Discurso durante a 53ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre os debates que envolveram a preparação das obras de infraestrutura em nosso País visando à Copa do Mundo.

Autor
Walter Pinheiro (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
Nome completo: Walter de Freitas Pinheiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Considerações sobre os debates que envolveram a preparação das obras de infraestrutura em nosso País visando à Copa do Mundo.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2011 - Página 11870
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • ANALISE, DEBATE, IMPLEMENTAÇÃO, OBRA PUBLICA, INFRAESTRUTURA, PREPARAÇÃO, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, IMPORTANCIA, PRIORIDADE, CONSOLIDAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, ATENDIMENTO, INTERESSE PUBLICO, BRASILEIROS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco/PT - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srªs e Srs. Senadores, eu quero, aqui, neste momento da sessão, trazer um tema que, de certa forma, suscitou polêmica durante toda a semana passada, durante o final de semana e os debates que envolveram a preparação das obras de infraestrutura em nosso País visando à Copa do Mundo.

            Quero insistir que a interpretação dada por diversos setores da oposição, da mídia e de todos à nota que o Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, divulgou na semana passada me dá a sensação de que nós temos somente uma tarefa até 2014, como se tudo fosse se encerrar em 2014. Não sei se foram motivados por uma dose de má-fé, por outra dose exagerada de ignorância em relação aos dados, ou por uma leitura rasa. Também pode ser a minha impressão de alguém ter feito uma leitura ligeira sobre os documentos do Ipea, mas creio que se prenderam ao fato de que as obras de alguns aeroportos poderão não estar concluídas para o evento.

            Eu diria que o fato da possibilidade de as obras não estarem concluídas não significa, de forma alguma, que os aeroportos estarão inoperantes. Portanto, há uma associação entre o que é a previsão para a conclusão de obras e a capacidade efetiva de se lidar com esse evento Copa do Mundo.

            Aliás, os aeroportos até precisam muito, sim, de infraestrutura nova, de ampliação, e precisam-se até novos aeroportos, fruto exatamente de toda essa alteração na economia do nosso País, da movimentação que permitiu que o País tivesse esse fluxo, tanto no sentido interno quanto no sentido externo, provocado, efetivamente, volto a insistir, por essa boa movimentação econômica.

            Mas a Copa do Mundo vai passar. Portanto, o aspecto da Copa é um aspecto restrito a um mês. Recordo-me que, nesse debate que estamos fazendo sobre a Copa, nós chegamos a fazer, em Salvador, a comparação entre o evento dos jogos da Copa e eventos, por exemplo, como o Carnaval. O evento do Carnaval se processa durante uma semana na cidade de Salvador e não movimenta 60 mil pessoas. Um jogo da Copa do Mundo - e aí me refiro a Salvador - pode levar para o centro da cidade algo em torno de 60 mil pessoas, sendo que o estádio terá capacidade para, no máximo, 55 mil.

            Portanto, milhões de pessoas frequentam as ruas de Salvador durante os dias de Carnaval. E, no momento do pico do Carnaval, na parte central da cidade, com certeza nós temos mais de 500 mil pessoas, nesse momento de grande efervescência. O debate sobre a infraestrutura para levar essas pessoas, para deslocar essas pessoas é que é o debate mais importante. A Copa passa; Salvador, Curitiba, São Paulo, enfim, as cidades vão continuar e os seus problemas precisam ser resolvidos, aproveitando-se a janela da Copa do Mundo como janela de oportunidade.

            Portanto, virou chavão agora essa história de criticar infraestrutura do País como se nada tivesse a ver com o passado e nada tivesse a ver com a ausência de uma infraestrutura consolidada ao longo de toda essa trajetória.

            E o que se consolidou efetivamente? Estamos falando de estádio de futebol, de ferrovia, de trem-bala, de metrô ou coisa do gênero. Mas quero dar aqui um claro e nítido exemplo dessa história de infraestrutura. O polo petroquímico de Camaçari foi construído e inaugurado, tendo a sua operação iniciada em 1974. De lá para cá, nenhuma infraestrutura foi feita naquele que é um dos maiores polos industriais na área química e petroquímica do mundo. Portanto, estamos fazendo obra de infraestrutura com duplicação de pista, com o trecho ferroviário que ligará o polo ao Porto de Aratu agora, depois de 1974.

            Chamo aqui o testemunho, por exemplo, do Senador de Pernambuco Armando Monteiro, que durante anos presidiu a Confederação Nacional da Indústria. Desde a década de 80, a CNI denuncia, em seus documentos oficiais - portanto, desde 80 -, as deficiências da nossa infraestrutura, principalmente levantando as causas de escassez de competitividade da economia brasileira.

            Assim, portos e aeroportos se associam diretamente ao escoamento da produção, à chegada de mercadorias e, principalmente, no caso dos aeroportos, à movimentação econômica a partir do fluxo de turismo.

            A bola da vez é a infraestrutura aeroportuária, que entrou na agenda da oposição depois de os aeroportos passarem a receber uma carga muito maior de passageiros que a que tinha antes.

            Basta vermos Brasília de manhã cedo. Brasília é hoje o principal centro das operações, tanto na ligação com o Norte, com o Centro-Oeste e, principalmente, agora com rotas internacionais.

            Eu diria que, no tempo em que a oposição governava o País, o mercado de aviação era tão pequeno que empresas como Transbrasil, a própria Vasp e a outrora gloriosa Varig terminaram por sucumbir.

            Portanto, as operações dessas empresas enfrentaram esse drama da escassez de passageiros, o problema de gestão, é verdade. Mas nós tivemos problemas efetivos de rentabilidade. O negócio dessas empresas terminou enfrentando talvez a sua maior turbulência nesse período.

            Então, é importante que prestemos atenção a isso. Foi nesse Governo, no Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que os aeroportos passaram a ser mais freqüentados. Fizemos obras, sim, de infraestrutura em vários aeroportos ainda na nossa gestão. O caso de Congonhas, que passou anos e anos, Humberto, completamente estrangulado. O Aeroporto de Guararapes, da sua gloriosa terra; o Aeroporto Internacional de Salvador, o Aeroporto Dois de Julho, também foi submetido a diversas obras. Se bem que agora as obras que foram patrocinadas nesses lugares dão sinais de cansaço, de estrangulamento, por conta exatamente da movimentação adotada a partir dessa alteração da economia.

            Então, não adianta ficarmos aqui com essa coisa só da Copa. É bom levar em consideração esses aspectos. Acho que o Governo não tem como meta e como obrigação a melhoria desses aeroportos apenas para a Copa - volto a insistir. A Copa vai durar três ou quatro dias, nós vamos ter quatro ou cinco jogos em cada dessas cidades. É natural que nós tenhamos um fluxo. O que vai permitir um aumento considerável do negócio de turismo no pós-Copa é exatamente o sucesso da Copa do Mundo, reconheço isso. Mas esse aumento dar-se-á exatamente no pós-Copa. Por isso, é importante pensar em estruturas que durem além da Copa do Mundo e não só nesse horizonte de 2014, de maneira a pressionar como se agora as coisas todas pudessem acontecer da noite para o dia.

            E aí aparecem inclusive arautos dessa boa necessidade de infraestrutura, alguns até representando a entidade mundial de futebol, para dizer se essa ou aquela estrutura de engenharia está ou não está pronta e, portanto, não teria capacidade de entregar no prazo os estádios para a prática do futebol, tendo como referência a Copa das Confederações, que não deve se processar em todas as praças que estão hoje já listadas para a Copa do Mundo de 2014, ou seja, no ano seguinte.

            Diversas pessoas falaram sobre a nota do Ipea. Creio que é legítimo fazer o debate, mas é necessário dizer que o documento do Ipea mostra um plano de investimento da Infraero, algo em torno de R$1,4 bilhão, até o ano 2014. Isso representa mais do que o triplo da média anual investida entre 2009 e 2010 - perdão, entre 2003 e 2010 -, o triplo.

            Portanto, 2014 é o horizonte, reconheço. Mas não é com a fixação da Copa do Mundo, com essa coisa quase que, eu diria, frenética, esse grito como se a gente não tivesse capacidade de entregar, sem olhar, efetivamente, para os compromissos assumidos, principalmente levando-se em consideração o aspecto também do entorno desses estádios, do entorno desses aeroportos; todos os recursos dispensados para a mobilidade urbana, que também completam esse conjunto de obras espalhadas pelo País, visando mais do que a Copa do Mundo, visando dotar as cidades de infraestrutura, para que tenhamos oportunidade não só de sediar a Copa do Mundo, as Olimpíadas ou coisa do gênero, mas de permitir aos cidadãos e às cidadãs, em cada lugar neste País, terem a oportunidade de se locomover em boas condições, terem a oportunidade de frequentar os estádios, pois essa é uma coisa positiva do pós-Copa...

            Assim fez a cidade de Barcelona, assim fez a cidade de Munique. Assim diversas cidades no mundo afora experimentaram a oportunidade de, por intermédio de jogos olímpicos ou de copas do mundo de futebol, terem preparado a sua infraestrutura para um processo posterior.

            A cidade de Barcelona fez como ninguém. Preparou a sua infraestrutura, realizou grandes jogos olímpicos, mas, principalmente, se preocupou não com os próximos quatro anos; preocupou-se com mais de 40 anos. Pensou na sua infraestrutura aeroportuária. Aí expandiu, do ponto de vista da sua capacidade urbana, com oferta de transporte, com uma marina; readequou completamente a sua estrutura no entorno do porto, fornecendo uma grande marina para toda a Europa e para o mundo. Portanto, preparou-se para ser uma cidade com destinação de turismo cada vez mais crescente. Basta ver um dos eventos que ocorre em Barcelona no mês de fevereiro. Todo mês de fevereiro acontece o Congresso Mundial de Tecnologia Móvel. Só de inscritos para esse congresso, não é um congresso aberto ao público, mas só de inscritos são 50 mil pessoas do mundo inteiro. E Barcelona recebe essa quantidade e, portanto, oferta serviços.

(Interrupção do som.)

            O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco/PT - BA) - Portanto, quero dizer que a preocupação de muito em relação à Copa do Mundo é até louvável, que muita gente alerte para esse fato, mas é mais louvável ainda a atitude que tem assumido o nosso Governo, que têm assumido as instâncias responsáveis, desde o Ministério do Esporte, a Infraero, o Ministério das Cidades, o próprio Ministério do Planejamento, ainda sob a condução de Paulo Bernardo; a Casa Civil, à época, inclusive, representada pela atual Ministra do Planejamento. Enfim, todas essas estruturas mobilizaram-se para que pudéssemos ter uma organização capaz de lidar com todas as frentes, a fim de prover de infraestrutura necessária para que este País realize grandes jogos na Copa do Mundo; para que este País realize uma grande olimpíada, mas, principalmente, para que nós tenhamos a oportunidade de ofertar aos milhões de brasileiros, em suas cidades, condições ideais para que eles possam viver, locomover-se e ter direito ao lazer.

            Só é possível tratar bem os de fora quando nós, efetivamente, criamos as condições para o bem viver dos que aqui dentro estão.

            Era isso que eu tinha a dizer nesta tarde.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2011 - Página 11870