Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a tragédia ocorrida hoje no Rio de Janeiro, apresentando propostas para reduzir a possibilidade de que ocorram novamente mais fatos como esse. (como Líder)

Autor
Acir Gurgacz (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RO)
Nome completo: Acir Marcos Gurgacz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. DIREITOS HUMANOS.:
  • Indignação com a tragédia ocorrida hoje no Rio de Janeiro, apresentando propostas para reduzir a possibilidade de que ocorram novamente mais fatos como esse. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2011 - Página 10435
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, GOVERNO, SOCIEDADE, BRASIL, REPUDIO, FATO, HOMICIDIO, VITIMA, ADOLESCENTE, ESCOLA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • ANALISE, AUMENTO, CRIME, HOMICIDIO, FASE, ADOLESCENTE, MOTIVO, FALTA, ACOMPANHAMENTO, ASSISTENCIA, ALUNO, ESCOLA PUBLICA, ESCOLA PARTICULAR, POSSIBILIDADE, ANTECIPAÇÃO, ELIMINAÇÃO, PROBLEMA, SAUDE MENTAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ACIR GURGACZ (Bloco/PDT - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje o Brasil viu, nós todos vimos a nossa Presidenta Dilma chorar. Hoje, o Brasil tem motivos para chorar junto com a nossa Presidenta e também junto com as mães de 11 adolescentes assassinados de forma brutal em Realengo, no Estado do Rio de Janeiro. Relato aqui a minha indignação com o que aconteceu nesta manhã na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro.

            Quanto a isso, quero tratar de dois pontos. Primeiro, trata-se do nosso sistema educacional, que é descuidado e massificante. Não olha para o estudante como deveria olhar. Temos turmas, no ensino médio, com mais de 100 alunos, e isso ocorre em escolas públicas e também em escolas particulares. Turmas gigantescas numa fase sensível de transformação de nossos adolescentes. Precisamos dar mais atenção individual e humana aos nossos jovens, e isso somente se consegue com mais professores e turmas menores nas salas de aula. Temos que encontrar uma fórmula para resolver esse problema.

            O segundo ponto é com relação ao mercado negro de armas em nosso País. Com menos de R$200,00, é possível comprar pistolas automáticas e munição em grandes cidades brasileiras. Tem gente que diz que se incomoda com as armas vendidas ilegalmente no Brasil. Eu me incomodo mais ainda com as armas ilegais que podem ser compradas por qualquer pessoa.

            Eu me comovo e me solidarizo com as famílias das vítimas e com a família do jovem Wellington, de apenas 23 anos de idade, que, infelizmente, colocou o nosso País no rol dos países que sofrem com esses massacres inexplicáveis. Peço encarecidamente à mídia e às autoridades que não percam tempo com caças às bruxas e discussões inócuas. Vamos direto ao ponto: precisamos definir meios para reduzir a possibilidade de que tragédias assim continuem a acontecer, mas não podemos descartar o fato de que pessoas desequilibradas que cometem esse tipo de crime hediondo estão dispostas a tudo.

            Vejamos o caso da China, um país que tem um grande controle sobre armas de fogo em seu território. A imprensa já relatou alguns casos de chineses que invadem escolas e matam dezenas de crianças. Essas pessoas usam armas brancas, facas, para cometer esse tipo de violência.

            Quero dizer aqui que, apesar de eu também ser contra a venda indiscriminada de armas no Brasil, tenho a certeza de que dirigir o nosso foco agora para isso, neste momento, é desperdiçar tempo e energia.

            Se fizermos uma análise dos incontáveis crimes desse tipo cometidos ao redor do mundo, vamos ver que todos têm um ponto em comum: todos eles foram cometidos por pessoas aparentemente comuns, mas que revelaram, somente depois dos massacres, ter sérios distúrbios mentais.

            Essas pessoas, Srªs e Srs. Senadores, não deixariam de matar simplesmente porque não encontrariam armas de fogo em lojas regulares. Essas pessoas comprariam armas de fogo nas favelas, no submundo, no mercado negro. Caso não encontrassem pistolas e revólveres, essas pessoas usariam facas que poderiam comprar em qualquer supermercado.

            Então, Sr. Presidente, não é por isso que vamos dizer que não há saída, pois precisamos tentar alguma coisa com urgência.

            Considerando que muitos desses massacres ocorrem em escolas, somos levados a crer que os traumas que fazem esses assassinos retornar no espaço e no tempo surgiram exatamente no tempo de suas vivências escolares.

            Falo isso grosso modo, Srªs e Srs. Senadores, porque eu não sou psicólogo; mas o que falei no início, para mim, faz muito sentido.

            Se todos nós procuramos turmas escolares reduzidas para nossos filhos quando são pequenos, é difícil entender por que aceitamos turmas gigantescas, abarrotadas de estudantes, quando nossos jovens estão atravessando a difícil fase da adolescência. Esse modelo, Sr. Presidente, está fracassado. É no ensino médio, das salas de 50, 60, 100 alunos, que mais vemos desencadear o êxodo escolar. É nessa fase que mais vemos crises entre pais e filhos.

            Nossos adolescentes clamam por atenção, Srªs e Srs. Senadores. Eles precisam de professores que os conheçam pelo nome, que percebam o seu estado de espírito quando chegam à sala de aula. Precisam de professores e professoras que possam se debruçar com eles e ajudar nos conflitos comuns à idade.

            Eles precisam de professores que possam perceber como andam os estudantes e consigam falar com os pais, na maioria das vezes envolvidos na corrida desesperada pela sobrevivência, dedicando oito, dez, doze horas por dia ao trabalho.

            Estamos abandonando nossos jovens, e vários sinais já apareceram diante de nossos olhos, Sr. Presidente. São jovens de 18 a 20 anos, a maioria vítimas de acidentes violentos. São jovens dessa mesma faixa etária as maiores vitimas de homicídios.

            São, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, jovens dessa faixa etária que estão começando hoje a invadir escolas para matar, para se vingar de algo que não conhecemos ou fingimos não conhecer.

            Wellington Menezes de Oliveira, de apenas 23 anos, foi o primeiro. Não ouso dizer que será o último; não ouso dizer que será um fato isolado. Ouso, sim, dizer que não temos tempo para infrutíferas caças às bruxas, improdutivas discussões sobre os sintomas do problema, mas que não chegam às causas.

            Temos de olhar para o corpo de Wellington Menezes de Oliveira, e ver ali não um culpado, mas sim uma vítima.

            O sistema, Srªs e Srs. Senadores, é bruto e embruteceu esse menino. O sistema, Sr. Presidente precisa se dobrar diante dos homens de bem, e não o contrário.

            Srªs e Srs. Senadores, é com pesar que venho aqui hoje fazer este pronunciamento, mas convoco todos a entrarem nesta discussão pelo bem dos nossos jovens e pelo futuro do nosso Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2011 - Página 10435