Pronunciamento de Flexa Ribeiro em 16/03/2011
Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Encaminhamento de requerimento de voto de solidariedade ao povo japonês, pela calamidade que vitimou aquele país.
- Autor
- Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
- Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
CALAMIDADE PUBLICA.
POLITICA ENERGETICA.:
- Encaminhamento de requerimento de voto de solidariedade ao povo japonês, pela calamidade que vitimou aquele país.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/03/2011 - Página 7035
- Assunto
- Outros > CALAMIDADE PUBLICA. POLITICA ENERGETICA.
- Indexação
-
- SOLIDARIEDADE, APRESENTAÇÃO, VOTO DE PESAR, AUTORIDADE, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, VITIMA, ABALO SISMICO, RADIOATIVIDADE, USINA NUCLEAR.
- CRITICA, ATUAÇÃO, ENTIDADE, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE.
- LEITURA, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, PUBLICAÇÃO, INTERNET, RELAÇÃO, ERRO, PREVENÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, USINA NUCLEAR, BRASIL.
- CRITICA, GOVERNO, FALTA, INVESTIMENTO, PREVENÇÃO, INUNDAÇÃO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco/PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Presidente Vital do Rego. Esta é a primeira vez, ao longo desses seis anos e alguns meses, que um Presidente pronuncia o meu nome por inteiro. Era sempre Senador Flexa Ribeiro. Agradeço a V. Exª.
Venho à tribuna hoje, Presidente João Claudino, para fazer um registro com muito pesar. Primeiro, quero encaminhar um requerimento à Mesa, nos termos dos arts. 218 e 221 do Regimento Interno, para que, ouvido o Plenário, seja consignado nos Anais do Senado um voto de solidariedade ao povo japonês, pela tragédia, pela calamidade que assolou o País.
Requeiro ainda que este voto seja encaminhado às seguintes autoridades: Sua Majestade o Imperador Akihito; Exmº Sr. Naoto Kan, Primeiro Ministro do Japão; o Exmº Sr. Akira Miwa, Embaixador do Japão no Brasil. E o faço, Senador João Claudino, por várias razões. Primeiro, prestando solidariedade a todos os irmãos japoneses que sofreram essa tragédia lamentável, vista em tempo real por todos nós do mundo inteiro.
Tenho a honra de ser Vice-Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Japão e, como tal, participei ativamente dos festejos do centenário da migração japonesa ao Brasil, dos 80 anos da migração japonesa na Amazônia. O meu Estado, o Pará, tem a terceira colônia japonesa do Brasil - a primeira está em São Paulo; a segunda, no Paraná; e a terceira, no Pará. Fizemos várias festividades para marcar essas datas para nós, do Brasil, importantes. Na Câmara Federal, temos um painel constituído de mais de 500 mil origamis, que são aquelas dobraduras de papel, que mostram as bandeiras do Brasil e do Japão irmanadas; e a relação entre os povos irmãos do Brasil e do Japão além de amizade, é uma relação também cultural e comercial.
No Estado do Pará, há uma integração que, diria, não diferencia brasileiros de japoneses, e há já uma integração entre os dois povos. Eles nos ajudaram e continuam nos ajudando a desenvolver o Brasil e a desenvolver o Pará. Começaram na agricultura trazendo para o nosso Estado novas culturas, passaram para o comércio, para a indústria e hoje são importantes na economia do Pará.
Então, quero encaminhar à Mesa, pedindo apoio para aprovação deste requerimento de solidariedade a todas as vítimas, que foram milhares, atingidas de forma inesperada.
Nós todos sabemos que o território do Japão é sujeito a esses acidentes, como terremotos, tanto que já existe tecnologia conhecida e implantada para que eles possam melhor se proteger de terremotos e até de tsunamis. Mas, quando chegam a atingir os níveis dessas últimas ocorrências, o drama vivido pelo povo japonês é incomensurável.
Aquele foi, como todos nós presenciamos pela mídia, o maior terremoto já registrado naquele País. Além do terremoto, o tsunami avassalador que se seguiu e, lamentavelmente, o crescente risco de desastre nuclear nos deixam extremamente apreensivos.
O número oficial de mortos na tragédia não param de subir. Esses números, lamentavelmente, dificilmente serão conhecidos em sua realidade. Alguns falam em 3 mil ou 4 mil, outros falam em 10 mil, pois ainda existem milhares de pessoas desaparecidas que ainda não são dadas como mortas.
Espero que possa ser um número cada vez menor do que a realidade demonstra ser.
Até a manhã de ontem, três explosões ocorreram na usina nuclear em Fukushima, apesar dos esforços incessantes das autoridades em refrigerar o sistema, bombeando, inclusive, água do mar para dentro dos reatores.
Ou seja, falhou todo o sistema de segurança previsto para que, se houvesse uma falha de energia no sistema de refrigeração dos reatores, nos geradores de energia que pudessem suprir essa falta de energia. Com o abalo, esses geradores não funcionaram, os reatores passaram a ter as suas temperaturas elevadas e o desastre nuclear acabou acontecendo e a contaminação elevou-se a nível nunca antes atingidos naquele país.
Os níveis de radioatividade cem vezes mais altos do que o normal foram medidos em Ibaraki, ao sul da província de Fukushima. Tóquio, uma das maiores cidades do mundo, a 220 quilômetros de distância da usina, também registra elevação no nível de radiação.
O Primeiro Ministro Naoto Kan orientou a população a ficar em casa nos arredores da usina de Fukushima e em Tóquio.
A Autoridade de Segurança Nuclear Francesa, que acompanha a crise, elevou, nesta terça-feira, para nível 6, em uma escala até 7, a classificação dos acidentes.
Tudo isso, Senador João Claudino, nos ensina que o imprevisível, que o imponderável acontece. Vários países já tomaram decisões importantes face a essa realidade. Vamos ver alguns países e quais as decisões que eles tomaram.
A Alemanha suspendeu temporariamente seus planos de ampliar a vida útil de suas usinas nucleares. A Chanceler Angela Merkel disse que “examinaremos como podemos acelerar a rota para a energia renovável” e que os eventos no Japão “nos ensinam que os riscos que considerávamos absolutamente improváveis, na verdade, não o são”.
A Suíça, que tem quatro usinas nucleares, que produzem 40% da energia do país, disse que vai endurecer os padrões de segurança que regulam suas usinas nucleares.
A União Européia convocou para ontem uma reunião com autoridades do setor nuclear para discutir o quanto o Bloco está preparado para o caso de emergências.
A estatal nuclear de Taiwan informou que estava analisando planos para reduzir a produção de energia nuclear.
O Senador Joe Leiberrman, Presidente da Comissão de Segurança Interna do Senado americano, declarou que o desastre deveria fazer os Estados Unidos frearem a expansão de suas usinas nucleares até que o impacto do acidente seja determinado com clareza.
Os Estados Unidos tinham aprovado, através do Senado, recursos para ampliarem a geração de energia nuclear. Agora eles suspenderam a utilização para analisarem a causa do ocorrido no Japão e reavaliarem se serão realmente aplicados nessa fonte de geração nuclear de energia.
Por que eu fiz todos esses comentários de todos esses países, todos eles do Primeiro Mundo? Por quê? Porque, lamentavelmente, no nosso País, no Brasil, parece que nada aconteceu.
O Brasil disse que vai continuar investindo na usina de Angra 3, que não há nenhum risco, que não haverá nenhuma mudança no programa de geração de energia nuclear, diferentemente do que acontece em todos os países do Primeiro Mundo. Isto logo no Brasil, que, diferentemente de todos eles, tem condições de ter a maior geração de energia limpa do mundo, com a energia hídrica, a energia solar e a energia eólica. Como podemos, com este País abençoado por Deus, pensar em energia nuclear quando temos condições de gerar, através das hidrelétricas, do vento e da luz solar, a energia para o nosso desenvolvimento?
Aí, Senadoras, Senadores, brasileiros que nos veem pela TV Senado e nos ouvem pela Rádio Senado, fica a pergunta: onde está o Greenpeace? O Greenpeace se coloca aqui, no Brasil, de forma, eu diria, radicalmente - V. Exª fez, há pouco, um pronunciamento sobre a questão da revisão do Código Florestal - contra a hidrelétrica de Belo Monte. E agora aponta o dedo e se coloca radicalmente contra as usinas nucleares mundo afora. Eu acho que o Greenpeace quer que o mundo todo viva ainda à luz de lamparina. Só pode ser, porque ele é contra a energia limpa e é contra a energia nuclear.
Então, eu gostaria que o Greenpeace fizesse o seu movimento de forma correta: dissesse que é contra, mas dissesse qual é a solução para que houvesse energia para o desenvolvimento da humanidade.
Tenho dados aqui, Senador João Claudino, que mostram que as usinas hidrelétricas no Brasil geram mais de 75% da eletricidade do nosso País. As energias nucleares geram apenas 2,5% da nossa eletricidade. Para que precisamos disso? Para quê? Nós temos um potencial já levantado de geração hídrica maior que todo o potencial instalado no País - já foi levantado pela Eletrobras e pela Eletronorte. Ou seja, nós podemos dobrar o parque de geração de energia no Brasil só executando o que já está levantado, fora o que precisa ser inventariado. E há muito a ser inventariado.
Temos outra possibilidade também já levantada: o Brasil é o país da América Latina e do Caribe com maior capacidade de produção de energia eólica. Segundo estimativas, levando em consideração, a captação de ventos com torres de 100 metros de altura, o potencial eólico pode chegar a 250GW, superando o que pode ser alcançado pelas usinas hidroelétricas. E não estamos nem considerando a energia solar. Ou seja, se temos todo esse potencial, para que continuar insistindo em fazer geração por meio de energia nuclear?
Nós todos sabemos por que Angra 1 foi feito lá atrás, no governo militar. Porque acordos com o governo da Alemanha levou o então governo do Brasil a trazer os investimentos de Angra 1 e, depois, completar Angra 2. Não entendi até hoje por que se começou Angra 3, por que se retomou o programa com a construção de Angra 3.
Não entendo, repito, a razão de o Brasil necessitar de energia nuclear. A vida acaba de nos provar novamente que o imponderável acontece. Eu vou citar três casos, e não podemos esquecer o último, da semana passada. Em 1979, nos Estados Unidos, Three Miles Island; em 1986, na Ucrânia, Chernobyl; e, agora, 2011, no Japão, Fukushima.
O jornal O Dia online de hoje traz a seguinte matéria - de terça-feira: “Sete erros da fuga de Angra dos Reis”. Está aqui o material, vou deixá-lo para que possa ser transcrito nos Anais do Senado e peço a transcrição:
Sete erros da fuga de Angra dos Reis: área de esvaziamento subestimada, plano de emergência pouco treinado e desconhecido pela população, rotas de fuga ineficiente da cidade e das ilhas, abrigos despreparados e risco de contaminação do litoral. Especialistas em gerenciamento de riscos apontaram sete erros no plano de segurança para situações de emergência das usinas nucleares Angra 1 e 2. A região já registrou abalos sísmicos na década de 1990 e em 2008, quando um tremor de 5,2 graus na Escala Richter sacudiu Estados do Sul e do Sudeste.
Ou seja, nós, como eu disse, somos um País abençoado e temos que agradecer a todo o momento ao nosso Deus ter-nos dado este País para vivermos, um País rico, rico pelo seu solo, pela sua cobertura florestal, pelo seu subsolo, pela sua insolação, pelos seus ventos, pelos seus recursos hídricos; por não termos no Brasil essas catástrofes da natureza. Temos enchentes, que, lamentavelmente, se repetem a cada ano, e o governo não toma ações definitivas para impedi-las, esperando que, no ano seguinte, aconteçam de novo, quando é sabido que elas podem e devem, por ações de engenharia, ser evitadas.
Senador João Claudino, eu encerro o meu pronunciamento da forma como iniciei, prestando a minha solidariedade ao povo japonês. A dor que esse povo irmão sente nestes momentos trágicos é a mesma dor que todos os brasileiros sentem também em conjunto com eles.
Muito obrigado.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR FLEXA RIBEIRO EM SEU PRONUNCIAMENTO .
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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Matéria referida:
“Sete erros da fuga de Angra dos Reis” - O Dia online.
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