Discurso durante a 35ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 20 anos do Mercado Comum do Sul - Mercosul.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).:
  • Comemoração dos 20 anos do Mercado Comum do Sul - Mercosul.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2011 - Página 8095
Assunto
Outros > HOMENAGEM. MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
Indexação
  • COMEMORAÇÃO, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ANALISE, HISTORIA, RELAÇÕES INTERNACIONAIS, FRONTEIRA, REGIÃO SUL, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, distintas autoridades, diplomatas que nos honram com suas presenças, senhoras e senhores parlamentares, eu sempre fui daqueles brasileiros entusiastas da integração da América Latina e, de modo muito especial, da integração da América do Sul.

            Nós, gaúchos, temos razões a mais do que os outros brasileiros para defendermos essa tese.

            Pela nossa fronteira com a Argentina, ao longo da história, pagamos um preço muito caro, pois até hoje não se sabe bem a razão, mas achava-se que seria absolutamente certa, seria apenas uma questão de mais ou menos tempo, uma guerra entre a Argentina e o Brasil. Por conta disso, a metade sul do Rio Grande do Sul e a fronteira do Rio Grande do Sul pagaram um preço caríssimo.

            O Rio Grande nasceu ali, cresceu, desenvolveu-se, progrediu. Pelotas, Rio Grande, São Borja, Uruguaiana e Livramento foram o berço do Rio Grande do Sul. A metade norte só começou a crescer quando vieram os imigrantes, os italianos e alemães, mais de um século depois. Era uma zona rica e próspera, mas que, com o tempo, parou. Parou porque, dizendo-se que era inevitável a guerra, durante quase cem anos, metade do Exército brasileiro esteve na fronteira do Brasil com a Argentina. Nós temos cidades no Rio Grande do Sul, como Santiago, que tem cinco quartéis do Exército - cinco quartéis do Exército numa cidade! Há mais quatro em São Borja, mais três em Alegrete, mais três em Uruguaiana. Meus Deus!

            E aí se determinou que, na zona de fronteira, por exemplo, era proibido ter uma indústria, era proibido ter uma fábrica. Uruguaiana, durante muito tempo, foi a capital do mundo na produção de lã e, durante um século, pagou o frete da lã de Uruguaiana até São Paulo para que a lavagem de lã fosse feita lá e, é claro, o lanifício e tudo mais era feito lá também, porque até a lavagem da lã não podia ser feita em Uruguaiana. 

            E o interessante é que nós, gaúchos, com os uruguaios, com os argentinos, sempre tivemos uma integração total. O gaúcho agora é tango, é samba, tudo o mais, mas durante algum tempo o tango era a grande música de todos nós. Tirando o futebol, e agora nem o futebol, porque agora eles estão lá atrás, mas, tirando o futebol, porque a briga era dura, a integração era total.

            Eu cito apenas esse fato, para não citar o fato mais importante. É triste a gente abrir as manchetes e verificar que o Brasil, a América Latina, a América do Sul e a África são as regiões mais atrasadas do mundo: fome, miséria, analfabetismo, falta de saúde e tudo o mais. E, se olharmos a América do Sul, vamos verificar que tem um grande povo, vamos verificar que tem petróleo, que tem minério, que tem agricultura, que tem todas as riquezas necessárias para ser um grande continente; e não é.

            Achei excepcional a resposta da Ministra Maria do Rosário lá no Conselho de Meio Ambiente, na Europa, quando havia um certo ambiente no sentido de que o Lula era mais simpático à Líbia, ao Egito, aos países onde os direitos humanos não existiam, enquanto que a atual Presidente está sendo mais energética, mais rígida. Enquanto a Srª Clinton fez um pronunciamento esperado por todos, mostrando que os Estados Unidos estavam numa posição de exigir a liberdade e os direitos humanos; por isso, iam intervir na Líbia. Estavam todos esperando o discurso da Ministra. Como ela ia explicar essa mudança entre Lula e a atual Presidenta? E ela falou que o Brasil sempre teve uma posição a favor dos direitos humanos; não somos como os Estados Unidos, nem como alguns países europeus que, com relação aos direitos humanos, adotam uma posição conforme o momento, o interesse e a hora. Aí diz a Ministra. Eu vejo o Brasil. Lá no Conesul, os Estados Unidos criaram, apoiaram e mantiveram durante longos 20 anos a ditadura mais cruel no Brasil, na Argentina, no Chile, no Paraguai e no Uruguai, porque interessava; e deixou durante 40 anos a ditadura na Líbia e nunca abriu a boca; e deixou 30 anos no Egito e nunca abriu a boca. Eles variam de acordo com o interesse, nós não.

            Quando Fidel Castro saiu vitorioso em Cuba, nada de mais. Mas, quando Fidel Castro, barrada pelos Estados Unidos a perspectiva de comercialização com a América toda e com o mundo, fez entendimento com Rússia e quando se falou que ele queria levar o seu comunismo para a América, o Presidente americano deu uma manchete: “No nosso quintal ninguém mexe”. Quintal: é assim que eles se referem à América do Sul.

            Por isso, eu saúdo esse dia. Com todo respeito à Argentina, ao Uruguai, ao Paraguai e à Venezuela, o Brasil foi o grande responsável. Foi o Brasil que tomou a iniciativa, que foi lá no Uruguai; foi o Brasil que fez todo o esforço para esvaziar essa relação turbulenta entre Brasil e Argentina. Foi o Brasil! Porque lá no auge da falta de trigo numa determinada crise, a Argentina não cumpriu o compromisso que tinha com o Brasil, de fornecer o trigo na hora exata, mas foi vender para a Europa a um preço muito superior, e o Brasil não comprou mais trigo da Argentina. E os anos foram passando, foram passando, e o Brasil comprava milhões de toneladas do Canadá, dos Estados Unidos e nenhum grama da Argentina. Foi quando o Brasil foi à Argentina para dizer que era um absurdo. E passamos a importar 100, 200, 500 mil, 1 milhão, 2 milhões de toneladas. A Argentina se emocionou.

            Foi o Brasil, quando o Presidente chegou e disse: “Vamos dialogar, vamos discutir uma política nuclear para a América Latina, Brasil e Argentina”. E convidou o Presidente da Argentina a visitar as instalações do Brasil, e o Presidente do Brasil foi convidado a visitar as instalações da Argentina. Foi aí que começou e foi aí que avançou. Estamos longe, estamos longe.

            Foram feitos muitos discursos aqui, muito importantes nas dificuldades e na convicção. Nós mesmos do Rio Grande do Sul, no programa do arroz do Uruguai, temos uma série de questões a serem discutidas. Isso vem atrás. O que vem na frente é que temos de ser um grande continente. Nós temos de ser América Latina e América do Sul um grande país, uma grande nação, uma grande integração dos Estados Unidos da América Latina.

            Petróleo, que é a grande crise no mundo inteiro, a América do Sul tem, e não tem problema nenhum.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agricultura? E temos milhões de latino-americanos passando fome. Nós somos... só o Brasil pode ser o celeiro do mundo!

            Claro que, quando os americanos falaram em criar uma zona de livre comércio de toda a América, nós entendemos o ridículo: seria transformar toda a América em colônia dos Estados Unidos. Por isso, fomos contrários.

            É interessante. Olha, é lindo de ver, mas não há, nesse caso da integração do Mercosul, não há, por parte do Governo brasileiro, ou de todos eles, nenhum interesse de grandeza, de superioridade: “Porque nós somos o maior país, porque queremos vantagem aqui ou acolá”. Não há esse interesse. Um país continente como o nosso...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Já encerro, Sr. Presidente.

            Um país do tamanho do nosso, e nunca passou por nós buscar um palmo de terra em qualquer ângulo do nosso País. Não temos problema em nenhuma fronteira.

            Sim, quando o Presidente Obama... E, cá entre nós, eu também não gostei. Ele poderia ter iniciado a luta com a Líbia no carro americano que veio aqui, ou no helicóptero americano. Dizem que foi no Palácio o telefonema. Ele disse agora que é do interesse dele, e no Chile diz que agora os Estados Unidos vão olhar para a América Latina. Podem olhar, mas se nós não olharmos para nós, ninguém vai olhar.

(Interrupção do som.)

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Por isso, essa data é importante. Temos de terminar com blocos dentro da América Latina: amazônico, Andes, Mercosul. Temos de fazer uma integração geral da América, temos de caminhar para isso e vamos para isso. Vejo com muita alegria o Brasil e seus governos, por todos eles, apesar de terem mudado radicalmente de ideia e de princípio desde restituída a democracia.

            Com relação ao Mercosul, há um entendimento só. Eu diria unanimidade de intenção e de vontade. É um grande movimento esse, Sr. Presidente. O Mercosul é uma grande bandeira. A integração da América é um grande passo. Nós não poderemos ser um grande País, um grande Brasil cercados de vizinhos na miséria por todos os lados.

            Nós temos que ser e queremos ser um grande país e uma grande nação, como estamos a caminho, com irmãos que estejam crescendo e progredindo ao nosso lado.

            Muito obrigado a V. Exª, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2011 - Página 8095