biosfera. Mas os efeitos da ação humana sobre esse meio são desigualmente sentidos. É importante percebermos isso. De fato, Srªs e Srs. Senadores, são os mais pobres que, geralmente, sentem de maneira mais aguda os efeitos da degradação ambiental. O empobrecimento da biodiversidade, o efeito das mudanças climáticas na agricultura e no regime de águas, tudo isso afeta mais aqueles que já estão em posição social frágil.

            É nesse sentido, Srª Presidente, que a questão ambiental apresenta-se como questão de justiça social. Precisamos rever nossa maneira de viver neste planeta. Precisamos reformular nossos paradigmas de exploração dos recursos naturais, não apenas porque disso depende nossa sobrevivência, mas também e, sobretudo, em nome da fraternidade, da igualdade, da superação das desigualdades injustas que acabam distribuindo desequilibradamente, em detrimento dos mais fragilizados, os ônus da vida em sociedade.

            Senhoras e senhores, a Campanha da Fraternidade deste ano clama a todos nós, sem distinção alguma, homens e mulheres, jovens e crianças, intelectuais, trabalhadores de modo geral, no sentido de rediscutirmos esses paradigmas, em busca de um caminho que equilibre mais eficazmente nossa necessidade de usar os recursos naturais e a capacidade do planeta de fornecê-los. Para isso, temos de repensar modelos de produção e de consumo, rejeitando o modelo predatório que, ainda hoje, prevalece. Como eu disse antes, isso não é simples. Nunca é fácil mudar paradigmas, transformar hábitos e rever expectativas. Mas temos no horizonte - a que distância é difícil de dizer - um limiar incontornável, que é o da própria sobrevivência da espécie. Em algum momento, estaremos diante da opção entre mudar nossa maneira de estar no planeta ou, muito simplesmente, desaparecer. Comecemos, portanto, a olhar seriamente para essa necessidade de mudança desde já - é o que pede, em nome da fraternidade, a Campanha deste ano que a CNBB está lançando.

            Para terminar, Srª Presidente, quero aqui congratular-me com a CNBB, nas pessoas que aqui estão, pela felicidade da escolha do tema deste ano, fazendo votos de que a Campanha que se iniciou com a Quaresma sirva como ponto de partida não apenas para uma reflexão mais aprofundada sobre a questão, mas também para ações mais efetivas, que visem à real transformação de nossa relação com o mundo natural, do qual fazemos parte e do qual, mesmo com todo o artifício com que nos cercamos, sempre seremos dependentes.

            Queremos aqui parabenizar a CNBB na pessoa do seu Presidente, Dom Geraldo Lyrio Rocha, que, hoje, não pôde estar aqui, porque está pregando em um retiro, e na pessoa do Revmo Sr. Dom José Belisário da Silva, que aqui está representando a CNBB; do Revmo Sr. Padre Ernani e do Revmo Sr. Padre Luiz. Parabenizamos toda a CNBB, pela iniciativa de propor esse tema da Campanha da Fraternidade neste momento tão importante, o que nos honra muito. Como capixaba e em nome do povo capixaba, quero agradecer este momento. A escolha do tema foi um acerto e colocará na pauta de discussão, inclusive religiosa, a necessidade de se proteger o planeta.

            Quero aproveitar a oportunidade para dizer que, ontem, à tarde, participamos também de um momento semelhante a este, na Câmara Municipal de Vereadores da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, onde refletimos sobre o tema. Dizíamos, naquele momento, que, independentemente de onde estejamos, em qualquer espaço que ocupemos, podemos, sim, fazer alguma coisa.

            O Bispo da Arquidiocese de Vitória, Dom Luiz, fez a seguinte indagação a todos nós: “O que posso fazer? Como posso fazer? De que maneira posso fazer?”. Essas três perguntas são feitas a todos nós que estamos aqui participando deste momento. O que cada um pode fazer para, de fato, dar sua contribuição, para que haja um ambiente mais equilibrado, para que possamos ter uma vida com maior qualidade, para que as pessoas possam viver com mais segurança, com mais fraternidade, com mais tranquilidade e com mais alegria e possam, enfim, ter uma vida digna?

            Então, com essa fala, Srª Presidente, parabenizo novamente a CNBB e todas as Senadoras e Senadores aqui presentes, por participarem deste momento tão importante da vida do nosso povo religioso, do povo brasileiro e da população do mundo como um todo!

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2011 - Página 6801