Discurso durante a 39ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à paranaense Mirella Prosdócimo, líder do movimento "Essa vaga não é sua por nem um minuto", a demandar respeito às vagas de trânsito destinadas às pessoas com deficiência.

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS. FEMINISMO.:
  • Homenagem à paranaense Mirella Prosdócimo, líder do movimento "Essa vaga não é sua por nem um minuto", a demandar respeito às vagas de trânsito destinadas às pessoas com deficiência.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/2011 - Página 8833
Assunto
Outros > HOMENAGEM. DIREITOS HUMANOS. FEMINISMO.
Indexação
  • HOMENAGEM, MULHER, EMPRESARIO, DEFICIENTE FISICO, ESTADO DO PARANA (PR), CAMPANHA, CONSCIENTIZAÇÃO, IMPORTANCIA, RESPEITO, RESERVA, VAGA, ESTACIONAMENTO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, NECESSIDADE, OBEDIENCIA, LEGISLAÇÃO, FACILITAÇÃO, ACESSO.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), CRIAÇÃO, SECRETARIA, DIREITOS, MULHER.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Boa tarde, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras!

            Hoje, subo a esta tribuna, no último dia do mês de março - portanto, no mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher -, para fazer aqui um comunicado e também uma homenagem a uma mulher que, neste mês, nesses últimos 30 dias, teve destaque na nossa imprensa paranaense pelo simbolismo da sua atitude. Espero que, com essa atitude, a gente possa mudar práticas da nossa sociedade. Quero falar aqui de Mirella Prosdócimo.

            Mirella Prosdócimo é uma cidadã do meu Estado. Ela é tetraplégica. Aos 17 anos, sofreu um acidente de carro muito grave. Aliás, acidente que foi ocasionado, exatamente, por pessoas que dirigiam alcoolizadas. Ela foi vítima desse acidente e, aos dezessete anos, perdeu todos os movimentos. Hoje, está numa cadeira de rodas.

            É mulher que não parou seu trabalho. Muito pelo contrário. É Uma mulher que, a partir da sua dificuldade e da sua limitação, fez uma oportunidade de vida e um exemplo para muitas outras mulheres.

            Então, quero homenagear a Mirella, mas, sobretudo, ressaltar o que aconteceu e a envolveu neste mês, o que mostra o quanto temos que avançar, em termos de sociedade, em relação ao respeito ao outro.

            Resumidamente: há pouco mais de duas semanas - quase três semanas -, Mirella estava em um estacionamento de supermercado, Senador Rollemberg, quando percebeu que uma outra mulher estacionou seu carro em uma vaga destinada a pessoas com deficiência. No mesmo momento, Mirella, que estava no local e observou a cena, quis alertar a motorista no sentido de que ela não poderia fazer aquilo, porque aquela vaga era destinada a pessoas com deficiência.

            Pois bem, a motorista ignorou o fato e entrou no supermercado. Ao voltar, Mirella ainda estava no estacionamento, colocando suas compras no carro, com a ajuda de pessoas que a acompanhavam. E ela fez, novamente, a observação, pedindo que a pessoa tivesse consciência de que aquela vaga se destinava a pessoas com deficiência. Dessa vez, a mulher se ofendeu com a colocação de Mirella e começou a agredi-la verbalmente, chegando, inclusive, a querer agredi-la fisicamente, o que não aconteceu, porque as assistentes, as pessoas que estavam com ela, ajudaram a apartar a situação.

            Interessante que ela denunciou o fato à direção do supermercado, mas o supermercado não se posicionou a respeito, nem quanto à cliente que estacionou indevidamente, nem quanto ao incidente de quase violência que a envolveu. Justificaram que não poderiam perder nenhuma das duas clientes.

            A Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) também foi acionada, mas os representantes do órgão só apareceram no local duas horas depois de todo o incidente, não podendo fazer mais nada.

            Se imaginarmos que tudo acabou sem solução, como tantas outras histórias, estamos equivocados, porque a indignação da Mirella ganhou nome e rosto, ou seja, ela fez uma grande corrente sobre essa situação, evidenciando o desrespeito que temos ainda em relação às pessoas com deficiência.

            Mirella, hoje, é empresária, curitibana, sócia de uma empresa que presta consultoria para garantir a inclusão de pessoas com deficiência. É tetraplégica desde os 17 anos, como eu disse.

            O incidente chegou aos jornais. Mirella arregimentou um apoio que não parou de crescer desde então e que resultou no movimento “Essa vaga não é sua por nem um minuto”, que, aliás, a campanha pelo respeito à sinalização para as pessoas com deficiência está utilizando. É o que quero mostrar neste plenário.

            As vagas destinadas às pessoas com deficiência são maiores que as vagas comuns. Por isso, elas devem ser preservadas, para que essas pessoas a utilizem. E este é um dos objetivos da campanha: esclarecer a população. Muitas vezes, a população também não é esclarecida.

            Bom, parece lógico que, por essas adaptações, o respeito ocorresse em relação a essas vagas. Mas nem sempre é isso o que acontece.

            Há muito pouco tempo, cerca de dez anos, foi promulgada a Lei nº 10.098, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade no espaço urbano, locais coletivos e estabelecimentos comerciais. Mas o cumprimento da lei ainda é mais recente. Esse caso comprova que não houve cumprimento.

            O incidente envolvendo Mirella Prosdócimo mostra esse desrespeito e que os direitos das pessoas com deficiência ainda não é uma prática comum a todas as pessoas. Ao que parece, se a regra do mínimo comum - o que vale para mim vale para você - já é difícil entre pessoas iguais, quando há uma relação de diferença, isso se torna mais difícil ainda.

            Então, precisamos conscientizar a sociedade, fazer campanhas educativas. Penso que esta Casa tem também a obrigação de utilizar o espaço da TV Senado ou mesmo de utilizar os meios de comunicação ...

(Interrupção do som.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR) - ...fazendo campanhas institucionais para que conscientizemos nossa população para que isso não aconteça.

            Eu quis registrar esse fato aqui porque queria fazer uma homenagem a Mirella, à sua força de vontade, à sua garra, que mostra como as mulheres são capazes de levar essas lutas à frente.

            Parabéns, porque ela, de fato, está mobilizando a sociedade curitibana, e isso, com certeza, vai ter também implicação em todo o Brasil.

            Quero, por fim, Sr. Presidente, fazer um apelo ao Governador do meu Estado. O Estado do Paraná é um dos poucos Estados que não têm a Secretaria Estadual de Mulheres ou a Coordenadoria de Mulheres. O Paraná, até agora, não assinou o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher. Precisamos assiná-lo, mas o Paraná só pode assiná-lo se houver um órgão no governo do Estado que, efetivamente, represente os direitos e os interesses da mulher na gestão pública.

            Então, quero fazer um apelo ao Governador Beto Richa, que ...

(Interrupção do som.)

            A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco/PT - PR) - ...por favor se sensibilize e crie, no âmbito do Governo do Estado, a Secretaria Estadual dos Direitos da Mulher. Tenho certeza de que vamos ter grandes avanços não só para as mulheres paranaenses, mas grandes avanços para a gestão do nosso Estado, inclusive com recursos, com apoio, com estrutura, a que terá acesso junto à Secretaria de Políticas para as Mulheres. E vamos poder proteger muitas mulheres da violência, dando-lhes condições de proteger seus filhos e de também poder refazer sua vida.

            Deixo aqui este apelo - hoje é o último dia do mês de março - para que, realmente, o meu Estado entre no rol daqueles que, efetivamente, protegem o direito das suas mulheres.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/2011 - Página 8833