Discurso durante a 32ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa de que o Brasil inspire-se em países como o Catar, de modo a que venha a destinar recursos provenientes da exploração do petróleo à educação. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Defesa de que o Brasil inspire-se em países como o Catar, de modo a que venha a destinar recursos provenientes da exploração do petróleo à educação. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 22/03/2011 - Página 7637
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, CATAR, RELAÇÃO, DESTINAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO, PAIS, NECESSIDADE, BRASIL, IGUALDADE, MODELO, INCENTIVO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, já faz algumas semanas, até mais de um mês, que o mundo inteiro fica de olho no que acontece nos países árabes. O Presidente Obama chegou a dizer ontem, no Rio de Janeiro, que o Brasil seria um exemplo para os países do mundo árabe do ponto de vista da construção da democracia e do ponto de vista de evitar rebeliões civis, guerras civis e até agora uma guerra militar como a que acontece na Líbia.

            Eu creio que o Presidente Obama merece o nosso respeito e além de que o nosso reconhecimento por ter dito uma verdade: o Brasil hoje é um exemplo de democracia para muitos países do mundo, Senador Mozarildo. Mas, enquanto observamos o que acontece nos países árabes, em disputas, estamos deixando de ver coisas positivas que vêm acontecendo em alguns desses países. E quero falar especialmente de um país e de uma ação. Trata-se de um país muito pequeno chamado Catar.

            O Catar é um país que descobriu petróleo há algumas décadas, que usou esse petróleo da forma como a gente sabe que muitos países usaram, mas que, nos últimos anos, vem sendo um exemplo para o Brasil. Da mesma maneira que o Brasil pode ser um exemplo para a democracia nos países árabes, o Catar pode ser um exemplo para o Brasil no que se refere ao uso dos recursos do pré-sal. E eu diria até mais: dos recursos do petróleo que já estamos explorando hoje.

            Tive oportunidade de estar no Catar cerca de dois anos atrás e vi, em uma experiência inusitada, surgindo da areia do deserto, universidades novas. E quando digo isso não digo no sentido metafórico, como uma imagem poética; digo como uma descrição literal de prédios de universidades novas surgindo no deserto. Mas não universidades criadas do próprio país. A gente vê surgindo do chão, da areia do deserto, filiais de Harvard, filiais das grandes universidades norte-americanas e européias, graças ao uso correto dos recursos do petróleo, fazendo com que esse recurso, esgotável em poucos anos, se transforme em recurso inesgotável, permanente, que é a inteligência humana. Esse é um exemplo que o Brasil precisa seguir: o compromisso firme do uso do recurso esgotável do petróleo no recurso inesgotável da educação de nossas crianças.

            O Catar vem sendo um exemplo para isso e, agora, ele vem sendo um exemplo também para algo mais, relacionado com educação e com inovação.

            Com a criação da Fundação Catar, dirigida pela Xeica Mozah Bin Nasser, nós temos a cada ano sendo realizada no Catar uma reunião com centenas, milhares de pessoas, para discutir os aspectos relacionados com a inovação científico-tecnológica e com a educação. Essa fundação e essa reunião, essa cúpula anual é um exemplo para o mundo inteiro.

            Mas agora - e esse talvez seja o ponto central do que quero falar - essa Fundação Catar está dando um salto adiante não apenas na construção de universidades, não apenas na construção, montagem e implantação de uma fundação destinada a promover a educação no mundo inteiro. O que eles lançaram agora é um prêmio que a gente pode chamar de “Prêmio Nobel da Educação”, um prêmio no valor de US$500 mil para a pessoa ou grupo de pessoas que no mundo inteiro tenham dado a contribuição à educação mais respeitada daquele momento.

            A gente pode ver que o Presidente Obama tem razão quando diz que nós somos o exemplo para a democracia nos países árabes, mas um país tão pequeno quanto o Catar pode ser um exemplo para nós do esforço de transformar recurso natural esgotável em recurso cerebral, educacional, permanente, e também dessa visão global de um pequeno país, diminuto, falando para o mundo inteiro e dizendo “nós estamos dispostos a dar um prêmio num valor elevado quanto o de US$500 mil para quem der uma contribuição, em qualquer parte do mundo, para a educação das crianças desse país e do mundo inteiro.

            Quando a gente lê o que declara a Xeica Mozah Bin Nasser no lançamento do prêmio, a gente vê como há uma consciência clara do papel da educação como base para o futuro. São palavras dela: “Educação é o fundamento dos objetivos humanos”. Veja que revolução! Porque, até aqui, o que se tem falado é que o progresso econômico é que é o objetivo humano. Não. O que ela diz com clareza é: “Educação é o fundamento dos objetivos humanos”. É um direito básico e o catalisador mais forte para o desenvolvimento social, cultural, político e econômico, é a chave para cumprir as metas do milênio, uma inovação radical, Senador Aloysio, quando a gente só ouve falar que as metas do milênio virão do crescimento econômico.

            E ainda diz mais: “É o caminho para soluções que levarão ao desenvolvimento sustentável, equitativo, no nosso mundo global”, o que deixa claro que a ideia da educação não pode se limitar apenas à educação de um ou outro país. Ou educamos o mundo inteiro ou não vamos educar nenhum país, porque as massas excluídas dos países que não forem educados vão migrar em direção aos países desenvolvidos graças à educação que tiveram. E, ao migrarem, obviamente, vão forçar perturbações sociais naqueles países que já conseguiram o desenvolvimento econômico, graças - todos eles, sem exceção - a revoluções educacionais no passado, cujo melhor exemplo são Europa e Estados Unidos, que, desde o século XVII, construíam universidades de qualidade e colocavam suas crianças - todas elas - em escolas, quase todas públicas e com a mesma qualidade.

            No final de 2011, vamos saber quem será o primeiro vencedor desse Prêmio Nobel da Educação, como estou chamando, mas, na verdade, é o Prêmio Wise, que é o nome que eles dão a essa cúpula do saber. Daqui a alguns meses, no final do ano, vamos saber o vencedor. Ele será cumprimentado como um verdadeiro vencedor do Nobel, porque receberá uma espécie de Nobel da Educação. Faltam meses para cumprimentar esse vencedor, mas, desde já, creio que a gente pode cumprimentar o Governo do Catar e a Xeica Mozah, que é a líder desse processo. Podemos cumprimentá-los por transformarem o pequeno país deles em uma potência mundial, global, na luta pela revolução educacional no mundo.

            Parabéns ao Catar! Que o Brasil aprenda que, se lá os países árabes podem aprender conosco a fazer democracia, nós podemos aprender com o Catar como transformar um recurso escasso e esgotável, como o petróleo, em um recurso permanente, como é a inteligência de um povo, graças à educação.

            É isso, Sr. Presidente, o que eu tinha para dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/03/2011 - Página 7637