Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da realização, hoje, de audiência pública para tratar de medidas públicas contra a dependência química, sobretudo do uso abusivo do crack.

Autor
Wellington Dias (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: José Wellington Barroso de Araujo Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Registro da realização, hoje, de audiência pública para tratar de medidas públicas contra a dependência química, sobretudo do uso abusivo do crack.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 21/04/2011 - Página 12128
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, SENADO, OBJETIVO, DISCUSSÃO, POLITICAS PUBLICAS, TRATAMENTO, DEPENDENCIA QUIMICA, DROGA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu hoje tomei uma aula aqui com a equipe da Taquigrafia. Eu perguntava como faziam esse trabalho e como é que elas acompanhavam os que falam ligeiro. E elas diziam a quantidade de palavras, de letras que tem de haver cada vez para que possam acompanhar. E eu fui enquadrado aqui nos que falam rápido demais! Creio que como mais alguns. Então, vou tentar agora disciplinar-me para facilitar o trabalho delas.

            Quero saudar aqui, meu querido Presidente Wilson Santiago, Srªs e Srs. Senadores, os que fazem esta Casa, povo do Brasil, do meu Nordeste, do meu Piauí. O tema que trago hoje, para minha alegria, é, em seguida, o mesmo tema que foi abordado aqui, ainda há pouco, pelo Senador Waldemir Moka e pela Senadora Ana Amelia.

            Eu diria que, se separarmos hoje os dez grandes desafios da humanidade para este século, vamos encontrar temas como este da mudança climática, dos direitos humanos, mas certamente, entre os dez, vamos ter de tratar desse desafio da humanidade na área da dependência química.

            E eu quero aqui, além de tratar da audiência de hoje, com o Dr. Carlos Vital, do Conselho Federal de Medicina, com o Dr. José Luiz Gomes, da Associação Médica Brasileira, com o Dr. Emmanuel Cavalcanti, da Associação Brasileira de Psiquiatria, e do brilhante trabalho voluntário, sacerdotal, do Frei Hans Stapel e do Padre Haroldo, da Fundação Fazenda da Esperança e da Fundação Instituto Padre Haroldo, que é uma escola de aprendizado que queremos atingir, eu quero começar, Sr. Presidente, dando uma notícia boa. Eu estive, esses dias, em São Paulo por outra razão e ali, em São Paulo, eu tive oportunidade de visitar cientistas da Universidade Federal de São Paulo. Destaco aqui um diálogo com o Dr. Ronaldo Laranjeira, um dos maiores especialistas nessa área da dependência química, eu diria, do mundo, orgulhosamente, pelo Brasil.

            Eu quero começar dando uma boa notícia. Eu perguntava para eles, meu querido Paim, que são reconhecidos cientificamente, que lugar do mundo pode ser considerado um modelo para essa área da dependência química. Onde que se teve sucesso? Eles falaram que realmente esse é um aprendizado no mundo inteiro, mas destacaram um país: a Suécia. Tive o cuidado de buscar o diálogo também com um representante daquele país.

            A Suécia começou um trabalho há aproximadamente 30 anos, por volta de 1980. E agora, três décadas depois, colhe bons frutos. É o país em que menos há dependentes químicos de todas as dependências: dependentes do álcool, dependentes do crack, dependentes da cocaína, da maconha, enfim, de todas as drogas, inclusive do cigarro, o que é interessante. A partir daí, eu quis ouvir dos cientistas o que foi feito, o que fizeram.

            Primeiro, há coisas aparentemente óbvias, Senador Suplicy. Eles tiveram a preocupação de investir naquilo que a ciência atesta, reconhecendo exatamente isso de que tratamos hoje, Senadora Ana Amelia.

            Eu fiquei feliz em ouvir de alguém com 83 anos, como o Padre Haroldo, ou com mais ou menos a mesma idade, como o Frei Hans, pessoas que dedicaram praticamente a vida inteira a cuidar das pessoas mais necessitadas, o seguinte: “Olha, é preciso, nesse ponto, olhar o ser humano, que precisa de um tratamento integral. Tem que tratar do corpo, tem que tratar do físico, tem que tratar da mente e tem que tratar do espírito. Se não fizermos essas quatro coisas, não é possível obter solução”.

            Estou falando de alguém, Sr. Presidente, que testemunhou mais de vinte mil pessoas no Brasil, pessoas que vieram de outros países, como a Rússia, pessoas dos mais diferentes credos - estou falando de mais de vinte mil pessoas -, que foram tratadas das mais diferentes dependências químicas: do álcool, do crack, da cocaína, da maconha, enfim, de um conjunto de outras drogas.

            Então, isso nos remete a uma reflexão: qual é o lado bom q ue eu vejo nisso? Há uma luz no final do túnel. Se num país como a Suécia estamos tendo sucesso, se dentro do Brasil há entidades de sucesso, então nós temos chance.

            Vou dizer uma frase que tenho escutado muito nos últimos dias nesse debate: “A gente só precisa colocar o Brasil no rumo certo”. E vou usar outra frase ainda que eu acho que é mais simbólica: “Se nós estamos querendo ir para o sul, mas, na hora de sair em direção ao sul, pegamos o rumo do norte, é claro que nós não vamos chegar ao sul”. É como se o Brasil estivesse caminhando por outro rumo que não aquele pelo qual precisa caminhar.

            Então, meu querido Senador Paim, precisamos, a partir do Parlamento brasileiro, fazer a nossa parte. Não é uma coisa que se resolve só no Senado. E eu vou além: pela experiência da Suécia, não é uma coisa que se faz em curto tempo. Se o Brasil, hoje, tomar a decisão de que vai andar no rumo certo nessa área, vamos levar ainda um bom tempo para poder alcançar esses resultados.

            E eu quero concluir sobre esses resultados da Suécia com o mais impressionante: o povo da Suécia está com a expectativa de que a próxima geração não vai ter dependente químico. Repito: a próxima geração não vai ter dependente químico.

            Então, vejam. O que eles fizeram? Cuidaram de trabalhar de forma integrada. Cuidaram de tratar droga como droga. Se é droga, não há propaganda. Ninguém faz propaganda de veneno. Ninguém faz propaganda do que mata. Não é possível. Não é aceitável isso. Além disso, fizeram regras claras. Eles sabem que a maior incidência da dependência é até determinada idade. Então, há lá uma proibição de comercialização de drogas de qualquer forma para pessoas com até 21 anos. Mais ainda, criaram uma rede com um programa público, integrando com a sociedade, que envolveu a família, as escolas, enfim, um conjunto de atores. Investiramse na pesquisa, na ciência, levando em conta o que a gente ouviu hoje.

            É preciso trabalhar a cura de uma doença como qualquer doença no corpo, na mente, mas também no espírito. É preciso dar um sentido à vida, é preciso conscientizar. Digo isso para compreender de forma muito simples, Sr. Presidente, o caminho que eles trilharam. Primeiramente, não adianta só querer que as escolas preparem isso se a gente não tem pessoas na escola preparadas para isso. É preciso imaginar o que significa a gente qualificar professores, estudantes, inclusive lideranças jovens, para serem multiplicadores entre seus colegas da mesma geração.

            Cito um exemplo do que quero dizer, Senador Paim, nesse campo da juventude. Minha geração curtia The Beatles, Roberto Carlos, Rolling Stones, sei lá. A do meu pai curtia Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas, sei lá quem. Então, há uma mudança. Em cada geração, há uma mudança. A geração dos nossos filhos...

(Interrupção do som.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - ... para nós é um choque, para nós muitas vezes é diferente, curtem hip hop e outros tipos de música, inclusive mais recentes. É claro que alguns curtem aquela musicalidade que ultrapassa gerações.

            Mas quero dizer, com isso, que nada melhor do que preparar um jovem para que ele transmita à sua geração esse conceito de conhecimento sobre a dependência química. Então, a gente faz uma propaganda “não ao crack” e coloca uma caveira. Isso não funciona. Está comprovado cientificamente. A gente trabalha muito do ponto de vista negativo, da proibição. Na verdade, a gente precisa trabalhar uma conscientização de modo mais firme.

            Quero concluir essas palavras, Sr. Presidente, dizendo que, hoje, na reunião, tivemos a oportunidade de lidar com o tema de modo a incluir uma parte das organizações não governamentais e, de outra, a ciência. Foi para mim um momento maravilhoso ver ali a ciência reconhecer, através das entidades dos médicos e psiquiatras, que precisa da área da espiritualidade. Não quer dizer que alguém, ao entrar na Fundação Esperança, que é vinculada à Igreja Católica, terá de virar um católico, mas é preciso entender que o amor cura, entender que determinados conceitos na vida fazem a transformação. Ao mesmo tempo, não é porque alguém entra na Crenvi, uma entidade do Paraná ligada aos evangélicos, que terá de aderir aos evangélicos. Não. Mas os pastores, as pessoas que ali atuam, respeitam a religiosidade, não é para uma adesão à sua igreja. É preciso que ele encontre sentido para a vida. As pessoas caíram no mundo da droga, da dependência...

(Interrupção do som.)

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - ... porque tiveram um vazio na sua vida e precisam encontrar um sentido para ela.

            Então, ali, acho que começamos a encontrar, Senador Suplicy, um caminho. Acho que vamos ter que construir isso e vamos ter que convencer o nosso Governo a fazer o Brasil a entrar no caminho correto.

            Eu sou da base do Governo, defendo o Governo, mas estamos no caminho errado nesse campo. Temos que ir para o caminho correto. Se não, daqui a trinta anos, vamos ficar olhando para a Suécia em outro estágio, outros países em outro estágio, e nós num estágio atrasado.

            Concedo, se o Presidente me permitir, com o maior prazer, Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero, sobretudo, cumprimentá-lo, Senador Wellington Dias, assim como o Senador Moka, a Senadora Ana Amelia e todos que participaram do diálogo tão produtivo que a Subcomissão...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) -... que a Subcomissão sobre os efeitos do crack e de outras drogas trabalhou com depoimentos de grande significado. Não pude participar todo o tempo devido ao excesso de atividades que temos, mas pude perceber, inclusive pelo depoimento de V. Exª agora, quão produtivo e relevante foi o debate. Meus parabéns a todos que estão participando dessa Subcomissão.

            O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT - PI) - Quero agradecê-lo, agradecer toda a equipe e encerrar, Sr. Presidente, dizendo que temos que criar um sistema, temos que criar uma rede, temos que atuar na prevenção, temos que atuar no tratamento, temos que atuar na reinserção social, precisamos ter coragem de tomar aqui medidas públicas necessárias para o Brasil. Ou vai ser essa geração que está hoje aqui no Senado ou na Câmara, ou outra vai ter que fazer. Eu espero que seja a nossa.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/04/2011 - Página 12128