Pronunciamento de Marcelo Crivella em 16/03/2011
Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem aos imigrantes judeus no Brasil pelo transcurso do Dia da Imigração Judaica, celebrado em 18 de março. (como Líder)
- Autor
- Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
- Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Homenagem aos imigrantes judeus no Brasil pelo transcurso do Dia da Imigração Judaica, celebrado em 18 de março. (como Líder)
- Aparteantes
- Humberto Costa.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/03/2011 - Página 6986
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, DIA, IMIGRAÇÃO, BRASIL, CIDADÃO, RELIGIÃO, JUDAISMO, COMENTARIO, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, FORMAÇÃO, CULTURA, BRASILEIROS.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, senhores telespectadores da TV Senado, eu venho a esta tribuna hoje...
A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Por favor, Senador, eu me enganei: já estamos fora da Ordem do Dia, o senhor tem vinte minutos.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado.
A comemoração do Dia da Imigração Judaica foi instituída pela Lei nº 12.124, de 16 de dezembro de 2009, de origem no Poder Legislativo. A escolha da data recaiu sobre o dia 18 de março, em referência à reinauguração da primeira sinagoga das Américas, fundada no Recife no século XVII, cuja história, memória e localização foram recuperadas ao longo do século XX. Essa reinauguração aconteceu no ano de 2002.
É uma oportunidade para fixar na consciência nacional não apenas a importância das famílias judias que passaram a compor a paisagem humana brasileira, mas também a profunda ligação que temos com vários elementos da cultura judaica desde os primórdios do período colonial.
Eles chegaram ao Brasil junto com os portugueses. Segundo Paulo Freire, oito de cada dez portugueses aportados aqui eram cristãos novos, que buscavam abrigo contra as perseguições na Península Ibérica. Com o avanço dos nossos conhecimentos sobre nossa formação histórica, muito se reconhece da presença cultural judaica entre os nossos hábitos de origem colonial, vários dos quais ainda são praticados, especialmente no nordeste brasileiro. Na carne de sol, na tapioca, no enterro de corpos em mortalhas, na retirada total do sangue dos animais abatidos, no ato de pintar as casas no final de ano e arrumá-las às sextas-feiras, nos pequenos hábitos do dia a dia, enxergamos essa sobrevivência dos costumes judaicos.
Dois cristãos novos, inclusive, marcaram presença importante na frota cabralina: o médico e astrônomo Mestre João e o intérprete e experiente comandante Gaspar da Gama, que já estivera nas Índias com Vasco da Gama e orientava Cabral.
A lista de cristãos novos na colonização é por demais extensa para ser esgotada aqui e incluía desde donatários importantes como Fernão de Noronha e Martim Afonso de Sousa até náufragos e exploradores famosos como João Ramalho e Diogo Álvares Correia.
A referência à cultura judaica volta a ser renovada com a presença holandesa no Nordeste, em Pernambuco, entre 1630 e 1654. Com efeito, boa parte da expansão do negócio do açúcar no nordeste brasileiro já fora efetivada com capitais holandeses, com forte presença de comerciantes judeus de Amsterdã, vários oriundos das famílias expulsas da Península Ibérica.
O curto período de tolerância religiosa estabelecida pelos holandeses após a invasão permitiu a prática aberta da religião judaica, inclusive com a fundação, no Recife, daquela que foi a primeira sinagoga legal das Américas, a Kahal Kadosh Zur Israel (Santa Congregação Rochedo de Israel), de 1636.
Existem estimativas de que aproximadamente um décimo da população brasileira atual tem ascendência direta judaica.
Hoje, calcula-se a presença judaica no País em torno de 120 mil habitantes. Essa comunidade, pequena para os padrões brasileiros, é, contudo, extremamente ativa, com centenas de nomes e sobrenomes expressivos no campo das artes, da política, dos esportes, da ciência e dos negócios.
Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores...
O Sr. Humberto Costa (Bloco/PT - PE) - Senador Crivella...
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Pois não.
O Sr. Humberto Costa (Bloco/PT - PE) - Senador Crivella, quero aproveitar a oportunidade do discurso de V. Exª para aqui aparteá-lo e dizer da importância do pronunciamento de V. Exª nesta tarde, eu que sou pernambucano e conhecedor do importante papel que a comunidade judaica desempenhou no crescimento e no desenvolvimento do nosso Estado e, acima de tudo, considerando esse importante marco histórico. Foi para Pernambuco, durante o exercício do Governo de Maurício de Nassau, que milhares de judeus, à época perseguidos pela Inquisição na Europa, migraram. E, durante aquele período, no nosso Estado, estabeleceu-se a possibilidade da liberdade de culto, e foi quando se instalou a primeira sinagoga das Américas, uma das mais belas, inclusive, deste País. É importante ressaltar, inclusive, o reconhecimento que o Governo brasileiro e o nosso partido fazem a esse momento histórico do nosso País. O próprio Presidente Lula, há dois anos, participou, na própria sinagoga, de um grande evento que a cada ano se realiza, patrocinado pela comunidade judaica, de denúncia do Holocausto. E quero dizer também que esse período histórico, essa marca histórica que temos é muito importante. Muitos sabem também - isso já foi registrado de várias maneiras - que, após a restauração pernambucana, ou seja, quando os portugueses reconquistaram o poder no Estado de Pernambuco, foi de lá que partiram muitos judeus que vieram a formar a Nova Amsterdã, que hoje é a cidade de Nova York. Então, foi Pernambuco realmente se dirigindo ao mundo e falando para o mundo. Parabéns pelo discurso de V. Exª e parabéns à comunidade judaica brasileira.
O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado, nobre Líder do Governo.
Então, Srª Presidenta, por certo compartilhamos com a cultura judaica, em razão da nossa formação histórica, muita coisa. Compartilhamos, principalmente, nossa crença no Deus único e parte significativa das regras ético-religiosas que orientam nosso convívio social.
Agora, como bem lembrou o Líder do Governo, não podemos homenagear o povo judeu sem que fique consignado esse permanente alerta de que não se pode descuidar do passado. Ele sempre retorna, quando nos falta vigilância.
Refiro-me ao sofrimento desse povo escolhido para o extermínio e que estava na primeira fila do ódio do Führer. A cruz ariana, em sua maldição, foi o sinal oposto ao da cruz dos cristãos, ao da estrela de Davi. Todos se lembram de quando se levantou o maior demagogo da história, que capitalizou as dificuldades econômicas do seu país para envenenar o povo alemão com as quimeras da vingança. Depois, com a censura da imprensa, o assassinato dos líderes políticos, a criminosa adesão do grande capital e a submissão das forças armadas, foi a cruzada do apocalipse.
Relembremos a revolta dos inocentes no Gueto de Varsóvia. Eram meninos e meninas, velhos e velhas, que, como Davi diante do Golias, tinham apenas uma funda para se defender.
Estamos celebrando a imigração no Brasil desse povo que é exemplo do ressurgir das cinzas, em meio à dor e ao desespero, na fila das piras ensanguentadas do holocausto. Cada um dos inocentes massacrados em Terezin, Treblinka, Auschwitz, Birkenau, Lodz e Sachsenhausen podia sentir na alma, quando tinha forças para olhar para o alto.
Não podemos esmorecer em nossas esperanças, nem descansar nossos braços. Há, em nosso mundo, outros guetos e outras Varsóvias, e não faltam os que ostentam arrogantes as armas contra os indefesos. Como aquela imagem fotográfica, difundida no mundo inteiro, e tirada na oprobriosa Praça do Embarque, de onde partiam os judeus para o extermínio no leste. A foto daquele menino de cinco anos com as mãos levantadas sobre a mira de um fuzil de um enfurecido soldado nazista. Seu olhar. Sua roupa maltrapilha. Indefeso. Sozinho. Humilde e triste. Que fim levou aquele menino? Será que sobreviveu à insanidade brutal do mundo em que viveu? Mas seu gesto não morreu. Não morrerá nunca. A imagem daquele menino será sempre um grão de remorso na consciência do mundo. Será sempre uma lágrima sentida a correr dos olhos dos que, por um momento, por um átimo, sentirem o que sentiram os irmãos, os pais, a família daquele pequenino.
O Brasil, por sua vocação democrática, pelo seu espírito de justiça, pelo seu respeito ao direito e pelo culto à liberdade, estará sempre ao lado dos direitos sagrados do povo hebreu de existir em paz e prosperar. E o fazemos por gratidão, por dever de consciência e, sobretudo, por amor cristão.
Shalom aleichem! Que a paz reine sobre Israel.
Eu não poderia, Srª Presidenta, terminar este meu discurso - seria uma omissão imperdoável - sem citar um grande líder do meu Estado que sofreu um revés eleitoral nas últimas eleições e não foi reconduzido. É o Deputado Federal Marcelo Itagiba. Foi ele, no seu esforço, na sua luta parlamentar, que conseguiu aprovar - ele apresentou, trouxe para o Senado, eu tive a honra de relatar, e o Presidente Lula sancionou - o dia 18 de março, a próxima sexta-feira, para nós comemorarmos a imigração dos judeus para o Brasil, que, nesse caldeirão racial, onde há quinhentos anos se retempera a alma brasileira, deram enorme e inestimável contribuição.
Obrigado, Presidenta.
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