Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO.:
  • Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2011 - Página 6804
Assunto
Outros > RELIGIÃO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ABERTURA, SESSÃO LEGISLATIVA, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSUNTO, ATENÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, PRESERVAÇÃO, RESPEITO, MEIO AMBIENTE, NATUREZA, PLANETA TERRA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmª Srª Presidenta, Senadora Marta Suplicy; Exmª Srª Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente; Exmª Srª Senadora Ana Rita, que propôs esta homenagem à Campanha da Fraternidade; Rev Sr. Dom José Belisário da Silva, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Bispo de São Luís do Maranhão; Rev Sr. Padre Luiz Carlos Dias, Diretor Executivo da Campanha da Fraternidade; Rev Sr. Padre Ernani Pinheiro, assessor da CNBB; Srª Embaixadora do Clima do Rio+20, Senadora Serys Slhessarenko; Srs. Senadores, Srªs Senadoras, todos os anos, a Campanha da Fraternidade, por iniciativa da Igreja Católica, coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, cujo atual Presidente é Dom Geraldo Lyrio Rocha, procura despertar o sentimento de solidariedade das pessoas em relação aos mais graves problemas vividos pela sociedade. Essa iniciativa missionária, a Campanha da Fraternidade, tem ido ao encontro dos melhores ensinamentos da Bíblia, orientando-nos na trilogia do ver, julgar e agir, sendo um excelente auxílio para bem viver o período quaresmal.

            A cada ano, há a escolha de um tema cada vez mais relevante. Neste ano de 2011, a Campanha da Fraternidade tem como lema “Fraternidade e a vida no planeta” e também “A criação geme em dores de parto”.

            Ora, neste momento, queremos aqui expressar a nossa solidariedade a todos aqueles que, no Japão, estão sofrendo os efeitos do mais grave tsunami e terremoto havidos naquele país e que têm levado à perda de mais de milhares de vidas, pessoas por toda parte, sobretudo na região nordeste do Japão, que perderam as suas residências, as suas habitações, muito embora seja o Japão um dos países que mais tem se aprimorado na defesa preventiva dos males, seja dos terremotos, seja dos tsunamis. Não fosse a qualidade extraordinária de suas construções, inclusive de edifícios, de arranha-céus, o desastre poderia ter sido muito maior. Mas é até impressionante e de admirar como o Japão tem conseguido, rapidamente, aliviar o sofrimento de seu povo.

            Ainda hoje de manhã eu estava ouvindo no rádio o testemunho de um brasileiro, ali na região atingida pelo tsunami, pelo terremoto, de como as autoridades japonesas têm realizado um esforço excepcional para fazer com que haja pelo menos comunicação e serviço de eletricidade para todo o Japão, em que pese, por exemplo, ter sido interrompido todo o transporte ferroviário, através do formidável trem-bala, que cruza o Japão por inúmeras regiões.

            Esse tema põe em questão, como explica Dom Irani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro, nossa vida e nossas opções quando verificamos que “a criação geme em dores de parto”, supondo a coragem de acolhermos o chamado à conversão para uma vida mais equilibrada, sóbria e humana.

            Para os católicos, e eu me incluo dentre esses, o tema irá inspirar todos os demais, principalmente os dias e meses temáticos deste ano, ajudando a continuar a aprofundar o assunto através de diversos matizes.

            As reflexões que a Campanha da Fraternidade propõe nos levam a conclusões que implicam não só mudança de mentalidade, mas, principalmente, mudança de atitudes e comportamentos. E, com relação ao tema deste ano, é muito importante que isso aconteça com rapidez, pois as mudanças que ora ocorrem na natureza estão levando nosso planeta a “gemer” e fazem com que também os seus habitantes sofram como consequência de seus próprios atos.

            Se no Japão nos impressionam os desastres climáticos e a forma como a população e as autoridades japonesas se organizam para prevenir maiores problemas, aqui também no Brasil - a Senadora Ana Rita e outros que me precederam já ressaltaram -, seja ali nas regiões serranas do Rio de Janeiro, seja na minha própria cidade de São Paulo, no começo do ano, e mais recentemente, nos últimos dias, no Paraná, em Santa Catarina, há uma ou duas semanas, no Mato Grosso do Sul e também no Nordeste, em inúmeras regiões, as chuvas tão fortes causaram desastres de extraordinária monta tanto para aquelas pessoas que, muitas vezes, não tiveram outras alternativas senão colocar suas habitações em regiões de risco, mas também para pessoas que tinham suas residências em lugares considerados razoavelmente seguros, como foi o caso em Teresópolis e demais cidades serranas do Rio de Janeiro, onde até mesmo uma casa histórica de Tom Jobim acabou sendo objeto de danos importantes.

            Como diz Dom Irani, o pecado do homem, ensina-nos a Sagrada Escritura, destruiu a harmonia da criação. E o pecado, presente nos dias de hoje com recursos incomensuráveis da ciência, da técnica, tem um poder de destruição ainda maior”.

            Na abertura desta Quaresma, o Papa Bento XVI nos diz:

No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte... A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projetos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro?

            Para o ano de 2011, a Igreja Católica do Brasil escolheu um tema em que o pecado social se manifesta com presença forte em nosso tempo, numa avidez do lucro, do enriquecimento sem controle, violentando a natureza.

            Assim, o objetivo da campanha deste ano é “contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam a enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta”.

            A poluição das águas, os lixões situados próximos de nascentes, o desmatamento das florestas, o saneamento básico precário, a dificuldade de possuir moradias em locais dignos, a ausência de educação para uma coleta seletiva do lixo nos questionam sobre os desastres ambientais: a morte de tantas pessoas, o aquecimento global, a diminuição das geleiras dos polos, o aumento do nível dos oceanos e as doenças antigas que retornam com força.

            Sobre o problema, todos devemos meditar com atenção. Esse planeta é o nosso habitat. Não existe outro local, até agora conhecido, possível de habitarmos. Assim, a Campanha da Fraternidade nos direciona para a conscientização sobre a sustentabilidade com o reduzir, reutilizar, recuperar, reciclar, repensar. O que poderemos fazer pessoalmente e em nossas famílias com relação a essa realidade? O que e como poderemos cobrar leis e atitudes de nossos municípios, estados e nação?

            A Campanha da Fraternidade, ao longo dos anos, tem sido um meio de aproximação dos homens e, neste 2011, de todos nós com a natureza que nos cerca. Por tudo, faço votos de que a campanha deste ano seja coroada de êxito, cumprimentando Dom Dimas Lara Barbosa, Secretário-Geral da CNBB, pela escolha de tema tão importante e atual.

            Pensando, justamente, na questão do que poderemos fazer com relação a essa realidade, tenho refletido na possibilidade de reunir instrumento que contribua para justamente levar adiante o propósito maior da nossa Presidenta Dilma Rousseff de erradicar a pobreza absoluta e promover maior justiça e igualdade. E assim, querida Ministra Izabella Teixeira; querida Presidenta Marta Suplicy, quem sabe possamos pensar em alguma maneira - e isso está sendo objeto da reflexão de inúmeros economistas que têm pensado sobre esse tema -, quem sabe possamos criar uma sistemática tal pela qual se possa cobrar daqueles que emitem o carbono e tudo aquilo que possa ser prejudicial à saúde do ser humano? Que se possam cobrar taxas que, de alguma maneira, contribuam para inibir, diminuir todas aquelas emissões que são prejudiciais à vida de nosso planeta e, com esses recursos, formar um fundo que venha justamente contribuir para assegurar o direito à vida com dignidade para todas as pessoas.

            Eu queria transmitir que comecei a refletir sobre este assunto, pois ainda no último congresso norte-americano da renda básica ali vi economistas que estão propondo isso e até disse ao professor Howard Sherman, que foi um dos que apresentou proposta nesse sentido, da Universidade de Maine: “Puxa, é uma ideia muito interessante que, quem sabe, pudesse levar para o Brasil?”. E ele me respondeu: “Olha, eu estou à disposição para ajudar na formulação de projeto nesse sentido”.

            Então, meus cumprimentos à CNBB e ao Governo da Presidenta Dilma, que tem na senhora, Ministra Izabella Teixeira, a pessoa que tem procurado nos mostrar o bom caminho e iluminado os caminhos alternativos para termos maior consciência e prevenir os problemas decorrentes da destruição do meio ambiente.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2011 - Página 6804