Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a visita que o Presidente norte-americano Barack Obama fará ao Brasil.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre a visita que o Presidente norte-americano Barack Obama fará ao Brasil.
Aparteantes
João Pedro.
Publicação
Publicação no DSF de 17/03/2011 - Página 6939
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • ANUNCIO, PRESENÇA, EX-DEPUTADO, PLENARIO, SENADO.
  • SAUDAÇÃO, EXPECTATIVA, VISITA, BRASIL, PRESIDENTE, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IMPORTANCIA, REUNIÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEBATE, ERRADICAÇÃO, POBREZA, PROMOÇÃO, IGUALDADE, JUSTIÇA SOCIAL, CONTINENTE, AMERICA, EXTINÇÃO, EMBARGOS, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente, Senador Mozarildo Cavalcanti, quero agradecer ao Senador Jorge Viana pela oportunidade de eu falar antes dele, uma vez que tenho agora uma audiência com o Governador Agnelo Queiroz.

            Quero assinalar, Sr. Presidente, a presença, que muito nos honra, do ex-Deputado estadual Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari. Ele foi Deputado estadual e, por muitos anos, assessor da Liderança do Partido dos Trabalhadores, na época tão importante da Constituinte. Tem sido um magistrado, um juiz, um advogado brilhante, acompanhado aqui de outro advogado, João Batista de Oliveira. Com eles, farei uma visita ao Governador Agnelo Queiroz para colocar em melhor prática a Fundação Israel Pinheiro, que homenageia um dos principais engenheiros da construção de Brasília, ilustre figura de Minas Gerais, para que ali seja um lugar educacional, sobretudo com vista ao tema do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.

            Mas o tema que me traz hoje à tribuna do Senado são as boas-vindas ao Presidente Barack Obama, pois tenho grande esperança de que a sua visita, neste sábado e domingo, a Brasília e ao Rio de Janeiro, com a recepção que lhe dará a Presidente Dilma Rousseff e o povo brasileiro, significará um acontecimento de extraordinária relevância para a relação de nossos países, o Brasil com os Estados Unidos da América.

            Eu tenho a convicção de que o Presidente Barack Obama representa esperanças muito fortes de todos aqueles que lutaram, ao longo da história, pela liberdade.

            O Presidente Barack Obama, para mim, constitui quase um realizador das expectativas, anseios e esperanças expressas por Martin Luther King Jr., em 28 de agosto de 1963, quando ele fez o tão belo pronunciamento “I have a dream” - “Eu tenho um sonho” -, no qual expressou que não era hora de aceitarmos a recomendação dos que nos propõem de tomar o chá do gradualismo, como que para aguardar as mudanças, que se fazem tão urgentes. Ele se referia às mudanças de igualdade dos direitos civis, de igualdade do direito de votos de todos, e, se a América não realizar essas mudanças rapidamente, vai viver um novo verão abrasador. Mas, ao mesmo tempo, ele dizia para não aceitarmos tomar do cálice do veneno do ódio, da vingança, da guerra, porque o importante era sempre procurar confrontar a força física com a força da alma. E ele, então, expressou a sua esperança de construir uma nação com maior liberdade e igualdade para todas as pessoas, não importa a sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou socioeconômica.

            Pois bem, o Presidente Barack Obama marcou o dia 28 de agosto de 2008, exatamente no 45º aniversário daquele discurso ”Eu tenho um sonho”, para realizar a convenção democrata que o consagrou depois da vitória nas primárias em relação à Senadora Hillary Clinton, que tão bem se houve nas eleições, mas perdeu-as para Barack Obama, que, então, naquele dia, convidou-a para ser Secretária de Estado, e ela vem desenvolvendo um trabalho muito construtivo e importante.

            Entre os pronunciamentos mais importantes do Presidente Barack Obama, está aquele realizado na porta de Brandenburgo, em 24 de julho de 2008, quando, entre outras coisas, ele disse:

Os muros entre velhos aliados de cada lado do Atlântico não podem continuar. Os muros entre os países que têm mais e os que têm menos não podem continuar. Os muros entre raças e tribos, entre nativos e imigrantes, entre cristãos, mulçumanos e judeus não podem permanecer. Hoje são esses os muros que precisamos derrubar.

            Ora, Presidente Mozarildo Cavalcanti, eu tenho a esperança de que, ainda durante o seu mandato - se possível, nesses quatro anos -, possa o Presidente Barack Obama tomar as medidas necessárias para não mais precisar haver muros que separem os Estados Unidos, do México e do restante da América Latina. Possamos nós, do Alasca até a Patagônia, ter a liberdade de locomoção como, por exemplo, a que existe na União Europeia, e que um dia a Área de Livre Comércio possa ser mais do que uma Área de Livre Comércio das Américas; que possa ser, efetivamente, uma união de todos os países das Américas e que inclua Cuba - é muito importante!

            Espero que, no diálogo da Presidenta Dilma Rousseff, que, aliás, ontem deu uma entrevista de excepcional qualidade para Hebe Camargo, no programa da Hebe... Quero até cumprimentar tanto Hebe Camargo quanto a Presidenta Dilma Rousseff, porque ambas tiveram um diálogo de alto nível, de grande qualidade e que foi recebido por todos aqueles que estavam no auditório de Hebe Camargo, inclusive pelos principais artistas convidados, que perceberam ali as qualidades fenomenais desta nossa Presidenta Dilma Rousseff, que tem demonstrado um exemplo notável para todas as mulheres, para todas as meninas. As mulheres passam a ter esperança, como ela descreveu quando uma menina chamada Vitória, no aeroporto, certo dia lhe perguntou - a menina estava ao lado dos pais, que pediram à Presidenta que respondesse à pergunta de sua filha de nove, dez anos de idade: “Será que mulher pode?” “Claro! A mulher pode, sim, ser Presidente”. E a Presidenta Dilma Rousseff tem procurado demonstrar a sua firmeza, como ela cobra ações, e tudo.

            Mas eu gostaria, Senador João Pedro, que, no diálogo entre a Presidenta Dilma Rousseff e o Presidente Barack Obama, houvesse o apelo, que é de nós todos: “Presidente Barack Obama, vamos acabar com o embargo contra Cuba? Já são cinquenta e poucos anos de embargo! Não faz sentido!”

            Felizmente, Cuba tem procurado demonstrar, tem procurado dar alguns passos, como a libertação e envio de pessoas que estavam detidas por dissidências políticas. Que possam, quem sabe, até estimular Cuba a dar mais passos no sentido de ampliar as liberdades, a liberdade de expressão; quem sabe possa a blogueira Yoani Sánchez, por exemplo, vir ao Brasil, voltar a Cuba, que não haja mais problemas; que possa haver a liberdade de ir e vir nas Américas, incluindo dos Estados Unidos para o México, mexicanos...

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... pessoas da América Central para Cuba e para a América do Norte, para os Estados Unidos, e vice-versa. Quem sabe possamos um dia acabar com as fronteiras, possamos um dia ter os haitianos sendo bem recebidos, por exemplo, em toda a região amazônica.

            Com muita honra, Senador João Pedro.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Eduardo Suplicy, meu querido companheiro de partido, V. Exª reflete nesta tarde e neste discurso o encontro de duas grandes lideranças da nossa América e aborda assuntos importantes. Primeiro, V. Exª estava falando de muros, de um mundo sem muros. Eu quero falar sobre isso. É uma vergonha o muro que existe, o muro de concreto, de cimento entre os Estados Unidos e o México. E ai do mexicano, ai do latino-americano que pule aquele muro!

Não há um muro na outra fronteira, na fronteira americana com o Canadá. É uma vergonha, no século XXI, os Estados Unidos terem uma relação policialesca, policial, violenta contra quem deseja entrar no “coração” do capitalismo! Essa é uma afronta não somente aos mexicanos, pois esse é um muro que separa os Estados Unidos da América Latina. Sei do simbolismo de que V. Exª está falando, e quero concordar com isso. V. Exª fala de um mundo sem muros e tem pleno acordo. Espero que seja um encontro, no Brasil, da nossa Presidenta, da primeira mulher que dirige a República, com um Presidente que carrega ainda muita esperança. Já há um percentual de decepções com o Presidente Barack Obama, que se elegeu prometendo mudar a relação com os latino-americanos que vivem e trabalham nos Estados Unidos. Prometeu, na sua campanha, o fim das guerras, mas, até agora, nada foi feito. E, quanto ao bloqueio de que V. Exª fala - quero aqui parabenizá-lo -, não podemos concordar com essa perseguição ao povo cubano. É um bloqueio econômico. Bloqueia-se um país tão pequeno, e se cria uma legislação internacional para punir um país que tem relação com Cuba! É inadmissível carregar, nos dias de hoje, aquela lógica da Guerra Fria. É hora de um Presidente, como o eleito Barack Obama, pôr fim a essa perseguição dos Estados Unidos - traduzo o bloqueio econômico como uma perseguição ao povo cubano -, pôr fim a esse bloqueio. Quero parabenizá-lo e espero que esse encontro fortaleça uma relação entre os povos das Américas, não de dominação. O problema é que os Estados Unidos querem dominar, sem estabelecerem uma relação profunda, solidária, de integração. Espero que nossa Presidenta possa reafirmar os compromissos de respeito à soberania e que ganhem as Américas, que ganhe o povo norte-americano, mas que ganhe, principalmente, o povo latino-americano. Os Estados Unidos têm uma relação de indiferença com os latino-americanos. Espero que o Presidente Barack Obama visite não somente o Brasil, que ele vá à Bolívia, que vá ao Chile para conversar com os chilenos, que vá ao Paraguai para conversar com os paraguaios. É importante os norte-americanos saírem desse pedestal e terem uma relação de amigos e de companheiros com a América. Parabéns pelo pronunciamento de V. Exª!

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador João Pedro.

            Espero que a Presidenta Dilma Rousseff e o Presidente Barack Obama tenham um encontro que signifique justamente o casamento dessas aspirações.

            Quando Dilma Rousseff diz que seu objetivo maior é...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Mas Barack Obama é casado.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Perdão?

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Barack Obama é casado.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Falo do casamento do ponto de vista das relações entre os povos, que têm muito em comum. É claro que estará ali a esposa do Presidente Barack Obama, Michelle, e suas duas filhas, que serão muito bem recebidas. Que possam eles interagir de tal maneira, que façam do objetivo maior da Presidenta Dilma, o de erradicar a pobreza absoluta e promover igualdade e justiça, algo que se transmita por todas as Américas! Que os Estados Unidos e o Brasil, com respeito ao desastre que ocorre no Japão, possam se solidarizar nessa ajuda, mas que se solidarizem também com os povos da África e da Ásia e com todos os países menos desenvolvidos!

            Hoje, ouvi falar que o Governo Sérgio Cabral estaria limitando a entrada do número de pessoas, mas espero que o povo brasileiro encha a Cinelândia. E o Presidente Barack Obama pode estar certo de que, na Cinelândia, no seu discurso, na hora em que disser que vai acabar com o bloqueio, com o embargo contra Cuba, ouvirá uma reação positiva, os aplausos do povo brasileiro e dos povos das Américas.

            Muito obrigado, Presidente Mozarildo Cavalcanti.

            Obrigado, Senador Jorge Viana.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/03/2011 - Página 6939