Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários acerca da participação de S.Exa. em encontro ocorrido em Montevidéu, que apoiou os esforços de paz entre Israel e a Palestina; e outros assuntos.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM.:
  • Comentários acerca da participação de S.Exa. em encontro ocorrido em Montevidéu, que apoiou os esforços de paz entre Israel e a Palestina; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2011 - Página 8830
Assunto
Outros > POLITICA INTERNACIONAL. HOMENAGEM.
Indexação
  • REPRESENTAÇÃO, ENCONTRO, PAIS ESTRANGEIRO, MONTEVIDEU, ISRAEL, PALESTINA, PAZ, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, CONFERENCIA.
  • HOMENAGEM, GOVERNADOR, MARIO COVAS, LIDER, JOSE ALENCAR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Wilson Santiago, Srªs e Srs. Senadores, nesta última terça-feira 29, eu representei o Senado Federal em Montevidéu, convidado para proferir palestra no encontro organizado pelas Nações Unidas, em especial de representantes da América Latina e do Caribe, em apoio aos esforços de paz entre Israel e a Palestina.

            Muitos foram os que ali expressaram o seu apoio, inclusive cidadãos israelenses e palestinos, para a promoção da paz, do bom entendimento.

            Ali ressaltei como nós, brasileiros, assim como todos os latino-americanos, convivemos com pessoas de todas as origens, inclusive descendentes de judeus, de árabes, de palestinos e de todas as demais origens, nos mais diversos âmbitos da atividade humana, nas universidades, na indústria, no comércio, nos hospitais, em toda parte, colaboramos, mostrando como isso é perfeitamente possível de se realizar no Oriente Médio, na Terra Santa. Inclusive, propusemos que possa Jerusalém ser a capital dos dois estados, tanto de Israel, quanto da Palestina. Ou seja, que ambos possam ter a mesma capital, onde poderá haver a livre movimentação de pessoas.

            Eu, inclusive, fiz a sugestão de que os dois países, Israel e a Palestina, considerem aqueles instrumentos de política econômica e que, de alguma forma, eles possam ser comuns aos dois países. E dentre estes está justamente a possibilidade de se instituir um fundo. Em que pese Israel ter uma população de 7,4 milhões de habitantes, um Produto Doméstico Bruto quase de US$200 bilhões e uma renda per capita próxima de US$29.500 anuais; e a Palestina, 4,1 milhões habitantes, mas tendo um produto per capita bem menor, bem inferior, da ordem de US$2.900, poderiam ambos os países, por terem formas de riqueza comum criadas, separar uma parcela para constituir um fundo que vai propiciar o pagamento de uma renda básica de cidadania.

            Sr. Presidente, solicito seja transcrito o pronunciamento, a conferência que apresentei em Montevidéu, nesse encontro, para propiciar a paz entre Palestina e Israel.

            Mas exatamente por estar nessa missão, eu não pude estar presente na sessão de homenagem ao ex-Senador, ex-Governador Mário Covas. E eu era, com a Senadora Marisa Serrano, um dos subscritores do requerimento para realização daquela homenagem. Mas foi justamente na tarde em que o Brasil soube do falecimento do Senador e Vice-Presidente José Alencar. E sobre ambos eu hoje gostaria de fazer a minha homenagem.

            Mário Covas foi uma figura extraordinária pela qual sempre tive o maior respeito e carinho. Destacou-se, desde jovem, na luta pela democracia, pela liberdade, nos movimentos estudantis. Depois de ter sido prefeito de Santos e ter atuado na Câmara dos Deputados, de 1962 até 1968, tornou-se um Líder da Oposição diante do regime militar, até que o AI-5 retirou-lhe o mandato. Tornou-se uma voz gigantesca que lhe acabou custando o afastamento das atividades políticas. Quando voltou, veio novamente como um dos principais líderes, primeiro do seu Partido, ao qual também pertenci, o MDB, em 1977 e 1978, época em que fui deputado estadual e ele estava tendo extraordinário desempenho na vida política.

            Voltamos a nos aproximar no Senado quando, em 1991, assumi meu primeiro mandato nesta Casa. Com ele convivi, de 1991 a 1994, época de extraordinária importância para a história do País e do Parlamento. Ele participou, por exemplo, das comissões parlamentares de inquérito tanto sobre o caso Paulo César Farias quanto do orçamento. Quando começava a perguntar a qualquer das testemunhas, ele conseguia destrinchar e desvendar a verdade, pelos gestos e formas desconcertantes de alguns daqueles que estavam respondendo a suas perguntas. Ele sempre exigia de cada um a transparência devida e o desvendar completo da verdade.

            Como governador, teve momentos importantes na vida política, inclusive quando se pronunciou contrariamente ao direito de reeleição. Sempre mantivemos um diálogo de amizade e respeito.

            Quando candidato à Presidência da República, Mário Covas enfrentou, no segundo turno, um adversário comum ao PSDB e ao PT. Nesse episódio, o que impressionou os paulistas foi sua capacidade de mostrar no debate o que era o caráter, a transparência, a coragem de enfrentar a verdade diante de um poderoso adversário, no que se refere à forma como utilizou recursos públicos ao longo de sua vida.

            Quero aqui também dar o meu testemunho do diálogo que eu próprio e a Senadora Marta Suplicy tivemos com ele, durante os momentos decisivos do primeiro turno da eleição para governador em 1998, quando ele venceu, por pequena margem, em relação a Marta Suplicy, que tirou terceiro lugar. Ele veio a nossa residência, e lá tivemos um diálogo em que resolvemos apoiá-lo para ser governador.

            Quero aqui dizer quanto Mário Covas foi um exemplo de seriedade no interesse da causa pública e um gigante em defesa da democracia.

            Sr. Presidente, quero prestar aqui a minha homenagem ao nosso Presidente José Alencar. Acredito que a melhor homenagem que hoje posso prestar é com a leitura do tão belo depoimento que o médico Dr. Raul Cutait hoje deu à Folha de S.Paulo, Tributo a um Paciente. Trata-se de uma lição a todos os brasileiros, sobretudo àqueles que porventura sejam acometidos de uma doença.

            Diz Dr. Raul Cutait...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ... do Dr. Raul Cutait ao nosso Presidente querido...

            O SR. PRESIDENTE (Wilson Santiago. Bloco/PMDB - PB) - Mais dois minutos para V. Exª.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - ...José Alencar.

Para um médico, a perda de um paciente é sempre sentida e motivo de reflexões: foi feito o melhor? Algo poderia ter sido diferente? Foram respeitados os desejos do paciente? E os de sua família? Fui determinado e, ao mesmo tempo, acolhedor, quando necessário? Nesta semana, assim como milhões de brasileiros, lamento a perda de um dos nossos mais ilustres cidadãos, José Alencar. 

Ao longo de quase 14 anos de convívio como um de seus médicos, em que histórias e estórias intermináveis mesclavam-se a discussões sobre suas doenças, aprendi a estimá-lo e a respeitá-lo.

E, com a camaradagem que essa relação mágica que a medicina cria entre médicos e pacientes, sentia-me à vontade para ouvir e falar.

Mais de uma vez, em conversas reflexivas, pude lhe dizer que eu o via como exemplo de sucesso profissional, político e familiar, mas em especial como um exemplo de paciente. Nesse aspecto, o seu comportamento influenciou milhões de brasileiros, que viam nele um porta-bandeira de fé, esperança e determinação.

Quantas vezes, enquanto andávamos pelo hospital, cruzamos com pacientes que faziam questão de lhe dizer que eles se fortaleceram nas lutas contra suas doenças, vendo sua força de vontade de vencer seu próprio mal.

Não é exagero dizer que suas atitudes diante da doença, da vida e da morte marcaram também muitos de nós, seus médicos.

Numa de suas cirurgias mais delicadas, há quase dois anos, ao lhe expor os riscos do procedimento com a franqueza que Alencar exigia, ele, ao perceber a inquietude de seus familiares, soltou uma frase digna de sua fé e de sua esperança: "Não quero clima de velório, mas espírito natalício". Sim, porque ele se via renascendo após a cirurgia, o que realmente aconteceu.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -

Na minha época de recém-formado, era quase rotineiro não contar para as pessoas que elas tinham câncer, uma doença que era, então, um estigma para muitos.

Felizmente, nos dias de hoje, tudo mudou, sendo cada vez mais comum os pacientes participarem ativamente das conversas sobre tratamento e até mesmo prognóstico, podendo sentir que seus familiares e médicos são como seus parceiros, dividindo com ele a angústia, o medo e a esperança.

Como na "Canção do Tamoio", de Gonçalves Dias, muitos logo entendem que "A vida é combate,/ Que os fracos abate,/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar".

No Brasil, acho que Alencar foi o exemplo público máximo de comportamento aberto, dividindo sua doença e seus sentimentos com a população em geral.

Foi antecedido por Mário Covas, que, quando Governador, chegou a chorar em entrevista coletiva enquanto falava de si e de sua doença...

            (Interrupção do som.)

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) -

...por Ana Maria Braga, que, com sua capacidade de comunicação, mostrou grande dignidade ao falar de sua doença e de como a enfrentava; pela atriz Patrícia Pillar, que aumentou o time das pessoas que expuseram sua doença e ajudaram os brasileiros a entender e a conviver com o câncer.

Diga-se de passagem que, no presente, é possível curar mais de 50% de todos os casos diagnosticados de câncer, bem como ampliar o tempo de sobrevida, com qualidade e dignidade, daqueles que têm doenças incuráveis.

Na sua infindável procura pelo significado da vida, o homem usa explicações racionais, emocionais, científicas e religiosas.

Na busca de sentir que a vida valeu a pena, até mesmo sem entendê-la em sua plenitude, tenta conquistar amor, felicidade, paz, saúde, sucesso e tantas outras coisas.

Para mim, o José chegou lá!

(Interrupção do som.)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Fora do microfone.) - Que bonito exemplo deu José Alencar!

             Que bela contribuição deu ele ao Brasil, ao formar esse amálgama com o Presidente Luiz Inácio da Silva, para que o Brasil pudesse alcançar um grande desenvolvimento com relação às realizações de justiça social para valer.

            Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO EM INGLÊS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO, AGUARDANDO TRADUÇÃO PARA POSTERIOR PUBLICAÇÃO NA ÍNTEGRA.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“United Nations: Latin America and Caribeean Meeting in Support of Israeli-Palestinian Peace.” Montivideo, 29 and 30 March 2011.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2011 - Página 8830