Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a saída de Roger Agnelli da Presidência da Vale do Rio Doce. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Indignação com a saída de Roger Agnelli da Presidência da Vale do Rio Doce. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/2011 - Página 9571
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, INTERVENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PROCESSO, SAIDA, PRESIDENTE, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), ESCOLHA, SUBSTITUTO, RISCOS, COMPROMETIMENTO, DEMOCRACIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, não posso cumprimentar os Senadores e Senadoras porque é a primeira vez que vejo este plenário totalmente vazio. Mas falo à Rádio Senado, falo à TV Senado.

            Presidente Paim, hoje venho com muita tristeza falar nesta tribuna e com uma preocupação muito grande. V. Exª que sei é um democrata autêntico. Tristeza, meu querido Pará, meu querido Brasil, em ver nos noticiários dos jornais, em tomar conhecimento da notícia de que a Vale do Rio Doce foi tomada de assalto.

            Que tristeza! Caminhamos tanto, avançamos tanto no processo democrático deste País. No ano de 2011, depois de cem dias de Governo da Presidenta Dilma, a imposição: a Vale agora é do Governo. Deus meu, será que nós estamos chegando ao que chegou a Venezuela? Será que o Brasil está virando a Venezuela, meu Deus do Céu? Minha Nossa Senhora de Nazaré, minha querida padroeira, essa é a realidade deste País hoje? A maior empresa brasileira, a empresa que mais cresceu no mundo nos últimos tempos, a segunda maior mineradora do mundo! Aonde vamos chegar?

            A Câmara dos Deputados na mão do Governo, o Senado na mão do Governo e as grandes empresas na mão do Governo. Por que tiraram o Sr. Agnelli? Para colocar alguém do Governo e fazer o que o Governo quer.

            É verdade! Um orador, ainda há pouco, desta tribuna, disse: “Contra fatos não há argumentos”. Eu repito isso aqui: contra fatos não há argumentos. É um fato, é verídico. Não se pode contestar. O Governo tomou a Vale do Rio Doce, Brasil! O Governo está implantando neste País uma ditadura, Brasil! Acorda, Brasil! Eu já tenho dito isso há mais de três anos.

            O Governo faz o que quer. Uma empresa que foi privatizada em 1997, naquela época, faturava, Brasil, R$500 milhões. Na gestão do Presidente que está saindo, porque não obedeceu ao Lula, não obedeceu à Dilma, chegou a R$30 bilhões. Vai ser privatizada, acharam ruim, e a empresa se tornou a segunda mineradora do mundo. O que será dela? O que será desta empresa na mão do Governo? Ela se tornará cabide de emprego, Brasil, assim como os Correios e outras empresas que o Governo toma conta.

            Parece um pesadelo. Meu Deus, quando eu poderia imaginar que um dia, na minha vida pública, eu ia subir na tribuna do Senado Federal com tremenda decepção e dizer que nós estamos retrocedendo na democracia?!

            O Governo manda no Bradesco. O Governo manda em quem quiser. O Governo mandou o nome: eu quero este. Neste aqui eu mando. Eu posso fazer o que quero. A mineradora é minha e acabou a história. Não tem contestação.

            O que é isso, Brasil? O que é isso, Brasil?

            Eu não deixo o Senado Federal funcionar. Só funciona quando eu quiser. As medidas provisórias impõem ao Senado. As medidas provisórias impõem à Câmara. Eu faço o que quero.

            Estamos caminhando na mesma direção da Venezuela, na mesma direção da própria Argentina, que começou a calar a imprensa. Nós começamos a tomar as grandes mineradoras, as grandes empresas nacionais. E essa é a mais importante de todas.

            Não perderemos mais eleição nenhuma! Não perderemos mais eleição nenhuma com a Vale do Rio Doce na mão! Venha quem quiser, de onde vier. Não perderemos mais eleição nenhuma com a Vale do Rio Doce na mão!

            Recolhia a Vale do Rio Doce, em 1996, Senador, R$31 milhões só de imposto para o Brasil; recolhe hoje R$1,1 bilhão. A previsão da Vale para se tornar a maior mineradora do mundo era de apenas um ano. E o Governo a toma de assalto para tomar conta dos seus próprios interesses.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Já vou descer, Sr. Presidente.

            A caminho da Venezuela, Brasil! A caminho da Venezuela, Brasil!

            Eu desço desta tribuna na tarde de hoje indignado, triste, preocupado com os destinos deste País. O mundo inteiro deve estar se perguntando: por que o Governo brasileiro tomou a Vale do Rio doce? Para não perder mais eleições, para empregar quem quiser. Se não bastasse a criação de tantos ministérios para empregar tantos amigos petistas, agora tomam a Vale do Rio Doce.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu sei que é inglória, Senador Paim, esta minha atitude desta tribuna, mas ali está uma moça com uma caneta na mão, registrando o meu pronunciamento. Essas mesmas moças, que exercem a função de taquígrafas, registraram vários pronunciamentos meus aqui, Brasil, falando da nossa democracia. E tudo o que eu falei há três anos está acontecendo, detalhe por detalhe, Brasil! Está acontecendo!

            Estamos caminhando mais rápido; com mais inteligência, lógico. Com mais inteligência. Calamos primeiro o povo. Calamos o povo!

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou descer.

            Calamos o povo, Senador Paim. Demos dinheiro para o povo. O povo brasileiro é pobre. O povo brasileiro precisa. Calamos o povo! Calamos o Senado! Aqui só vota o que o Presidente quer. Aqui ele tem a maioria. Aqui ele manda! Aqui os Senadores fazem o que o Presidente quer! Lá na Câmara Federal é muito pior que aqui! Tiramos o direito de legislar dos Parlamentares Colocamos uma algema em cada um. Aqueles que não querem seguir o meu caminho só têm o direito - e olhe lá! - de subir à tribuna para falar alguma coisa - e olhe lá! - ainda criando caso para não cortarem as suas vozes.

            Há poucos dias cortaram esta voz. Eu tive que descer desta tribuna. E eu faço questão de registrar os erros, como registrei ainda agora, para mostrar a perseguição patente àqueles que querem a democracia e os direitos neste País.

            E agora? Agora eles fazem o fator principal: pegam as grandes empresas nacionais, que ficam nas mãos deles para fazerem o que quiserem!

            O que é isso, Brasil? O que é isso, Brasil? O que é isso, Brasil? É democracia, Brasil?

            Ah, América Latina, coitada de ti! Coitada de ti, América Latina! Aos poucos, tu vais sofrendo o massacre dessa ditadura maldita que já entrou neste País por algum tempo e contra a qual nós já lutamos tanto! Parece que ela forma raiz novamente; parece que ela flui novamente; parece que ela brota novamente neste País tão querido por todos nós que clamamos, sempre, em cada coração, a democracia brasileira.

            Muito obrigado, Senador Paim.


Modelo1 5/4/246:48



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/04/2011 - Página 9571