Discurso durante a 53ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem e apresentação de voto de pesar pelo falecimento do ex-Senador Hélio Mota Gueiros.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem e apresentação de voto de pesar pelo falecimento do ex-Senador Hélio Mota Gueiros.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2011 - Página 11967
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, HELIO MOTA GUEIROS, EX SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Wilson Santiago, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, quero primeiro agradecer ao Senador Pedro Simon ter permutado comigo a sua inscrição, que me permite usar da palavra neste momento.

            Presto hoje, Presidente Senador Wilson Santiago, Senador Eduardo Braga, desta tribuna, uma homenagem, certamente compartilhada por todos os paraenses, a um homem público que deixou sua marca na história de Belém, do Pará e do Brasil.

            Faleceu, na última sexta-feira, dia 15 de abril de 2011, em Belém, o ex-Prefeito, ex-Deputado Estadual, ex-Deputado Federal, ex-Senador, ex-Governador do Pará, Hélio Mota Gueiros.

            Mesmo durante o período em que teve de conviver com a doença, Hélio Gueiros não perdeu o bom humor, que era sua característica - como disse, uma das suas maiores e mais admiradas características. Em pleno tratamento, um dos seus filhos, Paulo Gueiros, contou-me, durante o seu velório, realizado no último sábado, que perguntou a seu pai, durante uma das permanentes visitas, como ele estava sentindo-se. E Gueiros, bem a seu estilo, respondeu: “Estou embromando aqui. Deus ainda não quer me levar, então tenho que embromar mais um bocadinho”, disse o nosso saudoso e querido Hélio Gueiros.

            Neste pronunciamento, faço uma homenagem ao homem público, ao jornalista admirado e ao amigo fraterno, com quem tive o prazer de conviver por vários anos. Uma vida dedicada ao povo do Pará e do Brasil. Um vida cuja história se mistura com a história do nosso Estado e do nosso País.

            Sua trajetória pessoal é de sucesso e vitórias. Nascido em uma família de classe média, foi para Belém ainda menino. O pai, Antônio Teixeira Gueiros, um pastor presbiteriano, havia sido convocado para organizar a igreja no Pará. Mudou-se para Belém também com a mãe, Zoé Mota Gueiros.

            Foi em Belém que Hélio tomou contato com aquele que seria um dos mais importantes nomes da política paraense: Magalhães Barata.

            Gueiros, ainda jovem, deixou Belém e retornou a Fortaleza, para fazer o curso de Direito, mirando-se no exemplo de um bem-sucedido primo, que era advogado. Porém, o destino havia definido que seu futuro estava no Pará. De volta à capital paraense, foi convocado por Barata a seguir para Santarém, onde exerceu o cargo de Promotor Público da Comarca, cidade, Senador Eduardo Braga, onde V. Exª nasceu. O Senador João Pedro nasceu em Alenquer, também é paraense. Ou melhor, viveu, não é, Senador?

            Helio Gueiros confessou posteriormente que não gostou muito da ideia, mas acabou convencido pelo pai a não contrariar o amigo da família Magalhães Barata.

            Também o estimulava o desafio de conhecer uma região do Estado, o Oeste do Pará, em especial Santarém, onde veio a conhecer a sua Terezinha, esposa com quem viveu durante 53 anos. Foi uma experiência que certamente contribuiu muito, alguns anos depois, quando governou o Estado.

            Também por convite de Magalhães Barata, Hélio Gueiros foi suplente de Deputado Estadual pelo PSD. Em 1962, foi eleito Deputado Estadual e tornou-se, em seu segundo mandato, líder do governo Aurélio do Carmo, nos dois anos seguintes.

            Cassado em 1964 pelo Golpe Militar, quando era líder da bancada pedessista na Assembléia Legislativa do Estado e redator-chefe do vespertino jornal O Liberal, foi preso e teve seus direitos políticos suspensos. Voltou pouco depois, em 1966, elegendo-se Deputado Federal com a fundação do MDB, Movimento Democrático Brasileiro. Em 1969 foi outra vez cassado outra vez pelo conhecido AI-5.

            A anistia política viria apenas 10 anos depois. Nesse período, como muitos daqueles que foram perseguidos pelo regime militar, Hélio jamais deixou de fazer política e de defender seus ideais de um País democrático e soberano.

            Também na década de 70, Hélio Gueiros entrou de cabeça no jornalismo, uma de suas maiores paixões. Torcedor do Paysandu e admirador do futebol paraense, foi editor e passou por diversos jornais do Estado, como O Liberal; Folha do Norte; TV Marajoara, Rádio Difusora e Diário do Pará. Trabalhou na profissão por mais de 30 anos ininterruptos.

            Tal dedicação ao jornalismo rendeu-lhe uma cadeira na Academia Parense de Letras e lugar como membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará.

            Já livre pela anistia, Hélio Gueiros foi eleito para o Senado Federal, ocupando vaga de Senador pelo Pará ao lado de Gabriel Hermes e Aloysio Chaves, entre 1983 e 1987. Deixava o mandato de Senador, sendo eleito Governador do Estado do Pará.

            Sobre sua atuação no Senado, gostaria de dedicar um pouco mais de atenção.

            O último discurso do seu primeiro ano de atuação aqui, nesta Casa, foi histórico. O ano era 1983. O Brasil clamava pelas eleições diretas e preparava o terreno para as grandes manifestações que ocorreriam a partir de 1984.

            Hélio, corajoso, no dia 23 de novembro de 1983, desafiou o então Presidente da República, João Figueiredo, a enviar ao Congresso Nacional uma emenda que permitisse a eleição direta. Usou, desta tribuna, seu tom irônico de costume, ao comentar uma declaração de Figueiredo sobre as eleições:

Vejam V. Exªs a confusão toda que o eminente Presidente da República está armando em cima da Nação brasileira, e sem saber estamos naquela aflição shakesperiana do ser ou não ser. Só que Sua Excelência agora não sabe se disse ou não disse. Mas, seja lá como for, eu desejava falar ao Senhor Presidente da República para que ele não se importasse se porventura seu partido quer ou não a eleição direta. Se Sua Excelência está convencido de que a eleição direta é a melhor solução para o caso brasileiro, deve, simplesmente, mandar uma mensagem ao Congresso Nacional, restabelecendo a eleição direta. E aqui tiraremos a prova dos nove e saberemos quem é contra e quem é a favor das eleições diretas. Eu não vejo por que - com temores de que porventura essa emenda não seja aprovada - o Senhor Presidente não dê essa oportunidade ao seu partido de comprovar que realmente não quer a eleição direta.

            Assim falou o Senador Hélio, em novembro de 1983.

            Em seus 101 discursos, Hélio Gueiros fez o retrato de um Brasil e de um Pará em uma época em que a política fervia e era o assunto dominante no País.

            Em seus discursos no Senado, Hélio Gueiros defendeu a indicação do nome do Senador José Sarney para compor a chapa do PMDB juntamente com Tancredo Neves, em outro momento político importante do País.

            Ainda no ano de 1984, fez outro pronunciamento corajoso, relatando, aqui em Brasília, e festejando o sucesso do comício realizado em 10 de abril de 1984, no centro do Rio de Janeiro, em favor das eleições diretas para Presidente da República.

            Já em 1985, Hélio Gueiros fez vários pronunciamentos defendendo maior participação do Pará nas discussões regionais e nacionais, sobretudo em assuntos que interessavam à Amazônia. Uma luta que deve ser permanente de todos os Senadores do Pará e na qual busco me espelhar.

            É, amigo Dr. Hélio, infelizmente, as irresponsabilidades não são apenas do Velho Regime. A História nos mostrou, tendo como testemunhas nós paraenses, que nosso Estado é deixado de lado em relação aos assuntos nacionais.

            Faço aqui uma crítica ao Governo Federal como um todo, pois se passaram diferentes governos e o mesmo problema persiste. Faço referencia aos asfaltamentos que Hélio Gueiros defendia da tribuna do Senado: a BR-230, a Transamazônica e a BR-163, a Santarém-Cuiabá.

            E disse mais, no seu estilo irônico e afiado:

Isso pode ser gaiatice, pilhéria, piada de mau gosto. Como se pode admitir que numa região que tem 60% do território nacional e 10% da população brasileira, se dê para o órgão encarregado de promover o desenvolvimento de toda essa área 262 bilhões de cruzeiros [algo próximo hoje de R$210 milhões] para um orçamento inteiro de ano?

            Assim questionou Hélio Gueiros sobre os recursos minguados, à época, para a Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia).

            Essa lucidez e crítica foram marcas registradas de sua personalidade. E tiveram a honra de ser companheiros aqui nesta Casa, na 47ª Legislatura, amigos que estão hoje aqui entre nós, já na 54ª Legislatura, como o nosso Líder Alvaro Dias, do PSDB do Paraná, Itamar Franco, do PPS de Minas Gerais, Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul, e o nosso Presidente do Senado, José Sarney, do PMDB do Amapá.

            Também foram contemporâneos de Hélio Gueiros três Senadores que seriam pouco depois Presidentes do Brasil: José Sarney, como já disse, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco. Também compunha aquela legislatura um futuro Vice-Presidente, o amigo Senador Marco Maciel. Além de Arnon de Mello, pai de Fernando Collor, também ex-Presidente da República.

            Depois de cumprir com êxito seu mandato aqui no Senado Federal, Hélio Gueiros foi então eleito Governador do Estado do Pará, em 1987.

            Não é tarefa fácil resumir um governo de ações tão amplas em poucas palavras, durante um pronunciamento. Porém, não poderia deixar de registrar algumas marcas de sua gestão à frente do Estado do Pará.

            Com um projeto chamado “Projeto Futuro - Caminhando é que se encontra o caminho”, Hélio Gueiros passou a combater, na prática, o que chamava de círculos viciosos de inércia. A frase que o então governador mais detestava era “não adianta fazer, porque não tem jeito; é culpa do sistema”. Essa máxima era combatida diariamente por Hélio Gueiros.

            Em Belém, recuperou o Mercado de São Braz e urbanizou diversas ruas e avenidas, entre elas a Pedro Álvares Cabral. Também garantiu apoio financeiro para a conclusão da estrada de Alter do Chão, em Santarém, internacionalmente reconhecida hoje por sua beleza e vocação ao turismo.

            Outra marca de sua gestão no Governo do Estado foi a modernização da educação: construiu e reformou centenas de escolas. Implantou unidades regionais de ensino, interiorizando os investimentos em educação, e criou um programa educacional para os alunos de escolas públicas: Cied - Centro de Informática e Educação.

            Através dele, as nossas crianças poderiam ter contato direto com o computador, uma ferramenta hoje tão comum. Mas, na época, início dos anos 1990, era algo que ainda causava estranhamento na população em geral. Hélio Gueiros sabia o quanto era importante familiarizar nossas crianças e jovens com aquele equipamento.

            No Banpará, modernizou o banco estatal, visando à geração de lucro e competitividade para maior aplicação em investimentos no Estado.

            Por fim, apenas para encerrar essa breve descrição de alguns de seus feitos como Governador do Estado, procedeu à informatização do Estado, fortalecendo a Prodepa. Também recuperou o Curro Velho, um centro de referência nas artes e manifestações culturais do Estado. Também instalou 160 novas unidades de saúde no Pará, inclusive em conjuntos habitacionais, como o Júlia Seffer e o Maguary, em Belém. E levou, com seu governo, energia elétrica para 200 localidades espalhadas no interior do Estado.

            Encerrado seu mandato, Hélio Gueiros venceu novamente uma disputa eleitoral e assumiu a Prefeitura de Belém em 1993, sendo esse o último cargo público que exerceu, até 1996. Foi um dos responsáveis pela modernização de Belém, com projetos vistos, à época, como ousados e até mesmo polêmicos, mas que hoje são importantes para a cidade.

            Foi um dos responsáveis por implantar na capital paraense o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu 192.

            Pavimentou e urbanizou a Avenida Almirante Barroso, principal via de entrada na capital paraense.

            Reformulou e modernizou a Avenida Visconde de Souza Franco, a Doca, como gostava de chamar.

            Foi criador da Funverde, a Fundação Parques e Áreas Verde de Belém, preservando e valorizando praças e áreas verdes em nossa capital.

            Pavimentou as ruas do Distrito de Mosqueiro, incentivando o turismo na nossa ‘bucólica’ e restabeleceu o serviço de transporte fluvial para a Ilha de Cotijuba através de Belém.

            Também desenvolveu o projeto Paracuri que, à exemplo do que foi feito no Governo do Estado, promoveu a inclusão digital de estudantes da rede municipal de ensino numa época em que os computadores ainda eram grande novidade para todos nós.

            Outra obra de Gueiros foi a criação da Escola Bosque, em Outeiro, iniciando as crianças na prática da conscientização ambiental.

            Essas foram algumas de suas marcas à frente do Pará e de Belém. Apenas algumas.

            Em todos seus mandatos, a defesa do Pará foi sua principal marca. E sua luta pela boa gestão, para manter as coisas em ordem, fazer o Pará e Belém alcançarem o desenvolvimento, foram sempre salpicadas com suas frases e tiradas de bom humor e ironia.

            A trajetória pública de Hélio Gueiros foi eficientemente levantada pela pesquisadora Stella Pessoa, que mergulhou em seu passado e relatou as passagens casadas com a recente história do Pará. O trabalho dessa grande amiga de Hélio foi batizado pelo próprio com o título de “Vida, Paixão, Agonia e Vitória de um Arigó Renascido no Pará”.

             

            Finalizo apresentando um voto de pesar à Terezinha Gueiros, viúva de Hélio Gueiros, que hoje é Secretária de Educação do Município de Belém. Uma mulher também apaixonada pela boa gestão e pelo Pará, que conviveu com Hélio por 53 anos.

            Atendo o pedido de aparte do nobre Senador, Líder do PSDB, que conviveu com o Senador Hélio Gueiros aqui no Senado Federal, Senador Alvaro Dias.

            O Sr. Alvaro Dias (Bloco/PSDB - PR) - Tive a honra de conviver com Hélio Gueiros, por pouco tempo, mas o suficiente para conhecer seu perfil de político talentoso, polêmico e corajoso, como o disse V. Exª: gostava do enfrentamento. Eu o visitei, também, quando Governador no Pará, estive em sua residência. Uma figura cordial mas que usava, também, a acidez verbal quando necessária em determinados enfrentamentos, já que sua capacidade de indignação nunca faleceu. Quero prestar minha solidariedade à família de Hélio Gueiros, as seus amigos do Pará, ao povo do Pará e especialmente a V. Exª que tão bem representa o Estado do Pará.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (Bloco/PSDB - PA) - Agradeço a V. Exª, Senador Alvaro Dias, e incorporo o aparte de V. Exª ao pronunciamento em homenagem a essa figura tão querida de todos nós, no Pará, Hélio Mota Gueiros.

            E concluo, Senador Wilson Santiago, estendendo o voto de pesar que iniciei à viúva Teresinha Gueiros, a seus cinco filhos: Hélio Gueiros Júnior, Paulo Érico Moraes Gueiros, André Moraes Gueiros, Cláudia Moraes Gueiros Dias e Marcos Moraes Gueiros, a suas noras, além dos treze netos e duas bisnetos.

            O voto de pesar está alinhado com o luto que o Pará vive, já que o governador Simão Jatene e o Prefeito de Belém, Duciomar Costa, decretaram luto oficial de três dias no Estado e no Município.

            Relembrei aqui alguns dos momentos de Hélio Gueiros, apenas poucos momentos, pois, se fosse contar toda a sua trajetória e importância no Pará, certamente precisaríamos de uma sessão especial do Senado Federal.

            Fica aqui a minha singela homenagem ao homem público e amigo que foi Hélio Mota Gueiros, uma personalidade paraense que deve ser conhecida e respeitada. É uma...

(Interrupção do som)

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PR) -... simples homenagem, justa e sincera, a um paraense que muito de sua vida dedicou ao Pará e ao Brasil. Descanse em paz, meu amigo querido Papudinho.

            Muito obrigado.

            Encaminho à Mesa...

            O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR) - Sr. Presidente, eu pediria pela Liderança...

            O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Sr. Presidente, encaminho à Mesa o Voto de Pesar para que V. Exª o faça constar dos Anais.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2011 - Página 11967