Fala da Presidência durante a 36ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Elogia a atuação de Itamar Franco como Presidente da República.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Elogia a atuação de Itamar Franco como Presidente da República.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2011 - Página 8356
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ELOGIO, ITAMAR FRANCO, SENADOR, ATUAÇÃO, ANTERIORIDADE, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.

            O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. Bloco/PMDB - RS) - Eu não poderia, Senador Itamar Franco - embora, eventualmente, muito eventualmente, para o atual comando do PMDB eu sou persona non grata - eu não poderia deixar de lembrar com muita alegria os tempos que nós passamos aqui, e a atuação de V. Exª há 16 anos como Senador desta Casa.

            Eu tinha muito orgulho de V. Exª. V. Exª parou esta Casa. Naquela época podia. Hoje, não pode mais. Naquela época, a Minoria, em plena ditadura, podia influenciar os destinos desta Casa. Com V. Exª na Comissão da Política Nuclear, em pleno regime Geisel, em plena ditadura, a Comissão funcionou. Funcionou, eles vieram aqui debater, expor, analisar, e o relatório está aí até hoje para ser visto.

            Eu quero dizer a V. Exª que tive muito orgulho em ser Líder do Governo de V. Exª. Tenho dito aqui, ao longo do tempo, que me digam se houve, no Governo de V. Exª, um ato que ferisse a dignidade, a seriedade, a honra com a coisa pública que teve a conivência de V. Exª.

            Serve o caso do Chefe da Casa Civil, seu grande amigo até hoje, o Ministro Hargreaves, Chefe todo-poderoso da Casa Civil, convocado para depor - não indiciado; não tinha nada - na CPI dos Anões do Orçamento.

            Ele, primeiro, renunciou. Saiu do cargo de Ministro, não veio depor como Ministro. Em primeiro lugar, não fugiu de depor. Poder-se-ia facilmente mexer etc. e tal e ele não vir depor. Não! Veio depor e renunciou à Casa Civil. E só voltou para a Casa Civil quando, com um voto de louvor, a Comissão disse que ele não tinha absolutamente nada.

            Eu me lembro de V. Exª quando escolheu uma Ministra dos Transportes. Até lembro que eu brinquei com V. Exª, dizendo: “Qual o outro motivo da escolha, além de ela ser muito bonita?” Mas, na verdade, era uma indicação importante de segmentos do Rio de Janeiro. Ela foi nomeada. Quando V. Exª ficou sabendo que ela era esposa do advogado responsável pelo tráfego da Ponte Rio-Niterói, V. Exª demitiu-a pelo telefone.

            Lembro que V. Exª criou uma comissão responsável por atos de corrupção que pudessem aparecer no Governo. V. Exª convocou homens notáveis, sem nenhum compromisso com o Governo, nenhum compromisso com o Governo, diretamente ligados a V. Exª. Essas pessoas tinham autonomia absoluta, e os Ministros tinham que responder imediatamente, atender imediatamente à convocação da comissão. E aquela comissão produziu efeito, não apenas nos casos que investigou e denunciou, mas principalmente porque evitou que as coisas acontecessem.

            Eu me lembro do que foi a atuação de V. Exª nesse sentido.

            O Plano Real, obra do Governo de V. Exª, foi feito com amplo debate nesta Casa. Nada foi imposto. Os Ministros vieram várias e várias vezes aqui, e o Plano foi alterado várias e várias vezes porque o Congresso propôs as alterações necessárias.

            Eu digo, de boca cheia, e desafio alguém que aponte, no governo de V. Exª, qualquer medida votada nesta Casa ligada a emenda parlamentar ou integração de alguém para fazer parte do governo.

            Olha, alguém ainda vai fazer justiça. Não de se preocupar com o topete de V. Exª nem com o seu estilo rígido exagerado. V. Exª para mim cometeu erros absurdos. O Fernando Henrique, Ministro das Relações Exteriores, me telefona: “Mas, Simon, fala com o Itamar, o Dr. Roberto Marinho está aqui no meu gabinete, veio para almoçar com ele. Almoça no Palácio Piratini, almoça no Palácio da Alvorada, almoça aqui no Itamaraty, almoça em qualquer restaurante”. Itamar não almoçou e não recebeu. V. Exª foi duro com a imprensa.

            Eu me lembro de que V. Exª reuniu - V. Exª propôs um Pacto de Moncloa -, no Palácio da Alvorada, todos os presidentes de partidos e colocou uma espécie de uma linha em todo o seu Ministério. V. Exª disse ali: “Eu sou Presidente não pela vontade popular, não pela vontade popular. O Sr. Collor foi eleito pelo povo brasileiro, mas o Congresso Nacional, soberanamente, cassou o mandato dele. E eu estou na Presidência da República sob a responsabilidade do Congresso, que representa o povo. Portanto, eu quero governar com o Congresso, com a sociedade”. E aí o senhor propunha a todos que participassem.

            Naquela reunião, ficou estabelecido o seguinte - era bom ir para O Globo, para os jornais, porque apareceu como grande manchete -: “No meu governo, qualquer dos presidentes de partido que estiver aqui, qualquer problema que houver, qualquer caso sério em que a Nação esteja em primeiro lugar, convoque, avise-me e peça - não precisa de dois, não; um presidente de partido apenas - uma reunião como esta e nós faremos. E peço que os senhores me deem o direito, a licença de eu poder fazer a mesma coisa. Que eu, com relação a presidente de partido, se achar que há alguma crise em nível nacional, possa convocá-lo”.

            Graças a Deus, no governo de V. Exª, em nenhum momento, nenhum presidente de partido teve que pedir uma reunião de emergência em caso de urgência. E nem V. Exª teve que pedir uma reunião em caso de ação.

            Até hoje eu não entendo o PT ter votado contra o Plano Real. Até hoje, não entendo a Ministra Erundina ter que se afastar do PT para ser Ministra, escolhida por V. Exª. Até hoje, não entendo o falecido Governador Quércia, Presidente do MDB, não querer fazer a indicação importante que queríamos para uma Pasta da maior importância. Mas ele, já pensando em ser candidato e querendo ser da Oposição, não admitia isso.

            Eu tenho muito orgulho de V. Exª, digo isso num desabafo, porque acho que é minha obrigação. Tenho muito respeito por V. Exª.

            V. Exª, cá entre nós, é muito complicado. V. Exª é meio ranzinza, é difícil, é duro, mas foi um grande Presidente, em termos de integridade, de seriedade, de honorabilidade. Eu tenho o maior respeito e a maior admiração por V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2011 - Página 8356