Discurso durante a 27ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
RELIGIÃO.:
  • Comemoração do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2011, cujo tema será Fraternidade e a Vida no Planeta.
Publicação
Publicação no DSF de 16/03/2011 - Página 6809
Assunto
Outros > RELIGIÃO.
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, ABERTURA, SESSÃO LEGISLATIVA, CERIMONIA, SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ASSUNTO, ATENÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, PRESERVAÇÃO, RESPEITO, MEIO AMBIENTE, NATUREZA, PLANETA TERRA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Exmª Srª Presidente Marta Suplicy; Exmª Srª Senadora Ana Rita, autora deste requerimento, meus parabéns; Ministra de Estado do Meio Ambiente, Exmª Srª Izabella Teixeira, que teve que se retirar; Bispo de São Luís do Maranhão e representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Revmº Sr. Dom José Belisário da Silva; Diretor-Executivo da Campanha da Fraternidade, Revmº Sr. Padre Luiz Carlos Dias; Assessor Político da Conferência Nacional dos Bispos, Revmº Sr. Padre Ernani Pinheiro; boa-tarde. Saúdo especialmente nosso Secretário-Geral da CNBB Regional Sul do Paraná, Revmº Sr. Padre Carlos Chiquinho, que é muito nosso amigo. É um prazer muito grande participar desta cerimônia.

            Nesta semana, o Estado do Paraná, meu Estado, está passando por uma grande provação. Uma chuva devastadora colocou em situação de calamidade as cidades do nosso litoral, matando pessoas, destruindo casas, propriedades agrícolas, em uma extensão considerável, atingindo também de forma considerável a nossa Mata Atlântica, que é a maior faixa contínua de mata preservada no Brasil.

            Uma situação muito triste que nos causa muita dor. É uma situação que nos preocupa muito.

            Mas hoje, aqui, há um fato a comemorar. Como acontece todos os anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, lançou, na Quarta-Feira de Cinzas, também na semana passada, a sua Campanha da Fraternidade sob o tema: “Fraternidade e a Vida no Planeta”.

            Ela tem como objetivo “contribuir para a conscientização das comunidades cristãs e das pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no Planeta”, como aqui já foi dito.

            Essa não é, aliás, a primeira vez que a CNBB adota a preservação da natureza como tema das suas tão importantes campanhas da fraternidade, como já disse aqui a Senadora Marisa Serrano e outros Senadores que me antecederam. Em 1979, o tema escolhido foi “Preserve o que é de Todos”; em 2004, “Água, Fonte de Vida”; e em 2007, “Vida e Missão neste Chão”. Desse modo, a Conferência dos Bispos do Brasil tem dado uma valiosa contribuição à compreensão da importância da questão ambiental aos católicos e a todos os brasileiros e brasileiras.

            O tema, como se vê, é extremamente oportuno e a abordagem adotada na Campanha é a mais ampla possível. Desde ações simples, como evitar o banho demorado, que desperdiça água, até propostas como pressionar os governos para que invistam em saneamento básico e na geração limpa de energia, um vasto arsenal de medidas está sendo sugerido pela Campanha da Fraternidade.

            Inspiração na fé e na tradição católica também não faltam a esta Campanha, é claro, a 48ª da série iniciada em 1964.

            Na Bíblia já se encontra clara a ideia de que, na Criação, Deus colocou o homem e a mulher no centro do que havia criado, com a missão de cuidar da sua obra e de contribuir com o crescimento e a evolução da natureza em todas as suas dimensões.

            Não é menos eloquente o exemplo de São Francisco de Assis, de quem eu sou devota. Para a Campanha da Fraternidade de 2011, ele significa o amor no sentido amplo. O seu voto de pobreza é um libelo contra o consumismo desenfreado e o seu amor aos animais, a representação clara da relação harmônica que o ser humano precisa desenvolver com a natureza.

            Outro aspecto importante a destacar sobre a Campanha da Fraternidade de 2011 é o seu caráter ecumênico, dada a abrangência e a relevância do tema escolhido, que não deve encontrar barreiras junto aos mais diversos credos religiosos. Tanto é assim que outras confissões que não a católica apoiam a iniciativa da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. É o caso do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, do qual participam, além da Igreja Católica, a Igreja Anglicana, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana, a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e a Igreja Presbiteriana Unida.

            A participação da CNBB na discussão do tema ambiental reflete “uma preocupação social da Igreja, que quer despertar as pessoas para a educação ambiental porque, a partir do nosso dia a dia, precisamos diminuir o consumo e tomar algumas medidas que impliquem menos gasto e mais educação para a vida do nosso planeta”, afirmou o Padre Luiz Carlos Dias, que está aqui, Secretário Executivo da Campanha.

            Trata-se, portanto, da proposição de uma reflexão madura sobre a relação entre o homem, a mulher e a natureza, longe de posições radicais e equivocadas, que em nada contribuem para a preservação da vida no Planeta.

            Não há dúvidas de que o ser humano precisa dos recursos naturais para sobreviver e melhorar suas condições de vida.

            O avanço científico e tecnológico tem proporcionado, a cada dia, melhorias extraordinárias ao bem-estar e ao conforto da população do Planeta, além de permitir o uso cada vez mais racional dos recursos naturais.

            Exemplo claro disso é a possibilidade de reciclar o alumínio. Há algumas décadas apenas, havia previsão de esgotamento da bauxita, uma profecia que não se cumpriu graças a inovação tecnológica que permite o reaproveitamento do alumínio.

            Contudo, é fundamental saber fazer uso equilibrado desses recursos, adequando-os às reais necessidades humanas. O consumismo desenfreado, por exemplo, atenta contra esse bom uso na medida em que faz do desperdício o seu pior efeito colateral. Saber contê-lo é fundamental, tanto mais se pensarmos que seremos 9 bilhões de habitantes no Planeta em 2050.

            Da mesma forma, a ganância pelo lucro fácil faz com que empresas negligenciem nas suas obrigações de preservação da natureza. Argumenta-se, por exemplo, que medidas destinadas a evitar o lançamento de resíduos no meio ambiente têm custo elevado. Não seria talvez o caso de colocar o custo nos produtos e eles terem seus preços elevados como forma de evitar o consumismo perdulário?

            Vamos ter aqui nesta Casa - a matéria já está na Câmara dos Deputados - a discussão do Código Florestal. Também precisamos do equilíbrio na utilização dos recursos naturais para nossa produção agrícola. E nessa discussão, nesse debate, não há mocinhos e bandidos; estamos todos na mesma casa que o Pai nos ofereceu, o Planeta Terra. Precisamos harmonizar essa discussão, precisamos mediar as relações; os ambientalistas não estão em contrário com os agricultores, assim como os agricultores não podem estar em contrário com os ambientalistas. Afinal, todos precisamos dos recursos naturais para poder sobreviver.

            Portanto, essa campanha da CNBB vem em muito boa hora para que possamos mediar essa conversação e possamos tirar desse debate a melhor posição possível para o nosso Planeta, para os seres humanos; enfim, para o conjunto dos recursos naturais.

            Portanto, há nesse assunto um longo caminho a percorrer para a construção do tão necessário desenvolvimento sustentável. Nessa jornada, o bom senso, a educação, as ações individuais de contensão do desperdício, as políticas públicas adequadas e o entendimento internacional tecem uma vasta teia que pode construir uma relação saudável e adequada entre o homem e a natureza.

            Muito se falou aqui das catástrofes que estão nos atingindo, tanto no Brasil como em outros países. E nós temos que lamentar, e por isso a importância do tema.

            Mas eu quero falar aqui da esperança, daquilo que nos move para o futuro. E eu acredito no ser humano, porque como criatura, como criatura de Deus nós havemos de ter condições de superar a nós mesmos e poder cuidar da casa que Ele tão bem nos legou.

            Portanto, é muito importante essa campanha que faz a CNBB e à qual eu quero saudar do fundo do meu coração. A fé constitui uma abertura importante através da qual a ideia da necessidade da preservação dos recursos naturais para a sobrevivência humana no Planeta pode entrar com mais facilidade.

            Parabéns à CNBB pela iniciativa.

            Muito obrigada.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/03/2011 - Página 6809