Discurso durante a 37ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Lamenta que se tenha esquecido o empenho do Senado, na ditadura militar, em debater e tentar encontrar uma solução para o problema da energia nuclear.

Autor
Itamar Franco (PPS - CIDADANIA/MG)
Nome completo: Itamar Augusto Cautiero Franco
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Lamenta que se tenha esquecido o empenho do Senado, na ditadura militar, em debater e tentar encontrar uma solução para o problema da energia nuclear.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2011 - Página 8599
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • CRITICA, FALTA, RECONHECIMENTO, LUTA, SENADO, ANTERIORIDADE, DEBATE, PROBLEMA, ENERGIA NUCLEAR, ESPECIFICAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, USINA NUCLEAR, MUNICIPIO, ANGRA DOS REIS (RJ), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

            O SR. ITAMAR FRANCO (PPS - MG. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, primeiro, agradeço a generosidade do Senador Lindbergh. Ele sabe da fraternidade que tenho por ele há muitos anos.

            Srª Presidente, eu tenho ficado calado nesse debate nuclear, no Brasil. E fico entristecido, porque foi neste Senado, há muitos anos, que se rasgou o véu de mistério que existia no acordo nuclear Brasil-Alemanha, através de uma comissão parlamentar de inquérito dada pelo Senador Paulo Brossard.

            Naquela época - não hoje, naquela época -, no regime militar, permitia-se que um Senador de oposição fosse presidente da comissão. Eu fui presidente da comissão e o nobre Senador Jarbas Passarinho, relator, e fez um belo trabalho.

            Eu fico, sinceramente, entristecido, Srª Presidente, porque há vários projetos, inclusive meus, dizendo da localização das usinas nucleares, falando inclusive do problema do afastamento, em função de Angra dos Reis, comentando por que foi em Angra dos Reis. E nós sabemos que essa foi uma posição. Era um sítio que os índios chamavam de terra podre. Nós sabemos que, em Angra 2, por exemplo, teve de ser revisado todo o problema de fundação.

            Eu não entendo, Srª Presidente - que me desculpe o Senador Lindbergh, por quem tenho uma fraternidade imensa, e S. Exª sabe disso. Eu não entendo que tantos que vão a essa tribuna não se recordem isso. Eu tenho um livro, Srª Presidente - e não estou fazendo propaganda do meu livro porque ele nunca foi vendido -, em que escrevo sobre energia nuclear, junto com a Drª Edwiges, que é a chefe de gabinete do nosso prezado Senador Eduardo Suplicy.

            Por que não falam do que se fez? Por que não falam dos nossos projetos que aí estão, Srª Presidente? Ninguém se refere. Parece que o problema levantado aqui da energia nuclear foi hoje, foi ontem! Não, Srª Presidente, foi desde 1975!

            Meu jovem Senador Lindbergh, acho que V. Exª - desculpe-me - deveria rever os Anais do Congresso Nacional e ver que a luta que se fez aqui de muitos e muitos anos...

            Já vou terminar, minha cara Presidente, minha querida Senadora.

            É preciso que façamos justiça àqueles Senadores que aqui estiveram, que batalharam, que justificaram. Porque falar da energia nuclear, eu poderia falar aqui uma hora, uma hora e meia, debater com eles, na hora em que eles quiserem, desde 1945, quando o almirante e físico Alberto tentou trazer para o Brasil as centrífugas. E por que o Presidente Geisel implantou o acordo com a Alemanha? Porque os Estados Unidos, à época, não queriam dar a tecnologia da ultracentrifugação e nem da difusão gasosa. E aí, eu poderia contar toda a história.

            Lamento, Srª Presidente. Lamento, sinceramente. Não vi aqui um debatedor da energia nuclear, e eu estou disposto a discutir com eles na hora em que eles quiserem. Não estou dizendo que sei mais do que eles, não, mas é preciso fazer justiça ao Senado da República daquela época; é preciso fazer justiça aos Senadores que enfrentaram o regime militar para debater aquilo que se levanta agora, como se fosse hoje! Hoje! Hoje! Isso é que nos deixa entristecidos.

            A vida é essa, a vida é essa. Tudo o que se fez se esquece. Aqueles que lutaram pelo problema da energia nuclear - muitos já se foram - devem estar imaginando que só agora o jovem Senador descobriu a energia nuclear. Só agora outros Senadores debatem a energia nuclear.

            Não vi, sinceramente. Não vi - e V. Exª recebeu os meus projetos - uma menção, não aos meus projetos, à luta do Senador Dirceu Cardoso.

            Desculpe essa minha insistência, mas eu fico realmente imaginando que eu estou em um outro mundo. A vida me conduziu para cá, Deus deve ter lá seus motivos, mas, enquanto eu estiver aqui, não vou permitir, sinceramente, que se esqueçam da luta no passado, que foi uma luta terrível. Para que se saiba que aqui no Senado, Srª Presidente - já vou encerrar -, nós recebíamos a documentação do acordo nuclear em inglês. Em inglês! Nós nunca tivemos, durante certo tempo, acesso. Ele está dizendo agora que vai visitar as usinas. Nós, primeiro, tivemos de conhecer as usinas na Alemanha e as usinas na França, para depois conhecer as usinas brasileiras.

            Então, foi uma luta; uma luta que, se não querem reconhecer, eu espero, dentro em breve, ocupar a tribuna para contar um pouquinho da história nuclear. Acho que o Senado merece ouvir. E, mesmo que não haja ninguém para ouvir, mesmo que não queiram discutir, por favor, vamos lembrar que o mistério do famoso acordo Brasil-Alemanha foi descoberto por esta Casa, Senadora.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2011 - Página 8599