Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com a volta do crescimento da inflação e o impacto sobre os preços e salários.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Preocupação com a volta do crescimento da inflação e o impacto sobre os preços e salários.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2011 - Página 12366
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • APREENSÃO, RETORNO, CRESCIMENTO, INFLAÇÃO, EFEITO, AUMENTO, INDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR, NECESSIDADE, INICIATIVA, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, GASTOS PUBLICOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, hoje faz 25 anos da grande tragédia de Chernobyl. Eu poderia falar sobre esse assunto, até lembrando a minha visita a Chernobyl dois anos atrás, em que, para conseguir entrar lá, foi preciso obter uma autorização especial e, para sair de lá, foi preciso passar diante de um medidor de radioatividade para ver se eu iria para um hotel ou para um hospital. Eu poderia falar sobre isso e ligar ao que hoje acontece no Japão, na central nuclear de Fukushima, e sobre os riscos no Brasil de umas três centrais nucleares.

            Eu poderia também falar que hoje começamos os trabalhos da Subcomissão da Comissão de Relações Exteriores na qual vamos acompanhar o que acontece até junho de 2012, no trabalho para organizar essa grande reunião de chefes de Estado e de chefes de Governo, para pensar o futuro da humanidade. Poderia falar de matéria recente sobre o atraso do ensino superior brasileiro comparado com os outros países, mas vou falar de um assunto mais importante que todos esses, que é a inflação, sobre o que a Presidenta Dilma ontem falou com tanta ênfase.

            Vou falar sobre inflação, porque não adianta nenhum desses assuntos se a inflação voltar. Se a inflação voltar, nós não teremos outro assunto a não ser o problema dos preços e dos salários, Senador Pimentel.

            Por isso, neste momento, não há nada mais importante - falei sobre isso na semana passada com o Senador Paim na Presidência e volto a insistir -, nada mais inquietante e preocupante do que o risco da volta da inflação em nível alto. Isso é mais importante do que saber se os estádios de futebol vão estar prontos ou não; isso é mais importante do que saber se os aeroportos vão conseguir receber todos os turistas da Copa do Mundo, das Olimpíadas ou não.

            Nós, nestes últimos cinco meses, já tivemos, por cinco vezes, o IPCC 1 acima de 6,5%. Quero chamar atenção, primeiro, para o que é o IPCC 1 e chamar atenção para o que significa o número 6,5. A meta de inflação definida pelo Banco Central, desejada por todos, é 4,5, mas sempre se coloca a possibilidade de dois pontos acima ou dois pontos abaixo. Nós, por cinco vezes, ultrapassamos o limite superior do 4,5 mais dois. Ultrapassamos isso - preciso explicar - no IPCC 1. E o que é o IPCC 1? É o indicador que mede a inflação dos mais pobres, de um a dois e meio salários.

            Portanto, Senador Paim, volto a dizer o mesmo que disse ao senhor. Não adianta toda a luta para aumentar 5% no salário mínimo se a inflação é de 7,41%, ou se passa de 6,5%. Não adianta toda essa luta pelo salário mínimo se a inflação volta. Não adianta toda a luta pelo aumento de salários se a inflação volta.

            Por isso, creio que esse é o tema fundamental do dia de hoje, dos dias de hoje, dessas semanas. A Presidenta, para mim, falou com muita ênfase e firmeza que, para ela, a luta contra a inflação é um ponto fundamental do seu Governo. E, de fato, por mais que ela faça, se a inflação voltar, o seu Governo fracassou.

            Eu às vezes acho, Senador Paim, que não dá para entender o desperdício de colocar um homem como o Meirelles para dirigir olimpíadas, em vez de tê-lo aqui em Brasília ajudando a enfrentar o problema da inflação. Não interessa em que cargo, não interessa se é como assessor da Presidenta, mas é impossível não termos uma figura como Meirelles nesse momento ajudando a enfrentar o problema da inflação, porque inflação se combate também com credibilidade dos que conduzem a economia. Inflação se combate com controle de gastos públicos, inflação se combate com taxa de juros, mas inflação se combate também com credibilidade daqueles que estiverem comandando o processo.

            De nada adianta dizer que se vão reduzir gastos públicos se não houver confiança em que os gastos públicos serão reduzidos. De nada adianta dizer que a taxa de juros definida na próxima reunião no Banco Central vai ser de meio ponto se não houver confiança de que esse meio ponto foi chegado, acertado com base em análises frias do mercado.

            Nós Senadores temos de continuar lutando cada um por aquele tema que considera sua bandeira. Não vou deixar de lutar aqui pela revolução que o Brasil precisa fazer e que, a meu ver, está na educação de base. Mas, neste momento, cada Senador deve dizer que suas bandeiras fundamentais têm de estar recuadas enquanto não tivermos a plena convicção de que os preços dos produtos vendidos neste País vão manter a estabilidade que conseguimos, a partir de 1994, com tanto esforço.

            Quem tem a minha idade sabe que viveu quase toda sua vida sem saber quanto ia custar um produto na semana seguinte, depois de ter ganho o salário. Nós não podemos deixar que isso volte. E não podemos deixar que isso volte não só porque fere o bolso, fere o bem-estar, mas porque fere a cabeça das pessoas, porque, à medida que os preços deixam de ser uma referência, a gente perde as outras referências. Na hora que entra na agenda a inflação, a agenda muda, e os outros itens desaparecem completamente do cenário nacional.

            O Brasil já avançou muito e em grande parte pela estabilidade monetária que nós conquistamos e que virou um pacto nacional. Basta dizer que já mudamos do Presidente Itamar para o Presidente Fernando Henrique, para o Presidente Lula, para a Presidenta Dilma, mantendo a mesma coerência de compromisso com a estabilidade monetária.

            Deixar que isso morra, deixar que volte aquele tempo em que a gente não tinha padrão de referência de quanto as coisas custavam, de quanto valia uma ou outra. Deixar que volte esse tempo da maquininha infernal de remarcação de preços é a destruição de uma agenda de transformação nacional que eu e outros aqui defendemos.

            Por isso, Senador, eu quero deixar aqui esse meu recado, mais uma vez, repetitivo. Disseram que eu sou repetitivo, porque só falo de educação. Eu agora só vou ser repetitivo porque só vou falar de inflação, para poder voltar a falar de educação e sensibilizar as outras pessoas. Senão, ninguém vai ser sensibilizado, tendo em vista que os preços ficam enlouquecidos como já foi neste País.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha a falar. Essa preocupação como Senador, essa preocupação como brasileiro, essa preocupação como cidadão e como defensor da revolução que o Brasil precisa na educação. Vamos dar todo apoio que a Presidenta quiser na luta contra a inflação.

            Agora, para isso, o Governo tem de fazer alguns gestos que nos convençam de que a fala dela é, de fato, para valer; de que a fala dela é, de fato, comprometida; de que, de fato, ela está disposta a fazer o que for preciso para que este País continue com a estabilidade monetária que nós temos.

            Agradeço pelo tempo, Sr. Presidente. Era esse o recado de um brasileiro que, tão angustiado com a saúde, com a educação, com a pobreza, não quer voltar a se angustiar com um problema tão menor como o problema dos preços.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2011 - Página 12366