Discurso durante a 44ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de solidariedade às famílias que perderam seus filhos na tragédia ocorrida em escola de Realengo, Rio de Janeiro.

Autor
Lindbergh Farias (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Luiz Lindbergh Farias Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA.:
  • Manifestação de solidariedade às famílias que perderam seus filhos na tragédia ocorrida em escola de Realengo, Rio de Janeiro.
Aparteantes
Ana Amélia, Gleisi Hoffmann, Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 08/04/2011 - Página 10482
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA, VITIMA, HOMICIDIO, ESCOLA PUBLICA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, o Senador Marcelo Crivella já falou em nome da bancada de Senadores do Rio de Janeiro, em meu nome, em nome do Senador Francisco Dornelles, pediu o voto de pesar desta Casa, do Senado. Mas quero aqui subir à tribuna - não vou fazer um pronunciamento longo - para lamentar o ocorrido.

            Hoje, pela manhã, estava com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quando a Presidenta Dilma ligou, logo no primeiro momento da manhã, para perguntar sobre os fatos ocorridos. Falei com o Prefeito Eduardo Paes, que estava na escola, falei com o Vice-Governador, soube que as providências estavam sendo tomadas.

            Sei que é natural, num momento como este, surgirem muitos debates e sei que é natural alguns virem com plataformas prontas, sobre o que teria de ter sido feito para que aquilo não tivesse acontecido. Não vou fazer nada disso, porque o fato é tão inexplicável...

            Conheço muito o povo daquela região, daquele bairro de Realengo. Nesta hora, penso como pai - tenho um filho de quinze anos e uma menina de nove meses. Como pais, pensamos nos nossos filhos. Morte de criança... Senador Aníbal, Presidente desta sessão, não tenho muito o que falar, mas apenas, pelo Rio de Janeiro, agradecer essa rede de solidariedade que existe no Brasil, confortar aquele povo, confortar os outros pais e as outras mães, mas confortar em especial os pais e as mães que perderam seus filhos.

            Senadora Ana Amelia, antes de conceder o aparte a V. Exª, quero ler, dentre os mais variados e-mails que recebi, o e-mail do Professor Lauter Nogueira, que expressou o que eu estava sentindo no momento: apenas indignação, frustração e tristeza. Me faz lembrar uma música antiga, muito antiga, de Gozanguinha, chamada “Assim seja, amém”:

[...] Então você se cala e calado chora

e chorando busca no que acreditar

e bem baixinho fala mas também só fala

essa vida sei que um dia vai mudar.

            O Professor Lauter Nogueira manda, depois, um terceto de Mário Quintana, que tem tudo a ver com este momento:

            [...] Estranha nau que não demanda os portos!

            Com mastros de marfim e velas de prata,

            Toda apinhada de meninos mortos.

            Eu não tenho muito o que falar, só quero expressar esse sentimento do povo do Rio de Janeiro, de comoção, sentimento que existe naquela região tão especial da zona oeste do Estado do Rio de Janeiro.

            Eu concedo um aparte à Senadora Ana Amelia.

            A Srª Ana Amelia (Bloco/PP - RS) - Senador Lindbergh, é difícil encontrar palavras de conforto neste momento de dor, especialmente para as famílias envolvidas nessa tragédia - mais uma que se abate sobre a nossa Cidade Maravilhosa, antiga capital do Brasil. Todo o Brasil está, sem dúvida nenhuma, sentindo as mesmas dores dessas famílias. Mas, nesta oportunidade, eu queria também prestar, em função das informações que tive, uma homenagem ao Sargento Alves, cuja atuação impediu que a tragédia fosse maior, segundo as informações. Muitas vezes, criticamos a autoridade policial, à qual associamos inúmeras ações mal feitas que mancham a instituição. Por isso, quando há um gesto heróico como o do Sargento Alves, é importante que se registre, para a família dele também, a forma como agiu nesse gravíssimo episódio.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Claro!

            A Srª Ana Amelia (Bloco/PP - RS) - Então, eu queria me solidarizar com V. Exª no momento em que faz esse pronunciamento apropriado, adequado, em que traz a poesia - como se ela fosse capaz de mitigar um pouco a dor que todos nós sentimos nesta hora. O seu Rio de Janeiro, que recentemente passou por dores tão agudas com a tragédia na região serrana, agora também enfrenta isso. Para finalizar, Senador Lindbergh, o senhor, tão envolvido com cuidados com o jovem - o senhor, um jovem que presidiu a UNE -, sabe bem o que significam esses sonhos mortos. Também hoje de manhã, aqui, no Senado, debatemos muito os impactos das drogas, especialmente o crack, sobre a nossa juventude. A vida é feita de perdas e ganhos. Ouvimos lá depoimentos de pessoas que se recuperaram e que hoje dedicam suas vidas a salvar outras pessoas desta grande chaga, deste grande mal, desta grande doença, que é o vício do crack. Eu queria então me solidarizar com o senhor, caro colega, caro amigo, admiradora que sou do seu trabalho aqui, por esses gestos tão importantes como o de hoje, mostrando mais do que solidariedade, envolvimento com a dor dessas famílias. Obrigada, Senador.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Eu é que agradeço a V. Exª, Senadora Ana Amelia, que tem um trabalho muito firme. V. Exª é uma lutadora, uma guerreira. Sabemos o que V. Exª passou nesse último período. Sempre, em todos os momentos na Casa, V. Exª age pensando nas pessoas que mais precisam, em todas as áreas. Acho que essa é uma característica de V. Exª - vamos conhecendo a atuação de cada parlamentar -, por isso, meu respeito pelo trabalho e pela luta de V. Exª.

            Senador Mozarildo, ouço V. Exª.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Lindbergh, já tive a oportunidade, quando fiz meu pronunciamento, de começar fazendo o registro dessa ocorrência lamentável. Lamentei muito que esse tipo de coisa ocorra. Através de V. Exª, que representa o Rio de Janeiro, quero me solidarizar com os familiares dessas crianças. Nós, que somos pais ou avós, como eu já sou, ficamos perplexos diante de uma cena dessas. Imaginamos o pai, principalmente naquela área mais sofrida, que deixa um filho na escola e fica tranquilo, achando que a criança está bem. Já não bastassem, como se referiu aqui a Senadora Ana Amelia, o problema das drogas e outras inseguranças, vem agora uma coisa dessa ordem. Lamentavelmente, parece uma cópia dos eventos acontecidos nos Estados Unidos. Só alguém com um desequilíbrio emocional muito sério comete uma atrocidade desse tamanho. Não há realmente palavras para dizer adequadamente o que sinto como pai, como avô e, principalmente, como médico. Diante desse sofrimento, chegamos à conclusão de que só mesmo Deus pode, de alguma forma, consolar essas famílias. Devemos nos preparar para fazer com que, como o Senador está dizendo, o Governo adote posturas que proporcionem maior vigilância nas escolas, maior proteção ao aluno e também ao professor. Muito obrigado.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Eu é que agradeço muito seu aparte, Senador Mozarildo. Muito obrigado em nome do povo do Rio de Janeiro.

            Concedo a palavra à Senadora Gleisi Hoffmann.

            A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco/PT - PR) - Obrigada, Senador Lindbergh. Também queria me somar a sua tristeza, a sua impotência, a sua dor. É um momento de lamentar, de externar a dor. Lembro-me aqui de uma frase de uma música de Chico Buarque, para complementar as poesias que V. Exª leu, que diz que dor é “arrumar o quarto do filho que já morreu”. Fico pensando na vida dessas mães: chegar em casa, olhar para a cama do filho e não poder fazer nada. É uma situação muito dura. Como mãe, fico emocionada com um fato desse. Fico pensando o que leva um ser humano a fazer isso. Também penso como V. Exª: não se trata de encontrar uma receita de política pública, de dizer que é preciso mais polícia, mais firmeza, mais educação, mais segurança. É uma questão humana, uma questão de valores que permeiam as nossas sociedades. Por que um ser humano chega a cometer uma loucura dessa? O que o leva a fazer isso? Quais são os valores que estão permeando as nossas relações, as relações na nossa sociedade? Talvez esta Casa, mais do que discutir leis, programas públicos, tenha de discutir valores, adotar uma pauta diferente, discutir o que estamos passando para as pessoas, o que forma as pessoas, as suas convicções e aquilo que elas externam na sociedade. Precisamos de mais fraternidade, de mais solidariedade; precisamos mais de Deus em nossos corações para evitar que essas tragédias aconteçam. É óbvio que precisamos de políticas públicas estruturadas, mas precisamos de valores. Queria apenas externar a minha dor, somá-la à dor de V. Exª, por essa tragédia.

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RS) - Muito obrigado, Senadora Gleisi. Concordo totalmente com sua fala.

            Sr. Presidente, sei que estamos no final de uma sessão, há poucos Senadores aqui. Já foi aprovado um voto de pesar do Senador Marcelo Crivella, mas queria tirar aqui um minuto do meu tempo como forma de homenagear e dar força às famílias. O que a senhora falou e o que o Senador Mozarildo falou, pensar em não ter um filho em casa... Só Deus mesmo! Acho que este é um momento de reflexão sobre os valores da sociedade.

            Muita gente que vê os políticos, Deputados, Senadores... Conheço muito o povo daquele bairro, o Realengo. Tive uma votação extraordinária lá. Conheço as pessoas do lugar e, por isso, fica mais triste e dramático para nós. Eu me lembro de que a Presidente Dilma encerrou a sua campanha naquele bairro de Realengo. Fizemos um evento lá maravilhoso. Mas não tenho mais o que falar, senão tentar passar a ideia de conforto para essas mães e pais, essa solidariedade nacional, as pessoas sentirem que o Brasil inteiro está com elas.

            Agradeço ao Sr. Presidente.

            Eu gostaria de parar um minuto em homenagem e solidariedade às vítimas dessa terrível tragédia, Sr. Presidente.

            O SR. PRESIDENTE (Anibal Diniz. Bloco/PT - AC) - Façamos um minuto de silêncio, como propõe o Senador Lindbergh Farias. (Pausa.)

(Faz-se um minuto de silêncio.)

 

            O SR. LINDBERGH FARIAS (Bloco/PT - RJ) - Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/04/2011 - Página 10482