Discurso durante a 37ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Anúncio de que, na próxima quarta-feira, comissão externa desta Casa visitará as Usinas Angra I e II e preocupação com a criação de um plano nacional para enfrentar catástrofes naturais.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Anúncio de que, na próxima quarta-feira, comissão externa desta Casa visitará as Usinas Angra I e II e preocupação com a criação de um plano nacional para enfrentar catástrofes naturais.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Marinor Brito, Marisa Serrano, Wilson Santiago.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2011 - Página 8594
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • ANUNCIO, INICIATIVA, COMISSÃO EXTERNA, VISITA, USINA NUCLEAR, MUNICIPIO, ANGRA DOS REIS (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • REGISTRO, AUDIENCIA PUBLICA, PARTICIPAÇÃO, ACADEMICO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ), REPRESENTANTE, COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR (CNEN), ELETROBRAS TERMONUCLEAR S.A. (ELETRONUCLEAR), APREENSÃO, ORADOR, QUALIDADE, PLANO, EMERGENCIA, HIPOTESE, ACIDENTE NUCLEAR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmª Srª Presidente Ana Amélia, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, assomo a esta tribuna para falar de uma comissão externa desta Casa que vai visitar Angra dos Reis, as Usinas Angra 1 e 2, na próxima quarta-feira.

            Essa comissão externa e o debate aqui no Brasil surgiram depois de Fukushima. Todos os países do mundo estão parando para discutir os seus projetos nucleares. Agora há pouco, o Senador Cristovam Buarque fez aqui um discurso, um discurso muito inteligente sobre se havia alternativas à energia nuclear no Brasil. Eu dizia, Senador Pedro Simon, ao Senador Cristovam Buarque que nós aqui temos menos de 3% da nossa energia produzida pelas usinas nucleares. Mas a discussão é - e não quero tomar aqui uma posição a favor da continuidade ou suspensão do nosso programa nuclear. Acho que acontece em todo o mundo um momento de repensar, de olhar a segurança, de olhar a situação de cada país.

            Confesso, Exmª Srª Presidente Ana Amélia, que fiquei mais preocupado na semana passada. Na semana passada tivemos aqui uma série de audiências públicas com acadêmicos do porte do professor Luiz Pinguelli Rosa, do professor Aquilino, também da UFRJ. Tivemos uma audiência pública neste Senado com a presença do representante do CNEN e também com o Presidente da Eletronuclear, Dr. Othon. E fiquei mais preocupado por quê? Confesso que a minha maior preocupação é quanto a um plano de emergência. É claro que a possibilidade de um acidente é pequena - peçamos a Deus que nunca aconteça -, mas sabemos que, se acontecer, o dano é altíssimo.

            Srª Presidente Ana Amélia, tenho participado dos debates sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil, porque fui Prefeito, acompanhei como Prefeito o problema das chuvas e enchentes no meu Município de Nova Iguaçu, mas fui eleito aqui para o Senado e assumi já na discussão dos problemas da região serrana. Sobrevoei tudo no primeiro dia, acompanhando o Ministro da Integração, Fernando Bezerra, e o Ministro das Relações Institucionais; sobrevoei aquela região de Friburgo, Teresópolis, Petrópolis. Vimos centenas e centenas de desmoronamentos. Sei, a partir dali, estudando toda essa discussão, a nossa articulação nesse Sistema Nacional de Defesa Civil; a gente percebe como é frágil o nosso sistema de prevenção e alertas de catástrofes. Tão frágil que a Presidente Dilma, quando veio aqui, em sua mensagem ao Congresso Nacional fez um apelo para que o Congresso Nacional discutisse junto com o Governo Federal a elaboração de um marco regulatório desse Sistema Nacional de Defesa Civil. Não temos força nacional de defesa civil, não temos cadastro nacional que aponte as áreas de risco.

            É isso! Todos os anos vem a chuva, nós corremos com políticas emergenciais, mas não há uma política estruturante do País sobre o assunto. Ao me debruçar sobre o tema quando entrou a discussão sobre energia nuclear, a minha primeira preocupação foi: estamos preparados na eventualidade de um problema? Volto a dizer, peço a Deus que nunca aconteça. Deus é brasileiro, não vai acontecer. Mas se acontecesse em Angra dos Reis estaríamos preparados?

            São esses os meus questionamentos, Senadora Marisa Serrano.

            E é por isso que vamos lá na quarta-feira discutir e visitar não as instalações das usinas de Angra 1 e Angra 2, mas estamos indo para conversar com a população, com associações de moradores, com vereadores.

            Há um problema que é central. A BR-101, a Rio-Santos. A Rio-Santos fica em cima das usinas. Qualquer pequena chuva traz desmoronamentos, barreiras caem na Rio-Santos, qualquer pequena chuva. Eu não falo de grandes chuvas. E o primeiro questionamento é: na hipótese de um problema, por onde fazer a evacuação das pessoas daquela área? Por onde as pessoas sairão se a Rio-Santos for interditada?

            Queremos discutir o treinamento com a população. Aqui no Brasil é feito todo ano, mas a população participa de dois em dois anos. A participação é voluntária. Eu liguei para várias pessoas de Angra dos Reis, liguei para vereadores, ninguém havia participado do treinamento! Mas eu quero ir lá. Queremos ver, queremos conversar com as pessoas.

            Há uma discussão sobre o raio. Veja que, no Japão, em Fukushima, eles retiraram 140 mil pessoas de um raio de 20 quilômetros em poucos dias.

            Há uma tese de que Angra dos Reis não está no raio de evacuação na hipótese de um problema. Eu acho isso extremamente questionável. O raio que eles colocam é de cinco quilômetros para evacuar; acima disso, não haveria problemas. Eu discutiria isso. Mas, quero discutir, tudo bem, em relação aos cinco quilômetros, como está sendo feito esse plano de treinamento com a população?

            Eu vi hoje que há projetos de construção de saídas pelo mar, mas eles não funcionam ainda; são projetos. Eu nunca trago matérias de jornais, mas trouxe O Globo de domingo, com a reportagem e esta foto mostrando um acidente que houve naquele trecho da BR-101, houve um deslizamento nesse trecho da Rio-Santos que soterrou todo o laboratório de rádioecologia, ao lado da usina. Isso aqui para mostrar que não são suspeitas a própria direção da Eletronuclear com relação a esses episódios. O Senador Cristovam falava e muita gente dizia que aqui no Brasil nós não temos placas tectônicas; temos no Atlântico, perto da África, mas nós não temos problema de terremotos, nós não temos problemas de tsunamis. Nós não temos problema de terremotos e tsunamis. Seria muito difícil acontecer isso aqui. Mas temos um problema que é concreto. Toda a Serra do Mar do Rio de Janeiro tem uma situação e tem uma natureza. Como os geólogos falam, toda a Serra do Mar é feita de uma rocha com uma pequena camada de terra e vegetação em cima; quando desmoronam, desmoronam com tudo. Foi assim naquele acidente em Angra dos Reis, no dia primeiro de janeiro de 2010. Vimos na Ilha Grande, vimos agora na região serrana. É uma característica de toda a Serra do Mar. Então não temos terremotos, mas temos isso.

           Eu estou indo de coração aberto, sem posições definidas. Agora eu acho que nós temos que ter responsabilidade. Não quero e não vamos ser alarmistas. Mas nós temos que ter muita responsabilidade, Senadora Marinor, e olhar com calma toda essa situação. Não podemos ter uma postura aqui de dizer que não vai acontecer conosco - sinto que é mais ou menos isso, a minha sensação é esta: Deus, Senador Wilson Santiago, está nos protegendo.

           Nós temos que ter de fato um plano muito consistente e é por isso que eu acho que essa comissão externa vai estar presente quarta-feira lá em Angra do Reis.

           Eu queria anunciar a esta Casa também que o Senador Jorge Viana apresentou - e foi aprovado - um requerimento criando comissão temporária para discutir um sistema nacional de prevenção a catástrofe, a organização do Sistema Nacional de Defesa Civil. Temos visto aqui nesta Casa a quantidade de pronunciamentos, Senadores de Santa Catarina, do Paraná, de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, sobre as chuvas. Então, essa vai ser outra comissão especial criada nesta Casa.

           Meu nobre Senador conterrâneo concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Wilson Santiago (Bloco/PMDB - PB) - Senador Lindbergh, traz V. Exª um assunto de grande importância não só para o Rio de Janeiro, mas também para o nordeste brasileiro, especificamente para o semi-árido brasileiro. Todos nós vivenciamos e temos acompanhado ao longo do tempo não só o que ocorreu no Rio de Janeiro, como também as sucessivas secas no nordeste. Isso tem feito com que todos nós tenhamos condições de avaliar a desestrutura da defesa civil brasileira. Só para V. Exª ter uma idéia, quando acontece uma seca ou excesso de chuva em algumas regiões do País, a Defesa Civil só vem atuar com 30 dias, com 60 dias. Os decretos de calamidade, ás vezes, duram seis meses. Às vezes no município ocorre um excesso de chuva ou uma seca, uma estiagem longa, e só depois de seis meses o Estado ou o Governo Federal reconhece e declara o estado de calamidade pública.

            Então, a desestrutura da Defesa Civil é muito grande. Essa comissão que V. Exª irá comandar - tenho certeza de que vai presidi-la - será importante para apresentar a esta Casa e ao próprio Governo uma proposta de reestruturação da Defesa Civil em todos os setores e em todas as regiões do País, para que tenhamos condições de socorrer, com mais agilidade e mais rapidez, as necessidades das famílias que são, de fato, atingidas por esses desastres. Por isso, parabenizo V. Exª. Tenho certeza de que V. Exª, não só pela origem,mas também pela experiência que tem, conhecendo o nordeste e conhecendo muito mais ainda o Rio de Janeiro, terá condição de não só subsidiar esta Casa como também de apresentar um projeto que represente o nosso pensamento e aponte a necessidade da melhoria da Defesa Civil Nacional, para que, num espaço de tempo bem curto, tenhamos condições não só de socorrer a população nesses casos, como também de acompanhá-la , de perto e de evitar situação desse porte, com certeza, atendendo ao desejo e às necessidades da grande maioria da população brasileira. Parabéns a V. Exª e a todos aqueles que, com certeza, irão contribuir para a melhoria da Defesa Civil Nacional.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT -RJ) - Muito obrigado, Senador Wilson Santiago.

            Concedo um aparte à Senadora Marisa Serrano.

            A Srª Marisa Serrano (Bloco/PSDB - MS) - Obrigada, Senador Lindbergh. Eu gostaria de parabenizá-lo e de dizer que esta Casa está fazendo o seu papel. A Comissão de Meio Ambiente já fez uma audiência pública discutindo a questão energética nuclear do País e V. Exª propõe uma visita in loco para verificar as questões de segurança da usina. Nessa questão, cabe-nos acompanhar, fiscalizar e sugerir. Agora, eu não vejo o Governo tomar nenhuma posição a respeito - não há nenhuma posição que possa tranqüilizar o povo brasileiro. Eu não vi ninguém do Governo dizer ao povo brasileiro que foi a Angra, que está tudo Ok, que o povo brasileiro pode ficar tranquilo e que, aqui, tomamos todas as medidas, medidas de evacuação da população, se for o caso, e medidas de fiscalização de toda a usina. Para todos nós, fica essa idéia de que o Governo está fazendo muito pouco. Só para terminar, como disse o Senador que me antecedeu, eu quero falar sobre a Defesa Civil. A questão da Defesa Civil é brincadeira no País. Eu soube que tem R$700 milhões para o Brasil inteiro, para todas as catástrofes do Brasil. Só Mato Grosso do Sul precisaria de R$400 milhões para sair da enchente que está havendo no Estado. Agora os problemas se avolumam com a enchente do Pantanal, que vai ter o seu pico no mês de maio. Já está tudo ilhado. Só o meu Estado precisaria de R$400 milhões, e a Defesa Civil tem R$700 milhões para atender o Brasil inteiro. É muito pouco. V. Exª há de convir. Então, precisamos cobrar do Governo Federal mais atuação nessa área. É o que V. Exª está fazendo com muita galhardia. Muito obrigada.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Agradeço à Senadora Marisa Serrano. Fomos Deputados juntos e sou admirador da luta da Senadora pelas bandeiras educacionais.

            Senadora, o Ministro Mercadante tem tomado algumas posições. Eu acho que o Governo vai tomar posições firmes nessa questão da energia nuclear. Sinceramente, acho que nós estamos em outro momento deste Senado.

            Senador Cristovam, Senador Pedro Simon, observando de longe, a legislatura passada do Senado foi muito marcada pela disputa Situação e Oposição, ataques ao Governo e defesas do Governo. E ficou muito nisso. Hoje, por várias questões, até por uma correlação de forças aqui, acho que este Senado tem que repensar um pouco sua atuação, tem que juntar Senadores da Situação e da Oposição e montar uma pauta mais vinculada à vida real das pessoas, aos problemas concretos das pessoas.

            Veja V. Exª, Senador Marisa Serrano: os problemas são de todos. Há fragilidade do Sistema Nacional de Defesa Civil? Há fragilidades do Governo? Há fragilidades desta Casa, do Senado? Sim, há fragilidade de todos.

            Senador Cristovam, Senadora Marisa, a última lei que fala do Sistema Nacional de Defesa Civil foi aprovada pelo Senado Federal. Sabem quando? Em dezembro passado! Há pouco. Então essa lei que estou criticando, que é uma lei que teve participação do Governo Federal, foi votada por este Senado em dezembro.

            Vejam: em algumas questões, nós temos de assumir, porque o problema é de todos - do Parlamento, do Governo Federal, dos Governos Estaduais. A questão da defesa civil é essa. Eu tive uma conversa, no mínimo engraçada, com uma pessoa da minha cidade - eu fui Prefeito de Nova Iguaçu -, que me olhou e disse: “É, depois desses episódios todos, eu, que não acreditava nessa história de mudanças climáticas, agora estou acreditando.” Esse é um fato que está crescendo. Nós temos que suprir lacunas de todos. Então não é só um problema de Governo e Oposição. Eu tenho muita liberdade aqui, Senador Cristovam e Senadora Marisa, para dizer onde é que está errado. Acho que nesse debate da energia nuclear está-se fugindo para outra discussão, mas eu penso que este Senado, no próximo período, tem que achar um rumo, um jeito de discutir coisas concretas, mais próximas da vida real. Se ficarmos só na acusação entre Governo e Oposição... Isso não é suficiente.

            Senadora Marisa Serrano, muito obrigado pelo seu aparte.

            Senadora Marinor Brito.

            A Srª Marinor Brito (PSOL - PA) - Senador Lindbergh, eu queria parabenizar V. Exª pela decisão de propor a comissão externa, decisão que nos faz refletir sobre outras tarefas e outros papéis que o Parlamento brasileiro pode desempenhar, como a defesa do interesse público na busca de soluções que garantam que o povo brasileiro esteja protegido das violências, quer sejam provocadas direta ou indiretamente pelo homem, quer sejam fruto da natureza. Estou cada vez mais consciente de que precisamos fazer um deslocamento para a vida real, como V. Exª diz. Os fatos estão acontecendo na vida real. As ameaças concretas estão presentes na vida real das pessoas. Tenho certeza de que a visita que V. Exªs vão fazer - eu dificilmente vou estar em condições, em razão da minha agenda já comprometida com outras tarefas - a essa região vai trazer elementos que, no mínimo, vão ajudar na reflexão e no enfrentamento, seja para criticar, sim, o Governo - se assim for necessário -, seja para pedir providências, seja para entender que mecanismos são esses, se é que eles existem, do ponto de vista do planejamento estratégico, do ponto de vista orçamentário, da estrutura existente no País para enfrentar catástrofes, para enfrentar problemas, na perspectiva de se antecipar a eles, inclusive, como propõe V. Exª. Propus uma comissão externa a Belo Monte, que foi aprovada. Espero completar essa tarefa no dia 16, porque há catástrofes que são previsíveis, sem haver o mínimo de responsabilidade dos que elaboram o processo de implementação de políticas, a ponto de ninguém se responsabilizar. Ninguém está interessado nisso. O Nordeste, o Norte, o Sul, o Centro-Oeste, todas as Regiões do Brasil estão sujeitas a essas catástrofes. E eu estou, neste momento, como V. Exª, empenhada em tentar impedir uma catástrofe socioambiental planejada por um setor do Governo, apoiada por setores das elites deste País, que se relaciona também com implantação de hidrelétrica.

(Interrupção do som.)

            A Srª Marinor Brito (PSOL - PA) - Refiro-me à exploração do potencial hídrico da nossa região, que vai matar índios, que vai matar mulheres, que vai explorar sexualmente crianças, que vai aumentar a violência nas regiões, que vai aumentar o desemprego. E isso deve ser motivo de preocupação deste Senado Federal. Por isso, valorizo e parabenizo V. Exª. Tenho certeza de que o Rio de Janeiro não poderia ter representante mais preocupado com a vida e com a qualidade de vida do povo. V. Exª propõe uma atividade como esta, uma agenda como esta, que é positiva para o enfrentamento destas dificuldades que esses setores de Defesa Civil, de planejamento das estratégias de proteção ao povo brasileiro não estão garantindo. Parabéns pela iniciativa.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Agradeço à senhora, Senadora Marinor, que é uma lutadora e que eu conheço há muito tempo das lutas populares e sociais deste País.

            Eu queria, antes de conceder o aparte ao Senador Cristovam Buarque, relembrar o que falei no aparte que fiz em seu pronunciamento. Questionei aqui, quando da presença do Presidente da Eletronuclear, Professor Othon, sobre aquele episódio das chuvas de Angra dos Reis no dia 1º de janeiro de 2010. Todo o Brasil se lembra daquele episódio em Ilha Grande.

            Aquele era o momento em que a Defesa Civil de Angra dos Reis, por palavra de representantes do Município, estava completamente com suas atividades direcionadas ao socorro das pessoas que foram atingidas, a socorrer vidas. A Rio-Santos estava completamente interditada, houve desmoronamento em vários pontos. Isso aconteceu em vários pontos da cidade de Angra dos Reis. E perguntei ao Presidente: “Dr. Othon, a usina foi desligada naquele momento?” E a resposta foi “não”. Isso para mim é muito grave. Isso para mim é muito grave.

            E concedo do aparte ao Senado Cristovam, que fez um pronunciamento há pouco, lembrando o art. 21 da nossa Constituição, que diz que “compete à União”; inciso XXIII: “explorar os serviços, instalações nucleares de qualquer natureza”; alínea a: “toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante a aprovação do Congresso Nacional”.

            É importante dizer isso porque estamos discutindo sobre Angra 3. Angra 2 não foi aprovada aqui, no Congresso Nacional. Utilizaram um decreto ainda do regime militar que vigorava. E esta Casa deve assumir as suas prerrogativas.

            Concedo o aparte ao nobre Senador Cristovam Buarque.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Lindbergh, em primeiro lugar, o meu apoio a esta ideia de que o Senado deveria discutir mais os interesses e os problemas nacionais, e menos as disputas partidárias que, muitas vezes, nós temos aqui. Nós precisamos fazer mais grupos de trabalho em função de temas concretos da realidade. As nossas Comissões são muito setoriais, e não temáticas, tais como educação, economia; e não temas como a pobreza. Deveria haver uma comissão aqui para estudar como erradicar a pobreza no Brasil. O problema do meio ambiente, a gente começa a ter. A gente precisa debater mais estes assuntos. A energia nuclear, neste momento, é um tema fundamental que não se restringe à Comissão de Energia. Agora, entre os temas que têm relação com tudo isto, sobre um, de fato, a gente não vê o Governo agindo, mas a gente sabe que se está fazendo alguma coisa; e não vê o Senado tomando conhecimento. É que, daqui a um ano e quatro meses, haverá, no Rio de Janeiro, a reunião Rio+20, que deveria ser uma reunião para discutir o futuro da humanidade inteira. A gente ouve falar muito da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 e não ouve falar de 2012, que, não tenha dúvida, é uma reunião muito mais importante, transcendental para o futuro do projeto civilizatório do que tudo o mais. E o senhor, como representante do Rio, poderia tentar trazer mais este tema aqui para dentro. O Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, Presidente Collor, aceitou que a gente criasse uma subcomissão para trabalhar este assunto e me pediu até para coordenar isso. Eu queria pedir...

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - É um prazer.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Que o senhor se junte, apesar de paraibano, como carioca, para trabalharmos este assunto. A Senadora Marinor está obviamente convidada, assim como a Senadora Marisa e todos os Senadores - vejo aqui também o Senador Presidente Itamar Franco -, para que a gente possa pressionar o Governo brasileiro a dar mais atenção a essa reunião Rio+20, de 2012. Aí, o assunto da energia nuclear deveria ser debatido em escala mundial e não apenas as soluções que a gente tem para o Brasil.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Agradeço a V. Exª o aparte, agradeço o convite. Vou participar desse debate. Faço parte da Comissão Mista de Mudanças Climáticas, que vai ser instalada neste Congresso Nacional, Comissão composta por Deputados e Senadores. Muito obrigado pelo convite, Senador Cristovam.

            E encerro assim o meu pronunciamento. Falei aqui das Usinas Angra 1 e Angra 2, do projeto nuclear brasileiro, da precariedade do nosso sistema nacional de defesa civil. Mas concluo, trazendo este assunto que entrou no meio do debate aqui: que é a gente repensar um pouco o papel deste Senado Federal. Estou convencido e vim de uma situação ...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Presidente Ana Amelia, agradeço a V. Exª o tempo, a tolerância.

            Mas eu era Prefeito de um Município, e Prefeito é aquele que acorda com a população à porta da sua casa, conversando sobre os problemas, problema da escola, problema do saneamento, do buraco, da luz. Para mim, tem sido extremamente interessante estar neste Senado Federal discutindo os grandes temas nacionais. Agora, a minha grande preocupação é como não perder o contato com a vida real, com as pessoas, com o mundo concreto.

            Estou aqui de frente ao nosso ex-Presidente Itamar Franco, a quem eu admiro, que faz parte da história da minha vida, como jovem líder estudantil, à frente daquele movimento dos caras-pintadas. Encontramos no Presidente Itamar Franco, toda uma geração de jovens, um Presidente que estava sempre aberto às lutas, aos posicionamentos dos estudantes brasileiros. Não foram poucas as vezes em que batemos à porta do Presidente Itamar Franco para discutir temas nacionais e ligados à educação, à universidade. Mas vejo que esta Casa tem um peso tão grande, com ex-Presidentes, ex-Governadores, que além - e é isso que acabo repetindo - além do debate Situação-Oposição, nós temos que entrar no mundo real da vida das pessoas. E eu acabo, o meu discurso, enfatizando isso.

            Por isso, acho muito importante a nossa ida a Angra dos Reis, a ver problemas concretos. E digo que nós vamos sem uma posição pré-estabelecida. Não queremos ser alarmistas, não temos posição favorável ou contrária à continuidade do programa, mas queremos olhar os problemas da segurança e não vamos nos furtar se tivermos de fazer alguma recomendação mais dura ao Governo Federal em relação à providência de segurança que temos de tomar em relação às Usinas Angra 1 e Angra 2.

            Muito obrigado a V. Exª pela tolerância.


Modelo1 3/28/2410:33



Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2011 - Página 8594